Infâncias patologizadas: um estudo epidemiológico sobre o fenômeno da medicalização infantil em Centros de Atenção Psicossocial de Fortaleza

Autores

  • Bruna Myrla Ribeiro Freire Universidade Federal do Maranhão, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, São Luís, Maranhão, Brasil
  • Jurema Barros Dantas Universidade Federal do Ceará, Departamento de Psicologia, Fortaleza, Ceará, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.54948/desidades.v0i32.43450

Palavras-chave:

infância, medicalização, contemporaneidade, psicologia

Resumo

Marcada por procedimentos diagnósticos, constantes atualizações de sintomatologia e avanços do uso da medicação como forma prevalente de intervenção terapêutica, a contemporaneidade tem sido palco de uma notória transformação no modo de compreender o sofrimento psíquico. O fenômeno da medicalização tem protagonizado uma mudança no modo de vivenciar as vicissitudes da vida, sendo a infância, questão atual deste estudo, também atravessada por essas questões. Objetiva-se compreender o fenômeno da medicalização da infância e seus possíveis processos de patologização de ser criança na atualidade, discutindo acerca da biologização de fenômenos sociais e da despotencialização do sofrimento enquanto experiência. Caracteriza-se como uma pesquisa descritiva quantitativa que contou com a análise de 205 prontuários de usuários dos Centros de Atenção Psicossocial da cidade de Fortaleza – CE, Brasil no ano de 2017. Enunciou-se a prevalência de práticas de cuidado voltadas aos aspectos nosológicos e às respostas medicamentosas em contextos de sofrimento psíquico infantil.

Biografia do Autor

Bruna Myrla Ribeiro Freire, Universidade Federal do Maranhão, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, São Luís, Maranhão, Brasil

Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará. Membro colaboradora do LAPFES/UFC (Laboratório de Estduos em Psicoterapia, Fenomenologia e Sociedade). Psicóloga Clínica com atuação na infância e experiência em plantão psicológico.

Jurema Barros Dantas, Universidade Federal do Ceará, Departamento de Psicologia, Fortaleza, Ceará, Brasil

Professora Adjunta do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará. Professora Permanente do Programa Saúde da Família (RENASF\UFC). Coordenadora do LAPFES\UFC (Laboratorio de Estudos em Psicoterapia, Fenomenologia e Sociedade).

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Publicado

03-06-2022

Edição

Seção

TEMAS EM DESTAQUE