Evidence-Based Medicine: the insertion of Librarian on process of Systematic Review.
Medicina Baseada em evidências: a inserção do Bibliotecário no processo da Revisão Sistemática
Suzan Barboza do Nascimento
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9082-4377
Bibliotecária da Marinha do Brasil.
Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
suzancbg@gmail.com
RESUMO: É inegável o valor da informação no interior de qualquer setor da atividade humana ou área de conhecimento. Nesse contexto, a gerência de forma adequada e ordenada na busca por informações relevantes, podem trazer resultados significativos para a tomada de decisão. Na área de saúde, o conceito da Medicina Baseada em Evidência tem se tornado uma forma promissora no que concerne à busca de informações científicas para tomada de decisões clínicas. Sua prática é apoiada na pesquisa de evidências científicas em paralelo à análise crítica e lógica de todas essas informações localizadas. Uma das práticas utilizadas na Medicina Baseada em Evidência é conhecida como Revisão Sistemática, que consiste em um tipo de pesquisa metodológica e estruturada capaz de sintetizar erros aleatórios, fornecendo dados seguros que sustentem a tomada de decisão clínica sobre determinado tema. É prerrogativa do pesquisador, a realização de um levantamento cuidadoso e estratégico de informações efetivas do conteúdo que será estudado. Desse modo é consideravelmente relevante a inserção do bibliotecário nesta técnica, aplicando suas habilidades e competências em informação como meios para atingir as informações pertinentes, auxiliando na tomada de decisão clínica.
PALAVRAS-CHAVE: Medicina Baseada em Evidência. Revisão Sistemática. Bibliotecário.
ABSTRACT: It’s undeniable the value of information in any field of human activity or area of knowledge. In this context, the accurate and organized management in the process of searching for relevant information can bring significant results when decisions have to be made. When it comes to the health area, the concept of Evidence-based Medicine has become a great resource concerning to the investigation of scientific information in clinical decision making. The practice of Evidence-based Medicine is supported by researches of scientific evidences as well as critical and logical analysis of all the information found. One of its practices is known as Systematic Review, which consists in a type of methodological research and it is structured in order to synthesize random errors, providing safe data that reinforces clinical decision making about some specific topic. It’s the researcher’s prerogative the meticulous and strategic information gathering on the subject to be studied. Therefore, it’s suitable the inclusion of the librarian in the usage of this technique, who will apply their abilities and competence in order to find appropriate information, upholding clinical decision making.
Keywords: Evidence-Based Medicine. Systematic Review. Librarian.
1 Introdução
A sociedade da informação trouxe aos indivíduos um novo paradigma apoiado nas tecnologias da informação e comunicação. Atualmente, produzir, armazenar, tratar e disseminar a informação tornou-se uma tarefa cada vez mais prática e eficiente por conta dos diferentes recursos informacionais disponíveis. Alguns autores, como Masson e Mainardes (2011, p.73) indicam que vivemos em uma era denominada Sociedade do Conhecimento, uma vez que a informação passa a ser o principal insumo que estabelece a produção do conhecimento. Diariamente, as tecnologias nos colocam diante de um volume cada vez maior de informações, qualquer pessoa consegue acessar distintos tipos de informação. Assim sendo, um indivíduo precisa desenvolver competências informacionais que o ajude a selecionar informações realmente relevantes à sua necessidade.
Hoje, a informação é tida como uma ferramenta transformadora nas atividades sociais e econômicas. Sua capacidade de promover integração entre distintas localidades promove um importante papel no cenário organizacional, sendo um instrumento crucial para a difusão de inovações e passando a ser um mecanismo fundamental para a tomada de decisões e o desenvolvimento econômico e social.
No tocante à tomada de decisões, o decisor precisa conhecer as possíveis consequências que poderão advir do seu arbítrio. O risco é inversamente proporcional ao potencial informativo de quem decide, ou seja, quanto mais informações, menor o risco decorrente (DUARTE, 2007). O potencial informativo também se revela fator preponderante quanto ao grau de certeza e incerteza, pois quanto mais seguras e relevantes as informações que dão base à tomada da decisão, tanto mais seguros e certos serão os resultados alcançados, ou seja, a relação de proporcionalidade, neste caso, é direta.
Segundo Gomes e Almeida (2002, p.12-13 apud CECCON, p.2) “tomar decisões complexas é, de modo geral, uma das mais difíceis tarefas enfrentadas individualmente ou por grupos de indivíduos”. Os autores enfatizam tal afirmativa com o argumento de que “quase sempre tais decisões devem atender a múltiplos objetivos, e frequentemente seus impactos não podem ser corretamente identificados”. Em vista disso, o processo de tomada de decisão, independente de onde esteja aplicado, é uma atividade que requer responsabilidade por parte dos envolvidos nessa tarefa. No caso específico da área médica, o processo de tomada de decisão deve estar calcado no correto gerenciamento das informações existentes.
Assim, o uso apropriado da evidência científica pode nortear a decisão clínica com benefícios e redução de danos ao paciente. A Medicina Baseada em Evidências (MBE) é um conceito que tem como finalidade analisar, de forma sistemática e metodológica, as melhores evidências de pesquisas médicas disponíveis, impelindo na diminuição de incertezas e gerando a tomada de decisão clínica (ATALLAH; CASTRO, 1998). Uma das etapas da MBE é a revisão sistemática, que constitui em um método de sintetizar e avaliar as evidências a partir de estratégias de busca de informações e estudos realizados sobre um determinado tema clínico. De acordo com Berwanger et al (2007), o objetivo da revisão sistemática é sintetizar os resultados de estudos primários utilizando estratégias que diminuam a ocorrência de erros aleatórios e sistemáticos.
A área da saúde é a que possui maior produção científica do mundo. São mais de 10 mil periódicos científicos publicados, mais de um milhão de novos artigos a cada ano e dezenas de bases de dados e outros recursos (BIREME-OPAS-OMS, [2011-?]). Esse grande fluxo de informações, conjuntamente às inovações tecnológicas procedentes do impacto da internet, impõem uma demanda por profissionais que sejam capazes de buscar, acessar, recuperar e avaliar informações com alto nível de relevância. Sendo assim, esse projeto buscou apresentar o bibliotecário como um importante profissional para o desenvolvimento de atividades de revisões sistemáticas, uma vez que, segundo Silveira (2008), as principais - porém não únicas - habilidades requeridas deste profissional são: amplo conhecimento do manejo de recursos informacionais e um domínio da terminologia e metodologia dos estudos da área. Desse modo, o bibliotecário mostra-se como um importante ator na organização e utilização de informações clínicas, assegurando pesquisas mais eficazes que possuem como objetivo atingir resultados mais precisos e satisfatórios – atuando como um significativo aliado para o atendimento em saúde.
2 Medicina baseada em evidências
Durante séculos, as práticas da medicina eram baseadas especificamente em experiências pessoais, autoridades de títulos acadêmicos e nas teorias fisiopatológicas (ATALLAH; CASTRO, 1998). A Medicina Baseada em Evidências surgiu como um processo inovador na área de saúde, uma vez que sua técnica passa a ser fundamentada na análise apurada de dados clínicos, recuperados em pesquisas sistemáticas de literaturas da área. O velho paradigma, baseado em palpites, experiências clínicas e teorias, passa a ser substituído por provas científicas sistematicamente localizadas.
“Um dos autores responsáveis pelo desenvolvimento da Medicina Baseada em Evidências foi o professor e médico Archie Cochrane” (SILVA, 2005 p.107). Com o reconhecimento e o sucesso desse conceito, ele foi homenageado com a criação de centros de pesquisas baseadas em evidências – Cochrane Centers – e uma organização internacional chamada Cochrane Collaboration.
A Medicina Baseada em Evidência não se apoia simplesmente na experiência clínica, mas também na capacidade técnica de procurar, encontrar, interpretar e aplicar os dados obtidos de pesquisa às necessidades individuais dos pacientes (SILVA, 2005, p.108). Compete ao médico e a qualquer profissional envolvido nesse processo, saber acessar e identificar informações relevantes que resultarão na sua tomada de decisão. Segundo Atallah e Castro (1998), o processo da Medicina Baseada em Evidência se inicia através da formulação de uma pergunta, originada através da dúvida sobre algum diagnóstico. Essa pergunta torna-se o ponto de partida para o início das investigações. Nesse contexto, Paolluci (2007, p.1) afirma:
Uma boa pergunta formulada é o primeiro e mais importante passo para o início de uma pesquisa, pois diminui as possibilidades de ocorrerem erros sistemáticos (vieses) durante a elaboração, o planejamento, a análise estatística e a conclusão de um projeto de pesquisa (...). Partindo da pergunta, o próximo passo é saber qual é o desenho que melhor responde à questão clínica.
Após a definição de uma pergunta, é necessário elaborar estratégias de buscas de informações para a sustentação da decisão clínica. Uma determinante ferramenta na prática de busca de informações consideráveis na medicina baseada em evidências é conhecida como revisão sistemática. Com a complexidade de informações na área de saúde e o tempo limitado que os profissionais desta área possuem, as revisões sistemáticas proporcionam caminhos precisos para resultados provenientes de pesquisas (GALVÃO et al, 2004).
3 Revisão sistemática
A Revisão Sistemática consiste em um tipo de pesquisa que fornece dados importantes para a tomada de decisão clínica sobre determinado tema. “Seu objetivo é sintetizar os resultados de estudos primários utilizando estratégias que diminuam a ocorrência de erros aleatórios e sistemáticos” (BERWANGER et al., 2007, p.476). A partir de um amplo processo de revisão de literatura, sistemático e metodológico, é possível localizar, avaliar e sintetizar um conjunto de evidências de estudos científicos, com o objetivo de atingir uma interpretação segura e confiável (BRASIL, 2012). Seu método consiste em um levantamento bibliográfico rigoroso de localização de informações - publicadas ou não - que apresentem a melhor evidência possível sobre determinado tema da área de saúde. Toda informação recuperada passa por um processo de avaliação, com o objetivo de comprovar a validade de seus resultados (SILVEIRA 2008), sendo possível identificar resultados relevantes.
Segundo Castro (2001) existem duas publicações que determinam os passos para a realização da revisão sistemática, que são: Cochrane Handbook, produzido pela Cochrane Collaboration, e CDR REPORT 4, produzido pelo NHS Centre for ReviewsandDissemination, Universityof York.
Os revisores envolvidos no processo de revisão sistemática devem formular uma questão científica estruturada, a fim de que sua revisão seja de qualidade. De acordo com Berwangeret al. (2007), é necessário que seja definido o tipo de paciente, intervenção, comparação e objetivo. A elaboração desta questão deve ser norteada a partir das fases do acrônimo PICO, que conforme o Ministério da Saúde, cada letra corresponde aos seguintes conceitos:
P – População: Distingue a população que será incluída no estudo, da mesma maneira que sua condição clínica.
I – Intervenção: Delibera a intervenção a ser investigada.
C – Controle: Para cada intervenção, é necessário que seja definido um comparador ou controle definido.
O – Desfecho: Originário da palavra em inglês “outcome”, nesta etapa será definido qual desfecho será investigado.
Uma revisão sistemática precisa agregar toda evidência sobre determinado assunto. Necessita ser delineada adequadamente, mas, evitar somente o uso de banco de dados, uma vez que nesse local nem todos os artigos referentes ao tema desejado podem ser encontrados. Para Berwangeret al. (2007, p. 477):
É fundamental a consulta a outras bases como CENTRAL (Registro de ensaios clínicos aleatórios da Cochrane Collaboration), EMBASE (Excerpta Medica Database), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) (...).
De acordo com o Ministério da Saúde, após a definição de uma questão de pesquisa na RS, é possível que essa questão já tenha sido respondida através de algum estudo prévio. Sendo assim, é necessário que seja realizada uma busca na literatura por alguma revisão já elaborada no site oficial da Cochrane Library (http://www.thecochranelibrary.com/), Biblioteca Cochrane, disponível na BVS – Biblioteca Virtual em Saúde – Bireme (http://cochrane.bvsalud.org/portal/php/index.php), no Center for ReviewsandDissemination (http://www.york.ac.uk/inst/crd/) que são especializados em revisões sistemáticas, e no Clinical Queries PubMed (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/clinical) (BRASIL, 2012).
É fundamental que seja elaborado, a priori, por um o grupo de revisores com experiências do conhecimento clínico e técnico em metodologia de RS, um protocolo a fim de registrar, de forma precisa e direta, todo o processo da revisão. Esse protocolo definirá cada etapa realizada, podendo ser demonstrado com a introdução, justificativa, objetivos e metodologia da revisão sistemática. Está disponível no programa ReviewManager (http://tech.cochrane.org/revman) uma sugestão de modelo de um protocolo, de acordo com os moldes exigidos para a publicação na Cochrane Libary.
Em certas ocasiões, alguns estudos são concluídos, porém, não são publicados. Isso pode ocorrer devido a resultados insignificativos ou negativos. Consequentemente, a identificação desses estudos acaba sendo uma árdua tarefa. Quanto a isso, a busca em bases de dados que registram protocolos de estudos que serão conduzidos, é uma possível forma de reconhecimento. As pesquisas podem ser realizadas através do ClinicalTrials (http://www.clinicaltrials.gov/), e no Brasil por meio do Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (http://www.ensaiosclinicos.gov.br/). Os estudos podem ser identificados nas situações de não iniciado, em andamento ou finalizado (BRASIL, 2012).
3.1 A diferença entre revisões sistemáticas e revisões de literaturas
Ao traçar um paralelo entre revisões sistemáticas e revisões de literaturas – geralmente conhecidas como revisões narrativas – é possível identificar os objetivos e diferenças entre elas. Numa revisão tradicional de literatura é abordado um tema amplo, sem nenhum tipo de metodologia e seleção preestabelecida (BERWANGER et. Al, 2007). O objetivo das revisões narrativas é constituído, basicamente, na análise de literaturas publicadas em livros, artigos de revistas impressas e/ou eletrônicas, e, na interpretação e análise crítica pessoal do autor (ROTHER, 2007). Sua função permite que o leitor se atualize sobre determinado tema em um curto espaço de tempo. Um artigo de revisão narrativa, geralmente, é composto de: introdução, desenvolvimento, comentários e referências. Ao tratar-se de revisões sistemáticas, a técnica utilizada para busca de informações é metodológica e rigorosa. Segundo Castro (apud ROTHER, 2007) “é uma revisão planejada para responder uma pergunta específica e que utiliza métodos explícitos e sistemáticos para identificar, selecionar e avaliar criticamente os estudos (...)”. As revisões sistemáticas possibilitam, em meio a um vasto conjunto de informações, identificar aquelas realmente relevantes sobre determinado tema clínico.
4 O Bibliotecário da área de saúde
A Biblioteconomia, vista como uma profissão interdisciplinar, tem como principal objeto de estudo a organização do conhecimento em quaisquer áreas. Sendo assim, o campo de atuação do bibliotecário é muito amplo, visto que seu ingresso no mercado de trabalho, além das distintas instituições, pode ocorrer em áreas específicas do conhecimento, que carecem de habilidades e competências fundamentais para seu desempenho (BERAQUET, 2006 apud BERAQUET; CIAL, 2009). As grandes iniciativas da área de saúde, em paralelo ao longo desenvolvimento de bibliotecas médicas universitárias e estudos sobre a atuação do bibliotecário nesse campo, demonstraram a relevância e o interesse da informação há anos nessa área (BERAQUET et al, 2007). Em 1971, Gertrude Lamb criou o conceito Biblioteconomia Clínica, abordando a necessidade de providenciar informações específicas a médicos dentro dos hospitais. No mesmo ano, desenvolveu seu primeiro projeto intitulado Clinical Medical Librarian (CML) na Universidade de Missouri-Kansas (EUA), e em 1974 uma proposta semelhante no Centro de Saúde da Universidade de Connecticut. Cimpl (1985 apud BERAQUET; CIOL, 2009) sintetizou as razões para o oferecimento da biblioteconomia clínica como: prover informações rapidamente aos clínicos e outros membros da equipe; capacitar o corpo clínico com informações relevantes e se inserir na equipe multidisciplinar como membro valioso e apto a ajudar a equipe na tomada de decisão. Neste contexto, as habilidades essenciais desejadas aos bibliotecários atuantes no campo da medicina, são: comunicação verbal e escrita, bom senso e ética, flexibilidade e domínio do idioma inglês. Também são necessários, conhecimento e domínio da terminologia da área da saúde, bem como saberes sobre epistemologia, estatística e políticas públicas (BERAQUET et al.; 2007). Segundo Beraquet e Ciol (2009), os profissionais da informação que atuam em instituições de saúde são conhecidos por várias denominações, destacando-se:
Bibliotecários médicos: Trata-se do bibliotecário que atua em bibliotecas médicas de instituições de ensino ou de saúde. Um profissional que não integra equipes clínicas, apenas colabora com os profissionais da saúde, a partir das seguintes linhas de atuação: cooperar no diagnóstico médico, realizar pesquisas acadêmicas para os estudantes, docentes e pesquisadores de medicina, disseminar informações sobre saúde aos usuários, usar diferentes canais de comunicação, como internet e bases de dados.
Bibliotecários clínicos: O bibliotecário clínico é “como um bibliotecário treinado para participar das rondas médicas, cujo desempenho seria medido como uma contribuição à melhora do atendimento ao paciente” (WOLF, 2002 apud BERAQUET; CIOL, 2009). Segundo o autor, esses treinamentos incluem: “instrução monitorada e prática em buscas bibliográficas; cursos em escolas de medicina e de enfermagem; atendimento em relatórios matinais, rondas e conferências clínicas como membro da equipe de tratamento do paciente e pessoalmente comprometido com a biblioteca e a medicina”. Os bibliotecários clínicos estão inseridos em equipes multidisciplinares onde são levantadas as necessidades de informação, participando de reuniões da equipe, reuniões de orientação e reuniões educacionais. Apoiado nas informações científicas disponíveis, ele favorece aos médicos informações que lhes permitam tomar a melhor decisão sobre um paciente. Em relação às habilidades e conhecimento necessários a um Bibliotecário Clínico, Harrison e Sargeant (2004) apud Beraquet e Ciol (2009) destacam: construção e manutenção de boa relação profissional com os médicos, capacidade de fazer perguntas, capacidade de aprender e interesse por questões clínicas e científicas, conhecimentos sobre anatomia e fisiologia (conhecimento clínico); termos e descritores médicos; gestão de projetos; busca em bases de dados; prática baseada em evidências; métodos de pesquisa e noções de epidemiologia.
Informacionistas: O informacionista pode ser definido como um profissional clínico, de formação cruzada da Biblioteconomia e Ciência da Informação com as Ciências Médicas. Ele é responsável por comunicar os resultados publicados da investigação científica à comunidade médica. Desempenha um papel de ponte entre os profissionais da saúde com informações baseadas nas melhores evidências científicas disponíveis, a fim de fortalecer as decisões dos médicos e, trazendo como resultado, uma prática clínica eficaz e de qualidade. Possui qualificações adicionais, através de formação universitária ou experiência. É um investigador com formação em estatística, epidemiologia e outras características, que nem sempre são encontradas nos clínicos, e que tornam esse profissional apto a trabalhar auxiliando, em nível de igualdade, médicos e outros profissionais da saúde na busca de informações, cuja necessidade apareça por meio do cuidado com o paciente ou pesquisa clínica.
Diante dessas denominações profissionais para o bibliotecário, é possível chegarmos à conclusão do relevante papel que esse profissional possui frente à área de saúde, seja atuando em bibliotecas médicas ou diretamente em hospitais e equipe de pesquisas clínicas, mas sempre cooperando para a recuperação das melhores evidências disponíveis.
4.1 O Bibliotecário e as Revisões Sistemáticas
A combinação de conhecimento e habilidades são recursos determinantes para o desenvolvimento de uma revisão sistemática de qualidade. “O revisor principal deve fazer uma avaliação para identificar o grau de auxílio que irá necessitar. O tempo é fator predominante e vai depender muito do assunto que será abordado (...)” (BRASIL, 2012). Competências informacionais e técnicas metodológicas de pesquisas são fundamentais na elaboração da RS. De acordo com o Ministério de Saúde, “eventualmente, algumas dessas habilidades podem não ser denominadas pelo grupo que conduzirá a RS. Portanto, pode ser necessário recorrer a uma consultoria externa, com especialistas (...)”. Neste contexto, o bibliotecário é o profissional da informação que melhor se encaixa na equipe de revisão sistemática, a fim de localizar informações, que em geral, são encontradas em ambientes eletrônicos. Segundo Oliveira e Silveira ([2010] p.4):
o bibliotecário lida cada vez mais com conteúdos informacionais existentes apenas no formato digital, o que, por sua vez, exige capacidade real de trabalhar com sofisticados softwares para processar dados e disponibilizá-los aos usuários, de modos que também fogem ao tradicionalismo das cópias impressas.
A prática de buscar, localizar, tratar e disseminar a informação são características fortes no dia a dia de trabalho de um bibliotecário. Atualmente, com o advento das novas tecnologias da informação e comunicação – TIC’s – a busca por profissionais que sejam capazes de acessar de forma rápida e eficaz informações, seja qual for seu formato, cresce de forma considerável. E no campo da medicina essa é uma realidade. De acordo com Martinez-Silveira (2011, p.3) “Os bibliotecários têm sido identificados como membros chave no processo da revisão sistemática”. Por conhecer diferentes bases de dados e recursos como tesauros, operadores booleanos, sintaxes, metodologias e sistematização de pesquisas, o bibliotecário possui um relevante papel na elaboração de revisões sistemáticas (DE BEM; ALVES). Uma revisão sistemática é um processo que demanda tempo. Dependendo do tema, ela pode durar anos (MARTINEZ-SILVEIRA, 2011). Ter um profissional na equipe que possua habilidades informacionais para localizar informações de maneira frequente e segura será um diferencial. Neste caso, o bibliotecário, mesmo não sendo um profissional integrante da medicina, irá atuar de forma expressiva para o atendimento clínico dos médicos. (SILVA, 2005).
De acordo com Ciol e Beraquet (2009), a Biblioteconomia Clínica ainda não é uma realidade no Brasil, todavia, o médico do século XXI já reconhece as consequências relativas ao aumento exponencial de documentos, admitindo a necessidade cada vez maior da incorporação da informação científica em sua decisão clínica. Nesse contexto, é imprescindível ampliar a perspectiva dos profissionais da informação sobre a importância de sua inclusão na área da saúde.
5 Conclusão
É evidente que a informação é um instrumento relevante em qualquer atividade profissional. No tocante à Medicina, setor que possui a maior produção científica do mundo, o gerenciamento das informações existentes colabora para a prática eficaz de tomada de decisão clínica. Sendo assim, a Medicina Baseada em Evidência – MBE surge com a finalidade de analisar sistematicamente e metodologicamente informações disponíveis sobre um determinado tema. Isso se dá a partir de técnicas estratégicas como a Revisão Sistemática - RS, que sintetiza resultados de busca de informações a partir da elaboração de uma questão formulada sobre um conteúdo definido e, norteada no acrônimo PICO, fornece apenas dados consideráveis.
Observamos que para alcançar resultados positivos na RS é indispensável que seus revisores disponham de competências informacionais e técnicas metodológicas de pesquisas. É nesse contexto que podemos ponderar o significativo valor que um bibliotecário possui, a partir de suas habilidades e competências profissionais, nesta prática. O conhecimento em bases de dados, estratégias de busca, vocabulário controlado, entre outras aptidões, torna a atuação deste profissional da informação fundamental na técnica de revisão sistemática, tanto para a investigação de evidências quanto para a crítica avaliação dos dados recuperados.
Além disso, a Biblioteconomia é uma área interdisciplinar capaz de organizar o conhecimento em quaisquer áreas, já existindo no campo da medicina o conceito Biblioteconomia Clínica, criado em 1971 por Gertrude Lamb. Também é possível identificar diferentes nomeações para os profissionais da informação que atuam em instituições de saúde, sendo esses: Bibliotecários Médicos, Bibliotecários Clínicos e Informacionistas.
Nesse cenário, é possível concluir que o bibliotecário possui qualificações capazes de inseri-lo em ambientes diferentes das limitações de bibliotecas tradicionais. Dando ênfase ao setor da medicina, suas habilidades podem contribuir consideravelmente no auxílio direto de busca de informações clínicas que irão amparar médicos e demais profissionais da saúde que necessitam tomar decisões sobre determinado tema.
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Cássia Costa Rocha Daniel de Deus
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3532-1544
Bibliotecária Chefe do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutoranda em Memória Social pelo PPGMS/UNIRIO.
cassiacdeus@gmail.com
Robson Santos Costa
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3774-4807
Professor Adjunto do Curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação da UFRJ. Doutor e Mestre em Memória Social pelo PPGMS/UNIRIO
robson.sc2001@gmail.com