Dizer “arte” em Florença sob a égide de Cosme I de Médici: uma Poética de Aristóteles a serviço do Príncipe

Autores

  • Déborah Blocker Université de Californie, Berkeley Département de Français

Palavras-chave:

Aristóteles, Poetica, catarse, Medici, Accademia degli Alterati

Resumo

Este estudo busca investigar a circulação da Poética de Aritóteles nos contextos social e político da Florença do século XVI. Começa analisando por que os métodos tradicionais usados pelos historiadores das idéias, que têm dominado o estudo da Poética de Aristóteles desde a obra de B. Weinberg, são insuficientes. Essas linhas investigativas estão aquém porque 1) deixam de levar em conta as relações entre os estudiosos que produziram esses comentários e os poderes seculares dos quais esses estudiosos se serviram, 2) negam-se a situar a produção desses discursos frente às várias compreensões de “arte” que eram dominantes no início período moderno. A segunda parte do artigo desenvolve um estudo de caso centrado em três livros publicados entre1548 e 1550 sob a patronagem de Cosimo I de Médici: o comentário latino de Francesco Robortello à Poética de Aristóteles, a tradução do texto para o dialeto toscano de Bernardo Segni e Vidas dos mais famosos artistas de Giorgio Vasari [...]. O estudo sublinha que todos esses livros buscaram a definição de “artes” de representação como elementos de fundo da forma de pacificação que os Médici queriam trazer às lutas civis da Florença republicana. Também investiga o papel atribuído às obras retóricas, morais e políticas com essa configuração específica, e destaca como essas necessidades pesaram nas interpretações da Poética de Aristóteles, com ênfase particular no fato de que a compreensão do conceito aristotélico de catarse como referida a uma “purgação das paixões” parece ter sido formalizada pela primeira vez em Florença, por volta de 1550. Porém, enquanto essa leitura circulou rapidamente pela Europa, tornando-se extremamente comum durante o início do periodo moderno, pode não ter sido a leitura dominante na própria Florença, como tende a sugerir um manuscrito complexo, que circulou pelos membros da Academia dos Alterati entre 1573 e 1617, comentando a leitura de Pier Vettori da Poética.

Publicado

2016-11-21