Análise bibliométrica e contextual da obra “conexões”: filosofia deleuziana em evidência

Bibliometric and contextual analysis of the work “connections”:

Deleuzian philosophy in evidence

OM TWO ACTIONS

Solange Puntel Mostafa

ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8063-6516

Pós-doutora em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília (UnB), Brasil. Professora Sênior da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (USP), Brasil.

Email: smostafa@ffclrp.usp.br

Edneia Silva Santos Rocha

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1478-6828

Doutora em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Brasil. Docente do Departamento de Educação, Informaçao e Comunicação da Universidade de São Paulo (USP), Brasil.

Email: edneia@usp.br

Marcia Regina da Silva

ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5852-1026

Doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFScar), Brasil. Docente do Departamento de Educação, Informação e Comunicação da Universidade de São Paulo (USP), Brasil.

Email: marciaregina@usp.br

RESUMO: Esta pesquisa analisa as referências da área de educação tendo como corpus a coleção Conexões da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, buscando identificar as principais contribuições do filósofo Gilles Deleuze. Trata-se de um estudo reflexivo, exploratório e descritivo de abordagem bibliométrica. Os resultados indicam proximidade de outros filósofos em torno da filosofia de Gilles Deleuze, sejam aqueles que com ele formularam posições importantes no interior da filosofia da diferença, como é o caso de Félix Guattari, sejam outros pensadores contemporâneos da dupla como Michel Foucault, Zourabchvilli ou Rancière. Destaca-se a posição do pesquisador Silvio Gallo, liderança brasileira nos estudos de Foucault e Deleuze na instituição-sede dos Seminários Conexões. No que se refere às instituições de afiliação dos autores, destacam-se a Universidade Estadual de Campinas e a Universidade Federal do Espírito Santo, além de diversas instituições internacionais. As obras de Gilles Deleuze mais citadas foram Mil Platôs e O que é filosofia?. Os estudiosos de Gilles Deleuze e Felix Guattari se espraiam por várias áreas do conhecimento. Os principais conceitos filosóficos presentes nos livros Conexões foram destacados oportunizando mostrar o esforço dos pesquisadores na criação conceitual, a principal atividade da filosofia.

PALAVRAS-CHAVE: Deleuze; Educação; Bibliometria; Ciência da Informação.

ABSTRACT: This research analyzes the references in the area of education having as corpus the Conexões collection of the Faculty of Education of the State University of Campinas, seeking to identify the main contributions of the philosopher Gilles Deleuze. This is a reflective, exploratory and descriptive study with a bibliometric approach. The results indicate the proximity of other philosophers around the philosophy of Gilles Deleuze, whether those who with him formulated important positions within the philosophy of difference, as is the case of Félix Guattari, or other contemporary thinkers of the duo such as Michel Foucault, Zourabchvilli or Rancière. The position of researcher Silvio Gallo stands out, Brazilian leader in the studies of Foucault and Deleuze at the host institution of the Conexões Seminars. With regard to the authors’ affiliation institutions, the State University of Campinas and the Federal University of Espírito Santo stand out, in addition to several international institutions. The most cited works by Gilles Deleuze were A Thousand Plateaus and What is Philosophy?. Scholars of Gilles Deleuze and Felix Guattari spread across various areas of knowledge. The main philosophical concepts present in the Conexões books were highlighted, providing an opportunity to show the efforts of researchers in conceptual creation, the main activity of philosophy.

Keywords: Deleuze; Education; Bibliometry; Information Science.

RESUMEM: Esta investigación analiza las referencias en el área de la educación teniendo como corpus la colección Conexões de la Facultad de Educación de la Universidad Estadual de Campinas, buscando identificar las principales contribuciones del filósofo Gilles Deleuze. Se trata de un estudio reflexivo, exploratorio y descriptivo con enfoque bibliométrico. Los resultados indican proximidad de otros filósofos en torno a la filosofía de Gilles Deleuze. Se destaca la posición del investigador Silvio Gallo, líder brasileño en los estudios de Foucault y Deleuze en la institución anfitriona de los Seminarios Conexões. En cuanto a las instituciones de filiación de los autores, se destacan la Universidad Estadual de Campinas y la Universidad Federal de Espírito Santo, además de varias instituciones internacionales. Las obras más citadas de Gilles Deleuze fueron Mil mesetas y ¿Qué es la filosofía?. Los estudiosos de Gilles Deleuze y Felix Guattari se distribuyen en diversas áreas del conocimiento. Se destacaron los principales conceptos filosóficos presentes en los libros Conexões, brindando la oportunidad de mostrar los esfuerzos de los investigadores en la creación conceptual, principal actividad de la filosofía.

PALABRAS-CLAVE: Deleuze; Educación; Bibliometria; Ciencias de la Información.

1 Introdução

A produção de conhecimentos exige domínios metainformacionais que faz com que as áreas passem a funcionar como “zonas de desenvolvimento proximal” umas para as outras. Assim, também entendemos que as referências no final de qualquer texto são zonas de expansão ou de desenvolvimento proximal, sendo recursos importantes para a representação de um domínio. A Ciência da Informação e a Educação lidam com polos teóricos e epistemológicos complementares, voltados para virtualmente todas as áreas regionalizadas do saber. O campo educacional precisa vincular-se a amplas negociações nas redes de ensino e em instâncias governamentais de jurisdição das redes.

Já a Ciência da Informação recolhe o conhecimento produzido nas áreas, disponibilizando-o em catálogos, índices e bases de dados. Mas, ao fazê-lo, a Ciência da Informação também produz conhecimentos, fazendo seus estudiosos perguntarem em que medida estão construindo dispositivos de interpelação para manutenção de uma ordem liberal. Nenhuma dessas atividades é simples; por exemplo, a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (ANCIB)1 em seus 30 anos de existência tem acumulado saberes que ultrapassam as metodologias empírico-analíticas nos seus 12 grupos de pesquisa. A área de informação é comprometida com a gestão de fluxos comunicacionais, por meio de processos de coleta, análise, preservação e disponibilização das informações, a fim de ampliar a eficiência das relações burocráticas, financeiras e culturais. A área é facilmente visualizada como componente importante no panorama da sociedade de controle. A sociedade disciplinar efetuava-se em espaços como biblioteca, arquivo, museu, centro de documentação. Agora, adentramos em outra lógica, a da vigilância cristalizada nos fluxos das redes de informação, nos protocolos de comunicação, nas indexações e recuperações de informação. Trata-se de fluxos que transcendem as delimitações institucionais, que redimensionam o espaço-tempo em função do acesso, da permissão.

Nos últimos anos foi ficando claro para os estudiosos das duas áreas, Educação e Ciência da Informação, o quanto o empirismo transcendental de Deleuze é inspirador para as análises sociais. O empirismo transcendental de Deleuze vai exigir o entendimento da realidade como multiplicidade, gerando várias consequências. O próprio Deleuze (2000, p. 361) explica que a multiplicidade não é a diversidade, as várias coisas, como apontam suas observações no capítulo sobre “síntese assimétrica do sensível” no livro Diferença e repetição. A multiplicidade tem a ver com as relações e são elas que conectam nós em uma rede. Temos que olhar para o que está entre, e isto é um desafio metodológico. Ora, o que está entre é o devir, um movimento para sair das identidades, dos lugares de origem. Semetsky (2006), por exemplo, faz do devir o tema central da sua pesquisa em educação, a tal ponto que veremos o devir nomear os seis capítulos do seu livro: devir; devir-signo; devir linguagem; devir rizoma; devir nômade; e devir criança.

Conceitos como multiplicidade, relações e devir fazem parte do vocabulário corrente de qualquer estudioso de Deleuze, mas, na área de educação, isto fica ainda mais evidente por ser o processo educativo intrinsicamente transformador. Porém, podemos pensar toda a filosofia de Deleuze como uma filosofia do devir. E como tal é também uma filosofia do acontecimento, aliás numa “almejada lógica do acontecimento” no dizer de Orlandi (prefácio apud ZOURABICHVILI, 2016, p. 11).

O Seminário Conexões buscou organizar um espaço colaborativo para proliferação de ideias do pensamento filosófico sobre educação. O primeiro Seminário Conexões ocorreu em 2009 e foi organizado pelo Laboratório de Estudos Audiovisuais (grupo de pesquisa OLHO) e pelo grupo Diferenças e Subjetividades em Educação (DiS), ambos do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Campinas (PPGE/UNICAMP). O tema do encontro foi “Deleuze e Imagem e Pensamento e...”. Após os dois primeiros encontros, o grupo passou a organizar bianualmente o seminário, que contribuiu para a formação de discussões e de parcerias em prol da consolidação de pesquisas sobre o tema, tendo uma representatividade singular no escopo da Educação. Mas, como alerta Gallo (2003, p. 69), os problemas educacionais quando pensados por um plano de imanência que recortou o caos e deixou passar frestas de infinito sobre o plano não serão problemas exclusivamente educacionais: “o filósofo da educação é, antes de qualquer coisa, filósofo”.

Considerando esse contexto, estabelece-se como objetivo geral desta pesquisa analisar as referências da área de educação tendo como corpus a coleção Conexões, buscando identificar as principais contribuições do filósofo Gilles Deleuze. Para isso, foram postos os seguintes objetivos específicos: identificar a instituição a qual os autores dos capítulos estão vinculados; identificar a área do conhecimento da última titulação desses autores; analisar as citações presentes na obra Conexões, destacando os principais autores; e identificar os conceitos filosóficos presentes nos textos. Trata-se de um estudo reflexivo, exploratório e descritivo de abordagem bibliométrica.

Além desta breve introdução, este texto foi estruturado em três partes: a seção de procedimentos metodológicos; a seção de resultados, que, além de trazer alguns apontamentos mais gerais, apresenta os indicadores bibliométricos construídos, bem como são tecidas algumas considerações sobre esses resultados - ainda nesta seção apresentamos a análise textual destacando as obras de Deleuze presentes nos textos publicados na obra Conexões; e, por fim, apresentamos as considerações finais.

2 Procedimentos metodológicos

Esta pesquisa se propõe construir indicadores bibliométricos e análise textual para respaldar o corpus de referência da Educação. As obras analisadas se referem aos livros resultantes dos Seminários Conexões, promovidos pelo PPGE/UNICAMP, entre os anos de 2010 até 20192. Tais obras foram intituladas como:

• I Seminário Conexões, 2009: “Deleuze e Imagem e Pensamento e...”;

• II Seminário Conexões, 2010: “Deleuze e Vida e Fabulação e...”;

• III Seminário Conexões, 2011: “Deleuze e Arte e Ciência e Acontecimento e...”;

• IV Seminário Conexões, “Deleuze e Resistência e Política e...”;

• V Seminário Conexões, 2013, “Deleuze e Territórios e Fugas e...”;

• VI Seminário Conexões, 2015: “Deleuze e Linhas e Máquinas e Devires e...”;

• VII Seminário Conexões, 2017: “Deleuze e Cosmopolíticas e Ecologias Radicais e

Nova Terra e...”; e

• VIII Seminário Conexões 2019: “Deleuze e Corpo e Cena e Máquina e...”.

Neste conjunto de oito livros foram identificados, por meio da leitura na íntegra das obras, os textos de Deleuze mais utilizados pelos pesquisadores e os conceitos filosóficos destacados em cada seminário, presentes no título do capítulo ou no próprio corpo do texto. As referências contidas nos capítulos foram coletadas de forma manual.

As variáveis de análise foram a afiliação institucional e a área do conhecimento da última titulação dos autores. Esses elementos foram coletados no próprio capítulo das obras; no caso de não identificação, procedeu-se a busca pelo Currículo Lattes (realizada no dia 12 de agosto de 2022).

Todos os dados foram registrados em planilhas do Excel e relacionados por meio da Tabela Dinâmica. Os indicadores bibliométricos foram construídos a partir da depuração desses dados e da análise textual a partir da leitura dos oito livros, utilizando-se como procedimento a extração e análise de trechos considerados pertinentes para o escopo desta pesquisa.

3 Resultados e discussão

Os resultados foram aqui apresentados em subseções visando contemplar as análises realizadas a partir da coleta das referências presentes nos textos e da leitura das obras. Antes de apresentar os indicadores quantitativos, vale a pena fazer algumas considerações.

Identificamos os Seminários em uma sequência de I a VIII, mas este conjunto de oito livros não autoriza pensarmos em sequência; a conjunção “e” está aí para nos lembrar da lógica do rizoma que se faz sem centro “numa potência de proliferação” na expressão dos organizadores do Seminário I. As datas elencadas acima referem-se ao período em que aconteceu o Seminário (não coincidente com o período das publicações dos livros).

Esclarecem os organizadores do primeiro livro: “alguns dos capítulos deste livro são derivações, deslocamentos e intervenções do I Seminário Conexões: ‘Deleuze e Imagem e Pensamento e...’ realizado em maio de 2009” (AMORIM; GALLO; OLIVEIRA JR., 2011, p. 10); esclarecem também que “os encontros foram pulsantes, e, decidimos, todo ano, estender o heterogêneo e disjuntivo, das Conexões”. Estes mesmos organizadores escrevem linhas e multiplicidades pulsantes para apresentar o segundo livro sobre vida e fabulação, organizado por dois programas de pós-graduação da UNICAMP: o mestrado em divulgação científica e cultural do Instituto de Linguagem (IEL) e a pós-graduação em educação (PPGE). Amorim, Gallo e Oliveira Jr. (2011, p. 8) explicam que de dentro dos afetos que povoam esses dois programas surgiu a conjunção “e”.

E assim vieram os demais seminários trazidos pela conjunção “e” num exercício de abertura e de experimentação para todas as pessoas interessadas em viajar pelo território e “abrir minúsculos orifícios que mantêm, efemeramente, as políticas do devir”. Advertem que não se trata de um sonho utópico, estando mais aderidos às virtualidades e à duração do tempo ao se entregarem aos encontros com professores estrangeiros com quem se relacionam e com colegas e estudantes da própria universidade e de outras instituições brasileiras. Assim, seguem-se os próximos textos de arte, ciência e acontecimento, textos organizados por Dias, Marques e Amorim (2012, p. 9), sobre o III Conexões. Perguntam seus organizadores: “Como querer acontecimento e arte e ciência e...?”. Respondem: “Juntar sem se fundir; articular, sem encaixar; dar consistência sem homogeneizar; atenuar sem anular; variar sem corresponder.”

Notamos que a cada seminário/livro novos organizadores surgem, como é o caso da IV edição em que Gallo, Novaes e Guarienti (2013, p. 8) apresentam o volume e as decisões de manter Gilles Deleuze como disparador das produções de todos os seminários. Também ressaltam a importância de trabalharem com a conjunção “e” pela possibilidade que ela permite de transitarem no meio, enfatizando “as possíveis e inimagináveis conexões”, pois “a não-relação torna-se relação”.

Entre territórios e fugas surge o V Seminário cujo livro é apresentado por Marques, Girardi e Oliveira Jr. (2014). As linhas de fora são apresentadas por Romaguera e Amorim (2016), relacionando as máquinas e os devires do sexto livro.

A pergunta que surge aos organizadores do sétimo livro ao agenciarem cosmopolíticas e ecologias radicais e nova terra é: “como continuar?”. A pergunta surge na pena de Wiedmann, mas se nota que é uma pergunta dos três organizadores do livro (DIAS; WIEDEMANN; AMORIM, 2019). Um dos organizadores esclarece, em sua apresentação, que “o gérmen do sonho abriu-se em pontiagudos cristais dissipadores de fluxos, forças e conti-gentes-nentes” (AMORIM, 2019, p. 1). De fato, vemos neste sétimo volume nomes importantes da antropologia brasileira e internacional. De acordo com Amorim (2019, p. 1), as “reentranças (dis)narrativas desejam uma nova terra...”.

O oitavo e último seminário, de 2019, voltou-se para conexões entre cenas e corpos no título “Deleuze e Corpo e Cena e Máquina e...”, privilegiando as artes cênicas no teatro e na dança, a performance e o cinema, todas estas artes agenciadas em projetos educacionais e filosóficos. Monteiro et al. (2021) apresentam o VIII seminário na revista Alegrar (2020), onde as artes cênicas se ampliam com a educação matemática.

Fechamos esta narrativa com as interessantes colocações de Wiedemann (2019) ao problematizar as continuidades ou o “como continuar”. Ao questionar os indicadores, Wiedemann (2019, p. 5) comenta que “titulações e artigos já escritos ou apresentados em seminários, bem como quaisquer outras práticas acadêmicas ou artísticas, talvez devam ser esquecidos na hora de continuar. Pois deveriam funcionar como ‘germe de um desfundamento por vir’”. Essa colocação soa como provocação para a Ciência da Informação e suas metodologias, como a bibliometria utilizada nesta pesquisa, sempre preocupada em individualizar autores, textos e instituições. No entanto, entendemos que os indicadores transcendem significados que podem evidenciar caminhos para análises sob diversas perspectivas.

3.1 Análise bibliométrica dos textos publicados na obra Conexões

Os Seminários que deram origem às obras Conexões tiveram Gilles Deleuze como escopo temático, o que justifica que a autoria da maior parte das obras citadas é atribuída ao filósofo.

No Gráfico 1, observa-se que Deleuze é autor ou coautor em 457 citações, representando 72,3% do total de citações (n=645). Destacam-se as obras que têm Deleuze como autor individual: Conversações (n=27); Diferença e repetição (n=25); Crítica e Clínica (n=18); Nietzsche e a filosofia (n=14); Cinema 2: a imagem-tempo (n=11); Francis Bacon: lógica da sensação (n=11); e Lógica do sentido (n=10). Outras 70 obras também são citadas, cuja soma totaliza 125 citações.

As obras de Deleuze e Guattari com mais citações foram Mil Platôs (n=98); I (n=47); Kafka: por uma literatura menor (n=17); e O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia (n=12). Já Deleuze e Parnet foram citados 27 vezes, cujas obras mais citadas foram Diálogos (n=25) e O abecedário de Gilles Deleuze (n=2). Vale ressaltar que as obras citadas podem estar em diferentes idiomas, além do português.

As obras de Foucault se destacam com 53 citações, totalizando 51 obras que foram citadas uma única vez, com exceção das obras A hermenêutica do sujeito, Nascimento da biopolítica e O corpo utópico citadas duas vezes. Nietzsche também se destaca com 41 citações, cuja obra mais citada foi Assim falou Zaratustra (n=5).

O Gráfico 1 também demonstra a proximidade de outros filósofos em torno da filosofia de Deleuze, seja os que com ele formularam posições importantes no interior da filosofia da diferença, como é o caso de Félix Guattari, sejam outros pensadores contemporâneos da dupla como Michel Foucault, Zourabchvilli ou Rancière. Destaca-se também a posição do pesquisador Silvio Gallo, liderança brasileira nos estudos de Foucault e Deleuze na instituição-sede dos Seminários Conexões. De fato, os organizadores do IV Seminário já destacavam na apresentação do volume que, apesar de se movimentarem em torno de Deleuze, outros pensadores compunham as suas conexões. A novidade do Gráfico 1 talvez seja a presença do professor Gallo entre os clássicos da filosofia da diferença, e a confirmação, agora considerados os oito livros, dos autores clássicos presentes nas citações.

No que se refere às instituições de afiliação dos autores dos capítulos (Gráfico 2) destacam-se: Universidade Estadual de Campinas (n=30); Universidade Federal do Espírito Santo (n=14); Universidade Federal do Pará (n=7); Universidade Federal de Uberlândia (n=6); Universidade de São Paulo (n=5); Universidade Federal de Juiz de Fora (n=4); Universidade Federal Fluminense (n=4); Universidade Federal do Rio Grande do Sul (n=3); Universidade do Estado do Rio de Janeiro (n=3); Universidade de Sorocaba (n=3); e Universidade Regional de Blumenau (n=3).

Dentre as instituições internacionais podemos mencionar: Universidade da Georgia, Estados Unidos da América (EUA); Universidade de St. Andrews, Escócia; Universidade de Buenos Aires, Argentina; Universidade Nova de Lisboa, Portugal; Universidade de Notthingham, Inglaterra; Université Paris Diderot, França; Universidade de Rikkyo, Japão; Universidade de Wollongong, Austrália; Universidade da Carolina do Norte, EUA; Universidade de Sevilla, Espanha; Universidade Técnica de Istambul, Turquia; Centre Expérimental Universitaire de Paris, Franca; e Simon Frase University, Vancouver, Canadá.

O Gráfico 2 demonstra o espraiamento do Seminário Conexões pelas regiões brasileiras abrangendo não apenas o Sudeste, onde está localizada a Universidade Estadual de Campinas, mas também as regiões Norte e Sul.

Já no Gráfico 3, observamos as áreas do conhecimento dos autores dos capítulos que mais se destacam: Educação representou 66% (n=83); em seguida a área de Artes com 17% (n=21); Filosofia 6% (n=7); Psicologia 3% (n=4); Sociologia 2% (n=3); e outras área 6% (n=7).

A literatura confirma: encontramos uma relação mais direta entre Deleuze e a Educação nas obras de Gallo (2003) Deleuze & a educação; em Costa (2018) no texto Deleuze e o sentido da educação na sociedade de controle; e Benedetti (2007) em Entre a educação e o plano de pensamento de Deleuze e Guattari. Entretanto, a maioria dos autores possui formação em educação, conforme Gráfico 3, o que reforça a importância da filosofia da educação na vertente deleuziana. Contudo, fazemos novas advertências neste passo da pesquisa, pois estamos numa concepção de Filosofia da Educação em que importa mais a instauração de vários planos transversais, como o plano de imanência da filosofia, o plano de composição da arte e o plano referencial das ciências, pois a educação abrange estas três formas de pensamento e não admira, portanto, a presença de pesquisadores com formação artística e filosófica no Gráfico 3.

Como esclarece Gallo (2003, p. 68), a área da filosofia da educação exige um duplo corte no caos - o corte habitual da filosofia e o corte nos saberes educacionais -, para não cairmos na “reflexão sobre educação”. Filosofar sobre educação não é isolar um “problema educacional”. A filosofia e o corte no caos que ela promove constroem conceitos sem perder o infinito. Aliás, esta é uma das afinidades que aproxima a filosofia da arte: a relação com o infinito. Esclarece Deleuze (2007) que o problema da filosofia é dar consistência ao pensamento sem perder o infinito no qual ele mergulha. Essa almejada consistência do pensamento não é algo trivial, pois o pensamento é finito e tem que mergulhar no infinito. Como manter a consistência? Como manter esse duplo movimento de abertura infinita e de volta sobre si, com movimentos finitos, de movimentos infinitos?

Trata-se de abrir o pensamento ao infinito e fazê-lo mover-se num plano ou horizontes sem limites, sempre para além do conhecido. É por isso que Gallo (2003) esclarece que o filósofo da educação não esgota a problematicidade instaurada no seu plano. Problematicidade esta que, de certa forma, está presente no Gráfico 3, pois o cruzamento dessas áreas enriquece as relações que conectam as multiplicidades.

3.2 Obras de deleuze presentes nos textos publicados na obra Conexões

A proposição de levantar os livros de Deleuze mais utilizados pelos pesquisadores no conjunto da obra Conexões justifica-se pela importância das discussões e das reflexões sobre o relevante filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995). O Gráfico 4 destaca as obras de Deleuze referenciadas no corpus analisado. A ideia foi denotar a frequência de citação dessas obras no conjunto de obra Conexões.

O livro mais popular no conjunto dos oito Seminários Conexões, como indica o Gráfico 4, é Mil Platôs (v.1-v.5), com 130 presenças nas referências. O que dizer de Mil Platôs? O próprio Deleuze oferece algumas direções ao leitor: ao reconhecer a contribuição de Marx sobre o Capitalismo como um sistema imanente que não para de expandir seus limites (o limite é o próprio Capital), Deleuze entende que uma sociedade não é constituída apenas por contradições, mas também por fugas, “ela foge por todos os lados” (DELEUZE, 2013, p. 212). Nem só de contradições vive uma sociedade e nem só de classes; Deleuze vai preferir as minorias às classes. Menciona, então, as máquinas de guerra “que não seriam definidas de modo algum pela guerra, mas por uma certa maneira de ocupar, de preencher o espaço-tempo, ou de inventar novos espaços-tempos (os movimentos artísticos também são máquina de guerra)” (DELEUZE, 2013, p. 212). O volume 1 de Mil Platôs também se tornou um livro popular por conter as explicações sobre o rizoma, quiçá o conceito filosófico mais popular de Deleuze.

O que é filosofia?, com 46 presenças nas referências, expressa, aparentemente, uma pergunta simples, mas a resposta envolve outras duas grandes formas do pensamento (ciência e arte), e Deleuze dá às três formas um tratamento original. A originalidade da filosofia está ligada à sua criação conceitual, isto é, à criação de novas ideias; estas ideias, por sua vez, devem expressar problemas, os quais também precisam ser criados. Tudo junto, leva-nos a novas formas de vida pois, como diz Vinci (2016, p. 6), “um conceito, portanto, possui lastros ontológicos, por propiciar no ato de sua criação uma outra possibilidade de vida, um rearranjo de um estado de coisas”.

Portanto, conceitos, ao serem criados, passam simultaneamente por experimentação: funcionam? Abrem nossos problemas de pesquisa para novas perguntas e novos modos de vida? Notamos que a distribuição dos livros de Deleuze no Gráfico 4, apesar de apresentar acúmulos aqui ou ali, também denotam uma dispersão mais parecida com um vai e vem próprias às dobras e desdobras de um pensamento; como um papiro mágico que podemos abrir com velocidades variáveis, às vezes muito rápido ou mais lentamente, principalmente, entre o conjunto dos mais pontuados.

O primeiro Seminário chamado “Deleuze e imagem e Pensamento e...” não explora o livro O que filosofia? tanto quanto o sétimo livro de Conexões chamado “Deleuze e Cosmopolíticas e Ecologias Radicais e Nova Terra e...”. Nem tanto por não explorar diretamente o capítulo sobre geofilosofia contida no livro O que é filosofia?, mas pela própria noção filosófica de território e desterritorialização, noções estas sim bem desenvolvidas em Mil Platôs, fazendo com que a busca da nova terra passe por teorizações muito presentes. Por exemplo, uma experiência educacional com internos de penitenciária e hospital de custódia permite aos pesquisadores teorizar sobre o território como “[...] a marca de uma condição de estar num dado momento. [...] e ‘entre o território estabelecido e a busca pela nova terra desenhamos um mapa entre duas experiências em instituições de clausura: um duplo entre-deux’” (AUGSBURGER; MELCHIORETTO, 2018, p. 18).

Conversações é um livro de entrevistas que o filósofo concede a Claire Parnet; contém também cartas que Deleuze escreveu a críticos e onde ele escreve sobre Espinosa. Nesta obra comenta-se sobre a obra de Foucault, fala-se um pouco de cinema e sobre filosofia e ciência (a física de Prigogine). Conversações contém também um texto que ficou famoso e popular e, talvez por isto, o livro é o segundo mais popular nesta coleção. Trata-se do Post-Scriptum sobre as Sociedades de Controle, de 1990.

Diferença e Repetição é um livro acadêmico do final da década de 1970. Tese de doutorado apresentada em meio à turbulência de maio de 1968, o livro instaura os princípios da filosofia da diferença que Deleuze está formulando. A maior preocupação deste livro é entender como uma ideia nova surge no mundo. Como elucida Santos (2012, p. 107), “a tese central de Diferença e Repetição é a de que se há repetição não pode ser do mesmo porque no próprio ato de repetir se introduz a diferença. Isto implica que, no lugar dele, se instala, agora, a diferença”. Neste livro há menção ao processo de ensino e aprendizagem, embora não referido à aprendizagem escolar. Se há no conjunto da obra de Deleuze livros específicos para um ou outro tema ou um ou outro filósofo, também é verdade que vemos tudo se conectando de vários modos em cada livro.

Outro destaque são os livros de Cinema, com 25 presenças nas referências. E os Diálogos, que, como toda entrevista ou conversa gravada de Deleuze, suscita muito interesse dada a abrangência temática com que o filósofo movimenta o pensamento, indo das conversas à literatura, passando por cinema e televisão e muitas observações sobre psicanálise, desejo e agenciamento. Com destaque para a conjunção “e” nos comentários ao cineasta Goddard e ao empirismo inglês. A importância da conjunção, e inspiradora dos Seminários Conexões, está em que ela é a lógica do rizoma, abertura para novas conexões sempre. Ilha deserta aparece com mais força no IV Seminário chamado “Deleuze e Resistência e Política e...”. A ilha deserta e o isolamento que ela oferece permite criar condições novas para um outro mundo, e Nietzsche é um dos principais filósofos da coletânea. Este livro póstumo reúne textos dispersos nos temas como política, arte e esquizofrenia.

3.3 Conceitos filosóficos nos textos publicados em Conexões

O destaque aos conceitos filosóficos presentes nos livros Conexões oportuniza mostrar o esforço dos pesquisadores em criar palavras novas, frequentemente na junção de palavras inteiras ou recortadas, para alcançar sentidos novos e inovadores. Por exemplo, “com-torções”, “escrita-além-de-si” e “divulgação-divagação”, respectivamente, Quadros 3 e 1. São expressões que configuram um conceito filosófico por trazerem uma problematização explicitada nos textos de origem, mas também nas próprias expressões-conceitos.

Em esforços conceituais há, na compreensão de Vinci (2016), uma pressuposição recíproca entre exegese e experimentação, o que colocaria a experimentação e a criação ao lado de compreensão e recognição. Assim, estaríamos protegidos do uso mecânico de conceitos pensados por Deleuze e Guattari. Sempre que pensamos por conceitos estamos querendo evidenciar um problema. É legítimo, então, pensarmos na tríade questão-problema-conceito. Na interessante pergunta levantada por Vinci (2016) sobre o tornar-se de um conceito - “como o conceito se torna aquilo que é?” - há uma recusa à essencialidade do mundo. Vale dizer, uma recusa à pergunta “o que é?”, na inspiração nietzschiana de Deleuze. Pois só a lógica formal não resolve a verdade do mundo. Aqui também Deleuze passa pela ética de Espinosa trazendo os afetos para “definir” os seres.

O leitor perceberá nos quadros a seguir a persistência de alguns conceitos como “rizoma”, “devir”, “experimentação” ou “corpo sem órgãos”, que, como elucida Vinci (2016), fazem parte do cotidiano dos pesquisadores que trabalham com a obra de Deleuze. Daí a necessidade de conhecê-los no contexto da obra filosófica do autor, para não cairmos em compreensões apriorísticas, impondo-as ao nosso problema de pesquisa. O risco de engessarmos a plasticidade conceitual

trazida na obra de Deleuze e Guattari é grande. Mas nada nos impede de apreender o conceito “de maneira exegética”, como sugere Vinci (2016, p. 6), embora a sua atualização só se dê a partir de uma experimentação radical de pensamento. Filosofar é criar conceitos assim como no livro O que é filosofia?, mas se os conceitos são acontecimentos incorporais, isto é, ideias, podemos pensá-los também como modos de vida, pois novas ideias mudam a direção do problema: “[...] portanto, ao criarmos um problema e um determinado conceito, procuraríamos inventar novas maneiras de agir e pensar, mais potentes, ou seja, colocar-nos-ia na contracorrente dos modos de vida vigentes. Contra a vida ordinária, a vida filosófica” (VINCI, 2016, p. 8).

Os oito livros Conexões estão recheados dessas experimentações em direção a novos modos de vida. Uma outra maneira de escrever e outras imagens do pensamento, como expõe o I Seminário Conexões.

Tabela

Descrição gerada automaticamente

Destacamos no Quadro 1 os “en-feitiços” de Marques (2011, p. 87) na sua alegria-surpresa ao apresentar trechos de sua dissertação de mestrado: Experimentações: deleu-guatta-roseando a educação. Uma língua menor, explica Deleuze, contém sempre uma linha de feitiçaria que foge do sistema dominante. Assim, Marques (2011) expõe quatro em-feitiços em sua fuga deleu-guatta-roseana (quatro exemplos) da deliciosa literatura de Guimarães Rosa.

Vários conceitos filosóficos são visíveis nos títulos apresentados em Conexões. É o caso de fabulografias no Quadro 2. Fabulografias é nome de um coletivo formado por grupos e convidados, alunos e professores que tratam de ventilar as imagens fora dos clichês identitários com a pergunta: “Que Áfricas ventam por você?”. Wunder e Dias (2011, p. 90) esclarecem que “a experimentação reúne alunos do ensino fundamental e médio; de graduação e pós-graduação das áreas de educação, filosofia, artes visuais e música, pesquisadores artistas visuais, fotógrafos e grupos que se dedicam a produções artísticas ligadas às forças da cultura afro-brasileira”.

No Quadro 3, quando as conexões abrangem também a ciência, enfatizamos a teoria da matéria de Deleuze e Guattari por serem menos usuais os textos que nos expliquem o novo materialismo de Deleuze; o texto sobre a teoria da matéria esclarece partes importantes do livro Mil Platôs, como o vol. 1 e o vol. 5. Os coordenadores dessas conexões perguntam: “O que faz a matéria variar continuamente?”. Claro que é uma pergunta filosófica, mas os estudantes de todos os níveis também se veem às voltas com essas questões em suas disciplinas específicas. Vemos textos sobre a estética como acontecimento (contrariando concepções mais tradicionais da filosofia da arte). Um “e” a mais e passamos da ciência à divulgação científica que nunca dispensa a imaginação ou a divagação dos cientistas. Entre “forças, fluxos e devires”, o livro III acontece com ciência, arte e filosofia.

Nas conexões sobre política e resistência, Mengue (2013, p. 17) esclarece que “a micropolítica não é uma política democrática em pequena escala. Ela é uma outra política”. Esclarece também que a micropolítica é diferente da altermundialista da multidão (2013, p. 18). Nascimento (2013, p. 82) pontua que a política deleuziana é inseparável de um movimento de saída da história; nesta relação da história com o seu fora é que podemos analisar o trágico ou o dionisíaco da história. Se estamos no IV livro das Conexões chamado “Deleuze e Resistência e Política e...”, vale comentar a inovação de Lima (2013, p. 107), que vê seu título ser invadido pelo subtítulo da seguinte forma: (invadir, ocupar, retirar-se, amar, compor, recusar, associar-se, desejar, fazer comunidade). “Produzir comum, resistir e criar na universidade.”

Detenhamo-nos na “lei mais profunda do capitalismo”, no Quadro 5, pois este texto de Oneto (2014, p. 122) complementa as materialidades destacadas no quadro anterior de 2011. Aqui, Oneto (2014) explora as teses contidas em Anti-Édipo, exemplificando “a lei mais profunda do capitalismo” com o caso da marca Adidas, nas manifestações de Londres de 2011, em que a marca tirou vantagens das imagens dos manifestantes vestidos com sua marca e onde ela aparece como símbolo da rebeldia, para logo depois condenar as atividades antissociais e confirmar a tradição ordeira da marca, em movimentos de cinismo e hipocrisia. Gostamos bastante em ver o autor Oneto (2014) defender um “devir democrático” nessas e em outras manifestações para substituir o padrão democrático estatal das democracias contemporâneas.

No Quadro 6, notamos mais uma nova conexão entre Deleuze e Spivak. Nova porque a indiana Gayatri Chakravorty Spivak tornou-se uma importante estudiosa do “decolonialismo” dos anos 1980 na sua famosa pergunta sobre a im(possível) fala do subalterno. Nesta análise, ela tece críticas a Foucault e a Deleuze por sua incapacidade de ver o “outro” que não o europeu. Defensores de Deleuze argumentam que o filósofo dialogou com um vasto repertório não europeu, o que inspira seus leitores a compreender o “outro”.

Mas o interessante nessa Educação sem fronteiras do Quadro 6 é a leveza com que Vanessa Andreotti apresenta seus desenhos na conexão com máquinas e devires; assegura-nos que aprendemos com Spivak a abrir os olhos e com Deleuze a abrir os poros. Mas não precisamos essencializar nem um nem outro.

4 Considerações finais

Foi possível demonstrar certa consolidação na área educacional, no contexto institucional mencionado na pesquisa, tendo em vista a análise bibliométrica, embora os Seminários Conexões analisados tenham sido propostos e realizados em uma instituição específica, os textos e os autores ali apresentados são oriundos de várias universidades brasileiras e internacionais. Vale lembrar que as proponentes desta pesquisa pertencem a um departamento acadêmico de uma universidade brasileira, que integra as duas áreas em questão com que abrimos esta reflexão: Educação e Ciência da Informação.

Os estudiosos de Gilles Deleuze e Felix Guattari, entretanto, espraiam-se por várias áreas do conhecimento, como demonstrado, cuja proporção de participação pareceu-nos adequada. E fez-nos perguntar, com Gil (2018, p. 289): a quem, afinal, Deleuze e Guattari se dirigem quando perguntam O que é a filosofia? Talvez não aos próprios filósofos, tampouco aos cientistas ou artistas. Também não se dirigem ao homem da doxa, o homem das opiniões. Deleuze e Guattari talvez queiram falar ao homem comum, o Homo Tantum, este que existe virtualmente em cada um de nós. Dirigem-se ao homem simplesmente. Ao homem da imanência. Não é um sujeito, no dizer de Gil (2018), é “antes uma existência em flor: simples abertura à luz” (HAN, 2018, p. 117).

Com essa compreensão, ousamos apontar os conceitos filosóficos presentes nos Quadros de 1 a 6: pareceu-nos que tais conceitos surgiram quase que espontaneamente nos textos dos autores, o que nos animou a expô-los neste corpus filosófico em educação, na confiança de que, ao proliferar, gerem outros conceitos e outras filosofias da educação.

A leitura conjunta dos oito livros propiciou a sensação de que a problematização levantada pelos autores fazia fluir os conceitos como parte da investigação filosófica numa espécie de condensação ou pontos notáveis da investigação (para usar a expressão do próprio Deleuze). Conquista que envolve pisar no infinitismo dos problemas trazidos pela ciência e pela arte, que são a não-filosofia com a qual a filosofia precisa lidar.

Tal infinitismo tem a ver com a incessante criação do novo no desejo produtivo da natureza humana. Se o estudo permitiu desmistificar o conceito filosófico de uma suposta complexidade, também ensinou aos cientistas da informação que conceitos não são simples termos ou mesmo palavras-chaves de um domínio de conhecimento. Profissionais afeitos às terminologias ou linguagens de especialidade de áreas específicas estariam agora diante de algo mais revolucionário do que as entradas em um catálogo ou base de dados, apesar de que os conceitos filosóficos também podem compor listas de palavras autorizadas em linguagens documentárias.

Mais que isso, são formas de pensamento e, como tal, são tão importantes quanto prospectos ou funções científicas. O corpus textual analisado reposiciona, também, as artes no campo educacional, alargando o campo rumo ao infinito. Em muitos textos aparece o caos como um meio de todos os meios, onde o inconsciente (ou desejo) vem se alojar à espreita de novas criações científicas, artísticas ou filosóficas.

Referências

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ZOURABICHVILI, François. Deleuze: uma filosofia do acontecimento. São Paulo, Editora 34, 2016.

Contribuição do/as autor/as

Autora 1 – Coordenadora do projeto, participação ativa na análise dos dados e revisão da escrita final.

Autor 2 – Coleta de dados, análise dos dados e escrita do texto.

Autor 3 – Elaboração da visualização dos dados, análise dos dados e escrita do texto.

Declaração de conflito de interesse

Os autores declaram que não há conflito de interesse com o presente artigo.

1

Anteriormente, Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação e Biblioteconomia

2

Os Seminários Conexões VII e VIII estão disponibilizados, respectivamente, na revista Linha Mestra, n. 35, maio/ago. 2018, disponível em: https://lm.alb.org.br/index.php/lm/issue/view/4/showToc, e na revista Alegrar, jan./jul. 2020, disponível em: https://alegrar.com.br/alegrar-25/. O leitor poderá consultar os volumes online nas revistas mencionadas praticando a identificação dos conceitos filosóficos. Ressalta-se que parte do sétimo livro Conexões, publicado separadamente das revistas em https://www.academia.edu/39721791/Conex%C3%B5es_Deleuze_e_Cosmopol%C3%ADticas_e_Ecologias_Radicais_e_Nova_Terra_e_2019_, não foi considerado em nosso levantamento.

Gráfico 1 – Principais autor(es) mais citados nas obras Conexões

Fonte: Dados da pesquisa (2023)

Gráfico 2 – Instituições de afiliação dos autores

Fonte: Dados da pesquisa (2023)

Gráfico 3 – Áreas do conhecimento de acordo com a última formação dos autores

Fonte: Dados da pesquisa (2023)

Gráfico 4 – Obras de Deleuze referenciadas na coleção Conexões

Fonte: Dados da pesquisa (2023)

Quadro 1 – Seminário Conexões, 2009: “Deleuze e Imagem e Pensamento e...”

Fonte: Dados da pesquisa (2023)

Quadro 2 – Seminário Conexões, 2010: “Deleuze e Vida e Fabulação e...”

Fonte: Dados da pesquisa (2023)

Quadro 3 – Seminário Conexões, 2011: “Deleuze e Arte e Ciência e Acontecimento e...”

Fonte: Dados da pesquisa (2023)

Quadro 4 – Seminário Conexões, 2013: “Deleuze e Política e Resistência e...”...”

Fonte: Dados da pesquisa (2023)

Quadro 5 – Seminário Conexões, 2013, “Deleuze e Territórios e Fugas e...”

Fonte: Dados da pesquisa (2023)

Quadro 6 – Seminário Conexões, 2015: “Deleuze e Linhas e Máquinas e Devires e...”

Fonte: Dados da pesquisa (2023)