Histórias de famílias de palavras: o caso de 'laranja' e 'cidra'

Autores

DOI:

https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.35389

Palavras-chave:

Laranja. Cidra. Família de palavras. Histórias de palavras. Etimologia. Morfologia.

Resumo

Laranja é um caso na história do léxico do Português por razões várias, nomeadamente conceptuais, etimológicas, semânticas e gramaticais. As razões conceptuais estão relacionadas com a dificuldade em saber exatamente se o nome que é dado ao fruto corresponde sempre ao mesmo fruto e se o fruto a que se dá o nome de laranja teve sempre esse nome, ou se outros nomes lhe estiveram ou estão ainda atribuídos. As razões etimológicas ligam-se à ausência de um elo na cadeia que liga o étimo remoto (Sânscrito nɑ̄raṅgɑ́h̥) à forma laranja, mesmo admitindo que a forma Árabe nɑ̄rɑ́nŷɑ assumiu um papel veicular. Quanto às razões semânticas, importa compreender o processo de polissemia que fixa laranja como nome de um projétil usado sobretudo em brincadeiras de Carnaval e como termo de cor. Acresce, por último, a necessidade de considerar a complexidade gramatical de laranja, que pode ser um nome feminino, um nome masculino ou um adjetivo, sem nunca mudar de forma. A resolução deste caso implica uma investigação em várias frentes, nomeadamente históricas, factuais e linguísticas, e sincrónicas, mas neste trabalho, dados os limites físicos, ficarão de fora os últimos cem anos. Esta investigação diz respeito à forma laranja e aos seus derivados (especialmente laranjeira, laranjal e laranjada), mas também a cidra e derivados (como cidrão, cidrada, cidreira e cidral), porque as duas se entrecruzam inevitavelmente. No final, espera-se chegar a uma narrativa coerente que conte a história destas famílias de palavras.

Biografia do Autor

Alina Villalva, Universidade de Lisboa

Professora Auxiliar da Faculdade de Letras e membro do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

Referências

AULETE, F. J. Caldas. Diccionario contemporaneo da língua Portuguesa. 2v. Lisboa: Imprensa Nacional, 1881.

BARBOSA, A. Dictionarium Lusitanicolatinum. Bracharae: typis, & expensis Fructuosi Laurentij de Basto, 1611. Consultado em clp.dlc.ua.pt [07/06/2020].

BLUTEAU, R. Vocabulario Portuguez e Latino. Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesus, 1712-1728. Consultado em clp.dlc.ua.pt [07/06/2020].

CARDOSO, J. Dictionarium Latinolusitanicum & Vice Versa Lusitanico Latinu. Conimbricae: Joan Barrerius, 1569-1570. Consultável em clp.dlc.ua.pt [07/06/2020].

CHANTRAINE, P. Dictionnaire Etymologique de la Langue Grecque. Paris: Éditions Klincksieck, 1968.

COELHO, F. A. Diccionario Manual Etymologico da Lingua Portugueza. Lisboa, P. Plantier – Editor, 1890. Consultado em bibdig.biblioteca.unesp.br/handle/10/26038 [07/06/2020].

COROMINAS, J.; PASCUAL, J. A. Diccionario Crítico Etimológico Castellano e Histórico. Madrid: Gredos, 1981.

CUNHA, A. G. Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 2ª edição, 1994.

DUGO, G.; Di Giacomo, A. Citrus: The genus citrus. medicinal and aromatic plants-industrial profiles series. New York: Taylor & Francis Group, CRC Press, 2002.

FÉE, A. L. A. Flore de Virgile, ou Catalogue raisonné des plantes citées dans ses ouvrages, 1835. Consultado em gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k298102/f108.item.r=citrus [07/06/2020].

FIGUEIREDO, C. de Novo Diccionário da Língua Portuguesa. Nova ed. corr. e copiosamente ampl. Lisboa: A.M. Teixeira. 2 v, 1913.

FERRÃO, J. M. A Aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses. Lisboa: CNCDP, 1992.

FERRARI, G. B. Hesperides siue de malorum aureorum cultura et vsu Libri quator Io. Rome: Sumptibus Hermanni Scheus, 1646.

FOLQMAN, C. Diccionario Portuguez e Latino. Lisboa: Off. de Miguel Manescal da Costa, 1755. Consultável em clp.dlc.ua.pt/DICIweb/default.asp?url=Obras. [07/06/2020].

FRANCO, A. Indículo Universal. Universidade de Évora, 1716. Consultável em clp.dlc.ua.pt/DICIweb/default.asp?url=Obras. [07/06/2020].

LOSA, A. Les noms du fruit “orange”. In: VERMEULEN, U.; SMET, D. de (orgs.). Philosophy and Arts in the Islamic World (255-288). Leuven: Peeters Press e Department of Oriental Studies, 1996.

LEWIS, C. T.; SHORT, C. A Latin Dictionary. Founded on Andrews' edition of Freund's Latin dictionary. Oxford: Clarendon Press, 1879. Consultado em www.perseus.tufts. edu/hopper/ text?doc=Perseus:text:1999.04.0059 Consultável em [07/06/2020].

LORENZO, R. Sobre Cronologia do Vocabulário Galego-Português (Anotações ao ‘Dicionário Etimológico’ de José Pedro Machado). Vigo: Editorial Galaxia, 1968.

MABBERLEY, D. J. Citrus (rutaceae): a review of recent advances in etymology, systematics and medical applications. Blumea 49, p. 481–498, 2004. Doi: 10.3767/000651904X484432.

MACHADO, J. P. Dicionário etimológico da língua portuguesa. Lisboa: Horizonte, 1952-1959.

MARQUES, J. M. da S. Descobrimentos Portugueses: documentos para a sua história. Lisboa: Instituto de Alta Cultura, 1944.

MEILLET, A.; ERNOUT, A. Dictionnaire Etymologique de la Langue Latine: Histoire des mots. Paris: Éditions Klincksieck, 1932.

MERINGER, R. Wörter und Sachen. Indogermanische Forschungen, 16, p. 101-196, 1904.

MORAIS SILVA, A. Diccionario da Lingua Portugueza. Lisboa: Typ. Lacérdina. 2 v. 2ª edição, 1813. Consultado em www.brasiliana.usp.br/pt-br/dicionario/ [07/06/2020].

PAOLI, Matilde. Si dice arancio o arancia? Accademia della Crusca, 2009. Consultado em accademiadellacrusca.it/it/consulenza/si-dice-arancio-o-arancia/226 [07/06/2020].

PEREIRA, B. Thesouro da Lingua Portugueza. Lisboa: Craesbecck, 1697a.

PEREIRA, B. Prosodia in Vocabularium Bilingue, Latinum et Lusitanum. Eborae: Typ. Academiae, 1697b. Consultado em clp.dlc.ua.pt [07/06/2020].

PIANIGIANI, O. Vocabolario Etimologico della Lingua Italiana. Florença, 1907. Consultado em www.etimo. it/?pag=hom [07/06/2020].

RAMÓN-LACA, L. Introduction of cultivated citrus to Europe via Northern Africa and the Iberian Peninsula. Economic Botany, 57. 4, p. 502-514, 2003..

RAMON-LACA, L. The cultivated citrus-origin, history and traditional uses known in the Mediterranean region. In: PETER, K.V. (orgs.). Underutilized and Underexploited Horticultural Crops 3.3. Nova Deli: New India Publishing Agency, 2008. p. 241-264.

REUTHER, W. et al. (orgs.). The Citrus Industry 1. History, distribution, botany, and varieties. Berkeley: Universidade da California, 1967.

SCHUCHARDT, H. Sachen und Wörter. Anthropos, 7, p. 827–839, 1912.

SMITH, W. (org.). A Dictionary of Greek and Roman Antiquities. Londres: John Murray, 1890.

VIEIRA, Domingos. Grande Diccionario Portuguez ou Thesouro da Lingua Portugueza. 5v. Porto: Ernesto Chardon e Bartolomeu H. de Moraes, 1871-1874.

VILLALVA, A. (2019). European Roots: outline of a project. In: VILLALVA, A.; WILLIAMS, G. (orgs.) The Landscape of Lexicography. Dicionarística VI. (27-79). Centro de Linguística da Universidade de Lisboa - Universidade de Aveiro, 2019. Consultado em [07/06/2020].

Corpora:>

CdP = Corpus do Português: 45 million words, 1300s-1900s. Consultado em www.corpusdoportugues.org/x.asp [07/06/2020].

CLP = Corpus Lexicográfico do Português. Consultado em clp.dlc.ua.pt [07/06/2020].

Downloads

Arquivos adicionais

Publicado

2020-12-20