THE IMPORTANCE OF INTERCULTURALITY IN UNIVERSITY LIBRARIES: REFLECTIONS AND PERSPECTIVES

A IMPORTÂNCIA DA INTERCULTURALIDADE NAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS: REFLEXÕES E PERSPECTIVAS

Michele Marques Baptista

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4652-6038

Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Brasil. Coordenadora Administrativa e bibliotecária do Sistema de Bibliotecas da UCS, Brasil. Coordenadora do Arquivo Central da UCS, Brasil. Professora do Curso de Biblioteconomia da UCS, Brasil.

E-mail: mmbaptis@ucs.br

RESUMO: As bibliotecas universitárias desempenham um papel fundamental na promoção do diálogo intercultural, especialmente em um mundo cada vez mais globalizado. Este ensaio explora estratégias para aprimorar a interculturalidade nas bibliotecas universitárias, considerando o cenário atual. Para abraçar verdadeiramente a interculturalidade, é essencial que as bibliotecas adotem práticas que fomentem a interação entre indivíduos de diversas origens culturais. Pesquisas bibliográficas e descritivas revelaram que o compartilhamento e a valorização de diferentes valores culturais nutrem ambientes mais inclusivos. Ao reconhecer e valorizar a diversidade cultural no espaço da biblioteca, cria-se um terreno fértil para o intercâmbio de conhecimentos e experiências, promovendo a compreensão e o respeito mútuo. Essa abordagem não apenas reforça a riqueza da diversidade, mas também enriquece o ambiente da biblioteca, tornando-o propício à aprendizagem por meio do diálogo intercultural. Abraçar a interculturalidade nas bibliotecas universitárias não só aprimora a experiência acadêmica, mas também cultiva uma atmosfera de abertura e respeito por todos os indivíduos.

PALAVRAS-CHAVE: interculturalidade; biblioteca universitária; diversidade cultural; diálogo intercultural.

ABSTRACT: University libraries play a fundamental role in promoting intercultural dialogue, especially in an increasingly globalized world. This essay explores strategies to improve interculturality in university libraries, considering the current scenario. To truly embrace interculturality, it is essential that libraries adopt practices that foster interaction between individuals from diverse cultural backgrounds. Bibliographic and descriptive research revealed that sharing and valuing different cultural values foster more inclusive environments. By recognizing and valuing cultural diversity in the library space, a fertile ground is created for the exchange of knowledge and experiences, promoting understanding and mutual respect. This approach not only reinforces the richness of diversity, but also enriches the library environment, making it conducive to learning through intercultural dialogue. Embracing interculturality in university libraries not only enhances the academic experience, but also cultivates an atmosphere of openness and respect for all individuals.

Keywords: interculturality; academic library; cultural diversity; intercultural dialogue.

1 INTRODUÇÃO

A biblioteca desempenha um papel crucial na sociedade, preservando o patrimônio cultural e disponibilizando informações valiosas. No atual cenário, é essencial que as bibliotecas se adaptem, ampliando suas funções e buscando inovações que impactem positivamente a vida das pessoas.

O conceito de "interculturalidade" refere-se à promoção de interações entre pessoas de diversas culturas, fortalecendo a identidade social e valorizando as diferenças culturais. Portanto, as bibliotecas universitárias, ao reconhecerem e valorizarem essas diferenças, podem esforçar-se por construir uma coexistência harmoniosa e inclusiva, baseada em valores compartilhados de respeito, tolerância e igualdade. Criar espaços para aprender a lidar construtivamente com as diferenças culturais é crucial para promover uma sociedade diversificada e inclusiva. Isto exige um compromisso contínuo com o diálogo intercultural, a educação e o reforço dos valores fundamentais da democracia e da justiça social. Ao abraçar a diversidade e envolver-se em conversas significativas, as bibliotecas podem contribuir para uma comunidade global mais unida e equitativa, baseada no respeito mútuo e na empatia em seus espaços informacionais.

Implementar práticas interculturais nas bibliotecas universitárias é fundamental para promover a diversidade cultural e a inclusão. Isso envolve valorizar as diferentes culturas presentes na comunidade acadêmica, criando um espaço acolhedor e acessível a todos os estudantes. As bibliotecas podem fornecer materiais e recursos que representem de forma equitativa as diversas culturas, organizar eventos que incentivem o compartilhamento de conhecimento e capacitar os profissionais para atender às necessidades dos usuários de maneira inclusiva. Parcerias com instituições que trabalham pela diversidade também podem ampliar o impacto dessas iniciativas. Ao valorizar essa diversidade cultural no ambiente da biblioteca, cria-se um espaço mais inclusivo e propício ao diálogo intercultural, fortalecendo a compreensão mútua e o respeito pelas diferentes identidades culturais.

É importante entender que a diversidade cultural não surge de diferenças biológicas inerentes entre os grupos humanos, mas sim da adaptação e evolução das práticas e significados culturais em diferentes contextos ambientais e sociais. Em outras palavras, os seres humanos desenvolvem modos de fazer e significados distintos em resposta às condições específicas de seus ambientes e experiências históricas.

Após a pandemia, a desigualdade social e o acesso à informação confiável foram ainda mais acentuados. Candau (2016) destaca a importância de abordar as questões interculturais como um elemento essencial, uma ferramenta estratégica que contribui para fortalecer a coesão social, minimizar conflitos e facilitar a integração de grupos marginalizados na cultura dominante. Nesse sentido, as bibliotecas universitárias desempenham um papel fundamental, pois são essenciais para a disseminação de informações confiáveis. Portanto, essas instituições devem criar novos serviços, desenvolver coleções e garantir a acessibilidade a fontes de diversas culturas e idiomas. A autora ainda defende uma perspectiva intercultural na educação, reconhecendo o "outro" e promovendo o diálogo entre grupos socioculturais. O ensino da negociação cultural é importante devido às desigualdades de poder existentes na sociedade (Candau, 2008). Essa abordagem visa promover uma maior compreensão e respeito mútuo entre as diferentes culturas presentes no ambiente universitário, contribuindo para a construção de uma comunidade mais inclusiva e equitativa.

Algumas questões importantes a serem abordadas incluem: como reestruturar as bibliotecas universitárias de forma mais inclusiva após a pandemia? Como a desigualdade social afeta a diversidade cultural? De que maneira as bibliotecas podem incorporar verdadeiramente uma abordagem intercultural?

Além disso, este texto busca identificar temas que contribuam para a literatura sobre interculturalidade em bibliotecas universitárias, visando promover um ambiente mais acolhedor e equitativo para toda a comunidade acadêmica.

2 DESENVOLVIMENTO

Esta seção ressalta a importância da perspectiva intercultural em bibliotecas universitárias, sugerindo práticas reflexivas como diálogo e promoção do entendimento mútuo para fortalecer a competência intercultural dos profissionais da informação. Argumenta que a visão intercultural pode ser uma ferramenta para promover igualdade e inclusão na biblioteca universitária, criando um ambiente mais acolhedor e representativo da diversidade na instituição de ensino superior. Por fim, destaca a necessidade de repensar abordagens tradicionais da biblioteconomia, adotando uma perspectiva mais inclusiva e sensível às especificidades culturais dos diferentes públicos atendidos pela biblioteca universitária.

2.1 DESAFIOS E OPORTUNIDADES DA INTERCULTURALIDADE EM BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS

No século XXI, as bibliotecas universitárias desempenham um papel fundamental na promoção da educação intercultural. A natureza intercultural dessas instituições se manifesta em diversos aspectos, como acervos multilíngues, representação de diferentes grupos étnicos, atendimento a usuários de diversas origens e a realização de projetos culturais.

Segundo Sant'Anna (2018), ao longo da história, o conceito de biblioteca evoluiu, divergindo significativamente da compreensão atual. As bibliotecas adaptaram-se constantemente para atender a ideologias e sistemas dominantes, mas, apesar dessas transformações, uma constante permanece: a biblioteca sempre existiu para servir a sociedade.

Enquanto instituição de apoio, a biblioteca oferece recursos, suporte, consolo e soluções, desempenhando um papel transformador na comunidade. Nesse contexto, as bibliotecas universitárias têm um papel fundamental ao fomentar a educação intercultural, contribuindo para a compreensão mútua entre culturas, a valorização da diversidade e a promoção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Dessa forma, as bibliotecas acadêmicas devem manter-se comprometidas em criar espaços que permitam o diálogo e a troca de conhecimentos entre indivíduos de diferentes origens culturais, fortalecendo os laços sociais e a coesão comunitária. Essa abordagem intercultural é essencial para que as bibliotecas universitárias sejam capazes de atender às necessidades diversas de sua comunidade, promovendo uma educação mais inclusiva e enriquecedora para todos.

O conceito de interculturalidade em bibliotecas não é novo. Estudos recentes destacam a existência de "Bibliotecas Interculturais" como espaços promotores do diálogo entre culturas. Segundo Oliveira (2011), o prefixo "inter" implica reciprocidade, e a interculturalidade refere-se ao confronto, ao entrelaçamento e ao que acontece quando indivíduos e grupos entram em contato, envolvendo negociação, conflito e trocas recíprocas. Ela permite mobilizar recursos interculturais para construir alternativas.

Adotar uma abordagem intercultural nas bibliotecas universitárias pressupõe um diálogo cultural e social, uma vez que envolve interações entre pessoas de origens e contextos diversos. No entanto, esse processo pode ser desafiado por diferenças culturais. Pozzer e Pozzer (2022) afirmam que o diálogo intercultural cria espaços pacíficos e combate as desigualdades históricas. Outrossim, Ferreira (2012) enfatiza o papel da interculturalidade no desenvolvimento de uma sociedade global, promovendo a comunicação e o compartilhamento de experiências. Dessa forma, as bibliotecas universitárias que adotam uma abordagem intercultural tornam-se espaços fundamentais para a promoção do entendimento mútuo, a valorização da diversidade e a construção de uma comunidade acadêmica mais inclusiva. Ao fomentar o diálogo intercultural, essas instituições contribuem para a superação de barreiras culturais, fortalecendo os laços sociais e criando oportunidades de aprendizado e crescimento conjunto para toda a comunidade.

Para praticar a interculturalidade, as bibliotecas oferecem recursos informativos e oportunidades de diálogo intercultural. O engajamento dialógico entre culturas supera métodos fragmentados de conhecimento (Schnorr, 2019). Munsberg e Silva (2018) destacam a importância de estabelecer relações entre as diferenças culturais.

Tradicionalmente, as bibliotecas são vistas como locais de encontro cultural, construídas com base em sua diversificada coleção de livros e documentos que refletem a vasta diversidade cultural e do pensamento humano ao longo da história (Furtado; Oliveira, 2012). Além de serem centros de conhecimento, as bibliotecas também pretendem ser espaços onde indivíduos de diferentes culturas possam se reunir para compartilhar a riqueza de ideias e experiências.

Segundo o relatório mundial da UNESCO (ONU, 2009), a diversidade cultural é, acima de tudo, um fato. Existe uma gama de culturas que podem ser rapidamente distinguidas através de observações etnográficas, mesmo que as fronteiras que definem uma determinada cultura sejam mais difíceis de identificar do que podem parecer inicialmente. A consciência dessa diversidade parece estar se tornando mais comum, graças à globalização e ao aumento da receptividade mútua das sociedades. Embora essa maior sensibilização não garanta a preservação da diversidade cultural, ela tem ajudado a chamar a atenção para a importância dessa questão. Nesse contexto, as bibliotecas universitárias desempenham um papel fundamental ao cultivarem um ambiente propício ao diálogo intercultural, promovendo a compreensão mútua, a valorização das diferenças e a construção de uma comunidade acadêmica verdadeiramente inclusiva.

A abordagem intercultural reconhece as especificidades culturais e integra as diferenças (Ramos; Nogueira; Franco, 2020). As bibliotecas universitárias são espaços cruciais para o acesso ao conhecimento, a redução das desigualdades e a melhoria da qualidade de vida. Elas permitem "estabelecer novas formas de relações e convivência" (Munsberg; Silva, 2018).

Mesmo para aqueles que têm acesso aos meios de comunicação digitais e bibliotecas, ainda existem desafios relacionados à representação e à interpretação da diversidade cultural. Muitas vezes, as narrativas e representações culturais nos meios de comunicação são filtradas por lentes culturais dominantes ou estereotipadas, o que pode distorcer a compreensão da verdadeira complexidade e dinâmica das diferentes culturas. Nesse sentido, a biblioteca universitária desempenha um papel fundamental ao fortalecer as conexões sociais por meio da descolonização do conhecimento. Ela facilita interações significativas e se torna um espaço de encontros interculturais. O processo de descolonização do conhecimento nas bibliotecas ajuda a eliminar preconceitos e a promover o diálogo entre diversas comunidades (Ramos; Nogueira; Franco, 2020).

Desenvolver a interculturalidade em bibliotecas universitárias está intimamente relacionada a um conjunto de habilidades essenciais, tais como:

a) Conhecimento sobre o outro: compreender e valorizar as diferentes culturas presentes na comunidade;

b) Autocognição: ter consciência de sua própria identidade cultural e como ela influencia suas perspectivas;

c) Habilidades de interpretação e relacionamento: ser capaz de interpretar e se relacionar de forma respeitosa com pessoas de diferentes origens culturais;

d Habilidades de comunicação: desenvolver uma comunicação eficaz, sensível às nuances culturais;

e) Apreciação de valores e comportamentos diferentes: demonstrar abertura e valorização pelas diversas práticas e sistemas de crenças;

f) Conhecimento de diversas culturas: buscar compreender e se familiarizar com a riqueza das diferentes tradições culturais;

g) Respeito mútuo: cultivar uma atitude de respeito, tolerância e valorização da diversidade cultural.

Ao desenvolver esse conjunto de habilidades, as bibliotecas universitárias podem criar ambientes verdadeiramente acolhedores e inclusivos, que fomentem o diálogo intercultural e a troca de conhecimentos entre pessoas de distintas origens culturais.

A educação intercultural é um processo contínuo e abrangente que vai muito além dos muros das bibliotecas, envolvendo toda a sociedade. Essa abordagem promove a igualdade de oportunidades, combate ao racismo e a valorização da diversidade étnica e cultural, aspectos fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Ao adotar uma perspectiva intercultural, a educação promove a autonomia dos indivíduos, a participação ativa, o diálogo intercultural e a quebra de estereótipos e preconceitos. Nesse contexto, as bibliotecas universitárias desempenham um papel crucial ao estabelecerem ambientes que estimulem a valorização das múltiplas culturas presentes na sociedade brasileira.

2.1.1 Desenvolvendo competência intercultural por meio de práticas reflexivas

A competência intercultural demanda práticas reflexivas, nas quais o pensamento ponderado e a reflexão crítica são cruciais para o crescimento pessoal. A reflexão crítica é uma atividade interna que se exterioriza por meio do diálogo, permitindo uma compreensão mais imparcial e profunda dos outros, fortalecendo nossa visão crítica sobre eles.

Uma biblioteca universitária desempenha um papel fundamental na preservação criativa e dinâmica da língua, da memória literária e do patrimônio cultural. Além disso, ela fomenta o intercâmbio intercultural entre os usuários de uma comunidade linguística específica. Esse intercâmbio promove a troca de perspectivas, o aprendizado mútuo e o enriquecimento cultural.

É essencial considerar as diferenças entre abordagens pedagógicas como a Pedagogia do Oprimido e a Pedagogia Intercultural. Segundo Mota Neto e Streck (2019, p. 215), a Pedagogia do Oprimido rompe com as práticas educacionais colonizadoras por diversos motivos, pois

[...] define as classes populares como sujeitos da história, da educação e da investigação, superando a dicotomia sujeito e objeto; valoriza a sabedoria popular e a história local, oferecendo possibilidades de construir conhecimento a partir de cosmovisões ancestrais, anteriores ao processo colonizador; empodera as classes e os grupos populares, devido ao seu viés conscientizador e mobilizador; engendra um diálogo intercultural que viabiliza a restauração da humanidade dos sujeitos e do mundo; enfatiza a participação cidadã e democrática, criando uma fissura na cultura do silêncio e na colonialidade do poder (Mota Neto; Streck, 2019, p. 215)

Ao analisar a colonialidade do poder, podemos adotar uma abordagem abrangente que aborda as questões estruturais relacionadas ao poder e suas interações com o discurso e a prática, perpetuando a opressão enfrentada por grupos específicos. Essa opressão é entendida como um conjunto de condições sociais que sistematicamente desfavorecem os membros de um grupo em relação a outro. Nesse contexto, os legados coloniais reforçam a opressão enfrentada pelos indivíduos com base em raça, gênero ou status socioeconômico, demonstrando a necessidade de se repensar as estruturas e práticas das bibliotecas universitárias, de modo a combater essas dinâmicas de poder e opressão. Adotar uma abordagem intercultural implica em reconhecer e valorizar a diversidade cultural, promovendo a inclusão e o diálogo entre diferentes grupos. Isso envolve não apenas a composição da coleção e dos serviços oferecidos, mas também a própria organização e as políticas da biblioteca, buscando alinhá-las aos princípios da equidade e da justiça social.

A Pedagogia Intercultural oferece métodos e competências valiosos, particularmente em áreas como literatura, liberdade de expressão e comunicação educacional. Essas competências são essenciais para uma relação educacional genuína na biblioteca, como assistência com referências ou orientação para serviços por meio de entrevistas ou instruções. Dessa forma, ao adotar uma abordagem intercultural, as bibliotecas universitárias podem incorporar esses princípios pedagógicos em suas práticas cotidianas. Isso significa ir além da simples disponibilização de recursos e coleções diversificadas, e buscar ativamente desenvolver habilidades de comunicação intercultural entre os bibliotecários e os usuários.

Nesse sentido, a Pedagogia Intercultural "enfatiza a importância do diálogo, da empatia e do respeito mútuo nas interações" (Silva; Fleuri, 2016, p. 25). Os bibliotecários precisam estar atentos às diferenças culturais, linguísticas e de background de seus usuários, e adaptar suas abordagens de modo a facilitar a compreensão e a conexão. Isso pode envolver, por exemplo, o uso de linguagem clara e acessível, a oferta de serviços de tradução e interpretação, e a promoção de atividades que estimulem o compartilhamento de experiências entre indivíduos de diferentes origens.

Nas bibliotecas universitárias, a abordagem intercultural alinha-se com os requisitos da segurança cultural, pois considera questões organizacionais e sistêmicas, evitando armadilhas de alteridade. Ela se posiciona como um modelo reflexivo que critica pontos de referência a partir de uma perspectiva não discriminatória em políticas públicas recentes focadas em igualdade, diversidade e inclusão. Essas políticas adotaram um modelo de biblioteca intercultural e a criação de espaços de interação. As discussões nesses novos espaços baseiam-se na prática reflexiva e em princípios interculturais, compensando assim como os serviços, produtos, espaços e coleções nas bibliotecas universitárias reproduzem formas sociais e culturais sistemáticas.

2.1.1.1 A visão intercultural como ferramenta para a promoção da igualdade na biblioteca universitária

A biblioteca universitária desempenha um papel fundamental na fomentação da comunicação e interação entre culturas. Sua missão inclui a preservação da diversidade cultural e a promoção de tradições nacionais. Uma abordagem abrangente deve considerar aspectos sociológicos, filosóficos e culturais, reconhecendo a biblioteca como um espaço de engajamento intercultural. Essa reorganização promoverá indivíduos intelectual e culturalmente esclarecidos, capazes de resolver conflitos por meio do diálogo e da cooperação.

Segundo Targino (2020), as atividades culturais nas bibliotecas universitárias visam democratizar o acesso à leitura como ferramenta de progresso social, reduzindo desigualdades. O envolvimento cultural estimula a criatividade e a alfabetização informacional, despertando sentimentos de pertencimento, prazer e flexibilidade nos usuários. Nesse contexto, a biblioteca se torna um espaço intercultural que abriga interações, reflexões e participação, fomentando experiências transculturais críticas. Os bibliotecários devem promover a alfabetização do conhecimento e contribuir para os domínios socioculturais.

Essa abordagem exige uma avaliação do impacto da participação dos usuários e dos níveis de envolvimento da comunidade. Pesquisas futuras podem explorar as funções dos sistemas interativos nas bibliotecas universitárias, transformando-as em ambientes produtivos para o aprendizado sobre diferentes culturas. Isso contribui diretamente para a promoção da educação multicultural global. Como afirma Walsh (2012, p. 61, tradução nossa),

A interculturalidade tornou-se um tema da moda. E embora se possa argumentar que esse interesse é feliz pelo que sugere em termos de consciência e reconhecimento da diversidade cultural, também é lamentável por muitas vezes reduzir a interculturalidade a pouco mais do que um novo multiculturalismo, subtraindo-o assim de qualquer crítica, política, sentido construtivo e transformador.

Para uma comunicação culturalmente competente, é essencial analisar criticamente os valores, normas e tradições culturais. Como afirmam Rasteli e Cavalcante (2014), a comunicação é influenciada pela cultura, que produz sentidos e significados nas experiências dos usuários. Nesse contexto, os bibliotecários devem estar atentos à diversidade cultural presente na comunidade acadêmica e adotar uma postura de respeito e valorização das diferentes manifestações culturais. Isso implica em compreender como os padrões culturais moldam as expectativas, as necessidades informacionais e os hábitos de busca e uso da informação pelos usuários. Por exemplo, algumas culturas podem valorizar mais a transmissão oral do conhecimento, enquanto outras priorizam a informação escrita. Alguns grupos podem ter maior dificuldade em acessar e utilizar sistemas de informação digitais, devido a barreiras linguísticas ou de letramento digital. Reconhecer essas diferenças culturais é fundamental para que os serviços da biblioteca sejam realmente inclusivos e atendam de forma eficaz a toda a comunidade.

Além disso, a comunicação intercultural requer habilidades específicas, como a capacidade de se expressar de maneira clara e adaptada aos diferentes níveis de compreensão, de escutar atentamente as necessidades dos usuários e de mediar possíveis conflitos culturais. Somente assim, a biblioteca conseguirá estabelecer um diálogo frutífero e promover a troca de conhecimentos entre indivíduos de diversas origens.

Compreender a cultura dos usuários é fundamental para combater preconceitos em bibliotecas. Isso pode ser feito por meio de mediações culturais, leituras, exibições de filmes e diálogos. Esse processo envolve a construção conjunta de significados, que podem se tornar conhecimento valioso (Rasteli; Cavalcante, 2014). Além disso, a própria composição do acervo e a forma como os materiais são classificados e dispostos na biblioteca podem enviar importantes mensagens sobre a valorização da diversidade. Ao garantir a representatividade de diferentes culturas e minorias nos itens bibliográficos, a biblioteca sinaliza seu compromisso com a inclusão e a equidade.

Portanto, a adoção de uma abordagem intercultural nas bibliotecas universitárias vai muito além da simples oferta de recursos. Trata-se de promover uma verdadeira transformação cultural, na qual a diversidade deixa de ser vista como um desafio e passa a ser reconhecida como uma riqueza a ser preservada e compartilhada.

Segundo Furtado e Oliveira (2012), as bibliotecas têm um papel crucial na promoção do desenvolvimento criativo, preservando o patrimônio linguístico-cultural e a memória literária. Elas também fomentam a compreensão intercultural por meio de atividades educativas. Assim, a biblioteca como espaço de encontro promove a reflexão sobre planejamento estratégico, ética profissional e acessibilidade. Nesse sentido, as bibliotecas interculturais surgem como uma resposta aos desafios sociais, criando capital social por meio da promoção de relações interpessoais.

As bibliotecas universitárias podem ser caracterizadas como espaços de interações significativas entre diferentes culturas, etnias, línguas e níveis socioeconômicos. O foco deve estar na compreensão mútua e em objetivos compartilhados, em vez de na identidade. Adotar uma atitude positiva é crucial para aprender sobre outras culturas. As bibliotecas podem criar espaços onde os usuários compartilham imagens e materiais sobre suas culturas, promovendo a diversidade e a inclusão. Como afirma Porto (2019), incentivar e resguardar a linguagem, a memória literária e a herança cultural com uma perspectiva inclusiva das minorias é uma abordagem vital para promover a diversidade e a coesão social em uma sociedade.

Isso envolve reconhecer e valorizar as contribuições culturais de todos os grupos, independentemente de sua posição dominante ou minoritária na sociedade. Ao preservar e promover as expressões culturais das minorias, seja por meio da língua, da literatura ou de outras formas de patrimônio cultural, as comunidades têm a oportunidade de ampliar suas perspectivas e enriquecer seu entendimento do mundo. Isso não apenas fortalece a identidade cultural das minorias, mas também permite que a comunidade em geral tenha acesso a novas formas de conhecimento, arte e experiência.

Ao visitar este espaço, o usuário compartilha seu patrimônio cultural e conhece outras culturas. Isso promove socialização e integração, tornando a biblioteca um centro de intercâmbio intercultural que incentiva a expressão, a tolerância e o respeito mútuo. As bibliotecas universitárias podem implementar diversas práticas interculturais, tais como:

a) Fornecer kits de leitura para aprendizado de idiomas;

b) Oferecer coleções de livros em vários idiomas para manter laços culturais e promover consciência cultural;

c) Organizar grupos de leitura e contação de histórias em diferentes idiomas;

d) Criar grupos para utilizar textos literários em atividades orais e conversacionais;

e) Promover interação intercultural por meio de videochamadas;

f) Traduzir materiais informativos;

g) Compartilhar informações multilíngues em plataformas como o YouTube;

h) Capacitar pessoas em aspectos culturais e sociais para compreensão de normas éticas e valores culturais;

i) Oferecer materiais adaptados e conteúdo em linguagem simples para aquisição de habilidades linguísticas;

j) Fornecer treinamento em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) para pesquisa na internet;

k) Comunicar e conscientizar sobre a importância da interculturalidade por meio de estratégias e iniciativas educacionais.

Além disso, as bibliotecas universitárias devem desenvolver estratégias e serviços considerando as práticas interculturais, tais como:

a) Compreender conceitos interculturais e barreiras culturais, sociais e linguísticas;

b)Analisar a comunidade para entender sua cultura e diversidade;

c) Basear o atendimento ao cliente nas necessidades dos usuários, coletando informações e realizando pesquisas;

d) Elaborar políticas e estratégias de serviços, promovendo acesso a recursos legais e programas educativos;

e) Colaborar com outras bibliotecas e organizações culturais para construir redes de serviços multiculturais.

Ter sensibilidade cultural e a capacidade de ver o mundo a partir da perspectiva dos outros são essenciais para a oferta de serviços e de práticas interculturais nas bibliotecas. Em uma sociedade intercultural, as bibliotecas podem desempenhar um papel vital na construção de novas ligações sociais e culturais entre os indivíduos, complementando relações que foram enfraquecidas devido a estruturas sociais coesas e fragmentadas. Ao mesmo tempo, elas aproveitam os benefícios resultantes gerados por esse capital social.

Ao decidir quais línguas cobrir e que tipos de recursos incluir (livros de ficção e não-ficção, revistas, jornais, DVDs, CDs de música, recursos da Internet, etc.), as bibliotecas devem primeiro considerar as necessidades da sua comunidade. Muitas implementam projetos e atividades específicas para a educação intercultural e o combate ao racismo. Depois de construir uma coleção que reflita diversas identidades culturais, é importante implementar um programa intercultural que envolva objetivos, processos e atividades fáceis de seguir, como orientação ao usuário no uso desses materiais.

A prática reflexiva permite uma melhor operacionalização, um aspecto fundamental necessário para a implementação eficaz em um ambiente centrado nas nuances culturais disponíveis através da interculturalidade. Essa abordagem busca gerar espaços amigáveis às comunidades diversas e contribuir nos processos educativos. Para isso, entender a comunicação intercultural requer o compartilhamento de informações entre grupos sociais e culturais diversos, que abrangem pessoas com diferentes origens religiosas, educacionais, étnicas e socioeconômicas. É importante compreender as diferenças na maneira como indivíduos de culturas distintas se comunicam e percebem o mundo ao seu redor.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As bibliotecas universitárias são cruciais para o intercâmbio cultural e informacional. Uma abordagem holística, considerando aspectos sociológicos, filosóficos e culturais, é essencial para cumprir essa função. As bibliotecas não são apenas repositórios de livros, mas meios de conectar manifestações culturais e promover identidades regionais. Assim, elas se tornam centros de conhecimento e intercâmbio cultural, contribuindo para sociedades diversas e enriquecidas. Adaptar a organização desses espaços com base em princípios inclusivos pode impactar significativamente o desenvolvimento intelectual e cultural dos indivíduos.

Em um mundo globalizado e diante dos desafios da pandemia, as bibliotecas universitárias precisam se adaptar e se tornar mais inclusivas e interculturais. Isso envolve investir em treinamento de bibliotecários, promover parcerias internacionais, fornecer recursos e materiais de diversas culturas e línguas, além de criar espaços físicos e virtuais que estimulem a diversidade de pensamento. Ao fazer isso, as bibliotecas desempenham um papel vital na promoção da interculturalidade, aprimorando a experiência acadêmica dos alunos.

Portanto, este ensaio destaca a importância das bibliotecas universitárias no desenvolvimento de comunidades globais e na promoção da compreensão intercultural. Ao reconhecer as bibliotecas como centros de conhecimento, o texto ressalta a sua capacidade de fomentar interações entre culturas e promover a compreensão mútua. As bibliotecas universitárias, por estarem inseridas em um contexto acadêmico diversificado, desempenham um papel essencial na construção de espaços de diálogo e troca de experiências entre indivíduos de diferentes origens. Elas se configuram como locais privilegiados para a promoção da interculturalidade, uma vez que reúnem estudantes, professores e funcionários que carregam consigo uma pluralidade de referências culturais.

Nesse sentido, as bibliotecas podem atuar como facilitadoras desse processo de interação cultural, oferecendo atividades, serviços e recursos que valorizem a diversidade e fomentem o entendimento mútuo. Isso pode envolver desde a composição de acervos representativos de múltiplas perspectivas, até a organização de eventos que estimulem o compartilhamento de conhecimentos e a desconstrução de estereótipos.

Ao assumir esse compromisso com a interculturalidade, as bibliotecas universitárias contribuem para a formação de cidadãos cada vez mais preparados para atuar em um mundo globalizado e interdependente. Elas se tornam espaços promotores de diálogo, respeito e equidade, fortalecendo seu papel como instituições essenciais para o desenvolvimento de comunidades mais inclusivas e solidárias.

Portanto, este ensaio destaca que as bibliotecas universitárias, ao reconhecerem sua função como centros de conhecimento, têm a oportunidade e a responsabilidade de se posicionar como agentes ativos na construção de uma sociedade mais intercultural, em que as diferenças culturais sejam valorizadas e integradas de forma harmoniosa.

Identificar práticas recomendadas de engajamento e métodos eficazes para a comunicação intercultural é crucial para que as bibliotecas possam desempenhar esse papel de forma eficaz. Isso envolve não apenas a disponibilização de recursos e materiais de diversas culturas, mas também a criação de espaços físicos e virtuais que estimulem o diálogo e a troca de ideias entre os membros da comunidade acadêmica.

A expansão do acervo e sua acessibilidade a todos os interessados demonstram o compromisso das bibliotecas universitárias em promover a diversidade cultural e o compartilhamento global de conhecimento. Isso não apenas enriquece a experiência acadêmica dos estudantes, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais inclusiva e interconectada. Dessa forma, ao entender e valorizar o papel das bibliotecas universitárias como facilitadoras do diálogo intercultural e do intercâmbio de conhecimento, pode-se promover uma maior compreensão e respeito pela diversidade cultural em escala global. Essas instituições desempenham um papel vital na promoção da cooperação e colaboração entre diferentes culturas, contribuindo para o desenvolvimento de comunidades mais tolerantes e solidárias.

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