FILOSOFIAS DE ARKHÉ COMO ENFRENTAMENTO AO ONTOCÍDIO: ORALIDADE E CULTURA AFRO-BRASILEIRA / Arkhé Philosophies against the Ontocide: Orality and Afro-Brazilian culture

Autores

  • Mateus Raynner Andre de Souza

DOI:

https://doi.org/10.37235/ae.n41.6

Resumo

Neste ensaio parto de uma compreensão da modernidade como um momento na história do pensamento que, entre outras coisas, em sua prática de dominação e subjugação dos corpos africanos e afrodiaspóricos – e por que não citar os corpos ameríndios? –, acabou por sobrevalorizar somente o conhecimento escrito e letrado, descartando a oralidade e a identificando como algo menor. Defendo a hipótese de que, ao negar a esses corpos a Palavra, negou-lhes também o Ser, movimento que denomino ontocídio. Defendo também a compreensão das festas afro-brasileiras como filosofias – compreendidas como filosofias de arkhé – e as demonstro como locais de enfretamento das práticas coloniais e de reontologização. Considero que esta discussão, desenvolvida mediante uma revisão bibliográfica, possa promover novas reflexões para um conhecimento menos colonizado.

Palavras-chave: Manifestações culturais; Modernidade; Filosofias africanas e da diáspora; Ontocídio.

 

Abstract

This essay presupposes a meaning of modernity as a moment in the history and as practice of domination and subjugation of African and Afro-diasporic bodies – and why not mention Amerindian bodies –, ended up overvaluing knowledge as something written and literate, discarding oral knowledge and identifying it as something less. The hypothesis to be defended is that by denying these beings the Word, they also denied the Being, a movement that I am calling here ontocide. It is also a hypothesis that Afro-Brazilian manifestations are understood as philosophies, called here arkhé philosophies, I intend to show them precisely as a form to confront colonial practices and as a site for reontologization. I believe that the discussion marked through a bibliographic review can promote new reflections for a less colonized knowledge.

Keywords: Cultural manifestations; Modernity; African and Diaspora philosophies; Ontocide.

Referências

BRASIL. Presidência da República. Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a lei no9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências.

CARNEIRO, Aparecida Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. São Paulo: Fuesp, 2005.

CARVALHO, José Jorge. Encontro de saberes e descolonização: para uma refundação étnica, racial e epistêmica das universidades brasileiras. In: BERNADINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES, Nelson; GROSSFOGUEL, Ramón (org.). Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. Belo Horizonte: Autêntica, 2018. p. 79-106.

CASTIANO, José P. Os saberes locais na academia: condições e possibilidades da sua legitimação. Maputo: Universidade Pedagógica/Cemec, 2013.

DIAGNE, Souleymane Bachir. Pour un universel vraiment universel. In: MEBMBE, Achille; SARR, Felwine (org.). Écrire l’Afrique-Monde, Les Ateliers de la Penséé. Dakar: Philippe Rey/Jimsaan, 2017. p.396-377.

GONZALEZ, Lélia. Festas populares no Brasil = Popular Festivals in Brazil. 2 ed. Rio de Janeiro: Index, 1989.

GLISSANT, Edouard. Introdução a uma poética da diversidade. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2005.

HAMPATÉ BÂ, A. A. Tradição viva. In: História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África. Ed. Joseph Ki-Zerbo. 2 ed. rev. Brasília: Unesco, 2010. p. 167-188.

MACHADO, Adilbênia Freire; PETIT, Sandra Haydée. Filosofia africana para afrorreferenciar o currículo e o pertencimento. Revista Exitus, Santarém, v. 10, n. 1, 2020. e020079. Disponível em: https://doi.org/10.24065/2237-9460.2020v10n1ID882. Acesso em 1 fev. 2020.

MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Trad. Marta Lança. 1 ed. Lisboa: Antígona, 2014.

MARTINS, Leda. Oralitura da memória. In: FONSECA, Maria Nazareth Soares (org.). Brasil afro-brasileiro. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

MARTINS, Leda Maria. Afrografias da memória. São Paulo: Perspectiva, Belo Horizonte: Mazza Edições, 1997.

MUDIMBE, Valentin Yves. A invenção de África: gnose, filosofia e a ordem do conhecimento. Ramada, Portugal: Edições Pedago Lda, 2013.

MUNANGA, Kabengele. Arte afro-brasileira: o que é afinal? Paralaxe [online], v. 6, n. 1, 23 dez. 2019. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/paralaxe/article/view/46601. Acesso em 7 maio 2021.

NASCIMENTO, Wanderson Flor do. Enterreirando a investigação: sobre um éthos da pesquisa sobre subjetividades. Arquivos Brasileiros de Psicologia [online], v. 72, p. 199-208, 2020a. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttex-t&pid=S1809-52672020000300015&lng=pt&nrm=iso. Acesso em 10 maio 2021.

NASCIMENTO, Wanderson Flor do. Entre apostas e heranças: contornos africanos e afro-brasileiros na educação e no ensino de filosofia no Brasil. Rio de Janeiro: Nefi Edições, 2020b.

OYĚWÙMÍ, Oyeronke. Desaprendendo lições da colonialidade: escrevendo saberes subjugados e epistemologias marginalizadas. In: Seminário Internacional Decolonialidade e Perspectiva Negra, Brasília, 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ze-FI9vTl8ZU. Acesso em 10 maio 2021.

OYĚWÙMÍ, Oyeronke. Jornada pela academia. Trad. (para uso didático) Aline Matos da Rocha. Rev. Wanderson Flor do Nascimento. 2014. Disponível em: https://filosofia-africana. weebly.com. Acesso em 14 maio de 2021.

SANTOS, Antonio Bispo dos. As fronteiras entre o saber orgânico e o saber sintético. In: OLIVA, Anderson Ribeiro et al. Tecendo redes antirracistas: Áfricas, Brasis, Portugal. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

SARR, Felwine. Écrire les humanités à partir de L’Afrique. In: MEBMBE, Achille; SARR, Felwine. (org.). Écrire l’Afrique-Monde, Les Ateliers de la penséé. Dakar: Philippe Rey/Jimsaan, 2017. p. 396-377.

SODRÉ, Muniz. Pensar nagô. Rio de Janeiro: Vozes, 2017.

THOMAS, Rosalind. Letramento e oralidade na Grécia Antiga. Trad. Raul Fiker. São Paulo: Odysseus Editora, 2005.

Downloads

Publicado

24-07-2021