Um estudo das formas verbais imperativas em cartas pessoais dos séculos XIX e XX

Autores

  • Aldeir Gomes da Silva Universidade Federal de Pernambuco

DOI:

https://doi.org/10.24206/lh.v4i2.17498

Palavras-chave:

Imperativo, Cartas pessoais, Tradição Discursiva

Resumo

Este estudo analisa cartas pessoais pernambucanas escritas nos séculos XIX e XX, a fim de verificar o comportamento variável do uso de imperativos nas correspondências, bem como observar quais outras formas não verbais podem e são usadas com objetivo de fazer pedidos, exortações etc., considerando os processos de elipse dos verbos, principalmente nas sessões de captação de benevolência, recomendações e despedida das missivas. No que diz respeito às formas imperativas textualmente marcadas, temos por objetivo verificar quais ações podem ser expressas através dos verbos no contexto das cartas analisadas. Para tanto, baseamo-nos na teoria de Tradição Discursiva (KOCH, 1997; KABATEK, 2006; COSTA, 2012), que caracteriza modelos textuais, social e historicamente convencionalizados, que fazem parte da memória cultural de uma comunidade (LONGHIN, 2014) e abrangem distintos graus de abstração e complexidade de modelos textuais. Além de ser uma rica fonte aos estudos da história das línguas, as cartas pessoais constituem um exemplo eficaz da relação existente entre tradições existentes e inovação no contexto sócio-histórico, e o uso dos imperativos nas correspondências oferece um recorte dessa relação.  Para a realização desta análise, foram coletadas 60 correspondências produzidas entre os anos de 1901 e 1969. Para a discussão dos dados, apoiamo-nos nos conceitos da sociolinguística (LABOV, 1994 apud LOPES, 2011) na análise quantitativa das ocorrências (ou não ocorrências) de imperativos nas sessões de captação de benevolência, recomendações e saudações das cartas pessoais. Os resultados desta pesquisa apontam para a constatação de que a variação é “mais sistemática e predizível tanto estrutural quanto socialmente” (LOPES, 2011, p. 365).

Biografia do Autor

Aldeir Gomes da Silva, Universidade Federal de Pernambuco

Mestre em Linguística pela Universidade Federal de Pernambuco.

Referências

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

CASTILHO, Ataliba Teixeira de. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010.

CASTILHO DA COSTA, Alessandra. Ação – formulação – tradição: a correspondência de Câmara Cascudo a Mário de Andrade de 1924 a 1944 entre proximidade e distância comunicativa. In: MARTINS, Marco Antonio; TAVARES, Maria Alice. Projeto História do Português Brasileiro no Rio Grande do Norte: análise linguística e textual da correspondência de Luís da Câmara Cascudo e Mário de Andrade – 1924 a 1944. Natal: EDUFRN, 2012.

CONDE SILVESTRE, Juan Camilo. Sociolinguística histórica. Madrid: Gredos, 2007.

COSERIU, Eugênio. Teoria da linguagem e Linguística geral. Trad. Agostinho Dias Carneiro. Rio de Janeiro: Presença Edições, 1979.

CUNHA, Celso Ferreira da. Gramática do português contemporâneo. Belo Horizonte: Bernardo Álvares, 1970.

FÁVARO, Gisela Sequini. Estudo morfológico das formas verbais do modo imperativo nas Cantigas de Santa Maria. Tese (Doutorado em Linguística). Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2016.

GOMES, Valéria Severina; LOPES, Célia Regina dos Santos. Formas tratamentais em cartas escritas em Pernambuco (1869-1969): tradição discursiva e sociopragmática. Revista de Estudos da Linguagem, v. 24, p. 137, 2016.

KABATEK, Johannes. Tradições discursivas e mudança lingüística. In: LOBO, Tânia, RIBEIRO, Ilza, CARNEIRO, Zenaide & ALMEIDA, Norma (Eds.): Para a história do português brasileiro: novos dados, novas análises, Salvador: EDUFBA, 2006.

LABOV, William. Principles of Linguistic Change. Oxford/Cambridge: Blackwell, 1994.

LOPES, Célia; MACHADO, Ana. Carolina.; PAGOTTO, Emílio; DUARTE, Eugênia.; CALLOU, Dinah; OLIVEIRA, Joseane; ELEUTÉRIO, Sílvia; MARTELOTTA, Mário. Alberto. configuração da norma brasileira no século XIX: análise das cartas pessoais dos avós Ottoni. In: Tânia Lobo, Ilza Ribeiro, Zenaide Carneiro e Norma Almeida (Orgs.). Para a História do Português Brasileiro. Vol. VI – Novos dados, novas análises, Tomo II. Salvador: EDUFBA, 2005, p. 781-815.

LOPES, Célia Regina dos Santos. Tradição discursiva e mudança no sistema de tratamento do português brasileiro: definindo perfis comportamentais do século XX. Alfa: Revista de Linguística (UNESP. São José do Rio Preto. Online), v. 55, p. 361-392, 2011.

KOCH, Peter. Urkunde, Brief und öffentlicheRede. Eine diskurstraditionelle Filiation im Medienwechsel, Das Mittelalter 3, p. 13-44,1998.

MARCUSCHI, Luis Antônio. Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e circulação. In: KARWOSKI, A. M.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K. S. (Orgs.). Gêneros Textuais: reflexões e ensino. 4. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. p. 17-31.

MASIP, Vicente. Fundamentos lógicos da interpretação de textos e da argumentação. 1. ed. Riod e Janeiro: GEN/LTC, 2012.

PESSOA, Marlos de Barros. Da carta a outros gêneros textuais. In: LAMOGLIA, Maria Eugênia; CALLOU, Dinah et. al. (Orgs.). Para a história do Português brasileiro. Notícias de corpora e outros estudos – vol. IV. Rio de Janeiro: UFRJ/FAPERJ, 2002, 197-205.

SCHERRE, Maria Marta Pereira. Aspectos sincrônicos e diacrônicos do imperativo gramatical no português brasileiro. Alfa, São Paulo, 51 (1), p. 189-222, 2007.

SILVA, Aldeir Gomes da. Cartas de Amor Pernambucanas da primeira metade do século XX: uma análise do subgênero. Diálogo das Letras. V.5, p.199 - 215, 2017.

SILVA, Aldeir Gomes da; GOMES, Valéria Severina. Correspondências entre amigos pernambucanos da primeira metade do século xx: tradição discursiva e ensino. Revista do GELNE, v.18, p.80 - 104, 2017.

SOUZA, Janaína Pedreira Fernandes de. Mapeando a entrada do você no quadro pronominal: análise de cartas familiares dos séculos XIX-XX. Dissertação (Mestrado em Letras Vernáculas) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.

Downloads

Publicado

2018-12-30