Mediação em Museus: mapeando o tema e identificando lacunas

Mediation in Museums: mapping the theme and identifying lacunas

Larissa Teixeira Rodrigues

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5671-7276

Discente especial do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Brasil. Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Brasil. Especialista em Aprendizagem Ativa pelo Centro Universitário UniDomBosco. Especialista – MBA em Gestão e Políticas Públicas pela Faculdade Multivix, Brasil.

Email: : larissa.t.rodrigues@edu.ufes.br

Taiguara Villela Aldabalde

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4956-0896

Doutor em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília (UnB), Brasil.

Docente da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Brasil.

Email: : taiguara.aldabalde@ufes.br

Marcelo Calderari Miguel

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7876-9392

Bibliotecário e Arquivista pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Brasil. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI/UFES), Brasil. Especialista em Educação Científica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Brasil.

Email: marcelo.miguel@edu.ufes.br

RESUMO: O objetivo central desta pesquisa é analisar a produção científica sobre mediação em museus indexada no Acervo de Publicações Brasileiras em Ciência da Informação. Para tanto, realiza-se o mapeamento bibliográfico das publicações encontradas na Base Referencial de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (Brapci). Foram analisadas as publicações científicas recuperadas no período de 2013 a 2022. O estudo revela que, apesar do crescimento das discussões sobre a mediação nos últimos anos, ainda são poucos os trabalhos publicados. A presente pesquisa contribui para a caracterização da mediação em museus e sua importância na medida em que apresenta as lacunas identificadas.

PALAVRAS-CHAVE: Mediação cultural; Mediação da informação; Mediação em museus; Tipos de mediação.

ABSTRACT: The central objective of this research is to analyze the scientific production on mediation in museums indexed in the Collection of Brazilian Publications in Information Science. To do so, we will carry out a bibliographic mapping of the publications found in the Reference Base of Journal Articles in Information Science (Brapci). Scientific publications retrieved from 2013 to 2022 were analyzed. The study reveals that despite the growth of discussions about mediation in recent years, there are still few published works. The present research contributes to the characterization of mediation in museums insofar as it presents the identified gaps.

Keywords: Cultural mediation; Information mediation; Museums mediation; Types of mediation.

1 Introdução

Dada a realidade dos serviços educativos e culturais em museus, arquivos e bibliotecas, é possível reconhecer que há na categoria da mediação uma bibliografia a ser levada em conta para as práticas que envolvem a disseminação e a apropriação cultural da informação ou outros objetos. Isso pode contribuir para as novas vertentes da Museologia que procuram realizar a guarda como proteção legal do acervo em toda extensão que isso possa significar, inclusive a obrigação ao acesso, vide que Aldabalde e Cid (2020) alocam a mediação na acessibilidade. Considerando essa proposição, busca-se elencar a produtividade em termos quali-quantitativos sobre o tema “Mediação em Museus” (MEM), considerando os diferentes tipos de mediação, a partir das indexações arroladas no Acervo da Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI).

Neste sentido, a pesquisa propõe-se a analisar as características das produções científicas sobre MEM indexadas na Brapci. A hipótese principal que permeou este estudo é a de que o uso da MEM assume papel expressivo para a democracia cultural, ao cumprimento da fruição dos bens culturais e de outros direitos culturais.

Sendo assim, busca-se o mapeamento da literatura e produção científica no âmbito da Ciência da Informação (CI) por técnicas da bibliometria que convergem aos objetivos pontuados em Araújo e Alvarenga (2011), isto é, identifica-se a possibilidade para compreensão acerca da produção científica e outros enlaces pertinentes à esfera da temática estudada. Desta forma, situar-se-á uma revisão de literatura diante de itens documentais sobre a MEM. Destarte, a pesquisa busca uma resposta sobre “como” caracterizar e analisar as produções científicas sobre MEM no âmbito da CI a partir de resultados qualitativos e quantitativos.

A seção 2 contextualiza a temática sobre MEM; a seção 3 discorre sobre o trajeto da investigação abordando aspectos metodológicos relevantes para compreender os resultados; a seção 4 apresenta os resultados do estudo; e a seção 5 pauta considerações e perspectivas sobre o tema. Por fim, registramos nas Referências Bibliográficas todas as obras que contribuíram para a elaboração desta pesquisa.

2 Perspectivas em museus - Possibilidades com a mediação

Tendo em vista seu papel sociocultural, os museus também são, fundamentalmente, instrumentos de disseminação de conhecimento e de cultura, de preservação e de proteção de memórias e de aproximação entre a sociedade e seu respectivo patrimônio cultural, não somente mostrando-se um espaço de mediação, como apontar-se-á mais a seguir.

Lara Filho (2009, p. 164), em sua interpretação do conceito de museu, define-o como um “local de contemplação, de fruição, de prazer; que possui compromissos educacionais, funções sociais, mas principalmente insere-se no universo do conhecimento”. Acrescenta que,

O museu deve trabalhar com a busca de sentido, oferecendo a possibilidade de, a partir de correlações que estabelecem na construção da informação, apresentar o objeto em seus diferentes contextos e sugerir possibilidades de apropriação e de participação efetiva dos públicos nas exposições (LARA FILHO, 2009, p. 163).

Nesta ótica, a mediação em museus é uma forma de qualificar a interação dos visitantes com os materiais expostos. Tomando o visitante como centro do processo, a mediação busca tornar a experiência de visitação uma oportunidade de construir novos saberes. Sem a mediação, os visitantes correm o risco de permanecerem com os conhecimentos já existentes ao ingressar no museu, afirmando apenas o que já sabe.

Chagas (2011) considera que os museus são lugares complexos e não podem ser definidos por um único aspecto. O autor faz uma observação em relação à classificação dos museus e afirma que

Talvez fosse adequado, para melhor compreendê-los numa perspectiva crítica, aceitar a obviedade: os museus são lugares de memória e de esquecimento, assim como são lugares de poder, de combate, de conflito, de litígio, de silêncio e de resistência; em certos casos, podem até mesmo ser não-lugares. Toda a tentativa de reduzir os museus a um único aspecto, corre o risco de não dar conta da complexidade do panorama museal no mundo contemporâneo (CHAGAS, 2011, p. 12).

Pensando no papel histórico e social que os museus desempenham, Chagas (2011, p. 5) ressalta sua propensão para a mediação cultural, como atesta a seguir:

Da modernidade ao mundo contemporâneo, os museus são reconhecidos por seu poder de produzir metamorfoses de significados e funções, por sua aptidão para a adaptação aos condicionamentos históricos e sociais e por sua vocação para a mediação cultural. Eles resultam de gestos criadores que unem o simbólico e o material, que unem o sensível e o inteligível. Por isso mesmo, cabe-lhes bem a metáfora da ponte lançada entre tempos, espaços, indivíduos, grupos sociais e culturas diferentes; ponte que se constrói com imagens e que tem no imaginário um lugar de destaque (CHAGAS, 2011, p. 5).

Buscando caracterizar a mediação cultural, buscamos em Coelho (1997) a definição de que constitui-se de processos de aproximação entre um objeto (a obra) e as comunidades (coletividade). Os autores Aldabalde e Rodrigues (2015, p. 259) concebem a mediação cultural como um processo “cujo objeto é a cultura dirigida com uma dinâmica interativa em relação ao público, para o qual se volta a estratégia da construção, com o objetivo de promover a democracia e democratização cultural [...]”.

Jammet (2007) e Aldabalde (2016) ao se reportarem acerca da “mediação cultural”, alertam sobre dois importantes eixos estratégicos: a democracia cultural e a democratização cultural. A democracia cultural consiste em proporcionar condições que tornem possível a fruição da cultura por meio de práticas que incluem e possibilitem que o público participe ativamente das ações propostas com participação.

É importante destacar que esses eixos estratégicos podem variar em sua implementação em diferentes contextos e culturas, e que são temas complexos que envolvem questões políticas, sociais, econômicas e culturais. Também inclui-se aqui tudo aquilo que está em vias de ser consolidado na sociedade contemporânea (JAMMET, 2007). Um exemplo disso podem ser as lutas por direitos culturais alocados nos direitos humanos de populações historicamente marginalizadas, como quilombolas, povos indígenas, população LGBTQIA+, dentre outros. Para o autor, a democratização cultural, por sua vez, orienta a assegurar e ampliar a aproximação dos bens culturais e a população, criando condições de acesso às instituições e aos espaços públicos culturais, possibilitando a popularização da cultura, dos espaços e dos bens culturais mediados.

Paula (2012), em sua interpretação sobre mediação cultural, aponta que sua natureza é dialógica e simbólica, voltando-se para a circulação de signos. A autora defende a preocupação com a interpretação dos códigos culturais, dados os desafios para estabelecer o diálogo entre diferentes grupos sociais.

Na temática MEM, outra forma de mediação que se apresenta é a mediação da informação, que pode ser definida, segundo Almeida Júnior (2015), como:

[...] toda ação de interferência – realizada em um processo, por um profissional da informação e na ambiência de equipamentos informacionais –, direta ou indireta; consciente ou inconsciente; singular ou plural; individual ou coletiva; visando a apropriação de informação que satisfaça, parcialmente e de maneira momentânea, uma necessidade informacional, gerando conflitos e novas necessidades informacionais (ALMEIDA JÚNIOR, 2015, p. 25).

Isso em alinhamento com os entendimentos de Paula (2012), que ressalta ser necessário refletir sobre a mediação da informação e, assim, pode-se dizer que sondar a produção científica sobre a MEM também é relevante para fomentar o desenvolvimento social dessas instituições e trazer avanços a outras interfaces da CI. Nessa direção, Paula (2012) aponta que “para que o indivíduo se aproprie desta informação, é necessário que haja uma interação entre ele e o objeto” (PAULA, 2012, p. 71).

Tal interação pode ser considerada, no contexto da democracia cultural, algo para além dos modelos difusivos da informação, isto é, os públicos, ou usuários beneficiados, podem participar ativamente do usufruto dos bens culturais, da produção cultural nos espaços de mediação, das expressões culturais abertas a serem manifestadas em museus, das criações a partir e em lugares de criatividade e da construção de uma vida cultural em que as populações sintam-se representadas.

Nesse sentido, a representatividade também implica no estabelecimento de um modelo que inclua os mediadores ou o mediador, os objetos culturais mediados e os públicos, ou usuários, em relações recíprocas de troca simbólica, considerando-se a geração de sentidos. Assim, os públicos, ou usuários, não são postos apenas na condição de meros leitores das narrativas impostas aos documentos, pois são convidados para escreverem aquilo que será representado, quais documentos, conteúdos, valores a serem explorados e as escolhas das práticas.

Assim, por um lado Martendal, Lemos e Ventura (2017, p. 510) alegam que as “vertentes mais recentes da Arquivologia e Museologia procuram abandonar a exclusividade da guarda do acervo, para se inserirem também do tratamento informacional”. Por outro, não trata-se somente de uma mudança de paradigma, mas de reconhecer que os serviços culturais ofertados sob a mediação cultural orientada pelos eixos acima descritos são inclusivos, de modo que tais serviços são também produtos de diálogos e apropriações correspondentes ao exercício dos direitos culturais da população envolvida, ou público-alvo.

Diante do exposto, pode-se dizer que a mediação cultural está associada a uma transformação da realidade pelo modo particular de se apropriar e usufruir dos bens culturais, e não do mero acesso à cultura ou à informação.

Portanto, a MEM envolve um âmbito de magnitude considerável em termos de nicho bibliográfico, devendo ser o tema analisado em relação aos tipos e entendimentos de mediação que têm sido publicados, entendidos e/ou estudados.

Uma possibilidade é adotar a perspectiva decolonial para uma prática. A proposta pode consistir em convidar uma população marginalizada que é retratada em uma exposição antiga do museu sob o modelo difusivo para produzir uma nova exposição no modelo mediador.

Isso pode ocorrer da seguinte forma, segundo Aldabalde (2021): o público (índios, pescadores, negros que foram cativos no mar, descendentes de imigrantes, por exemplo) é posto em contato com os documentos e a narrativa colonizadora da exposição do museu que não dá voz àqueles que possuem relação com o objeto em tela como o mar, por exemplo, mas privilegia “o descobridor”. Assim, uma prática de mediação intitulada roda de conversa pode colocar os seguintes pontos de tensão no centro da mediação, visto que mediação não é conciliação: a) identificar o público marginalizado e silenciado nesta exposição, tendo em vista a possibilidade de estabelecer contato com este público por meio de um representante dele (índio, pescador, descendente de imigrantes que percorram o mar, dentre outros); b) ir ao encontro e conhecer melhor este público e seu representante fazendo o convite para interagir/se aproximar da exposição; e c) a partir de um documento fotográfico e do diálogo com o público estabelecer a definição do tipo de prática de mediação cultural (roda de conversa, por exemplo) a partir de fotografias ou outros documentos que representem apenas territórios-objetos, e não pessoas, elaborando questões a serem debatidas e registradas, como, por exemplo: O que os invisibilizados têm a dizer sobre isso? Seus ancestrais eram objetos? Fomos descobertos? Ainda somos objetos? Ainda somos colônia? Como se identifica aquele que agora possui voz? Como podem contribuir para uma identidade coletiva que não está representada nesta exposição? De que forma pensam a relação com o mar?

Partindo da premissa que a prática de mediação cultural é uma prática cultural, ainda segundo o autor, cabem as seguintes questões: Quais os públicos, público potencial e “não-público”? Em qual programação a atividade proposta se insere? Quais os objetivos formais e/ou informais? Como se pode planejar a prática de mediação com participação? Há participação dos públicos internos no planejamento da programação ou da prática? Houve diálogo com os públicos para a inclusão e o acolhimento dos participantes/convidados/palestrantes/aprendizes? Qual a dinâmica da prática? Qual a data, a hora e o local escolhidos, com base em dados, tendo em vista alcançar o maior números de participantes? Quais dados fundamentaram a escolha do dia? É possível identificar se os públicos e mediadores estão articulados em redes formais e/ou informais? Se sim: quais redes possuem em comum? Quais os teores das falas e dos discursos produzidos? De que forma a prática poderia ser realizada considerando a democracia cultural e a democratização? Considerando o modelo ontológico do Arquivo Paradigmático (Aldabalde e Cid, 2020): Como elevar o grau de acessibilidade com a mediação? Quais estruturas organizacionais da instituição, propostas no âmbito do modelo ontológico, deveriam, deontologicamente, estar envolvidas com a mediação?

Diante de tantas provocações, lembramos que Motta (2021) reporta que a mediação “em que se inserem os museus, significa considerar fluxos e pontos de interação que se estabelecem entre diferentes atores, espaços, acervos, linguagens e tecnologias” (MOTTA, 2021, p. 21). Nesse cenário museal, a mediação é categoria relevante para as formas de inovação e transformação de produtos e serviços. Assim, entende-se que:

Mediação não é uma palavra da moda no mercado das ideias da Ciência da Informação, pelo contrário, ela é epistemologia e práxis da Ciência da Informação e, por este motivo, é necessário que os currículos insiram esta temática como práxis curricular [...]. Na ausência, ou na pouca clareza do conceito de mediação, o diálogo entre as áreas da informação no campo do currículo e mesmo nas práticas profissionais, numa perspectiva inter ou transdisciplinar, encontra dificuldades para se constituir (MORAES, 2019, p. 77-86).

A MEM é um tema tratado a partir de museus e atividades no mundo real, de modo que serviços educativos e culturais demandam por mediação, estando mais ou menos presentes em unidades de informação e espaços de memória e cultura em todo o território nacional. Assim, a MEM é um tema e uma ação que se baseia nas práticas em espaços museais (incluindo unidades de informação, espaços de memória e cultura em todo o território nacional) de atividades educativas e recreativas, onde os serviços culturais e informativos muitas vezes requerem um projeto dinâmico de comunicação.

A MEM desempenha um papel essencial ao estabelecer conexões significativas entre as coleções e os visitantes, proporcionando uma experiência enriquecedora e significativa. Por meio da mediação, os museus têm a capacidade de tornar suas coleções mais acessíveis ao público, promovendo a compreensão, apreciação e valorização do patrimônio cultural. Através de atividades interativas, programas educativos e abordagens inovadoras, a mediação pode despertar o interesse, a curiosidade e o envolvimento dos visitantes, tornando a visita ao museu uma experiência enriquecedora e memorável.

No entanto, a literatura mapeada, descrita a seguir, indica que há falta de recursos financeiros e a redução de equipes, parecendo ser este o principal dos desafios enfrentados pelos museus brasileiros, pois esta carência afeta a capacidade de desenvolver e implementar programas de mediação de forma efetiva. A escassez de recursos muitas vezes resulta em limitações para a contratação de profissionais capacitados, a atualização de tecnologias e a oferta de atividades educativas diversificadas. Isso evidencia a importância de investimentos adequados na mediação em museus a fim de garantir que essas práticas sejam efetivas e acessíveis a um público mais amplo.

Em suma, a MEM desempenha um papel fundamental na promoção da acessibilidade, educação e valorização do patrimônio cultural, mas enfrenta desafios diante da escassez de recursos. Por fim, em termos de possibilidades1, a mediação de registros pode resgatar material do arquivo de uma exposição, produzir narrativas, fazer acontecer prática de mediação como uma roda de conversa, acessibilizar vídeos ou áudios sobre debates quanto aos objetos mediados, dando novos sentidos aos documentos da exposição e recriando-a com o olhar do não-público que torna-se público com voz ativa e participação pela dinâmica aproximativa e por via da inclusão.

3 Material e métodos

O estudo tem uma abordagem quali-quantitativa, uma vez que analisa dados numéricos, por meio de uma visão interpretativista, devido à necessidade de coleta e análise de dados por meios estatísticos e o auxílio da análise quali-quantitativa bibliométrica. Assim, com a abordagem bibliométrica (Lei de Bradford – produtividade de periódicos; Lei de Lotka – produtividade científica de autores; e Leis de Zipf – frequência de palavras) busca-se analisar o conteúdo a partir de documentos recuperados na Brapci.

Quanto aos objetivos, o estudo se caracteriza pelo caráter descritivo (MARCELO; HAYASHI, 2013). A sistematização e descrição dos dados são realizadas sob uma abordagem quantitativa e bibliométrica, com o objetivo de obter parâmetros métricos que possam gerar informações relevantes sobre as condições de produção e recepção da temática MEM.

Por meio de análises quantitativas e bibliométricas é possível coletar e analisar dados estatísticos sobre a produção de conteúdo relacionado à MEM em diferentes periódicos e fontes de informação. Esses dados podem incluir o número de artigos publicados, a frequência de publicação ao longo do tempo, as palavras-chave mais utilizadas, os autores com maior quantitativo de publicações, as instituições de afiliação, entre outros aspectos relevantes.

Essa abordagem quantitativa e bibliométrica permite identificar tendências, padrões e lacunas na produção de conhecimento relacionado à temática MEM. Além disso, a sondagem bibliometrica possibilita a comparação e a análise de diferentes fontes de informação, periódicos ou áreas de conhecimento, contribuindo para a compreensão do estado da arte da temática e fornecendo subsídios para a tomada de decisões em relação a políticas e estratégias de pesquisa e divulgação. Nessa via, entende-se que:

A Bibliometria é uma ferramenta estatística que permite mapear e gerar diferentes indicadores de tratamento e gestão da informação e do conhecimento, especialmente em sistemas de informação e de comunicação científicos e tecnológicos, e de produtividade, necessários ao planejamento, avaliação e gestão da ciência e da tecnologia, de uma determinada comunidade científica ou país. […] também um instrumento quantitativo, que permite minimizar a subjetividade inerente à indexação e recuperação das informações, produzindo conhecimento, em determinada área de assunto. Em última análise ela contribui para tomadas de decisão na gestão da informação e do conhecimento, uma vez que auxilia na organização e sistematização de informações científicas e tecnológicas (GUEDES; BORSCHIVER, 2005, p. 15).

Em síntese, a sistematização e descrição dos dados relacionados à temática MEM são realizadas sob uma abordagem quantitativa e bibliométrica, visando obter parâmetros métricos que possam fornecer informações relevantes sobre as condições de produção e recepção do conhecimento nessa área. Essa abordagem é fundamental para compreender o estado da arte, identificar tendências e lacunas e subsidiar a tomada de decisões em relação a políticas e estratégias de pesquisa e divulgação na área da MEM.

Em 6 de fevereiro de 2023 foi realizada a busca na Brapci – um acervo eletrônico de publicações em CI mantido e desenvolvido no Brasil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Nessa perspectiva, três objetivos específicos são assim esquematizados: I) o levantamento quantitativo de publicações sobre mediação em museus indexado na Brapci; II) a identificação das revistas científicas que mais promoveram essa temática; e III) os principais estudiosos e entidades e as instituições de origem ou vínculo profissional. A MEM gera um rol de desafios e inovações e situa uma vasta gama de projetos em âmbito tecnológico ou criação de produtos e processos para prestação de serviços.

A delimitação da busca situou o período de 2013 a 2022 e ocorreu com o uso do termo “media* muse*”. O levantamento na Brapci considerou o termo de busca direcionado ao termo MEM e as possibilidades de variação do descritor em outros idiomas; a busca envolve o campo “Todos” – aplica-se a autores, título, palavras-chave, resumo e texto completo, totalizando, assim, como primeiro resultado, 56 artigos que abordam em alguma medida o tema MEM.

Após a finalização da análise de conteúdo, os metadados foram reunidos em planilhas (exportar.xls) para viabilizar a análise estatística, construindo categorias que simplificam os dados, agrupando-os por semelhança (MIGUEL; GABRIEL JUNIOR; SILVEIRA, 2022). Assim sendo, situam-se quatro campos que vão estabelecer indicadores bibliométricos: a) year/issue (publicação por ano); b) source (nomenclatura do periódico); c) author (publicação por autor/e o gênero); e d) keywords (palavras-chave), title (título do artigo) e session (sessão).

4 Análise e discussão dos resultados

A seleção e a escolha da Brapci se adequa para situar os itens documentais da MEM na esfera temática da CI. O aporte metodológico permite estruturar uma análise sobre os itens documentais em torno de esferas como: a) o marco temporal; b) os periódicos que mais acolhem a temática; c) os pesquisadores mais produtivos; e d) os descritores que mais ressaltam o tema MEM.

Em relação à estratégia de análise de dados adotada, empregou-se a bibliometria como uma ferramenta estatística capaz de mapear e elaborar diversos indicadores que auxiliam na gestão, identificação e análise de informações (GUEDES; BORSCHIVER, 2005). A utilização da bibliometria nesta pesquisa permitiu a identificação, mapeamento, quantificação e análise do material selecionado, contribuindo significativamente para alcançar o objetivo proposto.

Também procedeu-se o levantamento de artigos indexados sobre MEM na Brapci que contribuem interdisciplinarmente, em alguma medida, para o desenvolvimento da categoria da mediação em CI. No recorte temporal (últimos dez anos), o rol de publicações indexadas com temática MEM na Brapci pode ser caracterizado em torno de 56 itens documentais.

Desses 56 artigos recuperou-se o recorte temporal de dez anos para análise, buscando expor os pontos de especificidade da MEM e o percurso e adensamento desta a temática na CI. Frisa-se que o último triênio concentra a maior parte das publicações sobre o tema (22 itens, 39,29%) e, neste horizonte, a ilustração a seguir (Gráfico 1) demonstra a publicação anual de trabalhos relativos ao tema MEM e que adentra na perspectiva pertinente a este diagnóstico.

Assim, percebe-se que em 2020 o número de publicações atingiu seu auge, com o número de 13 produções (23,21%). Desta forma, nota-se pouca variabilidade na produção sobre a temática e, em termos de produção e comunicação científica, esse tema apresenta na Brapci uma média anual de seis artigos, conforme o recorte dos últimos dez anos. Ao examinar os documentos recuperados, surgem questões relacionadas à memória, à produtividade das instituições e eventos e à disseminação de aspectos da memória da CI.

Por meio de levantamentos bibliográficos e análise de bases de dados de periódicos científicos, nota-se a redução do crescimento na quantidade de publicações acadêmicas sobre o tema nos últimos dois anos (2021 e 2022) – dada a falta de recursos e apoio aos museus de influenciar na disponibilidade de financiamento para pesquisas. Desta forma, a seguir, na Tabela 1, demonstram-se os títulos dos periódicos com maior número de produções relativas à MEM – conforme a classificação Qualis Capes Periódico, área de Comunicação e Informação (quadriênio 2017-2021), que apresenta a variação de qualidade de B4, B3, B2, B1 até A4, A3, A3 e A1.

Título do Periódico

ISSN

Qualis

Perc.

Transinformação

0103-3786

A1

1

1

1,79%

Em Questão

1808-5245

A2

4

9

16,07%

Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação

1518-2924

A2

1

Informação & Informação

1981-8920

A2

1

Informação & Sociedade: Estudos

0104-0146

A2

1

Perspectivas em Ciência da Informação

1413-9936

A2

1

Revista Cubana de Información en Ciencias de la Salud (Cuba)

2307-2113

A2

1

Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação

1980-6949

A3

4

11

19,64%

InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação

2178-2075

A3

2

Biblios (Peru)

1562-4730

A3

1

Bibliotecas. Anales de Investigación (Cuba)

1683-8947

A3

1

Ciencias de la Información (Cuba)

1606-4925

A3

1

Liinc em revista

1808-3536

A3

1

Revista Digital de Biblioteconomia & CI

1678-765X

A3

1

Páginas A&B, Arquivos e Bibliotecas (Portugal)

2183-6671

A4

2

5

8,93%

Ciência da Informação

1518-8353

A4

1

Informação em Pauta

2525-3468

A4

1

Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina

1414-0594

A4

1

Tendências da Pesquisa Brasileira em CI

1983-5116

B1

6

16

28,57%

Pesquisa Brasileira em CI e Biblioteconomia

1981-0695

B1

4

Biblionline

1809-4775

B1

2

Ágora: Arquivologia em debate

0103-3557

B1

1

Ciência da Informação em Revista

2358-0763

B1

1

Informação@Profissões

2317-4390

B1

1

Prisma.com (Portugal)

1646-3153

B1

1

Revista Brasileira de Educação em CI

2358-3193

B2

2

4

7,14%

Informação & Tecnologia

2358-3908

B2

1

Revista Bibliomar

2526-6160

B2

1

BIBLOS (Rio Grande)

0102-4388

B3

2

10

17,86%

CONCI – Convergência em CI

2595-4768

B3

2

Revista Ibero-Americana de CI

1983-5213

B3

2

Archeion Online

2318-6186

B3

1

Memória e Informação

2594-7095

B3

1

Revista Analisando em Ciência da Informação

2317-9708

B3

1

Revista Cajueiro

2595-9379

B3

1

Total

56

56

100%

No painel (Tabela 1) acima, apura-se a quantidade de artigos por periódicos e, neste parâmetro, que, em geral, o tema (16 itens documentais) se enraíza em revistas avaliadas no Qualis Capes B1 (Consulta na Plataforma Sucupira, quadriênio 2017-2020). Em termos quantitativos, destacam-se, na recuperação da Brapci2, os seguintes periódicos científicos: seis artigos na revista Tendências da Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação (TPBCI, 2023) da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (ANCIB); e somam-se quatro itens dos periódicos: Em Questão, do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições (FEBAB); Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia (Grupo de Pesquisa Informação e Inclusão Social CNPq) em parceria com o Laboratório de Tecnologias Intelectuais LTi, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Destaca-se que a temática científica da MEM aborda uma ampla variedade de temas científicos, com um total de 56 itens documentais publicados em 35 periódicos distintos. Neste sentido, os documentos recuperados mostram que a MEM contribui para a formação de uma sociedade mais educada e consciente ao promover a aprendizagem ativa, a reflexão crítica e a participação efetiva dos visitantes. Sendo assim, entende-se que investir em MEM é fundamental para garantir uma experiência museal enriquecedora e significativa para o público, contribuindo para a construção de uma sociedade mais civilizada e desperta visto que os eixos estratégicos, democracia cultural e democratização cultural, são interconectados e podem se reforçar mutuamente.

No entanto, a partir de 2015 muitos museus brasileiros têm enfrentado dificuldades financeiras devido à recessão econômica e à redução de recursos destinados à cultura. Isso tem resultado em restrições para o desenvolvimento de atividades de mediação e divulgação de acervos, incluindo a diminuição de equipes e limitações orçamentárias. Esta situação tem impactado negativamente a capacidade dos museus de oferecer uma experiência museal de qualidade aos visitantes e de cumprir sua missão de preservação e promoção do patrimônio cultural.

O cenário de debate de MEM se relaciona ao contexto político-econômico desafiador vivenciado no país e se caracteriza pela instabilidade econômica e redução de investimentos em vários setores como a cultura. Os autores que mais publicaram sobre o tema MEM são destacados no Gráfico 2, e sobressaem, neste âmbito, os dez pesquisadores (seis mulheres e quatro homens) com duas ou mais publicações:

Dos 56 artigos recuperados, considerados sob o caráter interdisciplinar, averigua-se a contribuição de 111 pesquisadores com publicações sobre MEM. Paralelamente, ao confrontar dados sobre a rede de colaboração, verifica-se que 24 (42,86%) são trabalhos produzidos em duplas; 16 (28,57%) dos itens documentais são publicitações em autoria única; oito (14,29%) dos artigos provém de trio de pesquisadores; e outros oito (14,29%) artigos compreendem trabalhos com autoria de quatro ou mais estudiosos. Nesse painel de gênero (hasGender) dos pesquisadores, depreende-se que 63 (56,76%) são do gênero feminino e os outros 48 (43,24%) são do masculino.

Na temática MEM, a formação de alguns estudiosos se sobressaem com maior quantitativo de publicações recentes indexadas na Brapci: I) Pós-doutoramento em Museologia pela Universidade de Québec em Montreal (UQÀM 2014) e Doutorado em Museologia pela Escola de Doutorado do Muséum National D’Histoire Naturelle de Paris (2005) Barbosa (ID Lattes: 9328883625900100) com quatro publicações e uma rede de coproduções nesta temática envolvendo outros seis pesquisadores; e II) o Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista (UNESP/Marília), Júlio de Mesquita Filho, e o Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (1999) Almeida Júnior (ID Lattes: 1049186978910803) com três publicações e uma rede de coproduções nesta temática envolvendo outros seis pesquisadores.

O tema e as pesquisas sobre a MEM têm cientificamente ampliado o próspero campo de colaboração informacional e de difusão de práticas sobre a difusão da mediação informacional e cultural em espaços museais. Nessa via, outros diálogos são possíveis e envolvem a museografia/museologia, as instituições, as práticas e a capacitação profissional. Ademais, ao debruçar sobre a temática da “mediação cultural” em museu, Motta e Barbosa (2020) relatam uma proposta que desvela saberes, ambiências de construção, modos de se conceber e fazer a MEM.

Conforme a plataforma da Brapci, os documentos localizados sobre a MEM ampliam e centralizam olhares para os diversos tipos de mediações que podem ser realizados na esfera museal e, que de forma imprescindível, abrem novas perspectivas institucionais e memoriais em torno da paisagem social e da educação patrimonial.

Em suma, os descritores acima são os principais termos localizados nos artigos e mostram ocorrências e possibilidades em torno da MEM: CI, com quinze publicações; museologia, mediação e cultura em dez artigos; ecologia informacional, encontrabilidade da informação, memória e perspectivas sobre colecionismo em sete documentos; biblioteconomia, curadoria, arte contemporânea, educação não-formal, preservação digital e inteligência artificial em cinco indexações localizadas na busca com a Brapci.

A mediação nas esferas de produção e comunicação do saber em museus não se limita apenas a disponibilizar o acesso aos bens culturais, mas também busca criar condições para que o público possa compreendê-los de forma significativa, estabelecendo conexões pessoais e emocionais com o patrimônio cultural.

Portanto, a MEM desempenha um papel fundamental na preservação, exposição e promoção do patrimônio cultural da nação ao estabelecer conexões significativas entre as coleções e os visitantes, tornando a experiência museal mais acessível e significativa. E, em outra vertente, a MEM tem como campo dedicado às questões científicas e à prática profissional, o espaço museal projetando-se à memória, ao patrimônio e à ressonância do legado patrimonial e aos saberes de diversos povos e comunidades tradicionais. Ademais, conforme esta análise e os dados recolhidos, apura-se que o tema MEM é um relevante debate nos periódicos científicos e faz emergir princípios de inovação e criatividade, mobilizando comunidades locais e globais dos museus, alegam Jotta e Barbosa (2015) e Motta e Barbosa (2020).

A partir do que foi apresentado, é possível afirmar que a aplicação da MEM vai além do simples acesso à cultura ou à informação, envolvendo uma transformação da realidade por meio de uma abordagem singular de apropriação e fruição dos bens culturais. A MEM empregada envolve, assim, uma abordagem ativa e participativa, onde os mediadores atuam como facilitadores, promovendo diálogos, reflexões e experiências que permitam ao público construir seu próprio significado e interpretação dos bens culturais. Desta forma, a mediação vai além do simples repasse de informações, envolvendo a criação de experiências enriquecedoras, estimulando o pensamento crítico, a reflexão sobre a cultura e a construção de novos conhecimentos.

Ao identificar lacunas na MEM, que é uma área de estudo da CI, pode-se considerar fatores e desafios em torno dos seguintes tópicos:

Acesso e inclusão: Os artigos em geral não abordam termos de acesso e inclusão, como a falta de acessibilidade física, sensorial ou cognitiva para determinados grupos de visitantes, resultando em barreiras para o pleno aproveitamento das experiências museais; a partir do diálogo, visando ampliar, construir e reconstruir entendimentos, práticas e desdobramentos relevantes e perspectivas da área da CI.

Abordagem pedagógica: Buscar adotar na mediação e interação no ambiente de museus de forma a se adaptar às características desses espaços as necessidades do público-alvo. A falta de diversidade, representatividade e a ausência de diferentes perspectivas, vozes e histórias pode limitar a compreensão holística e inclusiva dos temas abordados. Também, a falta de recursos, como materiais educativos, equipamentos audiovisuais ou espaços adequados pode limitar a efetividade das práticas de mediação em proporcionar experiências ludopedagógicas e infoeducacionais enriquecedoras.

Avaliação e feedback: A falta de avaliação e feedback sobre as práticas de mediação em museus pode ser uma lacuna, pois dificulta a identificação de pontos fortes e áreas de melhoria. A avaliação sistemática das práticas de mediação é importante para o aprimoramento contínuo e a garantia da qualidade das experiências educativas nos museus.

Formação e capacitação dos mediadores: O desenvolvimento e aprimoramento dos mediadores de museus se mostra como uma lacuna caso não sejam adequados para prepará-los para as demandas específicas da mediação em contextos museais. A falta de treinamento adequado pode resultar em lacunas nas habilidades e competências dos mediadores, afetando a qualidade das experiências e do processo socioeducacional oferecido ao público.

Estudos de público: Embora os estudos de público não sejam o objeto principal desta investigação, estudar os públicos parece decisivo para Köptcke (2012) e para as práticas mediadoras, particularmente nos seguintes pontos: a) sociografia do público, o fluxo de frequência e a análise de recepção; b) os fatores, as representações do espaço de mediação e os hábitos culturais do público potencial; c) o “não-público”, os fatores externos impeditivos de tornar-se público e as características daqueles que não frequentam ou participam; d) conhecimento sobre as representações que as pessoas fazem do espaço de mediação; e e) estudos da população em quadro comparativo.

Esses são alguns dos principais desafios que podem contribuir para a ocorrência de lacunas na MEM. É imprescindível identificar e abordar essas lacunas de forma proativa, visando aprimorar a qualidade e a efetividade das experiências educativas oferecidas nos museus, tornando-os ambiências mais inclusivas, relevantes e enriquecedoras para todos os interagentes.

Desta forma, observa-se que a MEM tem o potencial de promover uma relação mais profunda e significativa do público com os bens culturais, possibilitando uma transformação da realidade por meio de uma apropriação singular e pessoal do patrimônio cultural. Observa-se que a MEM não se limita apenas ao acesso à cultura ou à informação, mas envolve uma abordagem transformadora que estimula a construção de significados pessoais e apropriação singular dos bens culturais, propiciando uma experiência mais enriquecedora e significativa para o público.

Assim, Monteiro e Almeida Júnior (2017) ressaltam a primazia de uma reflexão profunda em torno da MEM e, ao se explorar as possibilidades de atuação dos profissionais (panorama que exige habilidades específicas, como sensibilidade artística, conhecimento do acervo e compreensão do público-alvo), neste campo, expandem-se as oportunidades e desafios da mediação para o campo da CI.

5 Considerações finais

Em resposta ao problema sobre como caracterizar e analisar as produções científicas sobre MEM no âmbito da CI, e diante dos resultados qualitativos e quantitativos acima somados à pesquisa bibliográfica, é possível identificar a existência de diferentes tipos de mediação, vide a mediação cultural e a mediação da informação.

Assim, se por um lado constatou-se que no campo da mediação humana há a associação do profissional da informação como mediador nas produções, por outro, existem lacunas na literatura sobre pesquisas acerca dos seguintes tipos e subtipos da categoria “mediação”: mediação cultural, mediação da informação, mediação científica, mediação sociocultural, mediação artefactual e mediação digital – quais sejam: mediação cultural digital, mediação digital material, mediação digital literária, mediação digital linguística, mediação digital pedagógica e mediação digital tecnológica.

Compreende-se, assim, que a temática “mediação” é convergente e pode interessar a várias outras áreas do conhecimento, a exemplo da educação e da comunicação, e, essencialmente, não parece ter desaparecido das principais práticas informacionais e dos campos onde se desenvolvem, caracterizando a difusão das práticas de mediação no espaço informacional – em suas dimensões de práticas interpretativas e sensoriais.

É importante ressaltar que a abordagem bibliométrica não se limita apenas a aspectos quantitativos, mas também pode incluir análises qualitativas como a análise de conteúdo dos artigos e a identificação de temas emergentes ou debates em torno da temática MEM. A combinação de abordagens quantitativas e qualitativas pode fornecer uma compreensão mais abrangente e aprofundada sobre a produção e a recepção do conhecimento nessa área. Portanto, é fundamental considerar diferentes abordagens e perspectivas a fim de explorar o potencial máximo da mediação museal e superar os limites convencionais, buscando inovação e relevância na prática mediadora, como reportam Monteiro e Almeida Júnior (2017).

Dentre as limitações, têm-se a exclusão de artigos que não correspondiam à interface da MEM nos idiomas em inglês e espanhol e a utilização do termo generalista e amplo da mediação. Em suma, verifica-se o perfil da produção acadêmica dos artigos, considerando o Acervo Brapci com a temática MEM. Ressalta que o perfil da produção relacionada diretamente à CI, perfazendo um caminho de dez anos que estabelece o painel métrico, assim apreendido: com 56 publicações, a MEM vem sendo ampliada em torno de sua interdisciplinaridade e, neste panorama, sinaliza-se um painel com 35 periódicos envolvidos e 111 pesquisadores nacionais/estrangeiros.

Levando-se em conta a MEM ampliada, a temática analisada está inserida em periódicos qualificados nos estratos Qualis Capes A1 e A2 (27,27%) e na classificação B1 e B2 (38,18%) divulgada antes de dezembro de 2022, isto é, relativa ao quadriênio 2013-2016, quando A3 e A4 não existiam, quando pontuavam somente A1, A2, B1, B2, B3, B4. – demonstrando, como registrado nos resultados atualizados, que o tema adentra em periódicos avaliados em excelentes níveis de qualidade e impacto. A partir dos resultados, observa-se que a MEM envolve diversos fluxos de informação e questões como: a) ambientes virtuais e mediatização; b) formação e currículos; c) ecologia informacional; e d) a educação patrimonial e produtos culturais. Pode-se somar a isso os estudos de público – particularmente, sociografia dos públicos –, dentre outros temas abordados no trabalho. Salienta-se como destaque desta temática (no recorte temporal de 2013 a 2022), o periódico “TPBCI” (ISSN 1983-5116, Qualis B1, lançado em 2008 pela ANCIB) e, no âmbito da produtividade, sobressai-se Barbosa com quatro itens documentais indexados na Brapci.

A sugestão para estudos futuros é expandir a análise para redes de produção com enfoque para a chamada “Rede Franco-Brasileira de Pesquisadores em Mediações e Usos Sociais de Saberes e Informação”, criada em 2007 por Marteleto (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia) e Couzinet (Ciências da Informação e da Comunicação na Université de Toulouse III, França), vide o sítio remussi.org. Também parece possível situar, em uma outra pesquisa, as contribuições dos Programas de Pós-Graduação em Ciência da Informação brasileiros e dos eventos científicos (como os Grupos de Trabalho – GTs 3 Enancib que enfocam Mediação, Circulação e Apropriação da Informação) para consolidar perspectivas desta temática na esfera internacional (base Scopus e Web of Science).

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1

Um vídeo produzido como difusão da mediação pode ser exposto em uma instituição, sendo material de arquivo do museu. Para isto, deve-se coletar autorização para cessão de imagem dos participantes, proteger dados sigilosos, atribuir valores aos documentos e resguardar, em termos legais e físicos, aqueles documentos que devem ser preservados.

Gráfico 1 - Número de publicações anuais

Fonte: Os pesquisadores (2023)

Tabela 1 – Apresenta os títulos de periódicos e a quantidade de itens documentais

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados extraídos da Brapci (2023).

2

A pesquisa busca de 2013 a 2022 e sendo “todos” o informe do(s) termo(s) de busca na plataforma: Disponível em:

http://brapci.inf.br/index.php/res/?q=media*+muse*&type=1&year_s=2013&year_e=2022&order=0. Acesso em: 15 ago. 2022.

Gráfico 2 – Identificação do autor e seu número de publicações (2013-2022)

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados extraídos da Brapci (2023).