O museu dos “objectos mortos” e a “procura de novas formas de ficção”: Afonso Cruz e a ressureição de cadáveres pela linguagem artística

Autores

  • Carlos Roberto dos Santos Menezes Universidade Federal do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.35520/metamorfoses.2020.v17n1a35263

Palavras-chave:

Afonso Cruz, conto português contemporâneo, Síndrome de Diógenes, morte.

Resumo

O presente artigo tem por finalidade apresentar uma leitura crítica do conto “Síndrome de Diógenes”, inserido na coletânea Uma dor tão desigual, de autoria do escritor português contemporâneo Afonso Cruz. A partir da análise das personagens, serão destacadas as características de personalidade pertencentes à síndrome citada, as relações entre a vida e a morte, e a ressignificação do vazio existencial por meio da ficcionalização da memória e do processo de criação. Ao identificarmos algumas estratégias inerentes à filosofia de composição do autor, apontaremos a recorrência de personagens excêntricos, capazes de criarem “museus imaginários” ou “museus de coisas desinteressantes”, o que se refletirá, na estrutura narrativa, através do paradoxo e da ambiguidade. Como apoio para determinadas reflexões críticas, surgem, no decorrer do texto, alusões a Georges Bataille, Jean Starobinsky e Georges Didi-Huberman, entre outros.

Biografia do Autor

Carlos Roberto dos Santos Menezes, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Possui Bacharelado em Português-Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013); Licenciatura em Português-Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2014); Especialização em Literaturas Portuguesa e Africanas Contemporâneas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2015); Mestrado em Letras Vernáculas na área de Literatura Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2017), com a Dissertação: Entre a leitura e a escritura: a forma romanesca de Bolor, de Augusto Abelaira ; Doutorando no Programa de Letras Vernáculas na área de Literatura Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a Tese: em Literatura Portuguesa (Moderna e Contemporânea) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002), com a tese: A vida eterna depende do amor dos outros ou a (im)possibilidade de dar corpo ao passado nas narrativas de Afonso Cruz. Atuou como Bolsista Júnior no Real Gabinete Português de Leitura em Parceria com a fundação Calouste Gulbenkian no desenvolvimento do projeto de pesquisa: " Diálogos intra-narrativos: a propósito dos romances de Augusto ", em que buscou estabelecer os possíveis diálogos entre as obras ficcionais de Augusto Abelaira. Tem experiência na área de Letras Vernáculas, com ênfase na Literatura Portuguesa dos séculos XX e XXI. Atualmente, dedica-se à pesquisa sobre a Novíssima ficção portuguesa, cuja publicação dos autores inicia-se a partir dos anos 2000 com ênfase nos seguintes eixos temáticos: ironia, cosmopolitismo, memória e História, imagens sobreviventes, trauma, afeto, relações com imagens, escrita de si, fascismo português, testemunhos. Dentre os autores pertencentes ao corpus de pesquisa encontram-se Afonso Cruz, Gonçalo M. Tavares, Patrícia Reis, Patrícia Portela, Ricardo Fonseca Mota, Ana Margarida de Carvalho, Frederico Lourenço, João Reis, Paulo Rodrigues Ferreira, Filipa Melo, Maria Teresa Horta, Sophia de Mello Breyner Andresen, entre outros. Atua como Professor de Língua Portuguesa para EJA e no curso de Formação de Professores no Colégio CECAMP.

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Publicado

2021-06-06