Violência epistêmica e resistência decolonial em Vou lá visitar pastores de Ruy Duarte de Carvalho

Autores

  • Marco Bucaioni

DOI:

https://doi.org/10.35520/mulemba.2021.v13nEsp.a51055

Resumo

Ruy Duarte de Carvalho publicou em 1999 Vou Lá Visitar Pastores, relato de uma expedição ao território dos Kuvale, povo do Sudoeste angolano parte do grupo Herero e objeto de estudo privilegiado da extensa atividade científica desse autor. Entre os vários tipos de violência que podemos encontrar registados nas Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, este livro reconduz explícita e convictamente a violência de que os Kuvale foram alvo durante e depois do colonialismo a uma raiz epistémica. O texto acompanha a história desse povo a partir das primeiras incursões europeias pela costa do Sul de Angola, ao longo dos anos de penetração colonial, culminados nas “guerras mucubais” (ou kokombola) de 1940/41, que por pouco não votaram este povo ao desaparecimento. O texto também acompanha anos mais recentes, com a reorganização quase milagrosa dos Kuvale ainda no tempo do colonialismo, para depois avançar até à última parte do século XX, dando pontual conta da violência cultural exercida sobre esse grupo pela sociedade circundante e por emissários do governo angolano, já depois da Independência. Objetivo deste artigo será investigar os pontos de contacto entre as formulações de Ruy Duarte de Carvalho e o discurso decolonial, sublinhando as convergências entre os dois.

Biografia do Autor

Marco Bucaioni

CLEPUL/ Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

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Publicado

2022-04-14

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Artigos