Josefina: “Performance”, tradição e a tarefa do intelectual

Autores

  • Gleyson Dias de Oliveira UFRJ

Resumo

Observar a performance da personagem Josefina - a cantora, ou o povo dos camundongos de Kafka, como forma de encenar o ausente e representar no presente uma ação que vem atraveÌs da tradição constitui a perspectiva eleita para se desenvolver uma discussão sobre aspectos fundamentais do belo conto de Kafka. O canto de Josefina tem lugar e força no conto enquanto presença por se fazer indispensaÌvel para que o povo se reuÌna. Ela não exibe uma arte extraordinaÌria para o puÌblico, apenas a executa como arte da diferença miÌnima, a arte constituiÌda num esquema aberto e estruturado na tradição. A tradição aqui se refere a um conceito especiÌfico, relativo aÌ€ potencialidade ou do constante caraÌter de reprojetar a si mesma, isto eÌ, sempre tornar-se outra. Nesse sentido, a tradição representa um espaço aberto, onde o comunicar experieÌ‚ncias, a narração, coloca a possibilidade de o presente dialogar com o passado, fazendo com que as tradições do canto do povo camundongo seja o lugar para o qual o canto de Josefina deva estar, a fim de atualizar no presente a ação do povo. Essa ação como força do presente atualiza-se na luta intelectual travada no cotidiano. As lutas agora não estão centralizadas num uÌnico centro, mas espraia-se na sociedade e seraÌ onde ele ocorre, onde ele se exerce enquanto forma e objeto que devemos voltar nosso olhar. AiÌ o canto de Josefina deve atuar, seu canto deve ser o discurso que denuncia as formas do poder, embora não possa deixar de ser um centro de poder que dialoga e que enfrenta as outras formas de poder. Não apenas o enfrentamento do poder, mas o canto como ferramenta que pode criar revezamentos de poder e conduzir o povo a um outro lugar, a uma hetorotopia. 

Palavras-chave: Kafka, performance, tradição, intelectual.

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Publicado

2015-06-30

Edição

Seção

Artigos