Desafios das comissões de heteroidentificação na Universidade Federal de São Paulo

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Edna Martins
Marina Pereira de Almeida Mello
Fábia Barbosa Ribeiro

Resumo

No Brasil, com a crescente demanda de denúncias de fraudes ocorridas nos últimos anos no sistema de cotas raciais, fruto das ações afirmativas, muitas universidades iniciaram a implantação de comissões de heteroidentificação em seus processos seletivos. Nesse sentido, o presente artigo objetiva apresentar alguns dos caminhos, desafios e desdobramentos referentes à organização e implementação das Bancas de heteroidentificação no Sistema de Seleção de ingresso de estudantes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Conclui-se, a partir dessa experiência, que tais procedimentos institucionais tendem a se mostrar indispensáveis nos processos de seleção, na medida em que buscam garantir o direito de ingresso de negros (pretos e pardos) e indígenas nas universidades públicas brasileiras.

Detalhes do artigo

Seção
Número Temático: Avaliação educacional: desafios e perspectivas no cenário nacional e internacional
Biografia do Autor

Edna Martins, Universidade Federal de São Paulo - Unifesp

Psicóloga, Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora Associada do Departamento de Educação e do Programa de Pós-graduação em Educação da Unifesp. Desenvolve pesquisas no campo da Psicologia da Educação, nos temas: Formação de professores, Práticas educativas, Família, Inclusão escolar e Relações étnico-raciais. Membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Unifesp.

Marina Pereira de Almeida Mello, Universidade Federal de São Paulo - Unifesp

Doutora em Antropologia Social, mestre, bacharel e licenciada em História pela Universidade de São Paulo (USP). Pós-doutorado concluído em Pós-colonialismos e Cidadania Global  pelo CES/UC - Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. É professora adjunta da UNIFESP. Desenvolve pesquisas no campo da educação para as relações étnico-raciais (e suas intersecções com gênero, raça, classe, nacionalidade, sexualidades e geração), aspectos e perspectivas para uma educação decolonial e justiça cognitiva. É membro do NEAB/UNIFESP (Núcleo de Estudos Afro Brasileiros da Unifesp).

 

Fábia Barbosa Ribeiro, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB)

Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (2010); mestre em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP (2003) e graduada em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP (1998). Atualmente é professora adjunta da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB), campus dos Malês/BA. No âmbito da pós-graduação integra o corpo docente do Programa de Mestrado Profissional em Ensino de História PROFHISTÓRIA da UNIFESP, do Programa de Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnicos-Raciais (PPGER) da UFSB e do Programme de Doctorat Unique ès-Lettres de la Faculté des Lettres et Sciences Humaines de l'Université Cheikh Anta Diop, Dakar-Senegal. Possui experiência no Ensino Superior atuando principalmente junto aos seguintes temas: História da África, diáspora africana nas Américas, ensino de História da África e cultura-afro-brasileira.

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