A CONSTRUÇÃO INTENSIFICADORA DE GRAU [P(A)RA LÁ DE XADJ] – TRAJETÓRIA, PARADIGMATIZAÇÃO E DEGENERAÇÃO

Autores

  • Mariângela Rios de Oliveira Universidade Federal Fluminense Universidade do Estado do Rio de Janeiro CNPq https://orcid.org/0000-0002-1474-281X
  • Vanessa Barbosa de Paula Universidade Federal Fluminense

DOI:

https://doi.org/10.35520/diadorim.2019.v21n2a24963

Palavras-chave:

Construção intensificadora de grau, construcionalização gramatical, paradigmatização, degeneração.

Resumo

Nosso objetivo é descrever e analisar, em termos de gradualidade e gradiência, a construção intensificadora de grau formada pelas subpartes fixas para, lá e de vinculadas a um adjetivo subsequente e estruturada no esquema [p(a)ra lá de Xadj]ig. Com base na Linguística Funcional Centrada no Uso, nos termos de Traugott e Trousdale (2013), Bybee (2010, 2015) e Hilpert (2014), entre outros, detectamos, na trajetória do português, neoanálises que, sob forma de micropassos de mudança linguística, fizeram emergir e se rotinizar na língua essa nova construção no português brasileiro contemporâneo. Para tanto, levantamos contextos de uso, nos termos de Diewald (2002, 2006), que motivaram a vinculação de sentido e forma das subpartes envolvidas, até a convencionalização simbólica de um novo membro da gramática do português, de uma construcionalização gramatical. Uma vez convencionalizada na língua, a [p(a)ra lá de Xadj]ig passa a integrar o constructicon, como novo constituinte do paradigma das expressões de grau intensificador, na última etapa do cline contextual proposto por Diewald e Smirnova (2012). Nessa inserção, a [p(a)ra lá de Xadj]ig situa-se em posição marginal na classe dos intensificadores de grau, passando a competir pela instanciação no uso linguístico com outras construções de função correspondente, como [muito Xadj] e [Xadj demais], entre outras, em relações horizontais no constructicon, classificadas como degenerativas por Van de Velde (2014), na evidência da variabilidade que marca os usos linguísticos, também ratificada por Bybee (2010, 2015).

Biografia do Autor

Mariângela Rios de Oliveira, Universidade Federal Fluminense Universidade do Estado do Rio de Janeiro CNPq

Possui graduação em Letras Português Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1981), mestrado em Letras (Letras Vernáculas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986) e doutorado em Letras (Letras Vernáculas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993). Tem pós-doutorado na Universidade Aberta (Lisboa). É professora titular de Língua Portuguesa da Universidade Federal Fluminense e atual presidente da Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN). Coordenadora nacional do Grupo de Estudos "Discurso & Gramática". Chefe do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da UFF e ex-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem. Ex-coordenadora do GT Descrição do Português nos biênios 2012-2013 e 2014-2015. Foi editora-chefe da Revista Gragoatá de 2006 a 2016. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Teoria e Análise Lingustica, atuando principalmente nos seguintes temas: língua portuguesa, funcionalismo, construcionalização lexical e gramatical, morfossintaxe e advérbios.

Vanessa Barbosa de Paula, Universidade Federal Fluminense

Doutoranda em Estudos da Linguagem na Universidade Federal Fluminense. Possui graduação em Letras - Português/Literaturas- pela Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FFP/UERJ -2005), especialização em Língua Portuguesa também pela FFP/UERJ (2007) e mestrado em Letras pela Universidade Federal Fluminense (2009). Atualmente é professora de língua portuguesa da Prefeitura Municipal de Maricá e da Fundação Pública Municipal de Educação de Niterói. É membro do Grupo de Pesquisa Discurso & Gramática (D&G), sediado na UFF. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Portuguesa e Linguística.

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Publicado

2019-12-28