CONSTRUÇÃO DE FORMAS FLEXIONAIS: O PLURAL DOS NOMES TERMINADOS EM -ÃO

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35520/diadorim.2021.v23n2a40529

Palavras-chave:

Morfologia, flexão, paradigma, padrão flexional, léxico mental

Resumo

É frequente os falantes hesitarem no momento de formarem o plural de nomes em -ão, uma vez que não existe uma relação biunívoca entre as formas de singular e de plural. Como se sabe, ao singular -ão correspondem três formas de plural (-ãos, -ães, -ões) e há alguns casos em que o mesmo lexema tem duas ou três formas de plural institucionalizadas. Tais palavras representam, portanto, um problema para o falante quando este necessita de produzir a forma de plural dos lexemas em causa, particularmente se esse lexema for novo ou desconhecido para ele. Neste artigo, para além de se analisar a informação de que o falante dispõe no momento da produção das formas de plural dos nomes em -ão, apresentam-se os resultados de um estudo empírico, que revelam as tendências de uso entre os falantes do Português Europeu quando estão em causa unidades lexicais com variantes opcionais de plural. Os resultados do estudo mostram que a variação não afeta do mesmo modo todos os lexemas e indiciam que a flexão destes itens tende a estabilizar-se em função da pressão paradigmática exercida pelo padrão flexional [x-ão] ≈ [x-ões] sobre os demais. Tendo subjacentes alguns dos princípios postulados pela Morfologia Construcional (BOOIJ, 2010, 2016) e pela Morfologia Relacional (JACKENDOFF; AUDRING, 2016, 2019) a partir da arquitetura paralela de Jackendoff (2002), a reflexão empreendida ancora-se no modelo de análise morfológica das palavras do português seguido por Rodrigues (2015) e Rio-Torto et al. (2016).

Biografia do Autor

Rui Abel Pereira, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra / Celga-Iltec

Faculdade de Letras
Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas
Celga-Iltec

Referências

ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA (ed.). Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa / Editorial Verbo, 2001.

ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA. Diccionario da lingoa portugueza. Lisboa: Officina da mesma Academia, 1793.

ACKERMAN, F.; BLEVINS, J. P.; MALOUF, R. Parts and wholes: implicative patterns in inflectional paradigms. In: BLEVINS, J. P.; BLEVINS, J. (eds.). Analogy in grammar: Form and acquisition. Oxford: Oxford University Press, 2009, p. 54–82.

ACKERMAN, F.; MALOUF, R. Implicative relations in word-based morphological systems. In: HIPPISLEY, A.; STUMP, G. T. (eds.). The Cambridge handbook of morphology. Cambridge: Cambridge University Press, 2016, p. 297-328.

ANDERSON, S. R. A-morphous morphology. Cambridge: Cambridge University Press, 1992.

ARONOFF, M. Competition and the lexicon. In: ELIA, A.; IACOBINI, C.; VOGHERA, M. (eds.). Livelli di analisi e fenomeni di interfaccia. Atti del XLVII Congresso Internazionale della Società di Linguistica Italiana. Roma: Bulzoni Editore, 2016, p. 39-52.

BAAYEN, R. H.; DIJKSTRA, T.; SCHREUDER, R. Singulars and plurals in Dutch. Evidence for a parallel dual route model. Journal of Memory and Language, v. 36, p. 94-117, 1997.

BAAYEN, R. H.; SCHREUDER, R. (eds.). Morphological structure in language processing. Berlin: Mouton de Gruyter, 2003.

BARBOSA, J. S. Grammatica philosophica da lingua portugueza ou principios de grammatica geral applicados à nossa linguagem. Lisboa: Academia Real das Sciencias, 1822.

BARROS, J. Grammatica da lingua portuguesa. Olyssipone: apud Lodouicum Rotorigiu[m], Typographum, 1540.

BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37.ed. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 1999.

BLEVINS, J. P. Two frameworks of morphological analysis. Linguistic analysis (no prelo). Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/339596102. Acesso em: 28 nov. 2020.

BLUTEAU, R. Vocabulario portuguez e latino […]. Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesus, 1712-1728.

BOBALJIK, J. D. What’s in a paradigm? In: BOOIJ, G. et al. (eds.). Topics in morphology. Selected papers from the Third Mediterranean Morphology Meeting (Barcelona, September 20-22, 2001). Barcelona: Institut de Linguística Aplicada, Universitat Pompeu Fabra, 2003, p. 91-108.

BOOIJ, G. (2005). The grammar of words: an introduction to linguistic morphology. Oxford: Oxford University Press.

BOOIJ, G. Construction morphology. Oxford: Oxford University Press, 2010.

BOOIJ, G. Construction morphology. In: HIPPISLEY, A.; STUMP, G. T. (eds.). The Cambridge handbook of morphology. Cambridge: Cambridge University Press, 2016, p. 424-448.

BOYÉ, G.; SCHALCHLI, G. The status of paradigms. In: HIPPISLEY, A.; STUMP, G. T. (eds.). The Cambridge handbook of morphology. Cambridge: Cambridge University Press, 2016, p. 206-234.

BYBEE, J. Mechanisms of change in grammaticization: the role of frequency. In: JOSEPH, B. D.; JANDA, R. D. (eds.). Handbook of historical linguistics. Oxford: Blackwell, 2002, p. 602-623.

BYBEE, J. From usage to grammar: the mind’s response to repetition. Language, v. 82, n. 4, p. 529-551, 2006.

BYBEE, J. Language, Usage and Cognition. New York: Cambridge University Press, 2010.

CARDEIRA, E. Entre o português antigo e o português clássico. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2005.

CARVALHO, J. G. H. Teoria da linguagem: natureza do fenómeno linguístico e a análise das línguas. 6.ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1983-1984.

CASTRO, I. Formação da Língua Portuguesa. In: RAPOSO, E. B. P. et al. (orgs.). Gramática do português. v. I. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, p. 5-14.

CETEMPúblico 1.7 v. 11.2 (Corpus de Extractos de Textos Electrónicos MCT/Público). Disponível em: https://www.linguateca.pt/ CETEMPublico. Acesso em: 6 out. 2020.

CRPC - Corpus de Referência do Português Contemporâneo. Disponível em: http://www.clul. ul.pt/sectores/linguistica_de_corpus/projecto_crpc.php. Acesso em: 5 abr. 2021.

CUESTA, P. V.; LUZ, M. A. M. Gramática da língua portuguesa. Lisboa: Edições 70, 1971.

CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. 10.ed. Lisboa: João Sá da Costa, 1994.

DAVIES, F. M. Corpus do Português. Disponível em: http://www.corpusdoportugues.org. Acesso em: 6 out. 2020.

DICIONÁRIO ELETRÔNICO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA. 2001. Rio de Janeiro: Objetiva.

FEIJÓ, J. M. M. Orthographia, ou arte de escrever, e pronunciar com acerto a lingua portugueza. Lisboa: Officina de Miguel Rodrigues, 1734.

FIGUEIREDO, J. N.; FERREIRA, A. G. Compêndio de gramática portuguesa. Porto: Porto Editora, s. d.

GONÇALVES, C. A. Morfologia. São Paulo: Parábola, 2019.

GONÇALVES, C. A.; CARVALHO, W. B. Morfologia construcional aplicada à flexão. In: GONÇALVES, C. A. Morfologia construcional: uma introdução. São Paulo: Contexto, 2016, p. 131-145.

HOUAISS, A.; VILLAR, M. S.; FRANCO, F. M. M. (dir.). Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Lisboa: Círculo de Leitores, 2002-2003.

HUBACK, A. P. Efeitos de frequência nas representações mentais. 2007. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal de Minas Gerais, 2007.

HUBACK, A. P. A interferência da frequência em fenômenos linguísticos. D.E.L.T.A., v. 29, n. 1, p. 79-94, 2013.

JACKENDOFF, R. Foundations of language. Oxford: Oxford University Press, 2002.

JACKENDOFF, R.; AUDRING, J. Morphological schemas: theoretical and psycholinguistic issues. The mental lexicon, v. 11, p. 467-493, 2016.

JACKENDOFF, R.; AUDRING, J. Relational morphology in the parallel architecture. In: AUDRING, J.; MASINI, F. (eds.). The Oxford handbook of morphological theory. Oxford: Oxford University Press, 2019, p. 390-408.

KUPERMAN, V.; BERTRAM, R.; BAAYEN, R. H. Morphological dynamics in compound processing. Language and cognitive processes, v. 23, p. 1089-1132, 2008.

KUPERMAN, V.; BERTRAM, R.; BAAYEN, R. H. Processing trade-offs in the reading of Dutch derived words. Journal of memory and language, v. 62, p. 83-97, 2010.

LEÃO, D. N. Orthographia da lingoa portuguesa […]. Lisboa: João de Barreira, 1576.

MAIA, C. A. História do galego-português. Estudo linguístico da Galiza e do Noroeste de Portugal desde o século XIII ao século XVI. Coimbra: Instituto Nacional de Investigação Científica, 1986.

MARZI, C.; BLEVINS, J. P.; BOOIJ, G.; PIRRELLI, V. Inflection at the morphology-syntax interface. In: PIRRELLI, V.; PLAG, I.; DRESSLER, W. U. (eds.). Word knowledge and word usage. Berlin/Munich/Boston: De Gruyter Mouton, 2020, p. 228-294.

MATEUS, M. H. M. Fonologia. In: MATEUS, M. H. M. et al. Gramática da língua portuguesa. 5.ed. Lisboa: Caminho, 2003, p. 987-1033.

MATEUS, M. H.; ANDRADE, E. The phonology of portuguese. Oxford: Oxford University Press, 2000.

MATTOSO CÂMARA JR., J. Estrutura da língua portuguesa. 21.ed. Petrópolis: Vozes, 1992.

MOTA, M. A. Introdução à morfologia. In: RAPOSO, E. B. P. et al. (orgs.). Gramática do português. v. III. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2020a, p. 2787-2831.

MOTA, M. A. Morfologia do nome e do adjetivo. In: RAPOSO, E. B. P. et al. (orgs.). Gramática do português. v. III. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2020b, p. 2835-2930.

PLAG, I.; BALLING, L. W. Derivational morphology: an integrative perspective on some fundamental questions. In: PIRRELLI, V.; PLAG, I.; DRESSLER, W. U. (eds.). Word knowledge and word usage. Berlin/Munich/Boston: De Gruyter Mouton, 2020, p. 295-335.

RIO-TORTO, G. (ed.); RODRIGUES, A.; PEREIRA, I.; PEREIRA, R.; RIBEIRO, S. Gramática derivacional do português. 2.ed. Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016.

RODRIGUES, A. S. A gramática do léxico. Morfologia derivacional e o léxico mental. Muenchen: Lincom Europa, 2015.

RODRIGUES, A. S. Noções basilares sobre a morfologia e o léxico. In: RIO-TORTO, G. et al. Gramática derivacional do português. 2.ed. Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016, p. 35-133.

SAID ALI, M. Grammatica historica da lingua portugueza. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1931.

SILVA, A. M. Diccionario da lingua portugueza [...]. Lisboa: Of. de Simão Thaddeo Ferreira, 1789.

STUMP, G. Inflectional paradigms: content and form at the syntax-morphology interface. Cambridge: Cambridge University Press, 2015.

VELOSO, J. Estrutura interna e flexão de número dos nomes terminados em “-ão”: onde reside a «irregularidade»? In: RIO-TORTO, G.; FIGUEIREDO, M. O.; SILVA, F. (orgs.). Estudos em homenagem ao Professor Doutor Mário Vilela. Porto: Universidade do Porto, Faculdade de Letras, 2005, p. 325-338.

VILLALVA, A. Morfologia do português. Lisboa: Universidade Aberta, 2008.

Downloads

Publicado

2021-09-20

Edição

Seção

Dossiê de Língua/Language Dossier