A inserção do você no português brasileiro escrito dos séculos XIX e XX: reflexos nas construções imperativas de 2SG

Autores

DOI:

https://doi.org/10.24206/lh.v5iespecial.24395

Palavras-chave:

Imperativo gramatical, Alternância tu/você, Variação linguística.

Resumo

O objetivo deste artigo é refletir sobre o encaminhamento histórico da implementação do você no sistema pronominal do português brasileiro e o seu reflexo nas estruturas imperativas de 2SG. Assume-se como ponto de partida o fato de uma das repercussões da inserção do você no sistema pronominal do português brasileiro (RUMEU, 2013; SOUZA, 2012) ter sido a alternância entre as formas verbais de indicativo e de subjuntivo nas construções imperativas de 2SG (vem tu, vem você, venha você). Na perspectiva de uma análise metodologicamente orientada pelos princípios da sociolinguística histórica (CONDE SILVESTRE, 2007; HERNÁNDEZ-CAMPOY; SCHILLING, 2012) e embasada em um conjunto de missivas históricas produzidas por cariocas cultos entre 1860 e 1980, ratifica-se a conjectura de que a partir dos anos 30 do século XX (RUMEU, 2008; SOUZA, 2012) o você-sujeito consolida-se como forma pronominal de 2SG pari passu as construções de imperativo supletivo também prevaleçam nas missivas cariocas (DINIZ, 2018). Além de o contexto do você-sujeito acompanhar as construções de imperativo supletivo, comprovou-se que as cartas mistas (cartas de alternância tu/você) funcionam também como contexto que tende a influenciar moderadamente o imperativo abrasileirado (DINIZ, 2018). Trata-se, pois, da expressão de uma mudança internamente encaixada no sistema linguístico do PB conforme previsto por Lopes (2007) acerca das repercussões da inserção do você no paradigma pronominal do português brasileiro.

Biografia do Autor

Márcia Cristina de Brito Rumeu, Professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais

Professora de Língua Portuguesa e do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais.Belo Horizonte - MG.

Referências

AGUILAR, R. C. Presencia de lo oral en lo escrito: la transcripción de las declaraciones en documentos indianos del siglo XVI. OESTERREICHER,W.; STOLL, E.; WESCH, A. (Ed.) Competencia escrita, tradiciones discursi¬vas y variedades linguísticas: aspectos del español europeo y americano en los siglos XVI y XVII. Tubingen: Narr., 1998. p. 219-242.

BERGS, A. Social networks and historical sociolinguistics: studies in morphosyntactic variation in the Paston letters (1421-1503). Berlim: Walter de Gruyter, 2005.

BRITO, A. M.; DUARTE, I.; MATOS, G. Estrutura da frase simples e tipos de frases. In: MATEUS, M.H.M. et al. Gramática da língua portuguesa. Lisboa: Caminho, 2006. p. 433-506.

CARDOSO, D. B. B. O imperativo gramatical no português do Brasil. Revista de Estudos da Linguagem, v. 14, n. 2, 2006. p. 317-240. Disponível em: http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.14.2.317-340.

CONDE SILVESTRE, J. C. Sociolinguística histórica. Madrid: Gredos, 2007.

CUNHA, C.; CINTRA, L. F. L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007 [1985].

CUNHA, C.A. Questão da Norma culta. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1985.

DINIZ, J. S. A expressão variável do imperativo de 2a pessoa do singular no português brasileiro: análise de cartas pessoais dos séculos XIX e XX. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos). Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, 2018.

ELSPASS, S. The Use of Private Letters and Diaries in Sociolinguistic Investigation. In: HERNÁNDEZ-CAMPOY, J. M.; CONDE-SILVESTRE, J. C. The Handbook of Historical Sociolinguistics. Oxford: Wiley-Blackwell, 2012. p. 156-169.

FARIA, I.H. O uso da linguagem. In: MATEUS, M. H. M. et al. Gramática da língua portuguesa. Lisboa: Caminho, 2006. p. 55-84.

FARACO, C.A. Considerações sobre a sentença imperativa no português do Brasil. In: D.E.L.T.A., v. 2, n. 1, 1986. p. 1-15.

FAVARO, G.S. Estudo morfológico das formas verbais do modo imperativo nas Cantigas de Santa Maria. Tese (Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa). Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2016.

HERNÁNDEZ-CAMPOY, J.M.; SCHILLING, N. The Application of the Quantitative Paradigm to Historical Sociolinguistics: Problems with the Generalizability Principle. In: Hernándex-Campoy, J. M.; Conde Silvestre, J. C. The Handbook of Historical Sociolinguistics. Oxford: Wiley-Blackwell, 2012. p. 63-79.

LABOV, W. Principles of Linguistic change: social factors. Cambridge: Blackwell Publishers, v. 2, 2001.

LABOV, W. Principles of Linguistic Change: Internal Factors. Cambridge: Blackwell Publishers, 1994.

LOBO, T.C.F. Para uma sociolinguística histórica do português no Brasil. Edição filológica e análise linguística de cartas particulares do Recôncavo da Bahia, século XIX. Volume II. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.

LOPES, C. R. S.; CAVALCANTE, S. O. A cronologia do voceamento no português brasileiro: expansão de você-sujeito e retenção do clítico-te. In: Lingüística, v. 25, 2011. p. 30-65.

LOPES, C. R. S.; RUMEU, M. C. B. O quadro de pronomes pessoais do português: as mudanças na especificação dos traços intrínsecos. In: CASTILHO, A. T.; MORAIS, M. A. T.; LOPES, R. E. V.; CYRINO, S. M. L. (Orgs.) Descrição, história e aquisição do português brasileiro – Estudos dedicados a Mary Kato. Campinas: Pontes Editora/Fapesp, 2007. p. 419-435.

LOPES, C. R. S. Pronomes pessoais. In: BRANDÃO, S. F; VIEIRA, S. R. (Orgs.). Ensino de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007. p. 103-114.

LOPES, C. R. S. A inserção de ‘a gente’ no quadro pronominal do português. 1a ed., Frankfurt/Madri: Vervuert/Iberoamericana, 2003.

LOPES, C. R. S. A inserção de 'a gente' no quadro pronominal do português: seu percurso histórico. Tese (Doutorado em Língua Portuguesa). Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1999.

PAREDES SILVA, V. L.; SANTOS, G.; RIBEIRO, T. Variação na 2ª pessoa: o Pronome sujeito e a forma do imperativo. Revista Gragoatá, v. 9, n. 9, 2000. p. 115-123.

RIVERO, M. Negation, imperatives and wackernagel effects. Rivista di Linguistica, v. 6, n. 1, 1994. p. 39-66.

RIVERO, M.; TERZI, A. Imperatives, V-movement and logical mood. Journal of Linguistics, v. 31, n. 2, 1995. p. 301-332.

ROCHA LIMA, C. H. Gramática normativa da língua portuguesa. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011 [1972].

ROMAINE, S. Socio-historical linguistics: its status and methodology. Cambridge: Cambridge University Press, 2010 [1982].

RUMEU, M. C. B.; CARVALHO, L. F. O imperativo em livros didáticos de língua portuguesa: a distância entre pesquisa e ensino. Matraga - Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ, v. 25, n. 44, 2018. p. 391-409. Disponível em: https://doi.org/10.12957/matraga.2018.33955.

RUMEU, M. C. B. Língua e sociedade: a história do pronome 'Você' no português brasileiro. Rio de Janeiro: Ítaca/FAPERJ, 2013.

SCHERRE, M. M. P.; DIAS, E. P.; ANDRADE, C.; MARTINS, G. F. Variação dos pronomes “tu” e “você”. In: MARTINS, M. A.; ABRAÇADO, J. Mapeamento sociolinguístico do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2015. p. 133-172.

SCHERRE, M. M. P. Aspectos sincrônicos e diacrônicos do imperativo gramatical no português brasileiro. Alfa, v.51, n. 1, 2007. p. 189-222. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/1432/1133.

SOUZA, J. P. F. Mapeando a entrada do você no quadro pronominal: análise de cartas familiares dos séculos XIX-XX. Dissertação (Mestrado em Letras Vernáculas). Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.

WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. I. Empirical foundations for a theory of language change. In: LEHMANN, W.; MALKIEL, Y. Directions for historical linguistics. University of Texas Press, 1968.

Downloads

Publicado

2019-06-25