AÇÕES FORMATIVAS PARA O ENFRENTAMENTO DA DESINFORMAÇÃO:

REFLEXÕES A PARTIR DE UMA EXPERIÊNCIA COM ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO BÁSICA

FORMATIVE ACTIONS FOR FACING DESINFORMATION:

REFLECTIONS FROM AN EXPERIENCE WITH PRIMARY EDUCATION STUDENTS

Daniela de Assis Silva

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4436-6955

Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (PósCom/UFBA), Brasil.

Pesquisadora de pós-doutorado pelo PPGCIN/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil. Bolsista CAPES Brasil.

E-mail: dsilva.jor@gmail.com

Gleise Brandão

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4739-445X

Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Brasil.

Docente do Departamento de Fundamentos e Processos Informacionais (DFPI) da UFBA, Brasil.

E-mail: gleise.br@gmail.com

Allana Beatriz Mouta

ORCID: https://orcid.org/0009-0000-8320-7311

Graduanda em Biblioteconomia e Documentação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Brasil.

E-mail: allanabeatrizmouta@gmail.com

Letícia Neiva

ORCID: https://orcid.org/0009-0001-9004-5522

Graduanda em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Brasil.

E-mail: leticianeiva@ufba.br

Laura Pita

ORCID: https://orcid.org/0009-0006-9810-7405

Graduanda em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Brasil.

E-mail: laurapitata@gmail.com

RESUMO: Este trabalho relata e reflete sobre uma ação de extensão formativa desenvolvida na Escola Estadual Presciliano Silva, em Salvador (Bahia). A atividade teve como objetivo promover uma roda de debate, bem como uma oficina com adolescentes e jovens do ensino público. Os temas contemplados incluíram a desinformação, a educação em informação, a educação midiática e o papel dos estudantes no processo de fortalecimento de uma cultura da paz e garantia do uso saudável e democrático das informações nos ambientes digitais e presenciais. Foi construída uma proposta pedagógica para realizar atividades formativas em uma unidade escolar que contemplou o levantamento de materiais didáticos para subsidiar o planejamento e a elaboração das atividades formativas; a realização de oficina e roda de conversa; a criação de estratégias de comunicação; e a produção colaborativa dos jovens participantes durante a oficina, que foi objeto da análise neste relato a partir da abordagem qualitativa. Entre os resultados alcançados, destaca-se a participação de 49 estudantes na roda de conversa e de seis alunos na oficina, que produziram seis peças de comunicação que evidenciam o processo reflexivo dos jovens perante a informação no contexto de desinformação. A experiência reforça a importância do fortalecimento da atividade de extensão universitária em ações de parceria com escolas públicas, gerando aprendizados mútuos para os mediadores e estudantes.

PALAVRAS-CHAVE: educação midiática; educação em informação; desinformação; estudantes; escola pública.

ABSTRACT: This work reports and reflects on a training extension action developed at the Presciliano Silva State School, in Salvador (Bahia). The activity aimed to promote a debate circle as well as a workshop with teenagers and young people from public schools. The topics covered included disinformation, information education, media education and the role of students in the process of strengthening a culture of peace and ensuring the healthy and democratic use of information in digital and in-person environments. A pedagogical proposal was developed to carry out educational activities in a school unit that included the collection of teaching materials to support the planning and preparation of educational activities; the holding of a workshop and discussion group; the creation of communication strategies; and the collaborative production of the young participants during the workshop, which was the object of analysis in this report based on the qualitative approach. Among the results achieved, we highlight the participation of 49 students in the discussion group and six students in the workshop, who produced six communication pieces that highlight the reflective process of young people regarding information in the context of disinformation. The experience reinforces the importance of strengthening university extension activities in partnership actions with public schools, generating mutual learning for mediators and students.

Keywords: media education; information education; disinformation; students; public school.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta o relato e reflexões sobre uma ação formativa desenvolvida com estudantes, na Escola Estadual Presciliano Silva, em Salvador (Bahia). A ação “Desinformação e a participação dos jovens nesse rolê” integrou a Semana Brasileira de Educação Midiática, uma iniciativa inédita do Governo Federal, promovida pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República e o Ministério da Educação, com apoio de organizações da sociedade civil que atuam com a temática.

A Semana Brasileira de Educação Midiática fez parte da agenda global da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) sobre Alfabetização Midiática e Informacional (MIL Week 2023), fortalecendo a conexão entre o Brasil e o debate internacional. O evento global é realizado desde 2011, anualmente, e promove iniciativas de educação midiática. Em 2023, o objetivo foi mobilizar os países em torno do tema “Alfabetização Midiática e Informacional em Espaços Digitais: uma agenda global coletiva”.

O capítulo brasileiro ocorreu no período de 23 a 27 de outubro de 2023, com o propósito de fortalecer o campo da educação midiática como política pública de Estado. Reconheceu também que o exercício da cidadania hoje em dia passa pela construção de um ambiente digital mais seguro e confiável.

Assim, a ação formativa relatada neste artigo partiu do problema de pesquisa: como é possível discutir a desinformação com jovens e promover a educação em informação e a educação midiática como estratégias para minimizá-la e evitá-la? O objetivo geral, por sua vez, foi promover uma roda de debate e uma oficina com os adolescentes e jovens da unidade escolar sobre o tema da desinformação, sobre a importância da educação midiática, da educação em informação e sobre o papel dos jovens no processo de fortalecimento de uma cultura da paz e garantia do uso ético, saudável e democrático dos conteúdos.

A atividade também está vinculada a um projeto de extensão “Jovens pela paz e contra a desinformação: ações formativas voltadas à educação ética e crítica na Bahia”. O projeto é desenvolvido no Instituto de Ciência da Informação na Universidade Federal da Bahia e conta com a colaboração de integrantes do Grupo de Estudos de Políticas de Informação, Comunicações e Conhecimento (GEPICC).

Quanto aos procedimentos metodológicos, este trabalho é um relato de experiência que descreve as etapas necessárias para a realização de uma ação formativa que contemplou: o levantamento de materiais didáticos para subsidiar o planejamento e a elaboração das atividades formativas; a realização de oficina e roda de conversa; a criação de estratégias de comunicação; e a produção colaborativa dos jovens participantes. Realiza-se uma descrição da experiência, bem como uma análise documental de cinco produções geradas durante a atividade formativa que, para tanto, adota-se uma abordagem qualitativa.

Esse artigo está estruturado em quatro seções além dessa introdução. A segunda seção busca trazer uma contextualização acerca das temáticas envolvidas, quais sejam: desinformação, educação midiática e educação em informação. A terceira apresenta os procedimentos metodológicos adotados. A quarta seção, por sua vez, aborda os resultados obtidos a partir da realização da ação formativa. Por fim, apresentam-se as conclusões do estudo.

2 DESINFORMAÇÃO, EDUCAÇÃO MIDIÁTICA E EM INFORMAÇÃO: APONTAMENTOS TEÓRICOS

Esta seção pretende apresentar brevemente os conceitos basilares que nortearam o desenvolvimento das ações relatadas neste trabalho, a saber: a desinformação, a educação midiática e a educação em informação.

2.1 DESINFORMAÇÃO

A desinformação é uma estratégia de manipulação realizada através de informação falsa, imprecisa, descontextualizada ou deliberadamente distorcida, portanto, sem compromisso com a veracidade do conteúdo. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco, 2019, p. 7), a desinformação é “[...] comumente usada para se referir a tentativas deliberadas (frequentemente orquestradas) para confundir ou manipular pessoas por meio de transmissão de informações desonestas”.

Para Wardle e Derakhshan (2017), esse fenômeno pode ser propagado também a partir da informação incorreta e da má informação (fabricada para causar danos), além da própria desinformação, sempre com a intenção de enganar. Para Schneider e Oki (2022, p. 12), “categorizar o uso das informações veiculadas com o objetivo de manipular, enganar, falsificar ou mentir, é uma forma de conhecer e combater com maior efetividade seu impacto na sociedade”.

Fallis (2015) já alertava para o perigo de os indivíduos compartilharem desinformação por acreditarem na sua veracidade e, portanto, não verificá-la, pelo simples fato de compreendê-la como informação confiável, como consequência da ausência de senso crítico para avaliá-la. Portanto, é importante também considerar os impactos danosos da desinformação não intencional.

A desinformação pode ser disseminada por vários meios como, por exemplo, textos, imagens e/ou discursos, e por meio de conteúdos como meme, paródia, show de comédia e podcast, entre outros. Os autores Heller, Jacobi e Borges (2020) apresentam três aspectos que podem contribuir com a desinformação, conforme apresenta-se no quadro 1:

Categoria

Conceito

Crenças pessoais

As ideologias pessoais constituídas ao longo do tempo são a principal fragilidade para atingir um indivíduo.

Ganhos pessoais

Quando um indivíduo cria uma desinformação para lucrar de alguma maneira.

Psicológicos

Constituem-se das emoções e dos sentimentos vinculados à informação, ou seja, uma informação tendenciosa que se apoia nas emoções de determinado grupo.

A desinformação, portanto, pode partir de uma criação individual e ser disseminada para o coletivo, impulsionada por crenças, interesses e ganhos pessoais. Araújo e colegas (2023, p. 8) reforçam ainda que:

É preciso enfrentar não apenas ações desinformativas voltadas para causar prejuízos a outrem, mas também as desinformações que têm outros motivos como, por exemplo, auferir lucros por meio de monetização nas plataformas digitais, beneficiar políticos ou candidaturas políticas, fomentar discursos de ódio, criar vantagem na esfera das relações econômicas, dentre outros (Araújo et al., 2023, p. 8).

O fenômeno é complexo e exige, cada vez mais, a ampliação e o fortalecimento de formações críticas dos indivíduos. Nesse contexto, apresentamos a educação midiática e a educação em informação como meios de fomentar o pensamento crítico das pessoas, em especial, dos adolescentes e jovens. Esses dois tipos de educação preconizam a apropriação da informação pela sociedade por meio de competências que precisam ser desenvolvidas e aprimoradas, conforme será abordado a seguir.

2.2 EDUCAÇÃO MIDIÁTICA

A educação midiática é um conjunto de competências que contribuem para que as pessoas saibam analisar, criticamente, o que acessam, consomem, produzem, interagem e divulgam. Como diz David Buckingham, em Manifesto pela Educação Midiática (2022), o objetivo é estimular uma compreensão mais sistemática de como funciona a mídia e promover formas mais reflexivas de usá-la.

Para Hobbs (Oliveira, 2023), o propósito é desenvolver participantes informados, reflexivos e engajados, essenciais para uma sociedade democrática. “[...] a educação midiática protege e fortalece direitos. Isso nos ajuda a enfrentar os danos de viver nesta cultura midiática e também nos capacita a sermos os melhores seres humanos que podemos ser, mais criativos, generosos, amorosos e conectados”.

Seu propósito consiste em estimular os indivíduos a entenderem o ecossistema midiático, para então analisar, corretamente, as mensagens que circulam, com atenção em quem produz, consome e repassa. Nessa perspectiva, Hobbs e Jensen (2009, p. 7) defendem que:

A educação midiática requer questionamento ativo e pensamento crítico a respeito das mensagens que criamos e recebemos; é uma conceituação expandida de alfabetização; desenvolve competências para aprendizes de todas as idades e requer uma prática integrada, interativa e repetida; seu propósito é desenvolver participantes informados, reflexivos e engajados, essenciais para uma sociedade democrática; as mídias são vistas como parte da cultura e funcionam como agentes de socialização; e as pessoas usam suas competências, crenças e experiências para produzir sentidos para as mensagens das mídias (Hobbs; Jensen, 2009, p. 7).

Como salientaram Mota e Linhares (2013, p. 84), “[...] faz-se necessária uma alfabetização crítica da mídia, uma resposta educacional que amplie a noção de alfabetização, incluindo diferentes formas de comunicação de massa, cultura popular e novas tecnologias”. Para atingir essa alfabetização crítica da mídia, recomenda-se analisar as competências preconizadas pela educação midiática que estão entrelaçadas com a capacidade individual de produzir e consumir com responsabilidade o conteúdo digital e midiático.

Para Borges e Barbosa (2019), a educação midiática pode proporcionar aos cidadãos o desenvolvimento de pensamento crítico e a resolução criativa de problemas, a fim de que possam ser consumidores e produtores sensatos de informação. Atualmente, a maioria dos indivíduos já nasce contando com os ambientes digitais como espaços de socialização e precisam de processos formativos que contemplem a educação midiática. As autoras Ferreira e Barcellos (2023, p. 3) explicam que

[...] tendo em vista o acesso digital pelos jovens e o potencial das escolas em sua formação crítica e cidadã, um olhar mais atento às contribuições da educação midiática na formação de crianças e adolescentes se torna necessário como instrumento não só de inclusão, mas de garantia de direitos num contexto em que o acesso a meios de comunicação e à tecnologia e seus usos extrapolam uma relação de pertencimento sociocultural (Ferreira; Barcellos, 2023, p. 3).

Buckingham, em Manifesto pela Educação Midiática (2022, p. 125), defende políticas públicas de educação midiática e afirma que:

A educação midiática almeja um uso crítico e consciente dos meios de comunicação, e deve nos permitir não somente entender como a mídia funciona, ou lidar com um mundo intensamente mediado, mas também imaginar como as coisas podem ser diferentes. A educação midiática busca promover o entendimento crítico; mas o entendimento crítico também deve levar à ação (Buckingham, 2022, p. 125).

Uma iniciativa nessa direção está sendo elaborada no Brasil pelo poder Executivo. A Estratégia Brasileira de Educação Midiática foi lançada durante a Semana Nacional de Educação Midiática, em outubro de 2023, que estimulou a realização de atividades sobre o tema nos diferentes estados brasileiros.

A política nacional está alinhada com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (Brasil, 2017)1, um documento de caráter normativo que recomenda as aprendizagens essenciais para a Educação Básica. No entanto, em uma análise comparativa entre as competências gerais da e as competências em informação e as competências em comunicação contempladas na Base, evidenciou-se que há uma menor ênfase nesta última (Silva; Borges, 2020). Para entender melhor a perspectiva adotada pela educação midiática, é necessário incluir outro conceito: o de educação em informação.

2.3 EDUCAÇÃO EM INFORMAÇÃO

Diante da necessidade de analisar, questionar e desenvolver aptidão para pensar criticamente em um mundo interconectado, que está constantemente diante de altos fluxos de informações que podem ser tendenciosas, falsas e alteradas, um dos objetivos da Educação em Informação é promover uma educação crítica que, segundo Freire (1979, p. 42), “[...] se estabelece na relação com o contexto no qual o sujeito está inserido, de forma que se possa conciliar reflexão e ação, extrapolando a mera memorização de informações”.

Os cidadãos, por meio do pensamento crítico, têm a possibilidade de tomar decisões coerentes, a partir do discernimento do que é informação de qualidade e verídica, analisando os aspectos abordados e assim formar as próprias opiniões de maneira conceituada. Tais saberes estão relacionados ao desenvolvimento de competência em informação, compreendida enquanto o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes para buscar, avaliar e usar as informações de forma crítica e reflexiva (Silva; Nunes; Teixeira, 2021).

Cada vez mais, discute-se no campo da Ciência da Informação, o âmbito social da competência em informação, que evidencia a formação social, ética e política do sujeito (Silva; Nunes; Teixeira, 2021). Isto se dá em virtude do seu “[...] caráter eminentemente multidisciplinar e por ter seu desenvolvimento intimamente ligado à Educação” (Dudziak, 2002, p. 3).

Nessa perspectiva, entende-se que o desenvolvimento desses saberes é possível por meio de uma educação que tenha o papel de ser aliada no “[...] combate às Fake News na medida em que contribui na construção de atitudes críticas em meio à disseminação de informações e notícias falsas que, por vezes, colocam a vida das pessoas em risco [...]” (Silva et al., 2023. p. 127).

Desse modo, acredita-se ser necessário que os profissionais da informação, em parceria com as instituições de ensino, mobilizem um conjunto de ações multidimensionais visando à promoção de tais competências a fim de desenvolver uma educação crítica e reflexiva. Logo, compreende-se que a educação em informação e a competência em informação são conceitos que se inter-relacionam, enquanto o segundo refere-se aos saberes para lidar com os conteúdos informacionais, o primeiro foca no processo de ensino-aprendizagem (Brandão; Borges, 2023).

A educação em informação, portanto, refere-se à “[...] formação desse sujeito informacional consciente de seu espaço e papel no mundo, que significa os aparatos tecnológicos a partir de sua cultura, utilizando-os para decidir qual informação lhe é relevante não só para entender o mundo, como para mudá-lo.” (Borges; Barbosa, 2019, p. 10).

Para além de saber lidar com os conteúdos informacionais, entende-se ser necessário neste cenário de desinformação compreender o contexto em que a informação está inserida, as intencionalidades e os desdobramentos. Assim como os sujeitos podem influenciar ou ser influenciados a partir de suas crenças e emoções.

Por isso, defende-se que essa educação crítica precisa ser propagada, principalmente, nas escolas, pois a educação em informação, segundo Dedavid, Martini e Borges, (2023, p. 5) “[...] visa preparar os sujeitos para lidar com a informação de forma crítica, incentivando o protagonismo social”; dessa forma, “[...] essa proposta defende a conscientização dos educandos através do estímulo à participação crítica no contexto educativo”.

Assim, é importante a colaboração de movimentos sociais, órgãos públicos e privados, além de instituições de ensino, que têm um papel crucial na formação de estudantes como cidadãos ativos em uma sociedade midiática e consumidores críticos de informação. Sabendo-se então a importância

[...] da escola fomentar uma discussão que leve os alunos à reflexão quanto ao uso das mídias em diversos contextos, incluindo as escolares, tanto no papel de receptor, quanto no papel de produtor, para se comunicarem, disseminarem informações, resolverem problemas, e assim, se tornarem protagonistas e autores da vida individual e coletiva (Grossi; Leal; Silva, 2021, p. 187).

Sendo assim, é fundamental ensinar a saber analisar a confiabilidade das informações a que se tem acesso, principalmente quando encontradas on-line. Nesse contexto, essas instituições precisam estar cada vez mais preparadas para orientar sobre maneiras de verificação de informações e reconhecimento de fontes credíveis, por exemplo.

2.4 RELAÇÕES ENTRE OS CONCEITOS

Esse processo de educação em informação e educação midiática permite “[...] estimular o senso crítico para que crianças e jovens sejam capazes de entender a natureza da mídia e o seu gênero, para então analisar a informação corretamente, refletindo sobre o papel de quem produz a informação e quem a recebe” (Grossi; Leal; Silva, 2021, p. 181). Dessa forma, ambos os conceitos tratados buscam aprimorar as competências críticas em relação à informação.

A educação em informação tem como objetivo estimular o desenvolvimento da criticidade e reflexão pelos indivíduos, a partir da promoção da competência em informação, ao pesquisar, avaliar, compartilhar e usar as informações, bem como na compreensão do contexto informacional. A educação midiática complementa ao buscar entender e analisar conteúdos midiáticos, visando assim o desenvolvimento de indivíduos críticos quanto ao que consomem, produzem e divulgam.

Entretanto, esse processo educacional precisa ser trabalhado continuamente, com apoio de professores e de educadores, criando ambientes formais e não formais de aprendizagem que estimulem o pensamento crítico e reflexivo, onde todos se sintam seguros para expressar suas dúvidas e opiniões, orientando para diálogos construtivos e estimulantes.

A partir da educação em informação e da educação midiática, espera-se formar cidadãos conscientes e questionadores, que não aceitam passivamente as informações apresentadas, desenvolvendo uma visão autônoma do mundo. Esse processo de formação é indispensável para viver e conviver em uma sociedade hiperconectada e contribuir para o fortalecimento do sistema democrático.

3 DESENVOLVIMENTO DA AÇÃO FORMATIVA: ASPECTOS METODOLÓGICOS

Nesta seção, busca-se relatar o processo que envolveu o planejamento e o desenvolvimento da ação formativa realizada na Escola Estadual Presciliano Silva, localizada no bairro da Ribeira2, na cidade de Salvador (Bahia), em outubro de 2023. A capital baiana, Salvador, é considerada uma das mais desiguais no país. A cidade ficou em última posição em 7 dos 40 indicadores sociais analisados pelo Mapa das Desigualdades entre as Capitais, divulgado pelo Instituto Cidades Sustentáveis (2023).

Entre os piores índices, destacam-se o de renda, emprego e segurança. Em termos de qualidade da educação, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é um dos indicadores mais usados para acompanhar o desempenho dos estudantes. O estado da Bahia está em posição desafiadora no ranking brasileiro, ocupando a 22ª posição entre as 27 unidades da federação, com Ideb de 4,9. A unidade escolar escolhida para a atividade, por sua vez, possui Ideb de 5 (INEP, 2021). Foi intencional de nossa equipe trabalhar com uma escola com vulnerabilidade social como forma de contribuir para melhorias educacionais.

3.1 PLANEJAMENTO

O primeiro passo para o planejamento das atividades realizadas na Escola Estadual Presciliano Silva foi o mapeamento de referências bibliográficas. Durante essa etapa, identificou-se 98 produções elaboradas nos últimos cinco anos, que subsidiaram a base teórica para o desenvolvimento de atividades realizadas na unidade escolar.

Para o mapeamento, foram utilizadas fontes de informação como o Scielo, Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, repositórios institucionais, portais de periódicos e acervos de instituições que trabalham com a temática. Como recursos de pesquisa, aplicou-se filtros por autores, datas de publicação e palavras-chave: “educação crítica”, “educação em informação”, “educação midiática” e “desinformação”. O objetivo deste levantamento foi subsidiar o planejamento e elaboração dos conteúdos a serem ministrados na ação formativa, bem como a criação de recursos didáticos. Logo, tais dados não serão objeto de análise deste trabalho.

Para as atividades desenvolvidas na escola, foram elaboradas duas propostas pedagógicas realizadas no mesmo dia, 23 de outubro de 2023: uma roda de conversa com estudantes do Ensino Fundamental e uma oficina com estudantes do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos da mesma unidade escolar.

Os roteiros e os conteúdos de cada atividade foram planejados a partir do perfil do público participante. Durante esse processo de construção metodológica, a equipe trabalhou, colaborativamente, na identificação de conteúdos e exemplos que favorecessem o diálogo e reflexões críticas sobre o fenômeno da desinformação, assim como os impactos na vida dos adolescentes, dos jovens e da sociedade em geral.

Como parte da programação da roda de conversa, foram criadas atividades pedagógicas e, em alguns casos, adaptações de práticas selecionadas durante o mapeamento de referências, garantindo que estivessem apropriadas ao contexto dos estudantes da escola pública de Salvador. Entre os conteúdos trabalhados, estavam os conceitos prioritários da proposta formativa - desinformação, educação midiática, educação em informação - e inovações atuais aplicadas a favor das estratégias de disseminação de conteúdos falsos, como clickbait3 e a inteligência artificial.

Na dinâmica de aquecimento do encontro com os alunos buscou-se entender a relação deles com o fenômeno da desinformação, a partir de perguntas relacionadas a situações possivelmente vivenciadas por eles. Ao longo da atividade, também foram adotados recursos lúdicos, como memes e vídeos.

Outrossim, na oficina, optou-se por recursos que favorecessem a criação autoral, possibilitando que os alunos produzissem peças de comunicação, em diferentes formatos, como história em quadrinhos, vídeo, cartaz e desenho. Essa prática teve como objetivo estimular a produção criativa a partir das reflexões suscitadas pela roda de conversa.

3.2 REALIZAÇÃO

As atividades formativas na escola pública, enquanto iniciativa acadêmica, integraram ações de extensão. Entende-se a importância da interação entre pesquisadores e alunos de iniciação à extensão universitária com estudantes secundaristas, além do estímulo pela semana nacional dedicada à educação midiática.

As ações realizadas mobilizaram seis integrantes do GEPICC e 49 alunos da escola pública, além de representantes da gestão e docentes da unidade escolar. A primeira atividade, a roda de conversa, contemplou estudantes selecionados pela equipe escolar, com idade entre 11 e 23 anos.

A atividade incluiu a apresentação do fenômeno da desinformação e a importância da educação em informação e da educação midiática para a prevenção e para o enfrentamento dos problemas decorrentes da disseminação de conteúdos falsos e manipuladores. A apresentação foi dialógica, estimulando a participação ativa dos estudantes, a partir do compartilhamento de exemplos e experiências relacionadas aos conceitos e aos temas discutidos.

A sala estava com um número de participantes superior ao esperado e isso exigiu rever algumas dinâmicas planejadas. Ainda assim, o conteúdo compartilhado, utilizando recursos visuais e midiáticos e atualizados a partir do contexto dos adolescentes e jovens, fomentou diversas trocas entre a equipe de mediadores e os estudantes.

Houve relatos de vivências dos alunos no ambiente digital que reforçavam o quanto o fenômeno da desinformação está presente no cotidiano desse público e como se sentem impactados e, muitas vezes, sem orientação sobre como se comportar ou buscar ajuda. Um dos estudantes compartilhou que teve sua conta no Instagram invadida e que perdeu milhares de seguidores. Ele era considerado um dos influenciadores da região onde mora e não conseguiu descobrir como o fato ocorreu e nem reverter o problema.

Vários estudantes comentaram que foram vítimas de preconceito na internet, discurso de ódio e cancelamento. Uma das alunas relatou que as agressões ocorriam via ambientes digitais e também nos corredores da escola. Ela ressaltou a importância do debate estar ocorrendo na sala de aula para conscientizar os colegas sobre os temas, algo que sentia falta no ambiente escolar.

Além da roda de conversa, foi realizada uma oficina para estimular a criação dos jovens com idade a partir de 18 anos, aplicando reflexões sobre a educação midiática, com o intuito de fortalecer o uso ético, saudável e democrático das informações e das comunicações. Participaram da oficina 6 estudantes do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos.

Os alunos foram divididos em três duplas com o objetivo de criar peças de comunicação sobre os temas abordados, aspecto que será analisado na quarta seção deste trabalho. Como forma de inspirar os participantes, a equipe de mediadores apresentou exemplos de podcasts, histórias em quadrinhos, cards e cartazes temáticos. Os estudantes então elegeram o tema de interesse e produziram suas próprias peças de comunicação.

3.3 CRIAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO

Antes da realização das atividades, foram criadas estratégias de comunicação para divulgar a iniciativa no colégio estadual. Para os estudantes da Escola Estadual Presciliano Silva, os materiais gráficos foram pensados para mobilizar os potenciais participantes para as atividades. Para o público externo, planejou-se postagens nas redes sociais para dar visibilidade à ação de extensão promovida pelo Grupo de Estudos de Políticas de Informação, Comunicações e Conhecimento (GEPICC) (2023) como parte da Semana Brasileira de Educação Midiática (Brasil, 2023).

Assim, foram publicados dois posts no Instagram do GEPICC (@gepicc.ufba), além de um card que circulou apenas entre os estudantes da escola (Figura 1).

O primeiro post divulgado para o público externo da escola e do GEPICC foi publicado em 23 de outubro de 2023 (Figura 2), dia anterior à realização das atividades formativas.

Dois dias após a realização da oficina e da roda de conversa, no dia 26 de outubro, foi feita a segunda postagem no Instagram do GEPICC (Figura 3). Dessa vez em formato carrossel, ou seja, em um mesmo post foram divulgadas várias imagens, com relatos breves da experiência, fotos e um vídeo, evidenciando os resultados das atividades formativas e produções dos alunos. Na legenda (Figura 3), relatos de experiências e as hashtags (#) ajudaram na divulgação das atividades.

Na próxima seção, apresentam-se os resultados obtidos a partir da análise documental realizada, a partir de uma abordagem qualitativa, em cinco produções elaboradas pelos jovens participantes das ações formativas na escola pública.

4 PRODUÇÃO COLABORATIVA A PARTIR DAS AÇÕES FORMATIVAS

Durante a oficina “Desinformação e a participação dos jovens nesse rolê”, foi proposto um “painel de ideias”, a partir do qual os alunos foram desafiados a criar peças de comunicação para compartilhar com outros jovens, a partir de um dos temas discutidos durante a roda de conversa.

As produções de comunicação tiveram o objetivo de incentivar a criatividade e o compartilhamento das reflexões desses alunos sobre a temática abordada e demonstrar a importância do seu papel nesse processo de educação midiática e educação em informação. A seguir, são apresentados os resultados das criações dos participantes da oficina. As imagens das criações possuem textos criados pelos estudantes e eles foram transcritos em notas de rodapé, contemplando correções gramaticais.

A produção do Jovem 1, ilustrada na Figura 4, apresenta um esquema de como evitar ser enganado por fake news, a partir de perguntas objetivas, desenhos e afirmações. A criação destaca a importância de questionar e verificar a veracidade da notícia recebida para não acreditar e nem compartilhar conteúdos enganosos. Aspectos que reforçam a necessidade apontada por Belluzzo (2005, p. 37) a respeito da aplicação de competências ligadas à comparação, categorização, representação, tratamento e criticidade em torno da informação.

Esse cuidado é importante no desenvolvimento de um pensar crítico e questionador, a partir de informações confiáveis. Isso requer uma educação crítica, que desenvolva, continuamente, a capacidade de avaliar a credibilidade das fontes de informação e os conteúdos. A produção reforça os questionamentos que se pode fazer ao acessar uma notícia, usando o recurso de desenhos autorais para representar os momentos em que se recebe as mensagens.

Conforme observado na Figura 4, os jovens mostram os caminhos a seguir para se certificar se podem compartilhar ou não uma informação. Evidenciam ainda que, ao receber com estranhamento um conteúdo, essa reação pode ser uma indicação de que a notícia tem chance de ser falsa, sobretudo quando há expressões de apelo, com temas agressivos, bizarros ou que expõem alguém negativamente.

A segunda criação representou uma escola por meio de um desenho. Destacou a presença de fake news em um ambiente onde se deveria encorajar o pensamento crítico entre os estudantes, promovendo competências para analisar, questionar e verificar as informações que chegam a eles (Figura 5).

Essa produção demonstra a insatisfação relacionada ao ambiente escolar por não estar conseguindo evitar e nem combater a desinformação. Essa representação reforça a importância de atividades formativas para fomentar a reflexão sobre esse fenômeno, conforme defendem Grossi, Leal e Silva (2021).

Na terceira produção, conforme demonstrado na Figura 6, é relatada uma experiência negativa com hackers, na qual um dos criadores conta como perdeu uma conta, com um número significativo de seguidores, após sofrer ataque de um hacker.

Essa experiência mostra outros tipos de cuidados necessários na internet, como adotar medidas de segurança, a exemplo da atualização de senhas, evitar clicar em links ou conteúdos suspeitos e, principalmente, não fornecer informações pessoais em sites ou para pessoas não confiáveis. São aspectos que estão alinhados com as competências elencadas pela Unesco (2016, p. 135) como: saber “[...] proteger seu próprio trabalho, dados pessoais, liberdades civis, privacidade e direitos intelectuais” e ter ciência “[...] das consequências e dos riscos de comunicar, distribuir e compartilhar conhecimentos em mundos virtuais”.

Por outro lado, a criação também retoma a necessidade de repudiar e impedir o compartilhamento de fake news, trazendo uma correlação com o cartão vermelho usado nos jogos de futebol, evidenciando que as ações de desinformação são parte de atitudes antiéticas e maléficas para a sociedade.

A quarta produção, em formato de poesia intitulada “Outdoor”, traz uma reflexão sobre o crescimento financeiro que a internet possibilita para as pessoas, porém algumas dessas formas podem ser criminosas e antiéticas, a exemplo das fake news (Figura 7).

Apesar das consequências prejudiciais geradas pela disseminação de fake news e do sensacionalismo criado por esses conteúdos, e de alta capilaridade,

[...] tem muita gente ganhando poder, prestígio e dinheiro com a proliferação da pós-verdade ou de ideias pseudocientíficas que, paradoxalmente, advogam para si e para os seus produtos o status e os benefícios da confiabilidade que a ciência lhes confere. Algumas pessoas lucram com a propagação de informações falsas ou fora de contexto (Alves-Brito; Massoni; Guimarães, 2020, p. 1602).

Por isso, discussões em torno da regulação e da regulamentação estão em discussão para aprimorar as medidas de combate à desinformação e de responsabilização de quem produz e dissemina esses conteúdos. Bucci, entrevistado por Alves et al. (2022, p. 5), critica quem associa regulamentação, regulação e censura:

Uma regulamentação democrática monitorada por agências reguladoras, igualmente democráticas, não aumenta a censura. Mas prestigia a diversidade de vozes, a livre concorrência entre as empresas, impedindo o monopólio ou o oligopólio, e isso favorece o ambiente de muito mais liberdade. [...] Nós podemos e devemos pensar nessas normas a partir da defesa da liberdade de expressão e de imprensa e da defesa do direito à informação (Alves et al., 2022, p. 5).

Na quinta produção, um aluno, por meio de desenhos e legendas, relata a história de alguém que foi julgado morto por causa de uma fake news e muitas pessoas sofreram em decorrência desse conteúdo irresponsável. Logo depois, quando revelada a verdade, a vítima da informação falsa ficou famosa, ganhou uma quantia de dinheiro considerável e aproveitou a fama para doar o dinheiro e ajudar pessoas (Figura 8).

As produções dos estudantes demonstram a capacidade de reflexão crítica deles sobre os desafios do fenômeno da desinformação, assim como a capacidade de usar conhecimentos e a criatividade para produzir conteúdos educativos, que contribuam com a disseminação da educação midiática e da educação em informação. Usando diferentes linguagens e de modo atrativo, eles alertam outros jovens sobre a importância de um uso ético e responsável dos ambientes digitais.

Como ensina Buckingham (2022, p. 85), um dos princípios essenciais para uma pedagogia da educação midiática é partir do que os estudantes já sabem e oferecer acesso “ao conhecimento e perspectivas críticas que os ajudarão a desenvolver um entendimento mais amplo e mais profundo”. Um segundo princípio, diz, é combinar teoria com prática.

Ao analisar as produções colaborativas dos jovens à luz do conceito de Educação em informação, observa-se que a educação focada no desenvolvimento da competência em informação promove não apenas o acesso à informação, mas o conhecimento e o aprendizado de forma compartilhada ao estimular a participação ativa da comunidade na definição de metas e objetivos educacionais, conforme defende Dudziak (2002).

A adoção dessas práticas pedagógicas favoreceu a reflexão dos jovens acerca do fenômeno da desinformação, colocando-se enquanto sujeitos protagonistas neste cenário, tanto sob o ponto de vista da avaliação crítica e uso ético quanto do seu enfrentamento. Teoria e prática foram colocadas a serviço da autonomia e da coresponsabilidade dos estudantes para construção de ecossistemas informacionais e comunicacionais mais saudáveis.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os desafios relacionados ao tema da desinformação exigem esforços conjuntos para o enfrentamento do fenômeno e o desenvolvimento de competência em informação e em comunicação na Educação Básica e no Ensino Superior. Assim, as atividades realizadas com os estudantes do Ensino Fundamental, do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos de uma escola estadual de Salvador são parte do compromisso da universidade, via atividade de extensão, para se somar ao movimento de prevenção e enfrentamento ao caos informacional.

A partir dessa experiência empírica, vários aprendizados foram gerados. Sobre a etapa do planejamento, percebeu-se, por exemplo, que é preciso estabelecer outros contatos prévios com a turma de estudantes para criar um ambiente mais favorável a momentos imersivos. A timidez e a falta de conexão entre docentes e discentes, muitas vezes, podem interferir na participação do estudante na atividade.

Em relação ao aspecto pedagógico, identificou-se uma diferença significativa entre os resultados obtidos com as duas atividades. Na roda de conversa, o público era adolescente e muito numeroso para a atividade planejada. Já a oficina contou com a participação de um pequeno grupo de jovens a partir de 18 anos, que puderam se concentrar melhor na proposta formativa. A metodologia mais “mão na massa” da oficina também favoreceu a participação e o engajamento dos estudantes.

Outra reflexão da equipe de mediadores foi em relação à ação de extensão que, ao mesmo tempo em que inspira a investigar os fenômenos sociais, também desafia os envolvidos, tirando-os da zona de conforto da teoria para a prática, ao mesmo tempo em que se confirma a importância de se promover a educação em informação e a educação midiática.

Durante as atividades, constatou-se também os saberes dos participantes, acumulados a partir de experiências com conteúdos e vivências com os ambientes digitais. Os estudantes da Escola Estadual Presciliano Silva aceitaram o convite ao diálogo e à reflexão, compartilhando seus conhecimentos e práticas, a partir de seus olhares cotidianos para o fenômeno da desinformação.

Em um contexto de tantas vulnerabilidades e de poucas oportunidades formativas, não é simples falar em educação crítica. Contudo, a participação ativa dos estudantes durante as atividades demonstrou o quanto são potentes e necessários ouvir e estimular a expressão criativa e consciente dos adolescentes e jovens. Sem dúvida, tratou-se de uma experiência importante para plantar uma semente de criticidade entre os estudantes da escola pública e na equipe de mediadores.

REFERÊNCIAS

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ZAMITH, Fernando et al. O clickbait no ciberjornalismo português e brasileiro: o caso português. In: Ameaças ao ciberjornalismo. Porto, Portugal: Repositório Aberto, 2019. p. 21-47. Disponível em: https://repositorio-aberto.up.pt/handle. Acesso em: 28 out. 2024.

Quadro 1 – Aspectos que contribuem para a desinformação

Fonte: Baseado em Heller, Jacobi, Borges (2020, p. 196-197).

1

Mais informações sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estão disponíveis em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em: 28 out. 2024.

2

O bairro da Ribeira está localizado na cidade baixa de Salvador, na península de Itapagipe.

3

Também conhecido como caça-clique, o clickbait “conduz à desinformação, causa dúvidas sobre o conteúdo e induz em erro. (…) o clickbait é por vezes usado também pelos cibermeios jornalísticos e muito disseminado pelas redes sociais. O objetivo, ao utilizar esta fórmula, é aumentar os acessos ao conteúdo produzido e, assim, gerar mais receitas de publicidade” (Zamith et al, 2019, p. 23).

Figura 1 - Peça de comunicação voltada aos estudantes

Fonte: GEPICC (2023).

Figura 2 - Peça de comunicação voltada à divulgação da ação no Instagram

Fonte: GEPICC (2023).

Figura 3 - Peça de comunicação voltada à divulgação dos resultados da ação

Fonte: GEPICC (2023).

4

Transcrição da Figura 4:

- Tem certeza mano?

- Li nos jornais.

- Tem certeza?

- Não.

- Pode publicar.

- Susto.

Figura 44 - 1ª peça de comunicação elaborada pelos jovens

Fonte: Dados da pesquisa (2023).

5

Transcrição da Figura 5: A Fake News começa na escola.

Figura 55- 2ª peça de comunicação elaborada pelos jovens

Fonte: Dados da pesquisa (2023).

6

Transcrição da Figura 6: Hackers. É uma coisa que você deve ter muito cuidado. Exemplo: uma vez eu perdi uma conta com 10K (dez mil) de seguidores e eu fiquei bem triste. Diga não às Fake News! Cartão Vermelho!

Figura 66- 3ª peça de comunicação elaborada pelos jovens

Fonte: Dados da pesquisa (2023).

7

Transcrição da Figura 7: Escrevi meu vulgo na mídia! Fiz e farei previsão para o futuro. Atento sobre fakes obscuros. Não me fui! Essa história de novo? Cresço, cresço e cresço! Me fiz mal e muito bem. Aproveitarei para ajudar os outros.

Figura 7- 4ª peça de comunicação elaborada pelos jovens

Fonte: Dados da pesquisa (2023).

8

Transcrição da Figura 8: Instagram Facebook Notícia! Foi a óbito Samuray…

1 - Fake que eu morri todos acessaram e entristeceram.

2 - Samuray 157. Gente estou vivo! 1.000.000.000 views convertido em $1000,00. Aumentaram as visualizações e geraram recursos financeiros.

3 - Usei os recursos para acrescentar algo na vida de outras pessoas. Disk 100.

judar os outros.

Figura 88- 5ª peça de comunicação elaborada pelos jovens

Fonte: Dados da pesquisa (2023).