O Tópico-sujeito existencial: sobre as consequências da mudança da ordem do sujeito no Português Brasileiro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.24206/lh.v7i2.44647

Palavras-chave:

Tópico-sujeito. Verbos existenciais. Português Brasileiro. Diacronia. Sintaxe Gerativa.

Resumo

Neste trabalho, apresentamos uma análise das construções de tópico sujeito existencial, ou seja, aquelas que envolvem o alçamento de um DP [+locativo] para a posição de sujeito, [SPEC-TP], do verbo ter que expressa existência. Essas construções, prototípicas da gramática do Português Brasileiro, têm sido descritas como mais uma evidência para a mudança no Parâmetro do Sujeito Nulo pela qual passa o PB: tendência ao preenchimento de [Spec-TP]. Os resultados deste trabalho evidenciam que a implementação do tópico sujeito existencial é paulatina ao aumento da frequência de uso do ter existencial e que sua emergência é atrelada a uma leitura ambígua entre posse e existência. (ROBERTS; ROSSOU, 2003). A fim de desenvolver esta pesquisa, foram levantados dados de anúncios, cartas de leitores e cartas de redatores, publicados em jornais cariocas e baianos, nos séculos XIX e XX. Toda a amostra compõem os corpora do PHPB, que está disponível online. Para a análise diacrônica quantitativa utilizamos o Programa Goldvarb-X (SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH, 2001) e os pressupostos da Teoria de Competição de Gramática (KROCH, 1989, 2001) e da Teoria Gerativa (CHOMSKY, 2000, 2001). 


Biografia do Autor

Elaine Alves Santos Melo, Universidade Federal Fluminense

É Doutora em Letras Vernáculas - Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2015). Sua tese trata das origens no PB das construções de tópico sujeito que envolvem uma estrutura de posse externa. Mestra em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012), tendo no Mestrado desenvolvido pesquisa sobre a ordem dos constituintes nas construções com SE. . Bacharel e Licenciada em Letras Português-Literaturas pela UFRJ (2009). É professora Adjunta IA da Universidade Federal Fluminense (UFF), vinculada ao Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, setor de Língua Portuguesa.É professora colaboradora no projeto de extensão "Gramática Gerativa na educação básica: divulgando os saberes da universidade.", coordenado pela professora Isabella Lopes Pederneira (UFRJ) e pesquisadora do Projeto História do Português (HistLing), coordenado pela professora Célia Regina dos Santos Lopes (UFRJ). Desenvolve trabalho sobre a sintaxe as construções de tópico em distintas variedades do português, adotando a perspectiva teórica gerativista, em sua versão Minimalista, bem como outras teorias que dão suportes às análises propostas.

Giovana Pereira Abranches, Universidade Federal Fluminense

É licencianda em Letras Português-Inglês, desenvolve pesquisa sobre a sintaxe do português brasileiro.

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Publicado

2021-08-28