Entre as guerras angolanas e a invenção do mundo: Gênero e sexualidade de Nzinga Mbandi na literatura angolana

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35520/metamorfoses.2020.v17n1a34294

Palavras-chave:

Nzinga Mbandi, literatura angolana, gênero e sexualidade.

Resumo

A partir de Inocência Mata (2008), podemos dizer que a narrativa literária angolana em torno de Nzinga Mbandi se estabeleceu a partir de três diferentes abordagens: uma perspectiva colonial, uma perspectiva nacionalista e anticolonial, e uma perspectiva pós-colonial. Assim sendo, podemos afirmar também que a performatividade de gênero e o exercício da sua sexualidade foram narrados a partir dos diferentes interesses estético-políticos dos textos. Neste artigo, analisamos como o gênero e a sexualidade da famosa Ngola é explorado e modulado tanto pelas narrativas do colonialismo, que a revestem de devassidão, quanto pelas narrativas nacionais e anticoloniais, que a revestem de um heroísmo que silencia sobre possíveis trânsitos de gênero e sexualidade, quanto pelas narrativas pós-coloniais, que propõe possíveis desterritorializações nas normatividades ocidentais de gênero e sexualidade. Para isto, analisamos os textos de António de Oliveira Cadornega (1680), Joaquim Cordeiro da Mata (1883), Agostinho Neto (1960), Manuel Pacavira (1975), Eugénia Neto (1976), Pepetela (1997),  Kandjla (2007), Luandino Vieira (2009), John Bella (2011, 2012) e José Eduardo Agualusa (2014).

Biografia do Autor

Helder Thiago Cordeiro Maia, Pós-doutorando USP

Doutor em Literatura Comparada (UFF, 2018), realiza estágio de pós-doutoramento, com bolsa da FAPESP no. 2018-19521-4, no Programa de Pós-graduação de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo. É pesquisador do NuCuS, da Universidade Federal da Bahia, e pesquisador associado da Red LIESS, da Espanha. É editor da Revista Periódicus (UFBA).

Máro Cesar Lugarinho, Professor Associado USP

Doutor em Letras (Puc-Rio, 1997), é Professor Associado da Universidade de São Paulo na área de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e bolsista de produtividade do CNPQ. É investigador associado do Centro de Estudos Comparatistas, da Universidade de Lisboa, e do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, da Universidade do Porto. Atualmente, é editor da Revista Via Atlântica (USP).

Referências

AGUALUSA, José Eduardo. A rainha Ginga: e de como os africanos inventaram o mundo. Rio de Janeiro: Foz, 2015.

BELLA, John. Os primeiros passos da Rainha Njinga. Braga: O cão que lê, 2011.

BELLA, John. O regresso da Rainha Njinga. Braga: O cão que lê, 2012.

CADORNEGA, António de Oliveira. História geral das guerras angolanas. 3 tomos. Lisboa: Agência-Geral do Ultramar, 1972.

CAMPOS, Fernando. Conflitos na dinastia Guterres através da sua cronologia. África: Revista do Centro de Estudos Africanos da USP, n.27-28, p. 23-43, 2017.

CAVAZZI DE MONTECUCCOLO, Antonio. A relação de Antonio Cavazzi de Montecuccolo, in: Njinga, Rainha de Angola. Lisboa: Escolar Editora, 2010.

CORDEIRO DA MATTA, Joaquim Dias. A verdadeira rainha Ginga, in: Novo Almanach de Lembranças Luzo-brazileiro para o ano de 1883. Lisboa: Typographia Lisboa, p. 229-232, 1882.

EUGÉNIA NETO, Maria. "Poema à Mãe Angolana", in: Foi esperança e foi certeza. Luanda, UEA, 1976.

FONSECA, Mariana Bracks. Ginga de Angola: Memórias e representações da rainha guerreira na Diáspora. Tese (Doutorado), USP, São Paulo, 2018.

KANDJILA, Eurico. Njango: contos em volta da fogueira. Belo Horizonte: Tradição Planalto, 2007.

LEITE DAVID, Débora. Perspectivas nativistas e manifestações literárias africanas no Almanach de Lembranças luso-brasileiro (1851-1900). África: Revista do Centro de Estudos Africanos da USP, n.33-34, p. 85-103, 2014.

LEITE DAVID, Débora. Almanach de Lembranças: um novo espaço africano, in: Macedo, Tânia. África: perspectivas: ensino, pesquisa e extensão. São Paulo, CEA, 2018.

LUANDINO VIEIRA, José. Literatura Angolana: estoriano a partir do que não se vê, in: CAVALCANTE PADILHA, Laura; CALAFATE RIBEIRO, Margarida. Lendo Angola. Porto: Editorial Caminho, 2008.

LUANDINO VEIRA, José. O Livro dos Guerrilheiros. Lisboa: Editorial Caminho, 2009.

LUGARINHO, Mário. A apoteose da Rainha Ginga: gênero e nação em Angola. Cerrados, Brasília, v. 25, n. 41, p. 88-96, 2016.

MAIA, Helder Thiago. Notas sobre donzelas-guerreiras, gênero e sexualidade em A Rainha Ginga de José Eduardo Agualusa. Mulemba, Rio de Janeiro, v.11, n.20, p. 74-96, 2019.

MAIA, Helder Thiago. “Entra na roda e ginga: imaginário literário brasileiro sobre a Rainha Nzinga”. No prelo, 2020.

MATA, Inocência. Literatura angolana: silêncios e falas de uma voz inquieta. Luanda: Kilombelombe, 2001.

MATA, Inocência. A condição pós-colonial das literaturas africanas de língua portuguesa: algumas diferenças e convergências e muitos lugares-comuns, in: VAZ LEÃO, Ângela. Contatos e Ressonâncias: Literaturas africanas de língua portuguesa. Belo Horizonte: Editora PUCMinas, 2003.

MATA, Inocência. Laços de Memória & Outros Ensaios Sobre Literatura Angolana. Luanda: UEA, 2006.

MATA, Inocência. Narrando a nação: da retórica anticolonial à escrita da história. In: CAVALCANTE PADILHA, Laura; CALAFATE RIBEIRO, Margarida. Lendo Angola. Porto: Editorial Caminho, 2008.

MATA, Inocência. “Representações da rainha Njinga/Nzinga na literatura angolana”, in: Mata, Inocência (Org). A Rainha Nzinga Mbandi: história, memória e mito. Lisboa: Edições Colibri, 2014.

PACAVIRA, Manuel Pedro. Nzinga Mbandi. Lisboa: Edições 70, 1975.

PANTOJA, Selma. “O ensino da história africana: metodologias e mitos – o estudo de caso da rainha Nzinga Mbandi”. Cerrados, Brasília, 19(30):315-328, 2010.

PANTOJA, Selma. Historiografia africana e os ventos do sul: desenvolvimento e história. Tranversos: Revista de História, Rio de Janeiro, n.8, p. 46-70, 2016.

PEPETELA. A gloriosa família: o tempo dos flamengos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997, versão kindle.

PINTO, Alberto Oliveira. Representações Literárias Coloniais de Angola, dos Angolanos e das suas Culturas (1924-1939). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2013.

SILVA PEREIRA, António Xavier. A rainha Ginga, in: Novo Almanach de Lembranças Luzo-brazileiro para o ano de 1882. Lisboa: Typographia Lisboa, p. 230-231, 1881.

SILVA PEREIRA, António Xavier. Ainda a rainha Ginga, in: Novo Almanach de Lembranças Luzo-brazileiro para o ano de 1884. Lisboa: Typographia Lisboa, p. 141-144, 1883.

SILVA, Mariana Alves; MAIA, Helder Thiago. As Rainhas Gingas de José Eduardo Agualusa: construções de uma personagem. Crioula, São Paulo, n. 24, p. 173-182, 2019.

TAVARES, Ana Paula. "Contar Histórias", in: CAVALCANTE PADILHA, Laura; CALAFATE RIBEIRO, Margarida. Lendo Angola. Porto: Editorial Caminho, 2008.

WIESER, Doris. A Rainha Njinga no diálogo sul-atlântico: género, raça e identidade. Iberoamericana, Lisboa, v. 17, n. 66, p. 32-53, 2014.

Downloads

Publicado

2021-06-06