Os entre-lugares da arte e pensamento do Poeta da Crueldade, Glauco Mattoso,
com o Teatro da Crueldade de Antonin Artaud

Autores

  • Leila Míccolis UFRJ

Resumo

Esse trabalho pretende aproximar Glauco Mattoso de Antonin Artaud, apesar das grandes diferenças que os separam, inclusive pelo tipo de propostas que veiculam, um através da poesia, o outro do teatro. Partimos do pressuposto de que ambos sejam poetas/vates (produtores de algum tipo de vaticínio) e dramaturgos, mesmo se Artaud não tivesse escrito um único verso ou que Mattoso não tenha (ainda) nenhum texto para teatro. No caso do último, lembremos Musset, quando em 1832 criou a alcunha do “teatro de poltrona”, um teatro cujo texto não se destinava à representação, mas à leitura, que já cria um palco imaginário. Contemporaneamente, também Ringaert nos lembra que o potencial de um texto de teatro existe independente da representação e, inclusive, muito antes dela. O palco não a completa, pois ela já existe inteira; o palco imaginário construído pela leitura, “ativa processos mentais que apreendem o texto já a caminho do palco”. A encenação é, pois, possibilidade a mais. Registremos, ainda, que, à época de Musset, o modelo clássico teatral ainda imperava, e textos que não se enquadrassem a esse modo de representação poderiam ter potencial dramático, mas pouca possibilidade de serem encenados; hoje, com a multiplicidade de tendências relacionadas ao espetáculo, há muito maiores e amplas possibilidades desse “teatro de poltrona” ser transcriado/transformado em linguagem cênica.

Referências

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(7) MATTOSO, Glauco: depoimento, constante do arquivo pessoal de Leila Miccolis, enviado por e-mail em 8 de setembro de 2005.

(8) ARTAUD, Antonin. In: TEIXEIRA, Ana. O teatro da cura cruel. [online]. Disponível na Internet via URL: <http://www.interface.org.br/revista5/espaco1.pdf>. Arquivo capturado em 7 de outubro de 2005.

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(10) ARTAUD, Antonin. O Teatro e seu duplo, tradução COELHO, Teixeira. São Paulo: Ed. Max Limonad, 1987.

(11) Idem.

(12) MATTOSO, Glauco: depoimento constante do arquivo pessoal de Leila Miccolis, enviado por e-mail em 20 de setembro de 2005.

(13) GROTOWSKY, Jerzy. Em busca de um Teatro Pobre, tradução de CONRADO, Aldomar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 4ª ed., 1992.

(14) MATTOSO, Glauco: depoimento constante do arquivo pessoal de Leila Miccolis, enviado por e-mail em 20 de setembro de 2005.

(15) BUTTERMAN, Steven F. Perversions on parade -- Brazilian Literature of Transgression and Postmodern Anti-Aesthetics in Glauco Mattoso. USA: Hyperbole Books (San Diego State University Press), 2005.

(16) ARTAUD, Antonin. O Teatro e seu duplo, tradução COELHO, Teixeira. São Paulo: Ed. Max Limonad, 1987.

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(18) CAMPOS, Pedro Ulysses. In: Site oficial de Glauco Mattoso. [online]. Disponível na Internet via URL: http://glaucomattoso.sites.uol.com.br/quem.htm. Arquivo capturado em 7 de setembro de 2005.

(19) Idem.

(20) MATTOSO, Glauco. A planta da donzela. Rio de Janeiro: Lamparina, 2005, RJ. (21) MAFFESOLI, Michel. A parte do diabo -- resumo da subversão pós moderna, tradução: MARQUES, Clovis. Rio de Janeiro: Record, 2004.

(22) Idem.

(23) MACIEL, MARIA Esther. A poesia e seus pontos de fuga (entrevista conduzida por Floriano Martins). [online]. Disponível na Internet via URL: http://www.letras.ufmg.br/esthermaciel/entrevistafloriano.html. Arquivo capturado em 15 de novembro de 2003.

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• MAFFESOLI, Michel. O instante eterno -- o retorno trágico nas sociedades pós-modernas. São Paulo: Zouk, 2003.

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