Conflitos envolvendo quilombolas no Rio Grande do Sul: entre raça, classe e território

Autores

  • Adriane Cristina Benedetti Fundação Nacional do Índio
  • José Carlos Gomes dos Anjos Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Palavras-chave:

colonialidade, racialização, comunidades quilombolas, território

Resumo

As discussões sobre questão agrária possuem uma longa trajetória no Brasil, ao longo da qual houve mudança nos termos do debate e formulação de políticas que incidem no acesso à terra. Partindo do referencial da Perspectiva Decolonial, o artigo tem por objetivo abordar uma dimensão que não tem sido contemplada nas discussões, a qual diz respeito à questão racial. A reflexão tem por base a revisão de dados secundários e a coleta e análise de dados de entrevistas realizadas junto a comunidades quilombolas no estado do Rio Grande do Sul em 2018. Segue-se a linha argumentativa de que, além de classe, raça interfere na distribuição da propriedade fundiária, tendo sido invisibilizada nas discussões sobre a questão da terra no país.

Biografia do Autor

Adriane Cristina Benedetti, Fundação Nacional do Índio

 Doutora em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2020). Mestre em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1998). Atualmente atua na política indigenista.

José Carlos Gomes dos Anjos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Doutor em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998). Pós-doutorado em Ecole Normale Superieure de Paris (2007). Atualmente é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando na Pós-Graduação em Sociologia e Desenvolvimento Rural. Trabalha com Sociologia de elites e Relações Interétnicas, Políticas públicas, elites intelectuais, desigualdade racial.

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Publicado

2021-09-20

Edição

Seção

Artigos - Temas Livres