Prezados leitores,

É com grande satisfação que compartilho este editorial da Revista Conhecimento em Ação (RCA), cujo propósito fundamental é contribuir para o avanço da Ciência da Informação. Este editorial reflete não apenas nossa missão como editores, mas também oferece uma oportunidade para discutir os desafios e avanços que caracterizam a publicação científica na contemporaneidade.

Publicar uma pesquisa é um processo multifacetado, repleto de desafios que vão desde a concepção do estudo até sua disseminação. No entanto, muitas vezes não é reconhecido o esforço da equipe editorial para manter uma revista de qualidade. Contrapondo a ciência, dentro do senso comum, é notório escutarmos em algum momento da vida acadêmica que uma Revista X, Y ou Z leva muito tempo para publicar um artigo.

É crucial destacar o extenso trabalho realizado pelo editor-chefe e pela equipe editorial de um periódico. Esse trabalho engloba uma variedade de processos, como a análise da adequação de um manuscrito ao escopo e às normas da revista e a verificação de plágio por meio de softwares específicos. Além disso, é essencial encontrar avaliadores especializados na temática submetida, que estejam disponíveis para contribuir naquele momento necessário. Vale ressaltar que esses avaliadores, muitos dos quais são professores e pesquisadores, desempenham diversas outras atividades, como ensino, pesquisa e extensão, em seus respectivos vínculos. É importante notar que, no contexto dos periódicos brasileiro, a atividade dos avaliadores é voluntária, representando uma generosa doação de seu tempo e conhecimento.

Além disso, há uma complexa gestão da equipe técnica, responsável por revisões, normalização, diagramação, publicação e divulgação científica, bem como o cumprimento de diferentes políticas editoriais e a indexação em diretórios e bases de dados. Ainda faz parte deste contexto a construção de formulários de avaliação de manuscritos de acordo com as seções do periódico e as inúmeras trocas de informações entre equipe editorial, autores e avaliadores até que a pesquisa esteja pronta para compor o volume a ser publicado ou mesmo a sua publicação individual, no caso de publicações de fluxo contínuo.

Costumo enfatizar aos pesquisadores em desenvolvimento a necessidade de desenvolver habilidades e competências, como mansidão e, principalmente, gestão de tempo, ao longo da pós-graduação para preservar a saúde mental. Esse ciclo prolongado, repleto de inúmeros processos, pode gerar estresse, ansiedade ou conflitos emocionais nos autores, especialmente nos mestrandos e doutorandos. Estes têm prazos e critérios estabelecidos para as publicações em seus respectivos programas de pós-graduação, requisitos que devem ser atendidos antes da defesa de tese ou dissertação.

Mesmo diante de tantos processos e dificuldades encontradas pelo caminho, torna-se fundamental destacar que a ciência não pode pular etapas e que todos os trâmites são fundamentais para chancelar a sua pesquisa à comunidade acadêmica. Neste contexto, é imperativo reconhecer que a adoção, por parte de periódicos científicos, em relação à ciência aberta e alinhado com os avaliadores, tem apresentado consideravelmente uma evolução nas publicações científicas.

Com isso, a evolução da ciência e das tecnologias tem impulsionado a necessidade de reúso de dados para pesquisas futuras. Instituições e pesquisadores têm sido orientados a depositar dados de pesquisa em repositórios dedicados ou abertos como o Figshare1, e a preservar os sites utilizados em suas investigações, considerando a volatilidade da informação na internet e a importância de garantir a replicabilidade e reprodutibilidade das pesquisas. Serviços como o Internet Archive2 desempenham um papel fundamental nesse processo, garantindo o acesso a recursos que poderiam se perder ao longo do tempo.

São evoluções como essas, por exemplo, que fazem uma equipe editorial se debruçar sobre novas práticas a serem inseridas em um periódico, considerando também outras políticas de acesso aberto, antiplágio, ética, direito autoral, privacidade, retratação, dentre outras questões como atualização de membros de Conselho Editorial e Comissão Científica e os infinitos e criteriosos formulários de bases de dados a fim de se obter a qualidade necessária para indexação dos periódicos. Enfim, a verdade é que se trata de um trabalho interminável!

Em consonância com a dinâmica da ciência aberta e em busca de maior agilidade e transparência, a partir deste ano de 2024, a RCA passa a adotar o modelo de publicação em fluxo contínuo. Esta decisão reflete nosso compromisso com a evolução dos periódicos científicos e nos coloca no caminho para futuras implementações alinhadas com as melhores práticas da ciência aberta.

Em síntese, este é um momento crucial para a RCA e para a comunidade científica em geral. Comprometemo-nos a enfrentar os desafios da publicação científica com determinação e inovação, buscando constantemente a excelência e contribuições significativas para o avanço do conhecimento em nossa área. Trabalharemos dentro de nossas possibilidades para agilizar as publicações, reconhecendo, contudo, que novos desafios possam surgir pelo nosso caminho.

Registro aqui, neste editorial, o meu agradecimento pelo trabalho desenvolvido por todos os editores e equipes editoriais, especialmente na área da Ciência da Informação, que têm atuado com seriedade, responsabilidade e compromisso ético em suas respectivas revistas, contribuindo, assim, para o avanço da ciência. Por fim, convido toda a comunidade acadêmica a prestigiar as pesquisas publicadas nesta nova etapa da Revista Conhecimento em Ação.

Boa leitura!

Marcos de Souza

mds@ufba.br

Professor do Departamento de Ciência e Tecnologia e Inovação da Universidade Federal da Bahia e membro da Equipe Editorial da Revista Conhecimento em Ação.

DESAFIOS E EVOLUÇÃO NA PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA

1

Figshare – credit for all your research. Disponível em: https://figshare.com/. Acesso em: 15/04/2024.

2

Internet Archive – Wayback Machine. Disponível em: https://web.archive.org/. Acesso em: 15/04/2024.