Anti-racist Information that circulates within the social black movement

Informação antirracista que circula no movimento social negro

Erinaldo Dias Valério

ORCID: : https://orcid.org/0000-0002-6553-3778

Doutor em Ciência da Informação — Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia / Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGCI IBICT/UFRJ).

erinaldodiasufc@yahoo.com.br

RESUMO: Apresenta resultados parciais da pesquisa de mestrado em que se buscou refletir sobre a maneira como o Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC), no Ceará, produz, usa e comunica a informação. Afirma que os movimentos sociais são ações sociais coletivas que se organizam para expressarem seus anseios, questões e demandas e que adotam diferentes formas de atuação e configuram-se em diversos aspectos: religiosos, feministas, raciais, indígenas e assim por diante. Realiza pesquisa exploratória por meio de um levantamento bibliográfico e de campo, com abordagem qualitativa. Para análise dos dados, utilizou-se a técnica de análise de conteúdo. Conclui-se que o movimento negro em questão faz uso da informação antirracista para diminuir as disparidades sociais existentes entre pessoas negras e brancas. Informa que o GRUNEC comunica a informação por diferentes processos e que a sociedade se apropria desses conhecimentos disseminados a fim de se posicionar politicamente no combate ao racismo e na luta por ações sociais afirmativas.

PALAVRAS-CHAVE: Informação antirracista. Movimento social negro. Grupo de Valorização Negra do Cariri. GRUNEC.

ABSTRACT: It presents results of the master’s research in which we sought to reflect on the way that the Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC), in Ceará, produces, uses and communicates information. It states that social movements are collective social actions that are organized to express their desires, issues and demands. They adopt different forms of action and are configured in different aspects: religious, feminist, racial, indigenous and so on. It conducts exploratory research through a bibliographic and field survey. For data analysis, we used the content analysis technique, with a qualitative approach. It is concluded that the black movement in question makes use of anti-racist information to reduce the social disparities that exist between black and white people. Informs that GRUNEC communicates information through different processes and that society appropriates this disseminated knowledge, in order to position itself politically in the fight against racism and in the struggle for affirmative social actions.

Keywords: Anti-racist information. Black social movement. GRUNEC.

1 Introdução

Na sociedade contemporânea, a crescente produção de conhecimentos científicos modifica o comportamento dos indivíduos no que tange ao acesso, uso e apropriação de informação. É por meio do acesso à informação que as pessoas adquirem autonomia e independência na sociedade, exercendo seu papel de cidadão/cidadã. Pensando nessa perspectiva, estudar os movimentos sociais, como grupos que buscam por ideais comuns e que trabalham com a relação de informação para obtenção de conhecimento, é fundamental para entender esse contexto.

Para Gohn (2011), os movimentos sociais são ações sociais coletivas que se organizam para expressar seus anseios, questões e demandas. Eles adotam diferentes formas de atuação, como marchas, mobilizações, passeatas, entre outros, e configuram-se em diversos aspectos, tais como os religiosos, feministas, raciais, indígenas, etc.

O presente artigo tem como objetivo refletir sobre a maneira como o Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC), no Ceará, produz, usa e comunica a informação. Assim, esta pesquisa se insere em uma perspectiva em que discute pressupostos teóricos e investigativos da população negra, correlacionando com a Ciência da Informação (CI), em seu aspecto interdisciplinar (SARACEVIC, 1996).

A pesquisa também apresenta uma motivação social, embasada no paradigma social, defendido por Capurro; Hjorland (2007), uma vez que entende-se como pertinente compartilhar com a comunidade científica e com a sociedade de forma mais ampla as informações antirracistas, para a promoção da igualdade racial.

Por fim, pretende-se contribuir para a problematização dessa temática no campo da CI, vislumbrando a construção de uma sociedade sem preconceito, discriminação e qualquer manifestação segregadora. Pautada no livre acesso à informação, na expectativa de possibilitar aos sujeitos sociais o conhecimento de seus direitos e deveres.

Este artigo é o resultado parcial da pesquisa de dissertação que refletiu sobre movimento social e informação, tendo como objeto de estudo o movimento social negro localizado no interior do estado do Ceará. Buscando compreender as discussões desta pesquisa, o texto inicia-se pela introdução, apresentando a justificativa e o objetivo delineador. Logo em seguida é apresentado o referencial teórico sobre movimentos sociais negros no Ceará, os procedimentos metodológicos, as reflexões encontradas e as considerações finais.

2 Movimentos sociais negros no Ceará

Os movimentos sociais são ações coletivas em que os sujeitos sociais possuem identidades e objetivos definidos. Esses objetivos por sua vez, dialogam sistematicamente com as necessidades dos indivíduos em busca de uma sociedade mais justa e igualitária, sem discriminações, preconceitos e racismos, como também contra qualquer forma de exclusão social por parte dos sujeitos.

De fato, o combate à discriminação e a promoção da igualdade racial são preocupações dos movimentos sociais negros. Por meio deles a concepção de que no Brasil as pessoas vivem em perfeita harmonia racial caiu por terra. Neste sentido, a participação do Movimento Negro (MN) na sociedade brasileira é caracterizada por interesses e reivindicações específicas, como, por exemplo, a inserção de estratégias de ações políticas na luta antirracista.

Nesse contexto, entende-se que os MN contemporâneos são o conjunto de movimentos sociais negros espalhados pelo país, em cujas agendas discutem a questão dos atos discriminatórios sofridos pela população negra, que proporcionam desigualdades de acesso aos seus direitos fundamentais. Vale ressaltar, na compreensão de Pereira (2013), que esta nomenclatura — movimento negro contemporâneo — é constituída a partir do ano de 1978, período em que se dá a criação do movimento negro organizado.

No que diz respeito aos avanços desse segmento, tem-se a III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, convocada pela Organização das Nações Unidas (ONU), realizada em Durban, África do Sul, em 2001, sendo considerada como um dos marcos históricos das reivindicações do movimento negro contemporâneo. A partir dessa conferência, o governo brasileiro passou a assumir importantes iniciativas no campo das relações étnico-raciais no Brasil, levando em consideração a promoção da igualdade racial entre a população negra.

Conforme Gomes (2009), a Conferência de Durban pode ser entendida como uma das importantes mobilizações dos movimentos sociais para a inserção da temática étnico-racial na agenda política nacional, como também para a criação de programas e ações afirmativas antirracistas. Segundo a autora, a educação foi uma das pautas dessa conferência. Essa articulação resultou entre outros fatores na aprovação da Lei 10.639/03 tornando obrigatório nas escolas da rede pública e privada da Educação Básica o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Essa lei, que já completou mais de uma década de existência, é fruto de um processo de lutas sociais que confere ao movimento negro brasileiro o protagonismo dessa conquista.

De posse dessas informações, é necessária uma contextualização da luta dos movimentos sociais negros no estado do Ceará, para melhor aproximar aos questionamentos da pesquisa. No estado do Ceará, a sociedade é circunscrita pelo mito da inexistência de negros. A população cearense apresenta certas dificuldades em se identificar como negro. “O discurso corrente é de que não tivemos uma população significativa de escravizados e, portanto, ‘O Ceará não tem negros’.” (NUNES, 2011, p. 111). No entanto, relatos mostram que desde a década de 1980 já existia um MN que contestava a discriminação racial sofrida por essa população. É Pereira (2009), em seu texto cujo título é “26 Anos de História do Movimento Negro no Ceará”, quem faz um resgate histórico da criação e atuação desse movimento no estado cearense.

Pensando nesse aspecto é que surge a seguinte inquietação: Como questionar e denunciar casos de racismos, preconceito e discriminação racial contra negros em um estado que “não tem” negros? Quais são os motivos que levaram grupos de pessoas a lutarem e constituírem um movimento negro nesse estado?

Essas indagações são respondidas por Pereira (2009, p. 82), ao afirmar que “foram inúmeras famílias negras, comunidades, cativos, negros fujões, que organizaram e deram o exemplo das primeiras organizações de negros no Ceará, com intuito da busca da valorização como raça, como ser humano.” O MN no Ceará surge dessas famílias que lutaram para tornar viva a memória de seus ancestrais. Ainda dialogando com o autor, existem diversas comunidades de pessoas negras distribuídas por todo o estado do Ceará, como por exemplo as comunidades negras de Conceição dos Caetanos e Água Preta, em Tururu, entre outras (PEREIRA, 2009).

Tal cenário reforça a existência de comunidades negras no estado, o que viabiliza a criação de um movimento que lute contra os fenômenos de preconceito e da discriminação racial que atingem essa população. Dessa forma, o surgimento do MN no Ceará data da década de 1980, mais precisamente do dia 13 de julho de 1982, por meio da militante Lúcia Simeão. No ano seguinte, a partir de reuniões entre os membros, cria-se o Grupo de União e Consciência Negra de Fortaleza (PEREIRA, 2009).

Nessa linha de raciocínio, com o passar do tempo, outros grupos que tinham como pauta a luta contra a discriminação racial negra foram surgindo, como os Agentes de Pastoral Negros (APN). Esses agentes eram pautados na categoria religiosa, através da realidade católica, padres, bispos, entre outros. Deles, surgiram mais grupos, como o Grupo de Religiosos (as) Negros e Indígenas (GRENI), o Grupo de Mulheres Negras e assim por diante. No que se refere ao Grupo de União e Consciência Negra, o autor em questão aponta que houve uma divisão no grupo passando a chamar-se Grucon. O motivo não se sabe qual; nesse sentido, o autor ainda revela que o Grucon chega a se desarticular, surgindo o Instituto Zumbi e o Movimento Negro Unificado (MNU) (PEREIRA, 2009).

No tocante à região do Cariri cearense, principalmente em torno de três importantes cidades, Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, existe MSN? Quem responde a essa indagação é o estudo dos(as) professores(as) Joselina da Silva e Reginaldo Domingos, que vêm estudando a questão da discriminação racial que afeta a população negra no Ceará. Assim, na pesquisa desses(as) intelectuais, intitulada Vontade de liberdade e de cidadania: movimentos sociais negros em Juazeiro do Norte e Crato, os autores reconhecem que até o momento existem dois grupos antirracistas que desenvolvem ações em prol da igualdade racial. (DOMINGOS; SILVA, 2012).

As análises realizadas indicam que, na cidade de Juazeiro do Norte — CE, o movimento social negro encontrado fica localizado no bairro do Horto e é denominado Grupo de Consciência Negra. Os(as) autores(as) através de entrevistas com integrantes do grupo identificaram que este surgiu em 1986, após o lançamento da campanha da fraternidade da Igreja Católica intitulada Consciência Negra e Discriminação Racial. (DOMINGOS; SILVA, 2012). No que se refere à cidade do Crato, os(as) autores(as) identificaram o GRUNEC; formado por diversos integrantes “o grupo vem questionando, por meio de lutas e resistência, o racismo que domina os aspectos sociais, políticos e culturais da região do Cariri” (DOMINGOS; SILVA, 2012, p. 153).

Nesse contexto, o grupo vem promovendo ações contra o racismo e criando maneiras para debater a discriminação racial que afeta a população. Em sua agenda, destaca-se o resgate da história do negro no Ceará, como também a inserção dessa temática nos currículos educacionais de ensino, o que a Lei 10.639/03 preconiza. Elenca-se que

de tal modo é que o Grupo de Valorização Negra do Cariri – Grunec – nasce no clube Aabec (Associação Atlética Banco do Estado do Ceará) na cidade do Crato, 21 de abril de 2001. Seu estatuto foi criado em janeiro de 2002 e seu reconhecimento legal ocorreu em 26 de janeiro de 2004 no Cartório de 4º Ofício Maria Júlia na cidade do Crato (CE). O grupo de amigos (um padre, professores, funcionários públicos e outros mais) começou a se reunir periodicamente nos anos 2000 e 2001, e entre uma e outra reunião se discutiam as questões negras, o preconceito racial, a valorização da cultura negra, o problema do racismo institucionalizado, entre outros questionamentos (DOMINGOS; SILVA, 2012, p. 154).

Sobre a classificação do GRUNEC, os(as) autores(as) demonstram em sua pesquisa que há uma inquietação por parte dos integrantes do grupo em nomear o Grunec como movimento social ou Organização Não Governamental (ONG). Para uns(umas), a nomenclatura ONG possibilita uma maior liberdade, fica isenta de agregações por parte das instâncias municipal, estadual ou federal. Outros(as) preferem usar a categoria movimento social por não possuir recursos públicos e, consequentemente, sem influência do Estado (DOMINGOS; SILVA, 2012).

Os (As) autores(as) da pesquisa retomam Montenegro (1994) e Sherer-Warren (1999) para afirmarem que existe uma discussão em torno das conceituações desses termos. Assim, demonstram que uma ONG caracteriza-se por uma ação institucionalizada, sem fins lucrativos, porém assumem em alguns casos parcerias com o Estado, diferentemente dos MS, pois estes não possuem recursos (DOMINGOS; SILVA, 2012).

O GRUNEC vem desenvolvendo ao longo de sua existência inúmeras ações em prol da revalorização da população negra na região do Cariri cearense. Nos estudos de Domingos; Silva (2012) e Nunes (2011), os(as) autores(as) elencam diversas ações que o grupo vem promovendo junto às comunidades da região, no sentido de tornar visíveis os elementos culturais da herança africana espalhados pelo estado, além de ter “centrado os seus esforços também na denúncia do racismo presente na região” (NUNES, 2011, p. 135).

Domingos; Silva (2012) e Nunes (2011) apontam que no ano de 2001 um militante negro do grupo em questão foi agredido por um vereador local por discriminação racial, e assim, teve-se o primeiro caso de racismo registrado na região. Como bem lembra a autora, “registrado” — o que não valida a inexistência de diversos outros casos sem denúncia. Ainda, dialogando com Nunes (2011), foram abertos dois processos contra o agressor, um civil e outro penal, sendo que este último ainda está em tramitação e aguarda parecer do Poder Público.

A autora assevera que este é um dos descasos quando se fala do preconceito racial que atinge a população negra brasileira. Alguns órgãos públicos de instância governamental muitas vezes negligenciam a tomada de atitudes no tocante ao racismo. Além disso, é necessário reconhecer que a comunidade negra, na falta de acesso às informações sobre seus direitos, deixa passar despercebidas muitas situações constrangedoras que proporcionam múltiplas formas de exclusão, preconceito, racismo e discriminação racial.

Domingos e Silva (2012) apresentam um histórico das atividades do GRUNEC no Cariri cearense. Desse modo, o grupo foi responsável pela realização da 1ª Semana da Consciência Negra do Cariri; o Dia Nacional da Consciência Negra; parcerias em Fóruns Nacionais e Estaduais. Foram desenvolvidas ações com a Secretaria da Educação do Estado do Ceará com inúmeras palestras nas escolas no que tange aos fundamentos da Lei 10.639/03.

Essas são algumas das atividades desenvolvidas pelo GRUNEC que estão relacionadas ao tema das questões étnico-raciais, especialmente da população negra local. Nas palavras de Cunha (1992, p. 138) citado por Nunes (2011), “Ninguém combate aquilo que não existe”. Ou seja, o movimento negro do Cariri existe para combater as mazelas do racismo e da discriminação racial que fazem parte não só do estado do Ceará, mas da realidade brasileira, e por muitas vezes a população desconhece ou não consegue enxergar tal situação. É importante ressaltar que esses casos estão associados ao fato de que, no tocante ao acesso à informação, nem todo indivíduo tem essa oportunidade.

3 Procedimentos metodológicos

A pesquisa pode ser compreendida como um processo sistemático com a intenção de responder aos questionamentos propostos. Ela se desenvolve a partir de um conhecimento existente e utiliza diferentes métodos, técnicas e procedimentos científicos (GIL, 2006). A importância da pesquisa consiste em gerar conhecimento, solucionando inquietações sobre o mundo, o desconhecido, proporcionando respostas para os sujeitos sociais.

Conforme Gil (2006), as pesquisas recebem diferentes classificações quanto aos seus objetivos e quanto aos seus procedimentos técnicos utilizados. Para Vergara (2010) as pesquisas podem ser caracterizadas por dois aspectos: quanto aos meios e quanto aos fins. A autora postula que os tipos de pesquisas não são excludentes, elas podem ao mesmo tempo, serem bibliográficas, estudos de caso, exploratórias, entre outras.

Quanto aos fins e com base no escopo deste estudo, a pesquisa é de cunho exploratório, que tem “como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses” (GIL, 2006, p. 41). Este tipo de pesquisa tem a finalidade de aprimorar ideias e propor maior esclarecimento sobre o problema pesquisado.

No que se refere aos meios, na perspectiva de Vergara (2010), a pesquisa é de cunho bibliográfico e de campo. Bibliográfica por realizar um levantamento de literatura em fontes de informações primárias e secundárias, como bases de dados, livros, artigos, dissertações, elencando uma discussão teórico-conceitual com o intuito de proporcionar uma aproximação entre os estudos dos movimentos sociais e a CI. Gil (2006) ressalta que a principal vantagem de se fazer uma pesquisa bibliográfica é que ela permite uma gama de informações sobre o problema pesquisado.

Para Vergara (2010), é caracterizada como uma pesquisa de campo por ser uma investigação empírica, em que o pesquisador foi ao ambiente estudado em busca dos elementos para explicá-lo. Tem a intenção de analisar de forma detalhada e aprofundada o objeto de estudo; no caso, o movimento social negro do Cariri cearense. Neste sentido, a análise e interpretação dos dados coletados tiveram um embasamento teórico conceitual para melhor compreender o problema.

Quanto à abordagem, aplicou-se o método qualitativo, que consiste na aferição reflexiva dos fenômenos estudados, com o objetivo de estabelecer relações e se aproximar cada vez mais do objeto analisado

parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito (CHIZZOTTI, 1998, p. 79).

Em outras palavras, o investigador procurou entender de forma minuciosa os fenômenos estudados, levando em consideração o comportamento dos sujeitos sociais envolvidos em um determinado contexto, “o objeto não é um dado inerte e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações” (CHIZZOTTI, 1998, p. 79).

Sendo assim, como instrumento para coleta de dados na presente pesquisa, foram aplicadas entrevistas com o objetivo de obter informações cruciais para o seu desenvolvimento. A utilização desse instrumento para coleta de dados proporciona ao pesquisador a oportunidade de obter informações importantes ao verificar as respostas e as atitudes/reações dos(as) entrevistados(as) durante a pesquisa. No que se refere ao universo ou população da pesquisa, dos quais Vergara (2010, p. 46) postula que são os “que possuem as características que serão objeto de estudo”, foram escolhidos os(as) integrantes do movimento social negro do Cariri – GRUNEC. Os mesmos participantes contemplaram a pesquisa com as informações, para se obter resultados necessários às análises e conclusões deste estudo.

Ao verificar o total de participantes, a pesquisa se propôs a entrevistar 7 informantes, que são aqueles membros que apresentam maior experiência no grupo, ou seja, os que conseguem passar informações de como o movimento se constituiu ao longo dos anos, além de identificar quais foram as ações que os levaram a atitudes concretas, como também as que conduzem para a manutenção do grupo.

Para a sistematização e análise dos dados coletados durante o estudo, foi adotado a análise de conteúdo, que para Bardin (2008, p. 37) é

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

Com essa definição percebe-se que esta técnica pode ser utilizada por diferentes áreas do conhecimento, sendo a CI uma delas. Esta técnica proporciona a quem pesquisa analisar o que está explícito no documento, permitindo fazer inferências. Nesse sentido, Bardin (2008) divide o processo de análise de conteúdo em três etapas, que compreendem a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

A primeira etapa é a fase em que se organiza o material a ser analisado, sistematizando as ideias iniciais para uma melhor compreensão e interpretação final. A segunda etapa, que consiste na exploração do material, é o momento em que o pesquisador atua a partir da definição de categorias, unidades de registro e unidades de contexto. Esta etapa é a descrição analítica do corpus da pesquisa, ou seja, analisar os trechos da entrevista transcrita, à luz do referencial teórico. A terceira etapa se refere ao tratamento dos resultados, ou seja, à interpretação.

3.1 Ambiente da pesquisa

O Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) é uma associação civil sem fins econômicos, fundada em abril de 2001, no município de Crato/CE. É uma entidade que se constitui de articulações que promovam a dignidade e inclusão da população negra da região do Cariri cearense.

Esse grupo é formado por uma diversidade de integrantes, entre profissionais liberais, professores, religiosos, artistas, estudantes, negros e não negros que têm como foco a valorização da autoestima da população negra e são contra todas as formas de opressão e exclusão social, combatendo o racismo que persiste na sociedade brasileira.

Entre suas atividades contínuas encontra-se o desenvolvimento de ações acadêmicas, culturais, políticas, executando atividades como palestras, debates, encontros, oficinas entre outras. No tocante à quantidade de participantes, não é possível contabilizá-los. Sendo que, desde a fundação, o número de integrantes vem aumentando. No entanto, existem aqueles que são mais ativos nas ações do movimento. Ativos são entendidos como os que participam das reuniões, dos debates, de forma efetiva. Pensando assim, a pesquisa irá contemplar para análise sete integrantes ativos do movimento.

4 Dando voz ao movimento negro Cearense

Antes de adentrar na parte analítica deste estudo, é pertinente reforçar que a Ciência da Informação estrutura-se por meio de procedimentos teóricos e metodológicos, a fim de compreender os efeitos dos processos de produção, organização, apropriação, disseminação e acesso à informação no comportamento dos indivíduos na sociedade.

São muitos os desafios enfrentados pelos movimentos sociais negros para uma efetiva implementação da luta antirracista. As condições que os sujeitos sociais negros assumem no mundo contemporâneo apresentam formas diversas e significativas de sobrevivência, o GRUNEC, por sua vez, procura em suas articulações dar visibilidade para esse segmento específico na sociedade.

Para coleta e análise dos dados foram realizadas visitas nas residências dos(as) participantes, os depoimentos foram transcritos e agrupados em categorias para melhor facilitar a aferição e análise dos dados. Vale ressaltar que, nesta pesquisa, existe a necessidade de se preservar em sigilo as identidades dos(as) entrevistados(as), desse modo, por questões de ética, foi utilizado pelo pesquisador codinomes de personalidades negras. Assim, os(as) informantes receberam codinomes de Dandara, Aqualtune, Zumbi dos Palmares, Beatriz Nascimento, Ganga Zumba, Abdias do Nascimento e João Cândido.

Deve-se assinalar que a utilização dos codinomes não tem influência direta sobre as ações dos(as) informantes da pesquisa, e sim, trata-se de uma estratégia de dar visibilidade a esses(as) heróis/heroínas negros(as) por sua história ser negada na sociedade brasileira. Desse modo, espera-se que as possíveis pessoas leitoras desta pesquisa indaguem-se sobre a existência de tais intelectuais e sejam estimuladas a conhecer a história e contribuição dessas personalidades para a sociedade. Abaixo, no quadro 1, as respostas dos(as) participantes à questão: Quais canais de comunicação e/ou mídias o grupo utiliza para disseminar informação?.

PARTICIPANTES

RESPOSTAS

Dandara

Internet principalmente, Facebook, os e-mails, as redes sociais e também as rádios, o boca a boca, o Afrocariri, o jornalzinho do GRUNEC. As emissoras de televisão.

Aqualtune

Utilizamos as mídias sociais, telefones, jornais, nós temos o Afrocariri (jornal); as emissoras de rádio e televisão.

Zumbi dos Palmares

Televisão, rádio, redes sociais, a internet tem sido um grande aliado para a gente trazer à tona todas as nossas demandas.

Beatriz Nascimento

Facebook, porque nós temos uma página para podermos divulgar o grupo e a forma de como se organiza, a quem atende, a quem quer levar essas informações.

Ganga Zumba

O principal canal de comunicação são os integrantes do grupo, o boca a boca e tem funcionado muito bem; mídias sociais; rádio.

Abdias do Nascimento

Nós utilizamos a internet, nós utilizamos o próprio rádio, a televisão. A mídia de uma maneira geral e utilizamos a própria universidade porque a universidade é plural e existem espaços para informar e formar os nossos estudantes.

João Cândido

A gente usa tudo que é canal de comunicação que nos permitem, e quando não permitem a gente faz o panfleto e vai distribuir nas ruas, ou faz outra forma de manifestação. É uma necessidade do grupo, o nosso fazer, comunicar, informar, dizer, analisar publicamente, expor, publicitar, porque só assim a gente consegue fazer com que essas formas de discriminação possam ser contidas e possam desaparecer.

Diante do Quadro 1, pode-se constatar que a internet é um mecanismo muito utilizado pelo grupo no processo de disseminação da informação étnico-racial. As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) exercem, de forma geral, um papel importante na coleta, no tratamento e na utilização da informação, por proporcionarem uma redução de tempo na busca da informação por parte dos sujeitos sociais e facilitarem o processo de apropriação e disseminação da informação. Assim, o grupo utiliza-se de todos os mecanismos que as tecnologias digitais oferecem e também da comunicação formal, como pontuado por Meadows (1999) e Le Coadic (2004).

Uma dessas tecnologias é o perfil na rede social Facebook; por meio desta página na internet, o grupo divulga as ações realizadas e em desenvolvimento. Disseminam para os(as) internautas casos de práticas racistas no Brasil e no mundo, compartilham artigos científicos que dialogam com os interesses e objetivos do grupo, eventos e encontros temáticos. O Facebook possibilita também o intercâmbio de informações entre ativistas de outras regiões, facilitando a comunicação entre pesquisadores e interessados nas relações raciais e de movimentos sociais, como citado por Gohn (2011), ressaltando as redes virtuais.

Os(As) informantes Ganga Zumba e Dandara, afirmam que um mecanismo eficiente e eficaz para divulgar as atividades do GRUNEC é o “boca a boca”. O grupo sai divulgando entre seus pares o que está sendo desenvolvido, e eles afirmam que esse canal informal tem possibilitado resultados positivos. E, como Le Coadic (2004) apregoa, os canais informais de comunicação possuem suas particularidades para aproximar as relações sociais entre os indivíduos.

As emissoras de rádio e televisão também são grandes aliadas, na medida em que os integrantes vão a esses meios de comunicação divulgar as ações. A Universidade nas palavras do participante Abdias do Nascimento é um verdadeiro lugar para disseminar as informações referentes aos interesses do grupo, uma vez que é um local que forma e informa cidadãos ativos para atuarem nos diferentes espaços da sociedade. Além desses espaços, os informantes da pesquisa acrescentam que divulgam as informações do movimento no jornal próprio, como pode ser visto na Figura 1, o Afrocariri.

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O Afrocariri é uma publicação do GRUNEC sem periodicidade fixa, que visa a divulgar questionamentos e reflexões em torno da informação étnico-racial do negro no Cariri cearense. Este veículo de informação contempla os mais diversos assuntos que correspondem ao movimento negro, em algumas edições especiais dedicadas a uma só temática.

Desse modo, o Afrocariri disponibiliza informação de forma fácil e acessível para a comunidade, apresentando à sociedade as atividades que o GRUNEC realiza e vem realizando ao longo dos anos de sua existência. Essa publicação nas palavras de Araújo (2002) pode atender a um público amplo, por ser um tipo de comunicação formal. O jornal apresentado na Figura 1 foi publicado em novembro de 2006. Nesta publicação, a integrante do grupo faz um apanhado histórico e conceitual da aprovação da Lei 10.639/03 e sua importância para a sociedade.

Ressalta que a referida Lei obriga o ensino da temática História e Cultura Afro-brasileira no currículo das escolas das Instituições públicas e privadas, com o objetivo de eliminar as desigualdades existentes entre negros e não negros, promovendo a inclusão social. A autora do artigo ainda acrescenta a responsabilidade que a sociedade tem no tocante a essas questões, ressaltando que não cabe apenas aos afrodescendentes o engajamento político e militante para defender essa causa. Abaixo, no quadro 2, as respostas dos participantes à questão: Por quais meios o grupo se apropria de informação?.

PARTICIPANTES

RESPOSTAS

Dandara

As mídias, a internet. Por telefone, o boca a boca. Principalmente a internet.

Aqualtune

A gente estuda, lê, vai atrás, a gente se reúne.

Zumbi dos Palmares

A gente vai se apropriando através dos contatos, por e-mails; fazendo leituras, pesquisas; através de leituras e acesso a internet; com questões também do dia a dia e articulações com outros movimentos sociais, outras entidades daqui da região.

Beatriz Nascimento

Temos o hábito de discutir as matérias de jornais impressos da região do Cariri e também nos grupos que fazemos parte, nós nos comunicamos e pedimos informações, como no Geledés, a página da SEPPIR na internet, alguns blogs, como blogueiras negras.

Ganga Zumba

Nas mídias sociais, buscando informações, indo aos congressos, eventos e a gente acaba colhendo e trazendo para discutir no grupo.

Abdias do Nascimento

Nós nos apropriamos de informações, de experiência individual de cada um da gente, no meu caso em particular eu já venho de uma luta de meu país da África e sem conta, as publicações que nós temos de vários autores brasileiros e não brasileiros sobre essa questão. A gente se apropria da sabedoria dos livros, das teses e dissertações. A nossa apropriação nesse contexto é em cima de questões científicas, publicações científicas e a experiência individual de cada um.

João Cândido

A gente se apropria através das conversas, através da conversa informal, do próprio grupo, através de jornais, imprensa, entidades organizadas, dos sindicatos de moradores, associação.

Apropriar-se de informação é adquirir conhecimento. E o conhecimento, por sua vez, é que vai definir o aprendizado sobre determinados assuntos. Neste sentido, o Quadro 2 apresenta as respostas dos informantes no que se refere à tomada de conhecimento, ou seja, como o grupo adquire informação e por quais canais.

A grande parcela das pessoas entrevistadas evocou que essa apropriação se dá principalmente pelos canais de informação na Internet. TIC, têm facilitado o acesso, uso e compartilhamento de informação no ambiente online. Com o avanço da Internet, surgiram diversos recursos interativos que proporcionam a obtenção de conhecimento de forma rápida e precisa. Como exemplo, citado pelos entrevistados, são os sites, os e-mails dos(as) próprios(as) integrantes e o acesso aos blogs, que torna o ambiente on-line mais dinâmico e atrativo, facilitando a troca de informação.

E neste sentido, a informante Beatriz Nascimento, em sua fala, aponta que faz uso das seguintes fontes: o site da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), que é uma secretaria criada a partir das lutas do movimento negro, e que tem como missão, formular, coordenar e acompanhar as políticas públicas para a promoção da igualdade racial, entre outras questões; o site do Instituto da Mulher Negra (Geledés), uma organização da sociedade civil, que tem como objetivo se posicionar em defesa das mulheres e homens negros; e o blog das Blogueiras Negras, que é um veículo de divulgação de informações sobre a população negra, dando visibilidade a blogueiras negras.

Vale ressaltar que em torno dessas mudanças tecnológicas, pode-se perceber nas falas dos(as) informantes que o contato boca a boca nunca se perde. E isso é muito importante nas relações sociais, o intercâmbio de informações sem dispensar o contato físico. E, como aponta o informante Ganga Zumba, os encontros e congressos são importantes meios para se apropriar de informação e divulgá-la entre os integrantes do grupo para se fortalecerem e para que, munidos de conhecimentos teóricos, efetivem-nos na prática em sociedade. Para o integrante Zumbi dos Palmares, as articulações com outros movimentos sociais da região também propiciam apropriar-se de informação, uma vez que os grupos promovem discussões que, de uma forma ou de outra, servem para o enriquecimento e ampliação de novos horizontes, em diferentes ambiências e temáticas.

O que Abdias do Nascimento e João Cândido respondem é pertinente para essa análise. Para esses informantes, a troca de experiência entre cada participante é especial para obter informação. De tal modo que, ao relatar as condições de vida pessoal, essa contribuição pode influenciar na tomada de decisões e propor novas formas para agir contra as mazelas que o racismo causa. As publicações científicas, livros, teses e dissertações, são também verdadeiros mecanismos para apropriação da informação. Contudo, pode-se perceber nas falas que os participantes do grupo se utilizam dos tipos de canais de informação apresentados no referencial teórico. A saber, canais formais, informais e semiformais de informação. (MEADOWS, 1999; ARAÚJO, 2002; LE COADIC, 2004).

Abaixo, no quadro 3, respostas dos participantes à questão: Como a população toma conhecimento das ações promovidas pelo grupo?.

PARTICIPANTES

RESPOSTAS

Dandara

Pelas mídias, pelo Facebook, por boca a boca. Pelos fóruns e eventos, passeatas, pelas reuniões e conselhos que a gente faz parte.

Aqualtune

Nós divulgamos nossas ações, nós fazemos as nossas articulações, os outros também divulgam, nas redes sociais, Facebook, nas rádios, as “zuadas”, os buchichos, os fuxicos, os sujeitos das nossas ações são isso aí, a academia.

Zumbi dos Palmares

Através da televisão, rádio. Procuramos fazer com que outras entidades dos movimentos sociais também divulguem nossas ações, para que possamos agregar mais pessoas.

Beatriz Nascimento

Pela Internet, principalmente pelo Facebook.

Ganga Zumba

A gente sempre procura se utilizar das mídias para divulgar; eu acredito que está associado com grandes ações que desenvolvemos.

Abdias do Nascimento

Nós fazemos visitas periódicas aos colégios pessoalmente e algumas ocasiões nós fazemos palestras, e também vamos à mídia, vamos à televisão, à rádio colocar as questões.

João Cândido

Tomam conhecimento através das manifestações que desenvolvemos.

A informação conforme Robredo (2003) pode ser transmitida por diversos meios, registrada, duplicada e conservada, além de outras características. Neste sentido, os dados apresentados no Quadro 3 traduzem quais são os meios que o grupo utiliza para que a população tome conhecimento do que o movimento vem desenvolvendo. Destaca-se que os Quadros 1 e 2 são complementares entre si.

Percebe-se que a internet é o maior aliado do grupo, talvez pela velocidade de como a informação é propagada. Outra questão são os canais de comunicação televisivos e de rádios. O grupo também acredita que a população toma conhecimento a partir da participação dos integrantes do movimento em diversos encontros, congressos e eventos de diferentes temáticas, porque são nesses locais que o grupo informa o que vem desenvolvendo e o que pretende alcançar. As visitas nas escolas também oferecem à comunidade a oportunidade de conhecer o grupo e saber o que essa iniciativa tem contribuído para sua comunidade.

5 Considerações finais

Neste estudo, procurou-se compreender como os processos informacionais de uso, comunicação e apropriação da informação se caracterizam no interior do GRUNEC. Os sujeitos da investigação foram os(as) participantes ativos(as) do grupo, foram aqueles membros que de forma contundente participaram e desenvolveram efetivamente atividades com e no grupo.

A iniciativa de criação do GRUNEC se deu a partir da existência de tensões raciais no Cariri cearense e da necessidade de um grupo que pudesse inserir a luta antirracista e denunciar as formas de discriminação que a população negra sofre. Os(As) integrantes do GRUNEC estavam inquietos(as) e motivados(as) principalmente a desconstruir o mito da inexistência de pessoas negras no Ceará. No período inicial, o grupo sentia a necessidade de um embasamento teórico sobre a temática das relações raciais; neste sentido, foram formados grupos de estudos dirigidos, para se apropriarem de informações para trabalharem com a sociedade. A questão da identidade foi sendo muito bem trabalhada para que a comunidade negra sentisse orgulho da história do seu povo e assumisse com esse mesmo orgulho as lutas, vitórias e conquistas do povo negro.

Existe uma preocupação sobre passar para os(as) mais jovens esse legado para que as futuras gerações possam também orgulhar-se e levar esses conhecimentos para um número cada vez maior, gerando uma consciência crítica, identificando e valorizando os pontos relevantes da história da população negra. Também é disseminado para as comunidades o que deve ser cobrado ao poder público, quais são seus direitos e deveres perante a sociedade, instigando-as a buscar melhorias no seu dia a dia.

Com base nos resultados obtidos, é possível apontar que o movimento negro do Cariri é uma instituição importante para efetivação de ações afirmativas que atendem às necessidades da população negra. Em função disso, se apropriam de informação antirracista e a disseminam para a comunidade por meio de diferentes processos, que vão desde o auxílio das tecnologias digitais à própria publicação de jornais específicos. O grupo usa e comunica a informação porque entende que ela é um bem imaterial que está entrelaçado nas atividades cotidianas dos atores sociais.

O GRUNEC reconhece que a mudança de pensamentos racistas está associada à educação, que o acesso à informação pode modificar o estoque informacional negativo sobre as questões da população negra, e, por este motivo, o movimento atua neste contexto. Os resultados desta pesquisa revelaram a importância da informação para o desenvolvimento das atividades do GRUNEC, atreladas às políticas públicas para a comunidade negra.

A presente investigação não pretendeu esgotar o debate sobre a questão da informação nos movimentos sociais negros. Dedicou-se à vertente a partir do olhar dos(as) integrantes do GRUNEC; há ainda possibilidades de estudos com as comunidades negras e quilombolas beneficiárias das ações do movimento para entender se suas necessidades informacionais foram ou são atendidas.

Agradecimentos

Agradeço ao GRUNEC pela receptividade e contribuições para a efetivação desta pesquisa. Sem essa oportunidade a realização deste estudo seria inviável. Gratidão.

Referências:

ARAÚJO, Eliany Alvarenga de. O fenômeno informacional na ciência da informação: abordagem teórico-conceitual. In: CASTRO, César Augusto (Org). Ciência da Informação e Biblioteconomia: múltiplos discursos. São Luís: EDUFMA; EDFAMA, 2002. p. 11–34.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2008.

CAPURRO, Rafael; HJORLAND, Birger. O conceito de informação. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 12, n. 1, p. 148-207, jan./abr. 2007.

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1998.

DOMINGOS, Reginaldo Ferreira; SILVA, Joselina da. Vontade de liberdade e de cidadania: movimentos sociais negros em Juazeiro do Norte e Crato. In: BARRETO, Maria Aparecida Santos Corrêa (Org.) et al. Africanidade(s) e afrodescendência(s): perspectivas para a formação de professores. Vitória: EDUFES, 2012. p. 145 – 167.

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GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

GOMES, Nilma Lino. Limites e possibilidades da implementação da Lei 10.639/03 no contexto das políticas públicas em educação. In: HERINGER, Rosana; PAULA, Marilene de. (Orgs). Caminhos convergentes: estado e sociedade na superação das desigualdades raciais no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Boll, 2009. p. 39-74.

LE COADIC, Yves-François. A ciência da informação. 2. ed. Brasília: Briquet de Lemos, 2004.

MEADOWS, Arthur Jack. A comunicação científica. Brasília: Briquet de Lemos, 1999.

NUNES, Cícera. Reisado cearense: uma proposta para o ensino das africanidades. Fortaleza: Conhecimento, 2011.

PEREIRA, Amilcar Araújo. O mundo negro: relações raciais e a constituição do movimento negro contemporâneo no Brasil. Rio de Janeiro: Pallas; FAPERJ, 2013.

PEREIRA, Willian Augusto. 26 Anos de história do movimento negro no Ceará. In: LIMA, Ivan Costa; NASCIMENTO, Joelma Gentil (Orgs.). Trajetórias históricas e práticas pedagógicas da população negra no Ceará. Fortaleza: Imprece, 2009. p. 69-102.

ROBREDO, Jaime. Da ciência da informação revisitada: aos sistemas humanos de informação. Brasília: Thesaurus, 2003.


SARACEVIC, Tefko. Ciência da informação: origem, evolução e relações. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 41-62, jan./abr. 1996.

VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

Fonte: Crédito direto ao autor

Quadro 1 - Categoria - Disseminação da informção

Fonte: Documentos pessoais do GRUNEC

Figura 1 - Jornal do GRUNEC - Afrocariri

Quadro 2 - Categoria - Apropriação da informação

Fonte: Crédito direto ao autor

Fonte: Crédito direto ao autor

Quadro 3 - Categoria - População e tomada de conhecimento sobre as ações