RESUMO: Os recursos informacionais estão presentes em todos os contextos sociais e organizacionais. O valor da informação, seu tratamento e uso se configuram como objetos de estudo no campo da Ciência da Informação. A Gestão da Informação e o Comportamento Informacional são temas amplamente discutidos, sendo o primeiro direcionado ao estudo dos fluxos formais de informação e o segundo, ao estudo do usuário e suas necessidades de informação. Na perspectiva de entender as aproximações e estudos correlatos dessas duas áreas, o presente artigo tem como objetivo verificar, na literatura científica da área, a relação existente entre a área da Gestão da Informação e a do Comportamento Informacional. Para tanto, foi realizada uma pesquisa na Base de Dados em Ciência da Informação (Brapci), utilizando as expressões de busca referentes às categorias temáticas da pesquisa. Em termos metodológicos, trata-se de uma pesquisa qualitativa e quantitativa a partir da pesquisa bibliográfica e análise de conteúdo, resultante do mapeamento dos dados coletados. Os resultados apontam para o foco transversal da informação enquanto recurso estratégico comum que aproxima ambas as áreas. No entanto, de forma geral aponta-se uma escassez em publicações que tratem da Gestão da Informação e do Comportamento Informacional como um lócus conjunto. Conclui-se que existe, dentro do escopo estudado, pouca literatura que abranja as duas áreas de maneira concomitante. As publicações existentes apresentam potencial para aprofundamento das relações entre a Gestão da Informação e o Comportamento Informacional nos ambientes organizacionais. Logo, os aspectos de usuário em termos de demanda, necessidade e uso consciente de informação, associados à Gestão da Informação, configuram-se como campos que necessitam ser melhor compreendidos e investigados.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão da Informação; Comportamento Informacional; Ambiente Informacional; Usuário de Informação.

ABSTRACT: Informational resources are present in all social and organizational contexts. The value of information, its treatment and use are objects of study in the field of Information Science. Information Management and Informational Behavior are widely discussed topics, the first being directed to the study of formal information flows and the second to the study the user and their information needs. With a view to understanding the approaches and related studies of these two areas, this article aims to verify, in the scientific literature of the area, the existing relationship between the area of Information Management and that of Informational Behavior. For that, a search was carried out in the Information Science Database (Brapci), using the search expressions referring to the thematic categories of the research. In methodological terms, it is a qualitative and quantitative research based on bibliographical research and content analysis, resulting from the mapping of collected data. The results point to the transversal focus of information as a common strategic resource that brings both areas together. However, in general, there is a lack of publications that address Information Management and Informational Behavior as a joint locus. It is concluded that there is, within the studied scope, little literature that covers the two areas concomitantly. Existing publications show potential for deepening the relationship between Information Management and Informational Behavior in organizational environments. Therefore, user aspects in terms of demand, need and conscious use of information, associated with Information Management, are configured as fields that need to be better understood and investigated.

Keywords: Information Management; Informational Behavior; Informational Environment; Information User.

1 Introdução

Os fluxos, os processos, a demanda e o uso consciente dos recursos informacionais são elementos de discussões e de investigações que permeiam o campo da Ciência da Informação (CI). Cada área e segmento desse campo científico se complementam, se correlacionam, divergem ou convergem nas diversas investigações aplicadas nos cenários sociais e organizacionais.

Com as transformações em função das tecnologias digitais, a informação potencializa seu valor, tornando-se um insumo indispensável para a geração do conhecimento em todos os segmentos da sociedade, evidenciando-se assim a importância da sua gerência, acesso e do seu uso. Barbosa (2008, p. 2) pondera que “a informação se transforma, indiscutivelmente, em uma arma capaz de garantir a devida antecipação e análise de tendências, bem como a capacidade de adaptação, de aprendizagem e de inovação”. Isso permite afirmar que a informação, quando bem gerenciada, é considerada imprescindível para a inovação nas organizações. Diante disso, utilizar mecanismos que possibilitem a organização e o acesso à informação necessária para a construção do conhecimento torna-se primordial nos cenários atuais.

Nessa linha de pensamento, a Gestão da Informação (GI) passa a ser considerada uma estratégia para o gerenciamento da informação em ambientes organizacionais, uma vez que atua nos fluxos formais de informações, seja na coleta, no armazenamento, no monitoramento ou na disseminação dos diferentes tipos de informação, objetivando facilitar o acesso e, consequentemente, o seu uso e reúso.

Embora a adoção da GI nas organizações seja um importante elemento, é necessário entender como os sujeitos neste contexto buscam e utilizam a informação para a construção do conhecimento e quais são as suas necessidades informacionais neste ambiente.

Partindo desse raciocínio, perceber as necessidades dos indivíduos no processo de busca, seleção, análise e uso da informação torna-se fator preponderante neste ambiente. Assim sendo, entender o comportamento informacional do indivíduo frente aos recursos informacionais pode ser considerado estratégico para uma GI eficiente, garantindo vantagem competitiva no cenário em que as inovações tecnológicas representam um diferencial nos processos organizacionais, na tomada de decisão e na aplicação de estratégias voltadas para além da tecnologia.

Nesse cenário de compreensão e estudo sobre as relações entre a gestão de recursos informacionais e o comportamento do indivíduo, definiu-se para esta pesquisa as questões basilares do estudo: existem publicações periódicas científicas que abordem as áreas de Gestão da Informação e Comportamento Informacional de maneira correlata? Como se dá a aproximação destes campos científicos?

A partir das perguntas-base, estabelece-se para o presente artigo o objetivo geral de verificar na literatura científica da área da Ciência da Informação, indexada na Base de Dados em Ciência da Informação (Brapci), quais as publicações que abordam os temas Gestão da Informação, Comportamento Informacional e Estudo do Usuário. Especificamente, a pesquisa visa analisar as aproximações possíveis entre os temas, quais os autores que publicam sobre esses assuntos de forma conjunta ou isolada com vistas a analisar as tendências no campo.

Assim, justifica-se a pesquisa inicialmente pela interligação lógica entre os assuntos evidenciados em leituras na área, uma vez que a Gestão da Informação e o Comportamento Informacional são áreas que compartilham de várias abordagens e conceitos, tendo em comum a informação como elemento central, fazendo-se necessário um mapeamento do campo com o potencial de contribuir para o entendimento e as categorias temáticas que se apresentam neste lócus conjunto.

Por fim, a estrutura do artigo consiste na apresentação conceitual da Gestão da Informação e do Comportamento Informacional, seguido do detalhamento metodológico e análises desenvolvidas na construção da investigação e as considerações finais da pesquisa.

2 Gestão da Informação: Conceituações gerais e aplicações

Conforme exposto, no contexto em que a informação e o conhecimento se tornaram indispensáveis, é fundamental um gerenciamento adequado dos processos informacionais. Organizar a informação para melhor disponibilizá-la é considerada uma atitude estratégica, pois contribui com a construção do conhecimento e o desenvolvimento de produtos e serviços qualificados. Para Barbosa (2008, p. 4), amparado nas contribuições teóricas de Peter Drucker, Ikujiro Nonaka, Hirotaka Takeuchi, Thomas Stewart, Thomas Davenport e Larry Prusak, a obtenção e uso da informação são fatores de transformações sociais e econômicas. Assim sendo, percebe-se que adotar a GI nas organizações pode representar um diferencial estratégico e contribuir para os processos decisórios que norteiam a tomada de decisão nesses ambientes. Faz-se necessário compreender o que vem a ser esse processo. Davenport e Prusak (1998) o definem como:

[...] um conjunto estruturado de atividades que incluem o modo como as empresas obtêm, distribuem e usam a informação e o conhecimento [...] identificar todos os passos de um processo informacional – todas as fontes envolvidas, todas as pessoas que afetam cada passo, todos os problemas que surgem – pode indicar o caminho para mudanças que realmente fazem diferença. (DAVENPORT; PRUSAK, 1998, p. 173)

O conceito exposto reforça a premissa de que a GI é um processo que compreende a informação como um recurso/ativo chave que prevê alterações de status e do ambiente, sobretudo com vistas a alcançar os objetivos da organização. Nesta mesma linha de pensamento, Duarte (2011, p. 162) ressalta que a gestão da informação compreende “o estudo dos processos informacionais, do modo como a informação pode ser organizada, armazenada, recuperada e utilizada para a tomada de decisões e para a construção do conhecimento”. Dessa forma, é possível depreender que as principais características da GI se voltam à aplicação de processos e fluxos ligados a seleção, organização, compartilhamento e uso da informação. Corroborando esta afirmativa, Valentim (2004) indica que a GI trata de um

[…] conjunto de estratégias que visa identificar as necessidades informacionais, mapear os fluxos formais de informação nos diferentes ambientes da organização, assim como sua coleta, filtragem, análise, organização, armazenagem e disseminação, objetivando apoiar o desenvolvimento das atividades cotidianas e a tomada de decisão no ambiente corporativo(VALENTIM, 2004, p. 1).

A organização desses fluxos informacionais contribui para a capacidade de interpretação das informações para se alcançar os objetivos estratégicos traçados em determinado ambiente. Ainda em consonância com as afirmações anteriores, Carvalho (2012, p. 58) assevera que “a GI auxilia as organizações a lidarem com uma variedade de insumos informacionais, a fim de utilizá-los na tomada de decisão, na produção de novos conhecimentos e na competitividade das organizações”. Nesta mesma linha de pensamento, Oliveira e Bertucci (2003, p. 76) consideram que “o gerenciamento da informação tornou-se um instrumento estratégico necessário para controlar e auxiliar decisões, por meio de melhorias no fluxo da informação, do controle, da análise e da consolidação da informação para os usuários”. No entanto, para que a GI seja estabelecida de forma profícua, é necessário compreender que são necessários subsídios para a sua implantação, desde os fatores humanos até os tecnológicos. Um dos elementos basilares é a identificação de como a informação flui nos variados contextos organizacionais. Uma das formas de possibilitar sua aplicação é por meio do uso de ferramentas tais como as tecnologias digitais. Estas são propulsoras de desenvolvimento e inovação tecnológica, incidem na organização, tratamento, disseminação e uso das informações nesses ambientes (VALENTIM, 2004; DUARTE, 2011).

A partir do exposto é pertinente perceber a necessidade de entendimento da importância dos diversos tipos de informações produzidas. A GI exige que os indivíduos tenham o domínio dos diferentes tipos de informação que perpassam uma empresa, da dinâmica dos fluxos nos diferentes processos nos quais está presente a informação, do ciclo de vida de cada informação e do conhecimento dos profissionais sobre o processo (PONJUÁN DANTE, 2007).

Logo, conforme os autores abordados anteriormente, fica evidente que em termos de aplicação de mecanismos formais do fluxo informacional, da existência e aplicação de tecnologias digitais bem como as diversas vantagens encontradas na aplicação da GI nas organizações, identifica-se o indivíduo como protagonista partícipe do processo, seja no registro da informação ou no seu consumo, promovendo a melhoria de suas práticas, dos processos e conhecimento organizacional.

Assim sendo, o Comportamento Informacional pode ser entendido como fator relevante no processo da GI, no qual se observa a necessidade de conhecer o usuário de informação para aplicação de estratégias de gestão voltadas para as necessidades informacionais, construindo elos que contribuam na formatação de uma GI eficiente, aliando as tecnologias e os recursos informacionais como fatores de potencialização das informações e do conhecimento nas organizações.

3 Comportamento informacional nos fluxos informacionais

Conforme exposto, a informação e o conhecimento são indispensáveis para a geração de produtos e serviços inovadores nas organizações, sendo necessário compreender como os indivíduos utilizam esses ativos e quais as principais dificuldades na busca pela informação. Somente a implementação da GI não significa que os recursos informacionais serão utilizados de forma adequada para a geração do conhecimento, pois é imprescindível entender as necessidades dos sujeitos partícipes de todo o processo para o sucesso esperado.

Sobre a relevância da informação, Araújo (2014, p. 63-64) ressalta que “a informação que constitui um recurso importante para as organizações não é aquela que existe materialmente, mas aquela que ainda não existe como entidade física, que está na mente das pessoas que pertencem à organização”. Por isso, torna-se primordial, então, perceber as necessidades informacionais latentes e presentes dos atores do processo. Diante do exposto, Cunha, Amaral e Dantas (2015), afirmam que:

De modo geral, as necessidades informacionais se referem a uma insuficiência de informação acerca de um fenômeno, objeto ou acontecimento; sendo entendida como um fenômeno inerente ao ser humano e cuja manifestação é o comportamento informacional, que visa a suprir tal carência informativa e satisfazer o usuário de informação (CUNHA; AMARAL; DANTAS, 2015, p. 62).

Nesse ínterim, conforme os autores citados, entender o comportamento informacional dos indivíduos atuantes no ambiente permite identificar suas necessidades informacionais, possibilitando subsídios para o planejamento, o direcionamento e para a busca e recuperação da informação, fundamentais para a definição de estratégias, levando em conta o ambiente competitivo e os constantes desafios impostos pelo mercado. No aspecto do ambiente organizacional, pode-se mensurar a relevância dessa área. De acordo com Wilson (2000) comportamento informacional é:

Todo comportamento humano relacionado às fontes e canais de informação, incluindo a busca ativa e passiva de informação e o uso da informação. Isso inclui a comunicação pessoal e presencial, assim como a recepção passiva de informação, como a que é transmitida ao público quando este assiste aos comerciais da televisão sem qualquer intenção específica em relação à informação fornecida (WILSON, 2000, p. 49).

Nota-se, portanto, que a compreensão acerca do comportamento informacional no contexto organizacional pode contribuir com o desenvolvimento de estratégias para uma gestão da informação mais eficiente.

Ainda destacando a importância da informação nas organizações, Barbosa (2008), ressalta que:

À medida que os ambientes profissionais e de negócios se tornam mais complexos e mutantes, a informação se transforma, indiscutivelmente, em uma arma capaz de garantir a devida antecipação e análise de tendências, bem como a capacidade de adaptação, de aprendizagem e de inovação (BARBOSA, 2008, p. 2).

Nesse caminhar teórico, conforme estabelecido por Barbosa (2008), reforça-se a necessidade de as organizações estarem atentas para a maneira como os colaboradores utilizam as informações que são produzidas e disponibilizadas em seus ambientes e quais os comportamentos que eles apresentam na busca e no uso das informações, na utilização das tecnologias digitais e como veem as inovações cada dia mais presentes em suas rotinas. Albuquerque (2014, p. 29) destaca que “o comportamento informacional está relacionado à maneira como os usuários lidam com a informação. Os usuários de informação são aqueles que precisam de informação para desenvolver suas atividades [...]”. Percebe-se, assim, a importância em entender como os indivíduos acessam e usam a informação para a construção do conhecimento e realizações das suas atividades no ambiente organizacional. Essa percepção impacta diretamente na estratégia de aplicação da GI, que poderá direcionar seus produtos informacionais para atender as necessidades dos membros da organização. Tais ações podem contribuir para o melhor aproveitamento das informações pertinentes na construção do conhecimento e na tomada de decisão.

4 Caminhos metodológicos

Esse percurso metodológico foi estabelecido para responder o problema de pesquisa, que consiste em verificar na literatura científica da área da Ciência da Informação, a relação existente entre as áreas da Gestão da Informação e do Comportamento Informacional em publicações periódicas no campo.

O presente estudo se caracteriza como sendo de abordagem predominantemente qualitativa com base em pesquisa bibliográfica, com levantamento e mapeamento de terminologias, conceitos e literatura na área. Ainda na linha deste tipo de abordagem, faz uso da estratégia de análise de conteúdo das publicações de artigos indexados na Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (Brapci).1

E, ainda, a pesquisa se constitui de abordagem descritiva, apresentando dados quantitativos, sendo predominantemente qualitativa com aplicação do método de pesquisa bibliográfica por meio do levantamento e mapeamento dentro do escopo estabelecido, com seleção de textos e posterior análise das fontes encontradas por meio da análise do conteúdo Bardin (2009). Desta forma, ainda conforme a autora supramencionada, o trabalho segue os passos dessa estratégia a saber: pré-análise, exploração do material e, por fim, tratamento dos resultados obtidos e interpretação. A aplicação dos 3 polos serve de inquérito à experimentação e representam as diferentes fases da análise.

Conforme o recorte estabelecido, a pesquisa foi direcionada para artigos indexados na base de dados digital de publicações científicas especializadas em Ciência da Informação (Brapci). A escolha da base deu-se por ser um ambiente com cobertura temática e temporal abrangente da área da Ciência da Informação no Brasil.

Quanto à delimitação e à estrutura da pesquisa, adotou-se limitação temporal, aplicação de termos de pesquisa pré-definidos a serem implementados no padrão de busca da base e, ainda, aplicação de operadores booleanos, buscando associações e amplitudes na recuperação de artigos inerentes à temática investigada.

Assim, a pesquisa foi realizada utilizando as expressões de busca: Gestão da informação, Comportamento informacional e Estudo do usuário, acrescido do recorte de 2000-2022, incluindo-se a aplicação de filtro para textos completos apenas. O objetivo de todos os procedimentos é exprimir o estado da arte de como se apresenta a convergência e como se dá a aproximação entre as duas categorias temáticas abordadas.

Nesses moldes, os termos foram aplicados e correlacionados na busca avançada da base, utilizando o recurso das aspas (“ ”) e do operador booleano AND.

O protocolo de pesquisa seguiu a aplicação de buscas de acordo com as seguintes configurações:

Termo 1 - Gestão da informação and comportamento informacional - 9 resultados

Termo 2 - “Gestão da informação” and “comportamento informacional” - 1 resultado

Termo 3 - “Gestão da informação” and “estudo do usuário” - 0 resultado

TermFonte: Elaborado pelas autoras (2022)mportamento - 1 resultado

Ressalta-se que a escolha dos termos definidos para mapeamento da pesquisa consiste em termos indexadores para as áreas da Gestão da Informação e Comportamento Informacional, além do termo Estudo do Usuário, por ser indicada literatura como um termo representativo e de evolução conceitual do Comportamento Informacional.

Esse percurso metodológico, conforme indicado, embasa-se na análise de conteúdo de Bardin (2010) que indica três polos cronológicos para a organização da análise: a pré-análise, a exploração do material e, por fim, o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação das fases da análise do conteúdo. A aplicação dos três polos serve de inquérito à experimentação e representam as diferentes fases da análise de conteúdo (BARDIN, 2010, p. 121).

Assim, no âmbito da pré-análise indicada por Bardin (2010), os resultados encontrados foram organizados sistematicamente por título e autor, para fins de exploração sistemática dos documentos, com aplicação da leitura flutuante e a escolha dos documentos. As inferências da pré-análise direcionaram para a quantificação dos termos de pesquisa encontrados nos textos, extraindo dados para a decodificação do escopo entendida como “o processo pelo qual os dados brutos são transformados sistematicamente e agregados em unidades, as quais permitem uma descrição exata das características pertinentes do conteúdo” (BARDIN, 2010, p. 129).

Portanto, as quantificações de termos foram fundamentais na identificação dos artigos, pois apresentou parâmetro de uso para os termos Gestão da Informação, Comportamento Informacional e Estudo do Usuário presentes nas palavras-chave apresentadas nos resumos e no corpo do texto, ressaltando que para esse mapeamento quantitativo excluiu-se termos presentes nos títulos de seções, referências e apresentação biográfica dos autores.

5 Análises e discussões

Esta pesquisa tem por objetivo analisar a convergência expressa na literatura científica com vistas a identificar as tendências temáticas neste campo. Tal medida se faz necessária com o objetivo de apontar os caminhos epistêmicos de como essa convergência se materializa. Dessa forma, esta seção tem como foco apresentar e discutir os resultados da busca.

Os artigos localizados a partir da busca avançada e da identificação dos termos presentes nos textos totalizam 12 documentos que se enquadraram dentro do escopo definido. Os resultados são apresentados na Tabela 1.

Ano	Artigos	Autores
2006	Uso de fontes de informação para a inteligência competitiva: um estudo da influência do porte das empresas sobre o comportamento informacional	Ricardo Rodrigues Barbosa
2008	Análise de pesquisas sobre o comportamento informacional de decisores sob o ponto de vista da cognição situada	Mônica Erichsen Nassif
2010	Influências e barreiras ao compartilhamento da informação: uma perspectiva teórica	Alessandra Alves; Ricardo Rodrigues Barbosa
2013	Gestão da Informação e do Conhecimento no âmbito das práticas de Segurança da Informação: o fator humano nas organizações	Luciana Emirena Santos Carneiro; Maurício Barcellos Almeida
2013	A terminologia no estudo do usuário da informação	Ivette Kafure; Suzana Rocha; Vivianne Rodrigues; Tania Malheiros; Sonia Boeres; Ailton Feitosa
2015	Análise crítica da pesquisa em comportamento informacional segundo as demandas da empresa intensiva em conhecimento	José Osvaldo de Sordi; Marcia Carvalho de Azevedo; Manuel Meireles
2017	Comportamento informacional de gestores da rede Hiperdia Minas	Ricardo Bezerra Cavalcante; Yoshimi José Ávila Watanabe
2018	Inteligência de negócios e sua condição epistemológica na Ciência da Informação	Alexandre Lucas; Angel Freddy Godoy Viera; William Barbosa Vianna
2018	A competência em informação e o comportamento informacional dos usuários de bibliotecas híbridas: um estudo comparativo no Brasil e na Escócia	Rafaela Carolina Silva; Selma Letícia Capinzaiki Ottonicar; Rosângela Formentini Caldas; Cláudio Marcondes de Castro Filho
2018	Satisfação de usuário no uso de relatórios gerenciais	Niomar Dantas; Anatália Saraiva Martins Ramos
2018	Usabilidade em um sistema para compras de material informacional	Shirley Carvalho Guedes; Nadia Vanti
2019	Gestão da Informação e Comportamento Informacional nas organizações	Mariene Alves do Vale; Marli Dias de Souza Pinto; Ana Clara Cândido

Na exploração dos dados coletados e seguindo as diretrizes da organização de análise proposta por Bardin (2010) com a leitura sistemática dos textos foi possível quantificar e identificar em cada artigo selecionado, de que forma os termos foram utilizados nas palavras-chave e ao longo do texto. A estruturação quantitativa dos dados foi realizada utilizando os recursos de planilha Excel com a organização em coluna e indicação quantitativa dos critérios adotados; logo foi disposto duas colunas de apresentação “evidências dos termos em palavras-chave” e “evidências dos termos no corpo do texto”. Na coluna “evidências de termos em palavras-chave”, identificou-se os termos (Comportamento Informacional (P1), Gestão da Informação (P2) e Estudo do Usuário (P3)), e na coluna “Evidências dos termos no corpo do texto” indicou-se a quantidade de vezes que o termo era apresentado no texto. A dinâmica de extração/identificação dos dados foi possível utilizando a leitura flutuante (BARDIN, 2010) associado à ferramenta “localizar” disponível nos leitores de pesquisa de PDFs. Os dados foram dispostos e apresentados na Tabela 2 - Mapeamento dos termos presentes nos textos.

Como resultado, conforme disposto na Tabela 2, é possível comparar e visualizar de que maneira os termos “Gestão da Informação”, “Comportamento Informacional” ou “Estudo do Usuário” estão presentes nos artigos, e, a partir desse mapeamento e da leitura de cada material, identificar as relações, aproximações e distanciamento encontrados entre as áreas estudadas.

Título	Evidências de termos em palavras-chave			Evidências dos termos no corpo do texto
	P1	P2	P3	P1	P2	P3
Uso de fontes de informação para a inteligência competitiva: um estudo da influência do porte das empresas sobre o comportamento informacional	Comportamento Informacional	Gestão da Informação	-	5	1	0
Influências e barreiras ao compartilhamento da informação: uma perspectiva teórica	Comportamento Informacional	-	-	4	1	0
Gestão da Informação e do Conhecimento no âmbito das práticas de Segurança da Informação: o fator humano nas organizações	Comportamento Informacional	Gestão da Informação	-	4	4	0
Análise crítica da pesquisa em comportamento informacional segundo as demandas da empresa intensiva em conhecimento	Comportamento Informacional	Gestão da Informação	-	33	23	0
Comportamento informacional de gestores da rede Hiperdia Minas	Comportamento Informacional	Gestão da Informação	-	39	3	0
Inteligência de negócios e sua condição epistemológica na Ciência da Informação	-	-	-	2	2
A competência em informação e o comportamento informacional dos usuários de bibliotecas híbridas: um estudo comparativo no Brasil e na Escócia	Comportamento Informacional	-	-	32	0	0
Satisfação de usuário no uso de relatórios gerenciais	-	Gestão da Informação	-	0	12	0
Usabilidade em um sistema para compras de material informacional	-	Gestão da Informação		9	0
Gestão da Informação e Comportamento Informacional nas organizações	Comportamento Informacional	Gestão da Informação	Estudo do Usuário	18	3	2
Análise de pesquisas sobre o comportamento informacional de decisores sob o ponto de vista da cognição situada	-	Gestão da Informação	-	8	12
A terminologia no estudo do usuário da informação			Estudo do Usuário	6	0	5

Legendas: P1 = Comportamento Informacional; P2 = Gestão da Informação; P3 = Estudo do usuário.

Conforme exposto na Tabela 2, os artigos investigados apresentam resultados quantitativos que expressam correlações dos termos entre Gestão da Informação, Comportamento Informacional e parcialmente em Estudo do Usuário com evidências dos termos nas palavras-chave e ao longo do texto; porém, com os dados obtidos fica notório a escassez de publicações que enfatizam as questões da Gestão da Informação e o Comportamento Informacional como fatores de entrelace em suas áreas, pois na temporalidade adotada na investigação (2000-2022) encontrou-se apenas 12 artigos que atendiam as categorizações da pesquisa.

Os artigos encontrados utilizam, de maneira geral, as definições conceituais tanto da Gestão da Informação como do Comportamento Informacional como norteadoras dos estudos, considerando por um lado a Gestão da Informação enquanto coleta, organização, armazenamento, disseminação e uso efetivo de informações para atender às necessidades organizacionais. Por outro lado, o Comportamento Informacional direcionado em como as pessoas procuram, acessam, usam e compartilham informações em diferentes contextos, incluindo o local de trabalho, a educação e a vida cotidiana.

Destaca-se que artigo selecionado “Inteligência de negócios e sua condição epistemológica na Ciência da Informação” não apresenta nenhuma indicação dos termos “Gestão da Informação, Comportamento Informacional ou Estudo do Usuário” na representação do artigo em suas palavras-chave, porém, apresenta os termos investigados no corpo do texto. A ausência total de termos no resumo revela que a Gestão da Informação e o Comportamento Informacional foram tratados, especificamente neste documento, de maneira secundária. No entanto, os demais artigos apresentaram relações mais aprofundadas, mesmo que os termos não estejam explicitamente destacados em sua totalidade nas palavras-chave.

A adoção do termo “estudo do usuário” ou “estudo de usuário” se apresenta apenas nos artigos “A terminologia no estudo do usuário da informação (2013)” e “Gestão da Informação e Comportamento Informacional nas organizações (2019)”, o que fica evidente, mediante a temporalidade da pesquisa, que há uma mudança no conceito/termo Estudo do Usuário para o Comportamento Informacional, sendo ambos os termos representativos na ação do indivíduo no âmbito da necessidade e busca informacional.

Da totalidade dos 12 artigos localizados foram encontrados cinco artigos “Gestão da Informação e do Conhecimento no âmbito das práticas de Segurança da Informação: o fator humano nas organizações”, “Análise crítica da pesquisa em comportamento informacional segundo as demandas da empresa intensiva em conhecimento”, “Inteligência de negócios e sua condição epistemológica na Ciência da Informação”, “Gestão da Informação e Comportamento Informacional nas organizações”, “Análise de pesquisas sobre o comportamento informacional de decisores sob o ponto de vista da cognição situada”, que se aprofundam na correlação da Gestão da Informação e do Comportamento Informacional, apresentando em conjunto que existe a necessidade de se entender de que maneira o comportamento do indivíduo pode ser considerado como um dos fatores primordiais para a boa aplicação da gestão informacional.

Nessas análises acima indicadas, observa-se que a aproximação entre Gestão da Informação e Comportamento Informacional pouco se apresenta na produção científica, mas que se correlacionam a partir do olhar para além da tecnologia, onde o indivíduo e sua necessidade informacional são observados na construção do caminho para a Gestão da Informação. Sendo áreas que caminham separadas, mas possuem potencial que envolvem a atuação em conjunto com vistas a potencializar o uso do recurso informacional nos diversos segmentos organizacionais onde a informação e seu uso estratégico estejam presentes.

6 Considerações finais

Esta pesquisa objetivou, de forma geral, verificar na literatura científica da área da CI qual a relação existente entre as áreas da Gestão da Informação e do Comportamento Informacional, com vistas a perceber simbiose entre as áreas e analisar as tendências no campo, com objetivo específico de apontar os caminhos epistêmicos de como esta convergência se materializa.

Dentro da questão de pesquisa, que foi a de identificar se existem publicações periódicas científicas que abordem as áreas de Gestão da Informação e Comportamento Informacional de maneira correlata, foi verificado que estas duas categorias temáticas acrescidas de Estudo do Usuário estão imbricadas, seja por meio da materialidade de seus discursos expressos nos trabalhos que demonstram estas aproximações, seja pelo aspecto dos elementos comuns, tais como a centralidade da informação compreendida de forma transversal como um recurso ou ativo chave, seja na compreensão da necessidade de que para se implementar a gestão da informação será necessário um esforço holístico que abarque os preceitos do comportamento informacional com a centralidade no usuário.

Como resultado, evidencia-se que existe uma relação entre a Gestão da Informação e o Comportamento Informacional nos ambientes organizacionais, e que entender a necessidade e o comportamento informacional do indivíduo pode contribuir com a Gestão da Informação nas suas mais diversas aplicações.

Assim, entende-se que é imprescindível que as necessidades informacionais do indivíduo sejam consideradas no processo primeiro de organização do fluxo informacional. Em linhas gerais e diante do exposto, permite inferir que as organizações necessitam mapear os fluxos informacionais existentes com vistas a possibilitar a transformação da informação em conhecimento. No entanto, para que o fluxo informacional seja registrado, faz-se necessário uma GI eficiente objetivando melhorar a qualidade e a disponibilização da informação e ser considerada uma vantagem competitiva estratégica por contribuir potencialmente com a construção e o compartilhamento do conhecimento nas ambiências organizacionais, fator determinante para o sucesso da organização.

A Gestão da Informação por vezes focaliza nas tecnologias, fluxos e processos informacionais, e o Comportamento Informacional se debruça na necessidade do indivíduo. Logo, entender as características do indivíduo poderá potencializar as ações da Gestão da Informação adotadas. Portanto, os processos informacionais definidos na Gestão da Informação e pensados no uso e consumo da informação pelo indivíduo para além do fluxo se entrelaçam na área do Comportamento Informacional.

No entanto, a partir do escopo da pesquisa, também é possível perceber a lacuna de conhecimento e a escassez na literatura periódica científica da área de Ciência da Informação, de estudos teóricos e empíricos que atentem para a correlação das áreas de Gestão da Informação e Comportamento Informacional. Contudo, é imprescindível o aprofundamento científico no que se refere às necessidades informacionais do indivíduo sendo consideradas primordiais no processo de organização do fluxo Informacional. Este olhar sobre a necessidade do usuário pode ser a lacuna de investigação a ser suprida com estudos direcionados na amplitude das duas áreas.

As correlações das áreas de Gestão da Informação e Comportamento Informacional se apresentam na importância da informação como um recurso valioso para as organizações e indivíduos; na consideração da tecnologia como uma ferramenta para facilitar o acesso e o uso efetivo da informação; tanto a Gestão da Informação como o Comportamento Informacional são áreas que estão preocupadas com a qualidade e a relevância da informação para garantir que ela seja utilizada de forma eficaz; as áreas reconhecem que a informação é um processo contínuo, em constante evolução, e que o acesso a informações atualizadas é fundamental. Por fim, a Gestão da Informação e o Comportamento Informacional se alinham no entendimento de se considerar os usuários finais ao desenvolver estratégias e soluções para gerenciar a informação de forma eficaz.

A Gestão da Informação pode fornecer entendimento sobre como criar e gerenciar sistemas de informação eficazes, enquanto o Comportamento Informacional pode fornecer informações sobre como as pessoas usam e interagem com esses sistemas.

Por fim, acredita-se na necessidade de ampliação da discussão frente ao Comportamento Informacional associado à Gestão da Informação, tratando a necessidade do indivíduo como caminho norteador de uma aplicação de fluxo informacional eficiente e que a aproximação dessas áreas possa trazer contribuições ao campo da Ciência da Informação. Assim, assume-se a necessidade de pesquisas futuras que ampliem o lócus e temporalidade da pesquisa com vistas a buscar amplitude na relação epistemológica conceitual entre Gestão da Informação e Comportamento Informacional, bem como outros estudos como foco no usuário e seu comportamento com o objetivo de trazer contribuições no desenvolvimento de tecnologias, fluxos e processos informacionais.

Referências

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Quadro 1: Termos indexados na pesquisa

Fonte: Elaborado pelas autoras (2022)

Tabela 1 - Artigos identificados para compor o escopo da pesquisa

Fonte: Elaborado pelas autoras (2022)

Tabela 2 - Mapeamento dos termos presentes nos textos

Fonte: Elaborado pelas autoras (2022)