O museu dos “objectos mortos” e a “procura de novas formas de ficção”: Afonso Cruz e a ressureição de cadáveres pela linguagem artística
Resumo
O presente artigo tem por finalidade apresentar uma leitura crítica do conto “Síndrome de Diógenes”, inserido na coletânea Uma dor tão desigual, de autoria do escritor português contemporâneo Afonso Cruz. A partir da análise das personagens, serão destacadas as características de personalidade pertencentes à síndrome citada, as relações entre a vida e a morte, e a ressignificação do vazio existencial por meio da ficcionalização da memória e do processo de criação. Ao identificarmos algumas estratégias inerentes à filosofia de composição do autor, apontaremos a recorrência de personagens excêntricos, capazes de criarem “museus imaginários” ou “museus de coisas desinteressantes”, o que se refletirá, na estrutura narrativa, através do paradoxo e da ambiguidade. Como apoio para determinadas reflexões críticas, surgem, no decorrer do texto, alusões a Georges Bataille, Jean Starobinsky e Georges Didi-Huberman, entre outros.
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PDFReferências
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DOI: https://doi.org/10.35520/metamorfoses.2020.v17n1a35263
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