Poesia, mito e filosofia: uma leitura insistente de Orides Fontela

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Resumo

Com o objetivo de pensar as potencialidades da interface poesia/filosofia, examinarei o modo operatório da intertextualidade na produção poética de Orides Fontela. A partir da leitura insistente do poema “Kant (Relido)”, em cuja fatura extremamente sintética identificamos não apenas a referência a uma passagem significativa da Crítica da razão prática, mas também uma releitura do mito de Gaia e Uranos, relatado na Teogonia de Hesíodo, procurarei compreender o modo como a poeta dialoga com suas leituras, operando transformações e deslocamentos consideráveis. Neste poema, como em outros, Orides Fontela não se contenta em dizer de outro modo as teses que o texto filosófico enuncia, transpondo-as alegoricamente, numa expressão poética, mas ela responde poeticamente à interpelação contida na teoria. Assim, sua obra nos leva a colocar a questão do pensamento poético.

Biografia do Autor

Patricia Lavelle, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ

É professora do Departamento de Letras da PUC-Rio, atuando no Programa de Pós-graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade. Doutora em filosofia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, tem livros de ensaios publicados na França e no Brasil e suas pesquisas problematizam as relações entre criação literária e reflexão filosófica. Como poeta, publicou Migalhas metacríticas (coleção megamíni, 7Letras, 2017), Bye bye Babel (7Letras, 2018) e, com Paulo Henriques Britto, organizou O Nervo do poema – Antologia para Orides Fontela (Relicário, 2018).

Referências

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Publicado

2019-07-26

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Artigos