Arquivologia, Biblioteconomia e suas relações de convergências e divergências no campo da Ciência da Informação (CI)

Archival Science, Library Science and their relationships of convergences and divergences in the field of Information Science (CI)

Paola Catrina Pitol Carvalho

ORCID: http://orcid.org/0000-0002-2286-8949

Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense (UFF)

Especialista em Gestão em Tecnologia da Informação pelo Centro Universitário FAESA

Email: catrinapitol@gmail.com

RESUMO: As disciplinas Arquivologia, Biblioteconomia e Ciência da Informação (CI) surgiram com objetivos distintos. A Arquivologia e a Biblioteconomia durante séculos foram estereotipadas com seus conceitos etimológicos os quais excluíam seu objetivo tão significativo, que é a recuperação da informação, para atender usuários e a sociedade em geral, as duas disciplinas durante séculos apresentavam como “depósitos” de livros e documentos. Nesse contexto, justifica-se levantar essa discussão, visto que a Arquivologia, a Biblioteconomia e a CI, em suas dimensões históricas e sociais, apresentam semelhanças e disparidades, sendo assim, é notório o elo entre elas, mas onde se encontram suas divergências e convergências? Neste aspecto, este artigo propõe-se a discutir as convergências e divergências das três disciplinas. O estudo é exploratório e de abordagem qualitativa, com base nas ideias de alguns autores conceituados das respectivas disciplinas. Os resultados desta discussão evidenciam que as três disciplinas têm como objetivo principal a recuperação da informação e seu destino final, o usuário, mas divergem quanto a organização, tratamento, acesso, uso, entre outros. Dentre as funções das três disciplinas, a mais importante é a responsabilidade com a informação contida em seus objetos, e a CI possui um aspecto fundamental de apoio principalmente científico, tanto para a Arquivologia, quanto para a Biblioteconomia. Conclui-se que a três disciplinas lidam com a informação sob a ótica de diferentes aspectos, dentro de seus campos específicos. Todas contribuem para o desenvolvimento das outras, como, por exemplo, disponibilizar a informação para a sociedade em geral, não apenas para um público específico. Além do elemento comum que é a informação, a responsabilidade social para com a sociedade de uma forma geral, na sua disponibilização, é um ponto importante de convergência.

PALAVRAS-CHAVE: Arquivologia. Biblioteconomia. Ciência da Informação.

ABSTRACT: The disciplines of Archival Science, Library Science and Information Science (CI) emerged with different objectives. Archival Science and Library Science for centuries were stereotyped with their etymological concepts which excluded their very significant goal, which is the recovery of information, to serve users and society in general, the two disciplines for centuries presented as “deposits” of books and documents. In this context, it is justified to raise this discussion, since Archival Science and Library Science, in their historical and social dimensions, present similarities and disparities, thus, the link between them is notorious, but where do you find their divergences and convergences? In this aspect, this article proposes to discuss the convergences and divergences of the three disciplines. The study is exploratory and has a qualitative approach, based on the ideas of some renowned authors from the respective disciplines. The results of this discussion show that the three disciplines have as main objective the recovery of information and its final destination, the user, but they differ in terms of organization, treatment, access, use, among others. Among the functions of the three disciplines, the most important is the responsibility with the information contained in their objects, and CI has a fundamental aspect of support, mainly scientific, for both Archival Science and Library Science. It is concluded that the three disciplines deal with information from the perspective of different aspects, within their specific fields. They all contribute to the development of the others, such as making information available to society in general, not just to a specific audience. In addition to the common element that is information, social responsibility towards society in general, in providing it, is an important point of convergence.

Keywords: Archival Science. Library Science. Information Science.

1 Introdução

As disciplinas de Arquivologia, Biblioteconomia e Ciência da Informação possuem histórias diferentes em sua fundamentação teórica e científica. Neste aspecto, o objetivo deste artigo é discutir sobre as disciplinas Arquivologia, Biblioteconomia e Ciência da Informação (CI), com enfoque em suas convergências e divergências. Este estudo é exploratório e de abordagem qualitativa, tem como base os insights de alguns autores, como Herner, Hjørland, Robredo, Marques, Freire, Dias, Ortega, entre outros. Justifica-se levantar a discussão sobre essa temática, visto que desde a criação do curso de Arquivologia são visíveis as semelhanças entre a Arquivologia e Biblioteconomia, sendo que, por muitos e muitos anos, os bibliotecários desempenhavam entre as suas funções biblioteconômicas as funções também dos arquivistas. Aos poucos, foram constituídos os cursos de Arquivologia, a definição das disciplinas as quais constituíram a grade curricular do curso, a partir desse marco, a Arquivologia e seus profissionais passaram a ter não apenas a parte teórica das disciplinas, como a executá-las no campo da arquivologia, na prática, e os bibliotecários permaneceram em suas funções centradas na Biblioteconomia, mas essa é uma temática diferente do que vamos tratar neste artigo.

É notório o elo entre ambas, mas onde estão suas divergências e convergências? As disciplinas de Arquivologia, Biblioteconomia e CI, possuem histórias diferentes em sua fundamentação teórica e científica, mas onde elas se convergem e divergem? Primeiramente vamos destacar os conceitos das palavras, das duas disciplinas: Arquivologia e Biblioteconomia.

Os conceitos das palavras das disciplinas Arquivologia e Biblioteconomia, segundo Tanus e Araújo (2012): a Arquivologia deriva da palavra archivum “arquivo”, que por sua vez vem do grego arkheia “registros públicos”, de arkheion “prefeitura, governo municipal”, de arkhé “começo, origem”; a palavra Biblioteconomia advém do grego biblíon “livro”, “suporte da escrita”, théke “caixa, depósito”. A palavra biblioteca sempre se remeteu ao livro, um lugar que serve como “depósito” de muitos livros, guarda desses objetos. Em relação ao arquivo, a princípio, se refere a um local onde se guarda documentos, que, por sua vez, podem ser para cunho informacional ou possuem valor histórico e devem ser preservados, esse é o conhecimento geral em uma primeira dimensão histórica (ressaltamos que essa é apenas uma visão “superficial” das duas disciplinas, em um primeiro momento).

Os significados dessas duas palavras trazem para o campo dessas disciplinas objetos de fundamentos voltados para o físico, o qual remete a um espaço físico, objetos, livros e documentos, no entanto, a CI permitiu que um novo paradigma voltado para a informação formasse um elo abstrato, e esse elo, que possibilitou essa primeira convergência, é a informação.

Os autores aqui citados apresentam em suas concepções aspectos convergentes e divergentes sobre a relação dessas três disciplinas, exceto alguns autores, entre eles: Tanus e Araújo (2012), os quais incluíram a disciplina Museologia, como parte dessa relação de proximidade, no entanto, essa disciplina não será discutida aqui, mas ressaltamos sua importância nessa relação com as disciplinas abordadas, inclusive com a CI. Temática para futuras discussões e pesquisa.

2 A Ciência da Informação

Primeiramente, faz-se necessário buscar entender a história da CI como disciplina e o ponto principal de seu surgimento. Conforme menciona Freire (2006), a criação da tecnologia de impressão teve um papel muito importante no desenvolvimento das forças produtivas na sociedade, ao facilitar a circulação da mesma informação com um alcance sem precedentes. Inicia-se, então, um processo de comunicação científica, na medida em que a produção de conhecimentos gera, por sua vez, a necessidade de novos conhecimentos (FREIRE, 2006). Ainda de acordo Freire, a atividade científica baseada na experimentação e matemática é a base para a formação de um novo paradigma, social e tecnológico. Nesse sentido, esses paradigmas são a base de diferentes teorias discutidas por alguns autores conceituados da área.

A CI surgiu em meados do século XX, a partir do conceito de documento de Paul Otlet, e das bibliotecas especiais e industriais do setor de informação, ambos buscando estabelecer um controle mais detalhado da crescente literatura científica e técnica. O termo em si foi usado pela primeira vez na década de 1950, e os primeiros cursos acadêmicos no assunto estabelecidos na City University London em 1961 (Bawden e Robinson, 2010).  Esses desenvolvimentos culminaram no estabelecimento do primeiro departamento universitário de “Biblioteconomia e Ciência da Informação”, em Pittsburgh, e 1964 (VAKKARI, 1994; DILLON, 2007 apud HORJLAND, 2000). Não há como determinar uma data exata de quando teve início o termo Ciência da informação, o campo da disciplina é amplo e interdisciplinar, apresenta convergências entre várias disciplinas, como: Biblioteconomia, Ciência da Computação, Pesquisa e Desenvolvimento, Abstração, Indexação, Ciência das Comunicações, Ciência comportamental, Macro Publicação, Vídeo e Ciência Óptica, entre outras (HERNER, 1984).

É difícil relatar a história da CI e não mencionar o artigo de Vannevar Bush “As We May Think”, o qual marca a história da CI como disciplina. Outro acontecimento importante na história da disciplina foi a conferência Royal Society Conference em 1948, que reuniu cientistas da área, e alguns tópicos foram discutidos, entre eles o campo de atuação da CI. Desta conferência emergiu um novo olhar para profissional da informação, voltado para as questões da informação e biblioteca, às pesquisas, bibliografias, entre outras temáticas. O artigo de Taube, “Abordagem Funcional da Bibliografia”, é um despertar sobre as inter-relações da biblioteca e informação. Outro acontecimento importante da área foi os Anais da Conferência Internacional sobre Informação Científica (ICSI), em 1958, onde os temas foram mais abrangentes. O crescimento da CI foi impulsionado pela Guerra Fria, necessitava de aparatos tecnológicos, pesquisas, entre outros recursos para os Estados Unidos enfrentarem a antiga União Soviética (HERNER, 1984). Em razão dos avanços tecnológicos, vários campos do conhecimento têm se relacionado com a CI, dentre eles, destacam-se, mais precisamente, aqueles que apresentam em seu aspecto principal a informação e os problemas relacionados a ela, com destaque para a Ciência da Computação, Ciência dos Dados, Sistemas de Informação, Inteligência Artificial. Esses campos são de base tecnológica, mas merecem ser citados, visto que alguns autores incluem essas áreas como parte da CI, principalmente a Ciência da Computação.

Novamente ressaltamos o aspecto fundamental da informação e seu papel para as disciplinas Arquivologia, Biblioteconomia e CI. Surge então, após os avanços tecnológicos, um novo olhar para a informação de um modo geral. De acordo com FREIRE (2005), é o que chamamos de paradigma informacional, esse paradigma se caracteriza por ter como foco a informação em si. Diferentemente do anterior, o qual tinha como foco os autores e suas coleções para o conteúdo dos documentos, neste, a informação passa a constituir um campo de atividade científica. Ainda segundo o autor, todo esse paradigma envolve também a organização da informação e a distribuição através de canais de informação.

3 Convergências e divergências das três disciplinas

Entendemos que a Arquivologia, Biblioteconomia e CI se convergem em relação à informação contida em seus objetos. A CI possui um contraponto, pois sua relação é de apoio nos processos, entre eles a recuperação da informação (MARQUES, 2013). Entretanto, ressaltamos que essa concepção dependerá do ponto de vista de cada autor. Podemos fazer uma analogia entre a CI e a Biblioteconomia, esta se originou das artes e humanidades, enquanto a outra surgiu das tecnologias e dos computadores. Para a autora, o paradigma da Biblioteconomia mantém o foco na biblioteca como espaço de estudo, contemplação e preservação da memória, preocupação em propiciar acesso aos documentos bibliográficos, cursos para a formação de profissionais habilitados na organização e recuperação de documentos, assim como desenvolvimento de pesquisa (MARQUES, 2013).

A CI é entendida como subcampo, que se entrelaça com as disciplinas mais próximas – e coincidentemente trabalha com a informação –, como a Arquivologia, à Biblioteconomia (MARQUES, 2013). A informação sem dúvida trouxe essa aproximação entre elas, independentemente de seus objetos, seus campos de atuação. É indiscutível falar dessa relação sem mostrar o ponto de partida da CI. A CI concentra-se em informação em todos os seus aspectos e manifestações, na informação em domínios e contextos e em aplicações tecnológicas. De fato, o termo Ciência da informação é às vezes confusamente usado para denotar a tecnologia da informação, centros de Biblioteconomia sobre gestão de coleções e serviços para comunidades e cultura (HORJLAND, 2000).

De acordo com Marques (2013) além de Vannevar Bush, outros autores contribuíram para o estabelecimento da CI como disciplina, Jesse Shera e Marfaret Egan defendem a institucionalização da Biblioteconomia e da CI como disciplinas acadêmicas.

Para a UNESCO, a Biblioteconomia, Arquivologia e CI possuem em comum o mesmo objeto, a informação registrada em um suporte de forma distinta. Saracevic exclui a Arquivologia, ao considerar o diálogo dessa disciplina apenas com a Biblioteconomia, Ciência da Computação, Ciência Cognitiva e Comunicação (GOGNON e ARGUINI, 1992, apud MARQUES, 2013). “A Biblioteconomia e a Arquivologia são disciplinas aplicadas, que tratam da coleta, organização e difusão de informações preservadas em diferentes tipos de suportes materiais” (OLIVEIRA, 1998, p. 25 apud DIAS, 2000).

Segundo Sá (2013), tanto museólogos quanto arquivistas e bibliotecários buscavam para usar um termo atual a informação contida nos documentos e livros, para que pudessem classificá-los, numa primeira instância, e ao mesmo tempo, extrair o conhecimento histórico da cultura e das civilizações que os produziu.

De acordo com Marques (2013), a CI busca determinar os fatores que afetam o desempenho de sistemas de informação (por exemplo, bibliotecas), num problema de indexação, deve ser capaz de fornecer soluções para resolução desses problemas, esse é seu objetivo. No entanto, ela se ocupa da solução de problemas não apenas da Biblioteconomia, mas principalmente de todas as disciplinas que se relacionam com ela, diferentemente da Arquivologia e Biblioteconomia, que se preocupam com seu objeto. Segundo Delmas (2010), as disciplinas elaboram técnicas de informação e acesso que são semelhantes, mas com finalidades próprias de seu objeto. De acordo com a ASIS – American Society for Information Science, (HORJLAND, 2000, p. 509):

A CI está preocupada com a geração, coleta, organização, interpretação, armazenamento, recuperação, disseminação, transformação e uso da informação, com particular ênfase nas aplicações de tecnologias modernas nessas áreas. Como disciplina, busca criar e estruturar um corpo de conhecimento científico, tecnológico e de sistemas relacionado a transferência de informações. Tem tantos componentes científicos (teóricos) puros, que investigam para o assunto, sem levar em conta a aplicação, e aplicada ciência (prática) componentes, que desenvolvem serviços e produtos.

Conforme menciona Horjland (2000), a preocupação da CI, vai além da geração, coleta, organização, interpretação, armazenamento, recuperação, disseminação, transformação e uso da informação, ela busca também articular os conhecimentos, de forma estruturada, nos aspectos científicos, tecnológicos e a transferência de informações, e nesse contexto, inserem-se os componentes teóricos e a ciência prática para o desenvolvimento de produtos e serviços.

A função da CI é desenvolver conhecimentos específicos [...] (HORJLAND, 2000). Qual seriam esses conhecimentos? Os conhecimentos específicos de cada área, no qual ela possui alguma relação.

Segundo Ortega (2004), sobre a constituição da CI, incluem áreas do conhecimento como a Administração, que busca fornecer formas otimizadas para a operação do fluxo da informação registrada, e a Editoração, na produção de documentos impressos e eletrônicos. Também podem ser citadas a Linguística, a Lógica, a Psicologia, a Estatística e a Economia. O autor apresenta a Documentação, a Biblioteconomia e a CI como disciplinas que se desenvolveram e são interligadas em seus objetivos. Não apenas Ortega, outros autores também se referem à Documentação, ao invés de Arquivologia.

Conforme Dias (2000), tanto a Biblioteconomia como Ciência da Informação possuem interesses e manifestações nas diferentes formas de conhecimento: ciência pura, ciência aplicada, tecnologia e economia, mas se distinguem por métodos e por agendas de pesquisa peculiares; os pontos de convergências são bibliografia, arquivologia, por exemplo, existentes no campo do conhecimento: o acesso à informação; a esse campo, observada a prática de denominação utilizada em várias de suas instituições, costuma-se dar o nome de Biblioteconomia e Ciência da informação (DIAS, 2000).

Segundo Marques (2013) quanto à Arquivologia, as suas relações com a CI podem ser no que concerne às suas fronteiras (interdisciplinaridade e conceitos afins), objeto (informação) e funções sociais (geralmente abarcadas pelas preocupações em torno da recuperação da informação. Embora não exista consenso quanto à interdisciplinaridade entre a Arquivologia e a CI, a recuperação da informação nos parece ser objetivo comum para as disciplinas que têm por objeto a organização e disponibilização da informação (MARQUES, 2013).

A Arquivologia aproxima-se da CI, quando o objeto da arquivologia, na perspectiva de um novo paradigma, desloca-se do “arquivo” para a informação arquivística ou “informação registrada orgânica”, [...] para Thomassen este é um objeto duplo, uma vez que se refere à informação arquivística (conteúdo semântico do documento) e ao seu contexto gerador, ou seja, o processo de criação dos documentos (conteúdo diplomático do documento) (FONSECA, 2005). O campo das relações interdisciplinares com a CI apresenta cinco condições para o desenvolvimento da pesquisa na área, (...) entre elas: A pesquisa em Arquivologia deve recorrer às ciências da informação, sobretudo no que se refere aos documentos eletrônicos (...) (GRACY apud FONSECA, 2005).

Há distanciamento nessas duas subáreas, Biblioteconomia e Ciência da informação, em relação à seleção dos problemas estudados e na forma como eles são definidos; nas questões teóricas colocadas e no grau de experimentação; desenvolvimento empírico e o conhecimento prático e competências resultantes; nas ferramentas e abordagens utilizadas; na natureza e robustez das relações interdisciplinares estabelecidas e na dependência do progresso e da evolução das abordagens interdisciplinares (SARACEVIC, 1992 apud DIAS, 2000). Entretanto, como tentamos demonstrar, o que faziam os bibliotecários especializados norte-americanos e os documentalistas europeus convergia para um mesmo objetivo: enfrentar o desafio de organizar e prestar serviços de acesso à informação a pessoas e às instituições atuantes em áreas especializadas (DIAS, 2000).

Podemos ver a convergência da CI com a Biblioteconomia nas categorias mencionadas por Robredo (2011). Nesse contexto, essas categorias das quais a CI se preocupa desempenham a mesma função do papel das bibliotecas, como a recuperação da informação, representação da informação (linguagens documentárias e linguagem natural), tecnologias de processamento de informação, serviços de informação (bibliotecas, centros de informação), comunicação da informação, tecnologias de informação e comunicação (especialmente as digitais), produção e recepção da informação, canais de comunicação (formais e informais), uso da informação, estudos da cognição, estudos de usuários [...]. O mesmo autor ainda cita algumas divergências entre a CI e a Biblioteconomia, como: comunicação, classificação, bibliometria, intercâmbio da informação, controle de acesso, regulamentação, comportamento dos usuários e fatores humanos (RAYWORD apud ROBREDO, 2011, p. 410).

Considerações finais

As histórias da Arquivologia, Biblioteconomia e CI se iniciam de formas distintas, separadas por seus objetivos, no entanto, as três disciplinas lidam com a informação sob diferentes óticas, em diferentes aspectos, dentro de seu campo específico do conhecimento. No entanto, ressalta-se que nenhuma se sobressai em relação à outra, visto que todas inserem em seu contexto principal a informação. É preciso levar em consideração o destino final da informação, as três disciplinas diferenciam-se também em relação aos seus usuários, no entanto, a CI busca resolver os “problemas” que surgem dessas disciplinas, principalmente quando se refere à recuperação da informação e ao uso da informação. A Arquivologia e a Biblioteconomia tratam a informação de forma mais específica e de acordo com as necessidades informacionais de seus campos de atuação, ou seja, ações que visem ao destino final da informação, e convirjam nesse sentido, visto que, o destino da informação são seus usuários, aqueles que “usam” a informação para diferentes finalidades (o tratamento de informação contida em seus suportes).

Considera-se que a informação, a partir do século XX, com advento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), tornou-se fundamental e acumulativa em diferentes campos do conhecimento, ao mesmo tempo efêmera e de valor. Nesse aspecto, as disciplinas convergiram em um propósito mais evidente, o acesso e uso da informação, entre outros aspectos que estão relacionados com a CI. Além da informação como elemento principal na sustentação das disciplinas, evidenciamos que, através dela, outro elemento comum é o conhecimento com que lidam e possibilitam tanto de forma individual quanto em sociedade.

A informação contida nos documentos, através dos livros, tem um valor primordial, entretanto, a busca por conhecimento, dentro dessas três áreas, propicia que a informação não seja apenas algo de mero valor, mas que satisfaça, atenda àqueles que são seus usuários. A informação transmite o conhecimento, gerando e agregando, assim, novos conhecimentos. Essa “troca” as três disciplinas possuem em comum, convergem.

As disciplinas Arquivologia e Biblioteconomia aos poucos têm se desprendido de seus significados etimológicos e históricos os quais contribuíram para apresentá-las como um espaço físico, onde são depositados livros, documentos, que de certo modo, impedem da sociedade de assimilar o papel social contido na informação. Pode-se considerar que a Biblioteconomia e Arquivologia possuem uma função em comum, que se refere a seus papéis sociais perante a sociedade. A Arquivologia com destaque maior em “documentação”. Conforme menciona Marques (2013), [...] a recuperação da informação nos parece ser objetivo comum para as disciplinas que têm por objeto a organização e disponibilização da informação, que acabam por delinear seus paradigmas no campo da informação. Ressaltamos que tanto a CI, como a Arquivologia e Biblioteconomia, divergem e convergem em suas funções, evidentemente nenhuma manifesta superior à outra. Um aspecto importante e fundamental nas três disciplinas é a disponibilização da informação, mencionada por Marques (2013), não importando a forma de armazenar, tratar e organizar, visto que todas possuem formas diferentes em suas funções técnicas. A informação é o elemento principal, e o público a que se destina o mais importante para se alcançar. A informação, seja em seu aspecto informacional ou até mesmo histórico, ultrapassa os limites de um “depósito de livros” ou um “estoque de documentos”, visão que se teve dos arquivos e bibliotecas durante séculos, até nesta contemporaneidade. Arquivologia e Biblioteconomia não são espaços apenas físicos, guardiões de livros e documentos, suas funções convergem em seus objetivos, entre eles disponibilizar a informação não apenas para um público, mas para a sociedade em geral, papel também da CI. Necessitam caminhar juntas, não apenas no campo científico, mas principalmente, no social.

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