ARTIGOS
O pai e a função paterna na teoria winnicottiana
The father and the paternal function in the Winnicottian theory
El padre y el rol paterno en la teoría winnicottiana
Gabriel Aparecido Gonçalves-dos-SantosI; Valeria BarbieriII; Manoel Antônio dos SantosIII, 1
IPsicólogo judiciário. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. São Paulo. Estado de São Paulo. Brasil. https://orcid.org/0000-0002-4067-9981
IIProfessora associada sênior. Departamento de Psicologia. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP). São Paulo. Estado de São Paulo. Brasil. https://orcid.org/0000-0003-4849-3046
IIIProfessor titular. Departamento de Psicologia. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP). São Paulo. Estado de São Paulo. Brasil. https://orcid.org/0000-0001-8214-7767
RESUMO
A teoria psicanalítica de D. W. Winnicott assume a existência de uma tendência inata ao desenvolvimento que depende, para ter êxito, do oferecimento suficientemente bom de recursos ambientais que deem suporte e estimulem o desenvolvimento e integração do Self em formação. Grande parte de sua obra enfoca o papel da mãe como principal agente fornecedor de cuidados ao recém-nascido. Contudo, Winnicott não deixou de abordar a importância do pai como elemento real da dinâmica familiar e, como tal, também agente de cuidados do filho e da díade mãe-filho, pois o considera como parte do ambiente total disponível da criança. Esse artigo busca descrever e analisar as principais proposições teóricas do autor e de estudiosos contemporâneos a respeito do pai e das funções paternas na família, de acordo com cada etapa do amadurecimento pessoal em que o filho se encontra.
Palavras-chave: Psicanálise; Winnicott; Pai; Função Paterna.
ABSTRACT
D.W. Winnicott's psychoanalytic theory assumes the existence of an innate developmental tendency that depends, to be successful, on the provision of sufficiently good environmental resources to support and encourage the development and integration of the developing Self. Much of his work focuses on the role of the mother as the primary care provider for the newborn. However, Winnicott has not failed to address the importance of the father as a real element of the family dynamics and, as such, also an active agent of care for the baby and the mother-baby dyad, because he considers the father to be part of the total environment available to the newborn. This study aims to investigate the main theoretical propositions of the author and his contemporary psychoanalytical followers regarding the father and paternal functions in the family, according to each stage of child personal growth.
Keywords: Psychoanalysis; Winnicott; Father; Paternal Function.
RESUMEN
La teoría psicoanalítica de D. W. Winnicott asume la existencia de una tendencia innata al desarrollo que depende, para el éxito, de la provisión de recursos ambientales suficientemente buenos que apoyen y estimulen el desarrollo y la integración del Self en formación. Gran parte de su obra se centra en el papel de la madre como principal proveedora del cuidado del recién nacido. Sin embargo, Winnicott no dejó de señalar la importancia del padre como elemento real de la dinámica familiar y, como tal, también como agente de cuidado del niño y de la díada madre-hijo, pues lo considera parte del entorno total disponible para el niño. Este artículo busca describir y analizar las principales proposiciones teóricas del autor y de los estudiosos contemporáneos sobre el padre y las funciones paternas en la familia, según cada etapa de maduración personal en la que se encuentra el hijo.
Palabras clave: Psicoanálisis; Winnicott; Padre; Rol Paterno.
Introdução
A experiência profissional de Winnicott (1955/2000) como pediatra resultou em proveitosas reflexões teóricas, decorrentes de suas observações clínicas, das circunstâncias constitutivas do desenvolvimento físico e emocional infantil. Para o autor, grande parte das experiências significativas organizadoras da personalidade da criança acontece nos tempos primeiros da vida, quando ainda é um bebê que depende inteiramente de um ambiente que atenda de forma suficientemente boa às suas necessidades em cada etapa evolutiva, de forma a servir de base à continuidade de seu processo maturacional (Winnicott, 1959-1964/1983).
Ao reiterar a importância dessas experiências inaugurais da vida, Winnicott (1961/1994; 1965/1990; 1957/2001) questiona e reformula o conhecimento psicanalítico freudiano tradicional, bem como as proposições teóricas do círculo lacaniano e kleiniano acerca dos acontecimentos pré-edípicos que marcam o indivíduo em sua constituição psíquica. Winnicott amplia a compreensão de desenvolvimento saudável e patológico, conforme propõe uma descentralização da sexualidade e do Complexo de Édipo como aspectos primordiais da organização da experiência subjetiva (Loparic, 2006; 2014). Lança um foco de luz sobre os aspectos maturacionais da pessoa, assumindo a existência de uma predisposição inata ao desenvolvimento, que depende, para ter êxito, do oferecimento suficientemente bom de recursos ambientais que deem suporte e estimulem o desenvolvimento e integração do Self em formação.
A teoria winnicottiana enfoca a mãe como principal agente fornecedor de cuidados ambientais ao recém-nascido, dado que, no processo de amadurecimento do bebê, geralmente é ela quem se apresenta como ambiente imediato ao filho, no marco de uma relação dual (Souza & Santos, 2021). Ela fornece à criança recursos próprios de seu aparato biológico (amamentação), cuidado físico (handling) e suporte afetivo (holding) profundamente personalizado, oriundo, no início, da regressão característica do estado de preocupação materna primária (Winnicott, 1988/1990).
Contudo, Winnicott (1957/2001; 1964/1999; 1964/1988) não deixou de abordar a importância do pai como elemento da dinâmica familiar e, como tal, também agente de cuidados, zelo e responsabilidade face ao bebê e à díade mãe-bebê. Tendo em vista a notória necessidade de destacar a importância dos estudos sobre a paternidade nas pesquisas psicanalíticas, os postulados teóricos winnicottianos sobre o papel e a função da figura paterna constituem nosso objeto de estudo.
Objetivo e Método
Este estudo tem por objetivo descrever e analisar a concepção winnicottiana do papel e da função do pai junto à criança por meio de uma leitura crítica da obra de Winnicott, acrescida das contribuições teóricas de pesquisadores psicanalíticos contemporâneos sobre a temática. Buscou-se, dessa forma, elucidar os pressupostos winnicottianos, ressaltando a originalidade e complexidade da obra desse autor, de modo a propiciar aos profissionais e pesquisadores ferramentas conceituais úteis para a prática clínica, bem como promover reflexões teóricas no campo da pesquisa qualitativa em Psicanálise.
Paternidade em Winnicott: reflexões teóricas
A teoria winnicottiana apresenta um dinamismo e uma complexidade particulares, na medida em que desenvolve desdobramentos profícuos dos postulados psicanalíticos tradicionais a respeito dos papéis e das funções maternas e paternas na constituição psíquica e nas relações familiares. Considerando esse escopo teórico, nas etapas iniciais da vida, ainda que o recém-nascido não vislumbre nem compreenda a configuração familiar ao seu redor, o pai e a mãe juntos compõem seu ambiente total (Rosa, 2014). Nessa configuração inter-relacional a mãe é capaz de alcançar uma compreensão profunda e sofisticada das necessidades do bebê devido à regressão psicológica proporcionada pelo estado de preocupação materna primária, um processo que é facilitado se ela receber um suporte indireto do pai do bebê2. Este disponibilizaria um colo abrangente à mãe que, por seu turno, oferece o colo imediato ao filho de forma suficientemente boa. Nesse sentido, a maternagem e a paternagem são fenômenos coexistentes e complementares, que configuram uma atitude global de cuidado aos bebês (Winnicott, 1969/1999). Cabe ressaltar que essa interligação entre as funções maternas e paternas irá permear a concepção teórica winnicottiana a respeito do que é esperado do pai como ambiente facilitador do desenvolvimento do filho.
Winnicott (1964/1988), dirigindo-se aos seus leitores masculinos, afirma: "se eu disser 'a mãe' muito mais vezes que 'o pai', espero que os pais me entendam" (p. 29). Essas palavras constituem o início de um esforço para evitar equívocos conceituais em sua teorização, mas também para convocar os homens a compreenderem a importância de assumirem as responsabilidades da paternidade no núcleo familiar, mesmo que muitas funções de cuidados dos bebês lhes pareçam, de início ou por força social, incumbências das mães. Winnicott demonstra, com a usual sutileza de sua argumentação, que os cuidados necessários ao bebê extrapolam uma arbitrariedade da ordem do gênero e da sexualidade, pois as experiências emocionais necessárias à criança nos primeiros momentos de vida estão aquém desse nível desenvolvimental e existencial.
Se o pai está presente na dinâmica familiar, o desempenho das funções paternas deve ser pertinente ao estágio do desenvolvimento maturacional no qual o bebê se encontra, ou seja, respeitar a qualidade do ambiente em que a dupla mãe-bebê habita (Rosa, 2007; 2009), assim como as particularidades das necessidades que o filho apresenta (Winnicott, 1959-1964/1983).
As funções esperadas do pai durante o estágio de dependência absoluta (o primeiro estágio desenvolvimental da experiência humana) são, basicamente, orientadas em dois sentidos diferentes, porém complementares: (1) oferecer uma proteção estendida à díade mãe-bebê e ao lar (Outeiral, 1997), de forma a facilitar à mãe a regressão típica do estado de preocupação materna primária (Winnicott, 1956/1993), e (2) exercer, quando necessário e de forma suficientemente boa, o papel de mãe-substituta do filho, por meio do oferecimento do seu colo e do auxílio nos cuidados necessários ao bebê. O primeiro aspecto refere-se a um conjunto de ações rotineiras, cujo objetivo é minimizar o efeito perturbador de situações externas potencialmente inquietantes ou exaustivas para a mãe, de forma a evitar intrusões físicas e mentais no delicado processo de regressão que ela experimenta.
Dessa forma, seria função do pai se ocupar em manter o ambiente do lar limpo e organizado (garantindo higiene, conforto e bem-estar), cuidar que nenhum recurso material necessário falte (alimentação, fraldas, medicamentos), regular as visitas dos familiares a fim de garantir que o sono e a amamentação da díade não sejam perturbados, assumir momentaneamente os compromissos externos que a mãe eventualmente possa ter (para evitar-lhe desgastes físicos desnecessários ou atrasos nos cuidados do bebê). Nas palavras de Winnicott (1949/1982), o pai deve proteger a mãe e o bebê "de tudo o que possa interferir no vínculo entre ambos, que é a essência e a própria natureza do cuidado materno" (p. 18).
O pai, nessa organização, não atua diretamente sobre o filho, mas, sim, sobre a sustentação das funções maternas da parceira ao oferecer esses cuidados integrais que são essenciais no desenvolvimento do ego incipiente do bebê (Rosa, 2014). Conforme assegura a rocha sólida sobre a qual ocorrem os processos mais delicados da nova dinâmica familiar, o pai também contribui para a construção de um espaço relacional constituído pelos laços afetivos familiares, por meio dos quais o desenvolvimento dos membros da família será favorecido e instalado gradativamente.
Na etapa da dependência absoluta, espera-se que o pai se incumba, quando necessário, de tarefas de mãe-substituta do bebê. Segundo Rosa (2011), ser considerado um "substituto" da mãe, e não um ser com individualidade pessoal, decorre do fato de que, nessa etapa do desenvolvimento, o pai ainda não é percebido em si mesmo, e muito menos como terceiro pelo bebê. Assim, todas as funções que realiza no contato direto com o filho, ele as realiza como um substituto provisório da mãe, em determinadas situações pontuais. Por vezes, a mãe vai precisar se ausentar e deixar de estar perto do filho por breves momentos, a fim de se alimentar, dormir ou tomar banho. Nessas horas, se o bebê está desperto e demanda cuidados, o pai exerceria ativamente as funções do cuidado materno com que a criança está acostumada, como segurar o bebê em seu colo, dar banho, alimentá-lo com a mamadeira, conduzi-lo ao relaxamento e ao sono.
Essas funções de zelo, no entanto, podem não ser comuns a todos os homens. Conforme ressalta Rosa (2011), na complexidade de cuidados requisitados e na intensidade das vivências afetivas características da chegada de um novo membro familiar, ainda imaturo e indefeso, evidencia-se aumento de qualidade nos recursos ambientais disponíveis à díade mãe-filho quando há no pai a possibilidade de ser maternal com seu bebê. Dessa forma, segundo Winnicott (1964/1999), os homens maternais "são boas mães substitutas, o que é um alívio quando a mãe tem muitos filhos, ou quando ela adoece, ou quando elas querem voltar a trabalhar" (p. 191).
A viabilidade do pai ser maternal, ou seja, identificar-se com o recém-nascido e adaptar-se de forma satisfatória às suas necessidades, está estreitamente relacionada com a possibilidade de ele reconhecer aquilo que guarda em seu psiquismo do elemento feminino puro. Sobre o elemento feminino puro, Winnicott (1959-1963/1994) afirma que, nos primórdios da vida, o encontro do bebê com o seio permite uma identificação que é constitutiva, pois o seio que é ofertado na hora certa pela mãe apresenta uma possibilidade de ele ser e de continuar existindo. É esse aspecto maternal que funda o sentido de existência no psiquismo. Assim, o elemento feminino puro se refere às primeiras experiências de ser de um indivíduo e às primeiras necessidades básicas do bebê de sentir-se real e de ser real, abrindo margem para a constituição do Self. Conforme ressalta Safra (2009), a "mãe oferta a possibilidade de repousar no horizonte da existência" (p. 78). A partir de uma experiência de ser bem assentada, é possível, posteriormente, emergir o gesto espontâneo que cria a ilusão, característica fundamental do elemento masculino puro.
Na ilusão, fundamentado na percepção do atendimento repetido de suas necessidades, o bebê passa a poder criar o seio imaginativamente. Essa experiência de criação, ancorada na instintualidade, diz respeito ao fazer e, posteriormente, à possibilidade de se relacionar com objetos objetivamente percebidos na realidade exterior (Winnicott, 1959-1963/1994). Essa descrição mostra que ambos os elementos são intrinsecamente ligados, na medida em que possibilitam e sustentam concomitantemente a criatividade e o viver criativo: "[...] a criatividade é o fazer que emerge do ser, que indica que, aquele que é, está vivo" (Winnicott, 1986/1996, p. 31). Ser e criar são, portanto, dois aspectos fundantes da experiência psíquica humana.
Embora os dois elementos sejam de igual importância, nesse ponto do desenvolvimento do bebê, caracterizado por profunda dependência de cuidados do ambiente, o pai, quando se propõe a realizar funções de mãe-substituta, também deve efetuar uma regressão às suas experiências de cuidado (aquelas que ele vivenciou na infância com sua própria mãe e/ou cuidadores), permitindo-se aflorar seus aspectos maternais, que são necessários na fundação do sentido de existência para o bebê, uma vez que se referem ao elemento feminino puro. Ademais, em meio à complexa rede de cuidados que é construída única e exclusivamente para receber o bebê, o pai deve atentar para seus próprios pensamentos e sentimentos relativos à paternidade e à parentalidade, pois, conforme salienta Ribeiro (2014):
Considerando que o pai passa a ser "o último da fila" nas atenções da família, nem sempre pode suportar tal condição, dependendo de questões relativas ao seu próprio amadurecimento pessoal. Muitas vezes, ele também precisaria ser apoiado por outrem para exercer a responsabilidade relativa ao seu papel. Além do fato de o pai sentir-se excluído da "unidade-dual" mãe-bebê, ele não existe para o filho: e o seu lugar de homem para a mulher sofre profundas alterações nesse período (p. 110).
Dessa forma, em uma conjuntura qualitativamente diferente da mãe ao adentrar na preocupação materna primária, o pai também deve se preparar psicologicamente para receber o filho (Veludo & Viana, 2012), tanto pelos benefícios próprios de uma boa vinculação que ele poderá usufruir com o bebê, quanto para evitar que seus possíveis estranhamentos e descontentamentos pessoais impactem a companheira, perturbando-a em seu processo de adaptação ao recém-nascido.
Conforme ocorre um acúmulo de experiências gratificantes, assentado em uma apresentação segura e progressiva da realidade externa pelos pais, o bebê desenvolve a habilidade para tolerar as falhas, atrasos e equívocos dos objetos responsáveis pelos cuidados de que necessita. Quando tudo corre bem, esse processo de desilusão resulta na aquisição da capacidade de apropriação criativa do mundo pelo bebê, faculdade crucial para compreender a realidade compartilhada e inserir-se na cultura em que se encontra (Winnicott, 1950/1997).
Nesse ponto do desenvolvimento emocional, o bebê adentra o estágio da dependência relativa (Winnicott, 1959-1964/1983), no qual o pai deve auxiliar a mãe a realizar o processo de desilusão da criança, protegendo-a contra prejuízos nas conquistas evolutivas que já alcançou, referentes à integração, personalização e realização (Andrade, 2007). Ademais, conforme chama a mãe de volta para si, o pai passa a representar uma nova referência na organização psíquica da criança (Aberastury, 1991; Winnicott, 1966/1996). Se durante o estágio da dependência absoluta a mãe efetuou um estreitamento do contato com o mundo externo para direcionar toda a sua atenção ao recém-nascido, conforme o tempo avança e o filho passa a não depender dela de forma tão absoluta e simbiótica, a família pode retomar sua rotina anterior (mas incluindo agora o bebê), que havia sido modificada para receber o novo membro no lar.
Nesse ponto, a função do pai é a de auxiliar a manutenção da estabilidade do ambiente, e não permitir a intromissão de elementos prejudiciais ao processo de desmame. Ele ainda deve lembrar a mãe de seus antigos interesses individuais, auxiliando-a em sua desadaptação ao bebê, conforme a "traz de volta ao mundo fora de casa". Ainda nesse momento, o pai cria seus próprios vínculos afetivos com o filho, auxiliando-o a estabelecer bases seguras para a ampliação de seus laços sociais (Ribeiro, 2014). Portanto, o pai apresenta um interesse pessoal no processo de desmame, pois, além de querer ver seu filho se desenvolver de forma saudável e autônoma, deseja reaver os cuidados e ter a presença amorosa de sua parceira de volta para si (Winnicott, 1960/1999).
Cabe ressaltar, contudo, que, uma vez que o pai, inicialmente, é "excluído" da relação dual mãe-bebê, quando se propõe a entrar nesse vínculo, apenas o faz conforme é permitido (consciente ou inconscientemente) e mediado pela figura materna (Winnicott, 1944-1945/1982). A "abertura" para essa entrada na relação íntima mãe-bebê acontece, muitas vezes, justamente por meio de ações que o pai pode cumprir para aliviar a mãe do cansaço inerente à sua adaptação intensa característica da preocupação materna primária. Por conta do cansaço e da sobrecarga própria à maternagem, as mães podem apresentar dificuldades para regular sua prontidão, pontualidade e vitalidade para atender adequadamente às demandas do bebê, o que pode se intensificar durante o processo de desmame, configurando-se como intrusões à continuidade de ser do bebê. Nesse ponto, cabe ao pai auxiliá-la, entre outras coisas, apresentando-se como um suporte emocional direto para ela (Winnicott, 1944-1945/1982).
O desmame é um processo delicado que exige do bebê a segurança advinda das boas experiências prévias para lidar com a crescente ausência da figura materna (Santos, 1999). Reações exaltadas e agressivas surgem como resposta a essas pequenas doses de privação às quais o bebê é gradativamente exposto. É necessário que a mãe, e também o pai (em seu colo estendido à díade), apresentem firmeza na oferta da continuidade e, ao mesmo tempo, sensibilidade para perceberem as características sui generis do psiquismo do filho para que possam realizar a contento o processo de desilusão.
Conforme ressalta Ribeiro (2014), no desmame, se a mãe não puder contar com a presença ativa do pai, tanto como suporte prático quanto no manejo para tolerar as reações agressivas do filho, "ela ficará incumbida de manter sozinha a força do ambiente e terá que fazer isso sem perder, no entanto, as qualidades maternas fundamentais para o bebê, e ficará dividida entre duas tarefas" (p. 46). Dessa forma, o pai pode auxiliar a mãe a suportar o ódio do bebê ao ser desmamado, seja por meio de suporte afetivo a ela ou por se prestar ativamente a acalmar o filho e conduzi-lo a estados relaxados (Winnicott, 1958/1978), ao mesmo tempo em que a ajuda nas tarefas diárias da casa, retomadas com o retorno gradual à antiga rotina.
Conforme progride em seu processo de integração, baseado em vivências positivas de repetidos ciclos de problemas-soluções, o bebê passa a construir um sentido temporal de que, além de existir (ser), ele o faz de forma contínua. Assim, ele compreende que lida com o ambiente de maneira mais ou menos previsível, pois tem características particulares que lhe permitem afirmar "'EU SOU' isto ou aquilo" (Winnicott, 1965/1983). Sobre esse primeiro esboço de uma identidade, Loparic (2014) afirma que, no momento anterior à integração, prevalece no bebê uma multiplicidade de "núcleos do ego" subpessoais para padronizar localmente as excitações instintuais, que gradativamente progridem para o estabelecimento dos núcleos do ego em uma unidade de controle. Nas palavras do autor:
Essa unidade tem o caráter de um fato existencial, ao qual se aplicam os conceitos de um, uno, único, só. Esse fato pode ser chamado de "eu" [...] Na sequência do amadurecimento, a expressão "EU SOU" começa a fazer sentido. Incluindo um fator temporal, pois significa "EU CONTINUO EXISTINDO", e abrangendo estados excitados, passados, presentes e futuros (Loparic, 2014, pp. 69-70).
A partir da constituição dessa percepção unificada de si, o bebê, amparado por um ambiente total facilitador, torna-se paulatinamente mais consciente e responsável pela sua vida instintual. De acordo com Loparic (2014): "O que fica reunido pela constituição do EU SOU são as funções corpóreas, isto é, o uso excitado e, portanto, também destrutivo e ainda incompadecido de objetos" (p. 72). Portanto, na teoria winnicottiana do desenvolvimento emocional, podemos observar duas linhas desenvolvimentais relacionadas: a identitária e a instintual, cujas edificações são necessárias para o estabelecimento de relações objetais adequadas (criação, reconhecimento, uso, ligação afetiva, destruição e reparação dos objetos), conforme ocorre a integração do Self. É nesse ponto que o pai pode auxiliar no alcance da integração do Self, conforme apresenta-se como um esboço (blue-print) para a constituição da totalidade pessoal. Quando o pai não se encontra presente, esse processo se torna mais árduo, e o bebê deve procurar outra figura estável como modelo de pessoa total (Winnicott, 1969a/1994).
A introdução do pai no campo perceptivo do filho apresenta algumas particularidades. Posto que a mãe, desde o início da vida do bebê, é essencial para promover o sentido de ser e a integração por meio do holding, sua existência é experienciada, por um certo período de tempo, como indissociável da própria sensação de ser e existir no mundo do filho. Ademais, nessa etapa a mãe também é vista como objeto parcial, como o seio (e não uma pessoa inteira) que vai ao encontro do psicossoma indiferenciado do recém-nascido. O pai, por sua vez, por nunca ter usufruído de uma relação simbiótica com o bebê na qual os limites entre eu e não eu ainda eram imprecisos e flexíveis, é mais facilmente percebido e usado por ele como um diagrama de pessoa inteira (whole person) (Winnicott, 1969a/1994). Nota-se que Winnicott usa o termo "diagrama" e não "modelo", pois o último se refere mais à percepção objetiva da realidade, enquanto o primeiro faz menção à possibilidade de o bebê criar, via elaboração imaginativa, um esboço da coesão psicossomática que faz parte da integração do eu (Rosa, 2014).
Durante esse período de afastamento da figura materna, a fim de compreender e adaptar-se à realidade em transformação e expansão, o bebê passa a "abrir-se ao mundo e prestar mais atenção" nas características e partes que compõem o seu ambiente total, que inclui a própria figura paterna e suas propriedades particulares (Winnicott, 1944-1945/1982), como a maciez do toque, o cheiro da pele, o maior atrito com os pelos, o tom da voz mais grave e outras diferenças anatômicas.
Conforme adquire uma condição de unidade integrada, o bebê passa a vislumbrar suas potencialidades de ação sobre a realidade externa, percebendo o impacto de seus impulsos amorosos vorazes primitivos, bem como a destrutividade intrínseca aos mesmos (Rosa, 2014), especialmente nas situações em que reage frente à perda ou afastamento das gratificações do meio. As manifestações de agressividade expressam-se como uma forma de se relacionar com os objetos externos e a sobrevivência dos mesmos, após os ataques excitados, conduz à decadência da onipotência do bebê, caracterizando o início do estágio rumo à independência (Winnicott, 1971/1975). É a partir desse ponto que o bebê passa a compreender o pai e a si mesmo como pessoas inteiras e a capacidade simbólica pode ser utilizada de forma mais consistente para apreender a realidade objetiva.
A capacidade para tolerar a ambivalência (amor-ódio) no relacionamento com os objetos externos possibilita a integração da destrutividade inerente à impulsividade instintual no Self e capacita a criança para o concernimento. Essa capacidade é fruto de um processo gradual e sistemático de repetidas vezes danificar e reparar os objetos e abarca, de forma geral, a habilidade de se preocupar e ter cuidado com as consequências de suas ações (principalmente as agressivas) direcionadas a outrem (Rosa, 2014; Winnicott, 1955/2000). Seu estabelecimento marca a passagem de um estado em que não há o reconhecimento da riqueza e intensidade da vida instintual, de forma que ela é vivida despreocupadamente (ruthless), para outro estado no qual, uma vez integradas ao ego, suas consequências passam a ser percebidas, sentidas e elaboradas (concern).
No decorrer desse processo, todos os membros familiares que compõem o ambiente total da criança, principalmente a mãe que efetua o desmame, tornam-se alvos da destrutividade do bebê. Tolerar, dar contornos e sobreviver a esses ataques são as principais tarefas da parentalidade suficientemente boa. O pai deve, aqui, proteger a mãe da impulsividade infantil quando ela se apresentar de forma intensa ou desmedida. A sobrevivência da mãe e do pai facilita a incorporação de uma dimensão temporal no processo de danificar-reparar (Rosa, 2014), permitindo que, no intervalo entre ambos, emerja gradualmente um senso de responsabilidade e preocupação (semelhante ao "sentimento de culpa" do sistema kleiniano), caracterizando a entrada no círculo benigno (Winnicott, 1955/2000).
O desenvolvimento dessa dimensão temporal é essencial, pois permite à criança perceber que o objeto externo de amor que ataca vorazmente no auge da excitação instintiva (mãe-objeto) é o mesmo objeto que, em um momento posterior, sustenta sua continuidade de existência quando volta a estar relaxado (mãe-ambiente), o que a compele a se preocupar com a possibilidade de destruir a cuidadora em um próximo momento de excitação. Essa percepção conduz o bebê a "um anseio pessoal por dar e construir e reparar" (Winnicott, 1958/2000, p. 291). Esse é um dos momentos centrais na conquista do concernimento (Winnicott, 1955/2000). O ambiente total, composto por ambos os pais, mas especialmente a mãe, deve, assim, sobreviver aos ataques e, concomitantemente, aceitar as manifestações de preocupação (gestos espontâneos), frutos de elaboração criativa que a criança começa a ofertar na forma de "um sorriso, um gesto espontâneo de amor ou então o oferecimento de um presente - um produto da excreção" (Winnicott, 1988/1990, p. 91).
Aceitar e incentivar a produção dessas ofertas são formas de os pais firmarem a capacidade simbólica do filho de reparar os "buracos" que imaginativamente ele produziu no ambiente durante os estados excitados, consolidando, dessa maneira, os elementos essenciais para a constituição do círculo benigno. Winnicott (1955/2000) compila as etapas constituintes desse processo em cinco momentos, apresentados na forma de um esquema que deve ser lido/compreendido como períodos sequenciais:
Um relacionamento entre o bebê e sua mãe complicado pela experiência instintiva. Um tênue vislumbre das consequências (o buraco). Uma elaboração interna, com uma triagem dos resultados da experiência. Uma capacidade de dar, devido à separação entre o bom e o ruim internos. Reparação (p. 365).
As conquistas do concernimento levam um longo tempo para se estabelecerem: elas têm seus primeiros vislumbres durante a relação dual, começam a se delinear mais claramente a partir dos dois anos e meio e podem se estender até depois dos cinco anos de idade (Dias, 2003). Conforme o desenvolvimento progride, alcançar e conquistar a capacidade do concernimento possibilitam à criança "uma capacidade de reparação maior, e o alcance de um novo nível de liberdade para a experiência instintiva" (Winnicott, 1988/1990, p. 92). Assim, numa situação favorável, a criança pode seguir adiante, rumo aos dilemas dos relacionamentos interpessoais triangulares, dos quais o Complexo de Édipo constitui o protótipo (Winnicott, 1954-1955/2000). Em síntese, o advento da identidade unitária e a integração dos aspectos agressivos e amorosos da instintualidade são pré-requisitos para a entrada nas vivências edípicas.
O pai, como pessoa total, que nas experiências do concernimento já fora compreendido como um agente protetor da mãe contra seus impulsos vorazes, agora é percebido como imerso em um tipo de relação especial excitante, da qual a criança não participa, fazendo com que surja a ideia de que a terceira excluída é ela (Dias, 2003; Rosa, 2014). Assim, a criança reconhece, ainda que de forma rudimentar, que a relação familiar íntima dos pais já existia antes de sua chegada, ampliando sua percepção a respeito das relações interpessoais e das possibilidades que a experiência humana coletiva apresenta a ela (Winnicott, 1988/1990).
Assim, Winnicott (1988/1990) compreende o Complexo de Édipo de forma mais integrada a todo o processo de desenvolvimento da criança no seu ambiente familiar, desde o início da vida. Conforme ressalta Rosa (2014): "a situação edipiana acontece dentro de uma família, e não o contrário: não é a dinâmica desejante da triangulação edípica que condiciona e estrutura as relações familiares" (p. 34). Portanto, ao ter contato, sentir e refletir sobre esses laços afetivos previamente estabelecidos, a criança pode acentuar seus comportamentos agressivos na relação com os objetos externos, no intuito de "reafirmar seu lugar" como centro das atenções, engajando-se, a partir daí, em um estado de "competição" com o progenitor do mesmo sexo.
Para tanto, a fim de ocupar um local imaginário de "competidor", o pai precisa, antes de tudo, ser um elemento real e significativo dentro do lar, apresentando-se como integrante da família, parceiro da mãe e homem adulto (Rosa, 2014; Winnicott, 1960/1999). Antes de ser um terceiro que exerce a função de interditor sexual ou objeto de desejo, ele precisa existir concretamente no dia a dia do filho, exercendo "ações concretas de proteção, intervenção e sustentação das relações familiares, e também ter, efetivamente, presença nas brincadeiras e jogos das crianças" (Rosa, 2014, pp. 34-35). Em outras palavras, a presença do pai precisa ser real antes de se tornar simbólica. Ademais, não é ele quem apresenta pela primeira vez ao psiquismo do filho, por meio de sua presença forte e interditora, os valores éticos e morais, pois estes já são vislumbrados nas experiências de concernimento, presentes no processo do círculo benigno.
Segundo Winnicott (1969a/1994, 1969b/1994), as funções esperadas do pai real durante as vivências edípicas são, basicamente, oferecer ao filho confiança e segurança para auxiliar na manutenção das conquistas previamente estabelecidas, incitar a passagem do mundo da família para o âmbito da sociedade, servir ativamente como diagrama para identificação e, principalmente, operar como pessoa inteira que não se encaixa no feixe de projeções da criança, sobrevivendo aos ataques agressivos instintuais e, dessa forma, auxiliando-a na discriminação entre fantasia e realidade (Barretta, 2012; Rosa, 2009; Winnicott, 1988/1990). Este último ponto é de importância singular, pois, na medida em que a capacidade de reparação da criança se fortalece, aumenta também sua necessidade de experimentar plenamente sua potência destrutiva.
A presença de um pai real, que pode ser reconhecido e usado, permite que o filho deposite sobre ele sentimentos de ódio que teria dificuldades para dirigir à mãe, tão amada e engajada na sustentação de sua existência no início de sua vida. Esses sentimentos odiosos "a criança provavelmente os reprimiria, antes mesmo de tê-los experimentado; o pai é, supostamente, na mente infantil, aquele que pode aguentar o ódio sem ser destruído: de alguma forma, ele é mais forte, mais duro e menos identificado pela criança como a própria mãe o é, e talvez menos associado à fragilidade infantil" (Rosa, 2014, p. 56). Nesse ponto, mesmo que o filho, em fantasia, assassine, maltrate ou destrua o pai ou a mãe, após algum tempo, ao perceber, apesar de seus ataques, a continuidade do vínculo amoroso e sexual do casal, ele volta ao pensamento lógico da realidade compartilhada (Barretta, 2012; Rosa, 2009). Sobre essa gradativa elaboração perceptual da criança, Winnicott afirma que ver os pais juntos no dia a dia "torna suportável o sonho de sua separação ou da morte de um deles" (1988/1990, p. 77).
Um pai suficientemente bom, maduro e que não esteja abalado psiquicamente de forma comprometedora por qualquer eventualidade (por exemplo, mostrando-se vacilante, desvitalizado, deprimido) pode ir ao encontro das manifestações agressivas do filho, aceitando-as, ao mesmo tempo em que impõe limites. Dessa forma, a criança não inibe a expressão das fantasias destrutivas (favorecendo, assim, o ganho de vitalidade), ao mesmo tempo em que passa a compreender que seus atos são subordinados a instâncias superiores (o pai, a mãe, a família, a sociedade), preparando-se para a inserção nas experiências culturais. Conforme ressalta Rosa (2011), se a criança não tem a possibilidade de agir excitadamente, ou se teme exercer a destrutividade inerente ao viver, de forma que os atos reparadores não têm a oportunidade de acontecer, há o risco de que o processo de desenvolvimento esmaeça e, em decorrência disso, a capacidade de brincar (e trabalhar) possa desaparecer (Winnicott, 1988/1990).
O pai emocionalmente maduro compreende que o desenvolvimento do filho nem sempre é um processo tranquilo, pois em momentos de manifestações agressivas descontroladas, a criança agitada geralmente só consegue reagir com os meios imaturos de que dispõe (Winnicott, 1988/1990), frente aos quais os adultos devem tomar cuidado para não reagirem de forma igualmente imatura ou desproporcional. De modo sensível, porém categórico, o pai deve se fazer ouvir e respeitar, pois é por meio de sua firmeza que "torna-se significativo para a criança pequena, desde que ele tenha conquistado antes o direito de assumir uma atitude firme ao ter uma presença assídua e amistosa em casa" (Winnicott, 1960/1999, p. 100).
A estabilidade emocional dos pais frente às intempéries relacionais próprias das vivências edípicas traz consigo incontáveis benefícios para o desenvolvimento emocional e para a integração do Self do filho (Rosa, 2009; Winnicott, 1957/2001). A proteção exercida pelo pai contra as fantasias sexuais infantis, quando é consistente e eficaz, aumenta o amor e a admiração do filho por ele, abrindo espaço mental para a identificação e a aceitação da castração, que deixa, em parte, de ser compreendida como uma imposição tirânica do homem adulto e é ressignificada como uma saída para a impotência sexual real da criança e para as suas fantasias angustiantes. Assim, "o medo à castração pelo genitor rival torna-se uma alternativa bem-vinda para a angústia da impotência" (Winnicott, 1988/1990, p. 62).
A partir dessa aceitação da castração e da identificação sexual com o pai, o menino obtém uma potência adiada, que poderá usufruir na puberdade (Winnicott, 1988/1990). Essa identificação do filho com o pai é chamada de pacto homossexual e baseia-se em um processo no qual, ao invés de reivindicar uma potência semelhante à do genitor, o filho abre mão de parte dela, de forma a fantasiar que a potência paterna atual também é sua, porém será reassumida posteriormente: "até um certo ponto, o menino estabelece um pacto homossexual com o pai, de modo que sua própria potência não é mais apenas dele, e sim uma nova expressão da potência do pai, por meio da identificação internalizada e aceita" (Winnicott, 1988/1990, p. 73). Trata-se de uma incorporação da posição e da potência do pai, pois o filho passa a absorver suas características, como seus hábitos, modos de expressão, tiques, interesses pessoais e outros elementos que configurem aspectos do ser masculino adulto e vigoroso que o ama, cuida e protege.
Dessa forma, o pai real vai se tornando paulatinamente mais presente no psiquismo da criança, mesmo quando está ausente fisicamente. Em outras palavras, ele vai progressivamente se tornando um pai simbólico por meio do fortalecimento da sua imago na realidade interna do filho e da mãe (Winnicott, 1969a/1994). Segundo Di Loreto (2004), esse processo de incorporação também é catalisado a partir da crescente percepção da criança a respeito das imagos paternas que habitam a realidade psíquica da mãe e as maternas que habitam a do pai, em um processo denominado "vias reflexas". O conceito de imago utilizado por Winnicott (1968/1999; 1969a/1994) é semelhante ao da teoria junguiana. Trata-se de uma representação inconsciente do objeto, enriquecida com a elaboração imaginativa. Conforme explana Rosa (2009, p. 76):
[...] essa "imago" é, então, dotada de uma força, a qual não provém da libido - sendo essa uma energia que, como tal, não tem história, mas é da memória de situações interpessoais, guardadas como uma história pessoal. Portanto, uma interpretação possível do sentido de imago, para Winnicott [...] é aquilo que permanece, como memória viva, embora nem sempre consciente, dos modos de presença e da relação viva e significativa com determinadas pessoas, ao longo da história pessoal.
As vivências edípicas, embora envolvam renúncias, quando alcançam um bom desenlace, preparam a criança para um nível superior da capacidade do viver criativo (Winnicott, 1961/1994). Essa capacidade será empregada nas atividades cada vez mais complexas que a criança realizará na etapa seguinte, o período de latência, na qual o apaziguamento das fantasias desconcertantes lhe permitirá dedicar a maior parte dos seus pensamentos e interesses para a compreensão criativa da realidade externa, gradativamente mais ampla e rica, principalmente durante o período escolar, em que se encontra fora do núcleo familiar, vislumbrando novas possibilidades de ser e agir.
Winnicott (1958/1994; 1949/1971) estava atento às questões sociais de sua época, como a reestruturação urbanista, econômica e psicossocial da Inglaterra no período do pós-guerra, e as implicações dessas intensas transformações ambientais no seio da família. Suas observações a respeito da influência dessas modificações sobre a estrutura e a dinâmica familiar foram assimiladas em sua teoria, conforme ele constatava, em seu consultório, a maior visibilidade das configurações familiares além da nuclear, o aumento da orfandade devido ao holocausto que se abateu sobre os judeus, a transformação do papel da mulher na organização social do trabalho e a implantação de serviços de saúde que garantiram maior atendimento às famílias gestantes e puérperas. Embora afirme que a mãe devotada comum realiza uma "adaptação sensível" ao bebê por meio da preocupação materna primária (Winnicott, 1964/1999), esse estado, embora presente de forma marcante (e necessário), não deve ser compreendido com base em um determinismo evolutivo que condiciona que a mãe biológica é a única responsável por sustentar o desenvolvimento do filho.
O cuidado infantil, inclusive dos recém-nascidos, deve ser compreendido como uma responsabilidade social, mesmo que de início essas tarefas se concentrem em um âmbito relacional mais restrito (dual). A promoção de condições suficientemente boas para o desenvolvimento das crianças pode não se dar de maneira plena quando a responsabilidade é delegada exclusivamente a uma só pessoa. É nesse ponto que o homem, como pai, é convidado por Winnicott (1969/1999) a integrar o círculo íntimo de cuidadores reais do bebê, auxiliando nessa tarefa naquilo que for de seu alcance e dentro de seus limites pessoais.
Dessa forma, o pai é responsável pelo aperfeiçoamento e integração do Self infantil. Em consequência, ele também responde pelas falhas que direta ou indiretamente provoca nos processos de construção identitária e integração instintual do filho, caso malogre em oferecer a proteção estendida necessária para amenizar o desamparo da díade mãe-filho quando eles necessitam de apoio ou quando agrava sentimentos negativos que interfiram na boa vinculação dos mesmos.
Em alguns casos menos favoráveis, o pai se mostra tão distante afetivamente da família que acaba optando por não a constituir ou abandoná-la por completo. Segundo Ribeiro (2014, p. 122):
Em alguns casos, o pai chega a ausentar-se definitivamente, pois não reconhece aquela situação familiar como uma escolha pessoal, não sabia que as coisas seriam assim e se desinteressa pela pessoa em que sua mulher, agora mãe, se tornou. Assim, a mãe sofre um abandono no meio do caminho e também pode, nessas circunstâncias, requerer o crescimento rápido do bebê, pois o ambiente de ambos sofreu uma alteração na própria constituição. A mãe mesma precisa encontrar soluções para a sua nova realidade, desprovida agora do apoio paterno. [...] Comumente, a sobrecarga da mãe pela falha paterna dificulta sua identificação com o filho e as regressões.
Todas as possibilidades de condutas dos pais, sejam positivas ou negativas, repercutem no desenvolvimento emocional dos filhos (Fulgencio, 2011). Os pais são seres humanos comuns e, em decorrência disso, mesmo que possam oferecer cuidados suficientemente bons às crianças, vão eventualmente falhar (e voltar a falhar) em alguns pontos. As falhas são inevitáveis e devemos considerar que, onde há falta, também se abre espaço para a busca de algo que suplemente tal lacuna. Em outras palavras, junto com a deficiência há também uma força em potencial dirigida para um movimento evolutivo.
Dessa forma, o amadurecimento pessoal do bebê não depende de um estado de perfeição primorosa dos pais para ocorrer, mas sim do estabelecimento da confiança em pessoas reais que ofereçam cuidados úteis às suas variadas necessidades em diferentes momentos, de maneira que se sustente um contínuo processo de construção de suas realidades interna, externa e transicional. Para tanto, os cuidadores também devem ser cuidados, a fim de que tenham condições favoráveis para se responsabilizar pelos mais imaturos. Nesse ponto, Winnicott (1949/1971) salienta a necessidade de a família estar inserida em uma rede de suporte (adequada e disponível para ser usada), que promova moradia, cuidados de saúde, atividades benéficas e também um firme sentimento de pertencimento ao ambiente social em que se insere, possibilitando melhores chances de êxito em sua formação e desenvolvimento.
Considerações finais
Esta exposição teórica mostra que, de acordo com a teoria winnicottiana, o relacionamento entre pais e filhos é essencial para a consolidação do Self infantil, e que eventuais deficiências no exercício das funções maternas e paternas podem engendrar dificuldades emocionais específicas na criança. A partir de um deslocamento da sexualidade e do Complexo de Édipo como elementos axiais da constituição da experiência subjetiva, essa abordagem teórica promoveu diversas contribuições à Psicanálise, conforme compreende a trama familiar (e o papel do pai dentro dela) como um campo de oferecimento satisfatório de cuidados efetivos aos seus membros, para depois ser um espaço de conflitos e embates identitários e triangulares.
Dentro desse horizonte, Winnicott (1949/1982) enriquece a compreensão das funções paternas postulando que o pai, além de ser um interventor inevitável, também deve demonstrar uma gama flexível de formas de atuação, de acordo com demandas maturacionais e relacionais que se articulam e se modificam ao longo do tempo no ambiente familiar. No estágio primordial da dependência absoluta do bebê, o pai é convidado a assumir uma postura de zelo que permite a sustentação das funções maternas da parceira, a qual se sente amparada para poder continuar oferecendo cuidados integrais e essenciais ao eu incipiente do bebê. Ademais, por meio de um resgate daquilo que guarda em seu psiquismo de seu elemento feminino puro, o pai pode agir como uma mãe substituta suficientemente boa nos momentos em que isso se mostre necessário.
Conforme o filho avança para o estágio de dependência relativa, o pai deve ser um agente catalisador do delicado processo de desilusão que ele vivencia, protegendo-o contra prejuízos nas conquistas evolutivas que alcançou referentes à integração, personalização e realização. Nesse ponto, conforme a mãe e o bebê permitem, o pai vai gradativamente se fazendo presente na realidade psíquica do filho, apresentando-se como um diagrama de uma pessoa inteira que pode ser usado pela criança para orientar o processo de integração do Self, além de auxiliar a mãe a tolerar as manifestações agressivas dirigidas a ela no processo de desmame.
Durante o estágio rumo à independência, em que o bebê já compreende a si próprio e ao pai como pessoas totais, é comum que sejam intensificadas as manifestações de agressividade como uma forma de se relacionar com os objetos externos. Nesse momento, o pai deve proteger a mãe da impulsividade infantil, bem como sobreviver aos ataques direcionados para si, facilitando assim a incorporação pela criança de uma dimensão temporal no processo reiterado de danificar-reparar, fator essencial para o gradual desenvolvimento do sentido de concernimento característico do círculo benigno.
Assim, conforme emergem uma identidade unitária e a integração dos aspectos agressivos e amorosos da instintualidade, as vivências edípicas se tornam possíveis, demandando do pai, além de uma postura interventora, o oferecimento de confiança e segurança para auxiliar o filho na sua experimentação controlada de sua potência destrutiva. Além disso, sua presença pode auxiliar na discriminação entre fantasia e realidade, na passagem do mundo da família para o da sociedade e na consolidação de um espaço mental para a identificação sexual e aceitação voluntária da castração, agora ressignificada como uma saída desejável diante da imaturidade sexual da criança e da angústia de suas fantasias decorrentes.
Dessa forma, quando se pensa sobre a paternidade sob o prisma winnicottiano, deve ser destacada a necessidade de o pai primeiro ser - positivamente - real, a fim de que possa se tornar um registro simbólico vivo no psiquismo dos demais membros do lar. Mais do que isso, na abordagem winnicottiana o pai deve se apresentar como uma figura de apoio real da mãe, auxiliando-a no cumprimento de suas atribuições de cuidado ao filho e à díade mãe-filho, de forma maleável e por meio do oferecimento de múltiplas ações adaptativas pertinentes às demandas específicas a cada etapa desenvolvimental, as quais se mostram altamente diversificadas.
Referências
Aberastury, A. (1991). A paternidade. In A. Aberastury, & E. J. Salas (Orgs.), Paternidade: Um enfoque psicanalítico (pp. 41-87). Porto Alegre: Artes Médicas.
Andrade, E. V. (2007). A descontinuidade entre agressividade e violência: Uma contribuição psicanalítica às práticas educacionais (Dissertação de Mestrado). Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Barretta, J. P. F. (2012). O complexo de Édipo em Winnicott e Lacan. Psicologia USP, 23(1), 157-170. https://doi.org/10.1590/S0103-65642012000100008
Dias, E. O. (2003). A teoria do amadurecimento de D. W. Winnicott. Rio de Janeiro: Imago.
Di Loreto, O. (2004). Origem e modo de construção da mente (psicopatogênese): A psicopatogênese que pode estar contida nas relações familiares. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Fulgencio, L. (2011). A constituição do símbolo e o processo analítico para Winnicott. Paidéia, 21(50), 393-401. https://doi.org/10.1590/S0103-863X2011000300012
Loparic, Z (2006). De Freud a Winnicott: Aspectos de uma mudança paradigmática. Winnicott e-prints, 1(1), 1-29.
Loparic, Z. (2014). O pai e o monoteísmo em Winnicott. In C. D. Rosa (Org.), E o pai? Uma abordagem winnicottiana (pp. 63-91). São Paulo: DWW.
Outeiral, J. (1997). Sobre a concepção de pai na obra de D. W. Winnicott. In J. Outeiral, & S. Abadi (Orgs.), Donald Winnicott na América Latina: Teoria e clínica psicanalítica (pp. 203-211). Rio de Janeiro: Revinter.
Ribeiro, M. J. (2014). Considerações sobre o desenvolvimento excessivo da inteligência na criança e o papel do pai na dependência relativa. In C. D. Rosa (Org.), E o pai? Uma abordagem winnicottiana (pp. 107-126). São Paulo: DWW.
Rosa, C. D. (2007). A presença do pai no processo de amadurecimento: Um estudo sobre D. W. Winnicott (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
Rosa, C. D. (2009). O papel do pai no processo de amadurecimento em Winnicott. Natureza Humana, 11(2), 55-96.
Rosa, C. D. (2011). O papel do pai no processo de amadurecimento em Winnicott. In E. O. Dias, & Z. Loparic (Orgs.), Winnicott na escola de São Paulo (pp. 257-302). São Paulo: DWW.
Rosa, C. D. (2014). O pai em Winnicott. In C. D. Rosa (Org.), E o pai? Uma abordagem winnicottiana (pp. 25-62). São Paulo: DWW.
Safra, G. (2009). Os registros do masculino e feminino na constituição do self. Jornal de Psicanálise, 42(76), 77-89.
Santos, M. A. (1999). A constituição do mundo psíquico na concepção winnicottiana: Uma contribuição à clínica das psicoses. Psicologia: Reflexão e Crítica, 12(3), 603-625. https://doi.org/10.1590/S0102-79721999000300005
Souza, C., & Santos, M. A. (2021). Figurações da relação mãe-bebê nas esculturas de Felícia Leirner: Um olhar winnicottiano. Revista Subjetividades, 21(2), 1-13. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v21i2.e11411
Veludo, C. M. B., & Viana, T. C. (2012). Parentalidade e o desenvolvimento psíquico na criança. Paidéia, 22(51), 111-118. https://doi.org/10.1590/S0103-863X2012000100013
Winnicott, D. W. (1982). E o pai? In D. W. Winnicott, A criança e seu mundo (6a ed., pp. 127-133, A. Cabral, Trad.). Rio de Janeiro: LTC. (Obra original publicada em 1944-1945).
Winnicott, D. W. (1971). As crianças e as outras pessoas. In D. W. Winnicott, A criança e seu mundo (pp. 116-124, A. Cabral, Trad.). Rio de Janeiro: LTC. (Obra original publicada em 1949).
Winnicott, D. W. (1982). Um homem encara a maternidade. In D. W. Winnicott, A criança e seu mundo (pp. 15-18, A. Cabral, Trad.). Rio de Janeiro: LTC. (Obra original publicada em 1949).
Winnicott, D. W. (1997). Crescimento e desenvolvimento na imaturidade. In D. W. Winnicott, A família e o desenvolvimento individual (pp. 29-41, M. B. Cipolla, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Obra original publicada em 1950).
Winnicott, D. W. (2000). Retraimento e regressão. In D. W. Winnicott, Da pediatria à Psicanálise: Obras escolhidas (pp. 347-354, D. L. Bogomoletz, Trad.). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1954-1955).
Winnicott, D. W. (2000). A posição depressiva no desenvolvimento emocional normal. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise: Obras escolhidas (pp. 355-373, D. L. Bogomoletz, Trad.). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1955).
Winnicott, D. W. (1993). A família e o desenvolvimento individual (M. B. Cipolla, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Obra original publicada em 1956).
Winnicott, D. W. (2001). Fatores de integração e desintegração da vida familiar. In D. W. Winnicott, A família e o desenvolvimento individual (2a ed., pp. 59-72, M. B. Cipolla, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Obra original publicada em 1957).
Winnicott, D. W. (1978). Agressão e sua relação com o desenvolvimento emocional. In D. W. Winnicott, Textos selecionados: Da pediatria à psicanálise (pp. 355-374, J. Russo, Trad.). Rio de Janeiro: Francisco Alves. (Obra original publicada em 1958).
Winnicott, D. W. (2000). A agressividade em relação ao desenvolvimento emocional. In D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise: Obras escolhidas (pp. 288-304, D. L. Bogomoletz, Trad.). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1958).
Winnicott, D. W. (1994). Material clínico: "Sobre os elementos masculinos e femininos ex-cindidos (split-off)". In D. W. Winnicott, Explorações psicanalíticas (pp. 144-150, J. O. A. Abreu, Trad.). Porto Alegre: Artmed. (Obra original publicada em 1959-1963).
Winnicott, D. W. (1983). Classificação: Existe uma contribuição psicanalítica à classificação psiquiátrica? In D. W. Winnicott, O ambiente e os processos de maturação (pp. 144-127, I. C. S. Ortiz, Trad.). Porto Alegre: Artmed. (Obra original publicada em 1959-1964).
Winnicott, D. W. (1999). O que irrita? In D. W. Winnicott, Conversando com os pais (2a ed., pp. 77-100, A. Cabral, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Obra original publicada em 1960).
Winnicott, D. W. (1994). Psiconeurose na infância. In D. W. Winnicott, Explorações psicanalíticas (pp. 53-58, J. O. A. Abreu, Trad.). Porto Alegre: Artmed. (Obra original publicada em 1961).
Winnicott, D. W. (1988). O recém-nascido e sua mãe. In D. W. Winnicott, Os bebês e suas mães (J. L. Camargo, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Obra original publicada em 1964).
Winnicott, D. W. (1999). Este feminismo. In D. W. Winnicott, Tudo começa em casa (3a ed., pp. 183-195, P. Sandler, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Obra original publicada em 1964).
Winnicott, D. W. (1983). A família e o desenvolvimento individual. In D. W. Winnicott, O ambiente e os processos de maturação (pp. 03-20, I. C. S. Ortiz, Trad.). Porto Alegre: Artmed. (Obra original publicada em 1965).
Winnicott, D. W. (1990). Distorção do ego em termos de falso e verdadeiro self. In D. W. Winnicott, O ambiente e os processos de maturação: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional (pp. 128-139, I. C. S. Ortiz, Trad.). Porto Alegre: Artmed. (Obra original publicada em 1965).
Winnicott, D. W. (1996). A criança no grupo familiar. In D. W. Winnicott, Tudo começa em casa. (pp. 123-136, P. Sandler, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Obra original publicada em 1966).
Winnicott, D. W. (1999). O aprendizado infantil. In D. W. Winnicott, Tudo começa em casa (pp. 137-144, P. Sandler, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Obra original publicada em 1968).
Winnicott, D. W. (1994). O uso de um objeto no contexto de Moisés e o monoteísmo. In D. W. Winnicott, Explorações psicanalíticas (pp. 187-191, J. O. A. Abreu, Trad.). Porto Alegre: Artmed, 1994. (Obra original publicada em 1969a).
Winnicott, D. W. (1994). O uso de um objeto e o relacionamento através de identificações. In D. W. Winnicott, Explorações psicanalíticas. (pp. 171-177, J. O. A. Abreu, Trad.) Porto Alegre: Artmed. (Obra original publicada em 1969b).
Winnicott, D. W. (1999). A imaturidade do adolescente. In D. W. Winnicott. Tudo começa em casa. (3a ed., pp. 145-163, P. Sandler, Trad.). São Paulo: Martins Fontes, 1999. (Obra original publicada em 1969).
Winnicott, D. W. (1975). O brincar e a realidade (J. O. A. Abreu & V. Nobre, Trads.). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1971).
Winnicott, D. W. (1996). Vivendo de modo criativo. In D. W. Winnicott, Tudo começa em casa (pp. 23-29, P. Sandler, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Obra original publicada em 1986).
Winnicott, D. W. (1990). Natureza humana (D. L. Bogomoletz, Trad.). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1988).
Endereço para correspondência:
Gabriel Aparecido Gonçalves dos Santos
gabrielg@tjsp.jus.br
Valeria Barbieri
valeriab@ffclrp.usp.br
Manoel Antônio dos Santos
masantos@ffclrp.usp.br
Submetido em: 08/01/2019
Revisto em: 11/04/2020
Aceito em: 15/04/2020
1 Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Categoria 1A.
2 Vale dizer que, na ausência concreta do pai, esse suporte pode ser oferecido por qualquer outro membro da família ou por outra pessoa de confiança da mãe.