QUESTÕES DE GÊNERO, QUESTÕES DE SI: CORRESPONDÊNCIAS DE GABRIELA MISTRAL E VICTORIA OCAMPO

Autores

  • Ana Beatriz Mauá Nunes Universidade de São Paulo

Palavras-chave:

identidades latino-americanas, Gabriela Mistral, Victoria Ocampo,

Resumo

Este artigo tem como objetivo refletir sobre os debates travados entre Gabriela Mistral e Victoria Ocampo em torno das identidades latino-americanas em suas correspondências, trocadas entre 1926 e 1956. A questão das identidades hispano-americanas foi um ponto central em seu diálogo epistolar e suscitou profundas tensões entre as escritoras, quepossuíam entendimentos opostos sobre o tema. Tanto os sentidos da formação identitária latino-americana, quanto as suas responsabilidades individuais perante o desenvolvimento de seus países de origem eram percebidos de maneiras diversas. O único ponto de convergência era o entendimento de que todos os nascidos na América Latina compartilhariam o sentimento denominado de americanidad, proporcionado pelo passado comum de dominação colonial ibérica. Este conceito, entretanto, não era precisamente delimitado e os esforços para caracterizá-lo ocasionavam profundos dissensos. Enquanto Mistral advogou fervorosamente pela emancipação dos povos indígenas e pela questão agrária, Ocampo direcionou sua atuação para a construção de diálogos intelectuais e econômicos com o Velho Mundo, os quais seriam necessários para o desenvolvimento material e espiritual deseu país. O pensamento político de Gabriela Mistral está substancialmente caracterizado pela defesa do indigenismo, pela proposição de reformas agrárias e pela necessidade de afirmar a identidade latino-americana em contraposição à dominação europeia e estadunidense. Para Victoria Ocampo, as temáticas mais pungentes em seus escritos estão relacionadas à reivindicação das Américas enquanto espaço primordial de troca constante entre o nacional e o universal.

Biografia do Autor

Ana Beatriz Mauá Nunes, Universidade de São Paulo

Mestranda em História Social pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade deSão Paulo. Contato: biamauanunes@gmail.com.O artigo é resultado da pesquisa desenvolvida com suporte financeiro da FAPESP. Bolsista - Processo no: 2017/02839-9 Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - CAPES. As opiniões, hipóteses e conclusões ou recomendações expressas neste material são de responsabilidade da autora e não necessariamente refletem a visão da FAPESP e da CAPES.

Referências

Fontes

MORA, C. (s/d). Mistral y las vanguardias. Centro Virtual Cervantes, 2008.

Livros

BEIRED, José Luis Bendicho. Sob o signo da nova ordem. Intelectuais autoritários no Brasil

e na Argentina. São Paulo: Loyola/História Social-USP, 1999.

BERGMANN, Emilie L. Women, culture, and politics in Latin America. Berkeley:

UniversityofCalifornia Press, 1990.

BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, Marieta de Moraes & AMADO,

Janaína (orgs.). Usos e abusos da História Oral. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas

Editora, 1998.

BURKE, Peter. A Escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 2011.

CHARTIER, Roger. A história cultural; entre práticas e representações. Lisboa: Difel; Rio

de Janeiro: BertrandBrasil, 1990.

DUBY, George; PERROT, Michele. História das Mulheres no Ocidente, v. 4, Porto: Edições

Afrontamento, 1995.

FEDERICI, Silvia. Calibã e a Bruxa: Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo:

Editora Elefante, 2017.

FRANCO, Stella Maris Scatena. Peregrinas de outrora: viajantes latino-americanas no

século XIX.Florianópolis, SC: Editora Mulheres, 2008.

GOMES, Ângela de Castro (Org.). Escrita de si, escrita da história. Rio de Janeiro: Editora

FGV, 2004.

KING, John. Sur: estúdio de la revistra argentina y de su papel en el desarrollo de una

cultura. 1931-1970. México: Fondo de Cultura Económica, 1989.

MOLLOY, Sylvia. Vale o escrito: a escrita autobiográfica na América Hispânica. Chapecó:

Argos, 2003.

Capítulos

CHARTIER, Roger. “As práticas da Escrita”. In: ARIÉS, Philippe. (orgs.) História da Vida

Privada: Da renascença ao século das luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

Vol. 3, pág. 113 -161.

_________. Diferenças entre os sexos e dominação simbólica (nota crítica). Cadernos Pagu

(4) – fazendo história das mulheres, Campinas, Núcleo de Estudos de

Gênero/UNICAMP, pp.40-42. 1995.

LEJEUNE, Philippe. “A quem pertence uma carta?” In: ______. O pacto autobiográfico: de

Rousseau à Internet.Org. Jovita M. G. Noronha. Trad. Jovita M. G. Noronha e Maria

I. C. Guedes. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. p. 251-254.

OCAMPO, Victoria e STEINER, Patricia Owen. Victoria Ocampo: writer, feminist, woman

of the world. Tradução. Albuquerque, NM: University of New Mexico Press, 1999.

PERROT, Michelle. Minha História das Mulheres. São Paulo: Contexto, 2007.

SARLO, Beatriz. La Máquina Cultural: maestras, traductores y vanguardistas. Buenos

Aires: Seix Barral, 2007.

____________, La Batalla de las Ideas, 1943 – 1973. Buenos Aires: Emecé Editores, 2007.

SCHRODER, Daniela. Between indigenism and mestizaje (miscegenation): interpretations

about the colonial in the prose of Gabriela Mistral. Universum: Talca.v. 31, n.2, p.229-

, 2016.

__________. Gabriela Mistral: el proyecto de Lucila. Santiago: LOM; Embajada de Brasil en

Chile, 2005

SCOTT, Joan W. A cidadã paradoxal. As feministas francesas e os direitos do homem.

Florianópolis: EditoraMulheres, 2002.

___________, Gender: a useful category of historical analyses. Gender and the politics of

history. New York, Columbia University Press. 1989.

SILVA, Paulo Renato da Silva. Victoria Ocampo e intelectuais de “Sur: cultura e política na

Argentina (1931-1955). Campinas, SP : [s.n.], 2004

TEITELBOIM, Volodia. Gabriela Mistral pública y secreta: truenos y silencios en la vida

del primer Nobel latinoamericano. Santiago: BAT, 1991.

VÁSQUEZ, Carola Gabriela, Gabriela Mistral: das danças de roda de uma professora

consulesa no Brasil / Carola Gabriela Sepúlveda Vásquez. – Campinas, SP : [s.n.],

ZEMBORAIN, Lila. Gabriela Mistral: uma mujersin rosto. Buenos Aires: Viterbo Editora,

Periódicos

COSTA, Claudia de Lima. “O tráfico de gênero” in Cadernos Pagu, vol II, 1988,p. 127 –

COSSE, Isabella. “La lucha por los derechos femeninos: Victoria Ocampo y la Unión

Argentina de Mujeres (1936)”. Revista Humanitas, XXVI, 2008, P. 131-149

DIAZ, José-Luis. “Qual genética para as correspondências?” Tradução Cláudio Hiro e Maria

Sílvia B. Ianni. In: Manuscrítica. Revista de crítica genética, São Paulo, n. 15, 2007.

GARRIDO DONOSO, Lorena. Género epistolar y hermandad artística en la poesía de

mujeres de la primera mitad del siglo XX. Revista de Lit. Linguística. Santiago ,n. 29,

, p. 10-15.

GOIC, Cedomil, “Recado a Victoria Ocampo, en la Argentina‟, de Gabriela Mistral” In:

Estudios filológicos 45, 2010.P. 35-47.

MANZANO, Rolando “Recorrer la vida desde la vereda contraria” In: DIBAM, Revista

Patrimonio cultural N° 46, Santiago: Año XIII, 2008.

MALATIAN, Teresa. Cartas. Narrador, registro e arquivo. In: PINSKY, Carla B.; LUCA,

Tânia Regina de (Org.). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2011. p.

-221.

MARTING, Diane. Spanish American Women Writing: a bio-bibliographical source book.

New York: Greenwood Press, 1990

MEYER, Doris. The Early (Feminist) Essays of Victoria Ocampo,In: Studies in 20th Century

Literature: Vol. 20: Iss. 1, Article 4, 1996.

MORAES, Marcos Antonio de. Epistolografia e crítica genética. Revista Ciência e Cultura

(SBPC), São Paulo, v. 59, n. 1, p. 30-32, jan.-mar. 2007.

_________, Marcos Antonio de. Orgulho de jamais aconselhar: a epistolografia de Mário de

Andrade. São Paulo: EDUSP/FAPESP, 2007.

MAUÁ NUNES, Ana Beatriz. “Para quebrar o monólogo masculino: reflexões sobre o papel

das mulheres no mundo das letras nas correspondências de Gabriela Mistral e Victoria

Ocampo, 1926 – 1956.” Revista Eletrônica da ANPHLAC, Revista Eletrônica da

ANPHLAC, ISSN 1679-1061, No. 24, p. 101-131, Jan./Jun., 2018.”

Teses

MOTTA, Romilda Costa. Práticas e representações de si: Os escritos autobiográficos da

mexicana Antonieta Rivas Mercado e da brasileira Patrícia Galvão. Tese de

doutoramento, FFLCH/USP. 2015

Downloads

Publicado

2021-09-27