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Imperialismo y dependencia (1978) de que até o século XIX prevalece um regime de
transição ao modo de produção capitalista, posição similar a que desenvolve sobre
o socialismo, visto como uma formação intermediária, e não como parte do modo
de produção comunista (DOS SANTOS, 2000). Dos Santos reivindica o conceito de
revolução científico-técnica e de ciclos de Kondratiev, aceitando ainda o de ciclos sis-
têmicos formulados por Giovanni Arrighi. Para o autor, a revolução científico-técnica,
conceito que incorpora de Radovan Richta (1971 [1969]), representa uma nova estru-
tura de forças produtivas que abre uma era revolucionária e coloca o capitalismo na
defensiva. A revolução científico-técnica teria se iniciado no pós-guerra, em setores
mais avançados da economia mundial, e alcançado uma segunda etapa a partir dos
anos 1970 com o paradigma microeletrônico, impulsionando o processo de automa-
ção com a substituição crescente do trabalho físico pela aplicação da tecnologia e da
ciência à produção. Embora proponha o caminho fecundo das conexões analíticas
entre a revolução científico-técnica, os ciclos sistêmicos e os Kondratievs, o autor não
as estabelece. Analisa o neoliberalismo como uma ideologia da fase B do Kondratiev,
estabelecida entre 1967-1993, e sua continuidade sobre a fase A do Kondratiev que
emerge em 1994, um resultado do terrorismo ideológico que exerceu sobre a social-
democracia, e não um efeito das distorções produzidas pelos ciclos sistêmicos ou pelo
avanço da revolução científico-técnica, movimentos de duração mais longa e que con-
diciona os menores (DOS SANTOS, 1993, 2000 e 2004)
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. Todavia, o autor constata a
expansão do capital financeiro, afirma que as vacilações da socialdemocracia abrem
o espaço para uma ofensiva fascista, e indica que a crise de hegemonia dos Estados
Unidos, que aponta desde os anos 1970, em Imperialismo y dependencia (1978), daria
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Em Economia mundial, integração regional e desenvolvimento sustentável (1993), sob inuência
da Eco-92, no Brasil, eotonio Dos Santos arma que “Reagan, atcher e Bush deverão desa-
parecer do mapa mundial com seu autoritarismo, seu sectarismo, seus particularismos e sua es-
treiteza. O mundo necessita de uma nova liderança mais aberta, mais global e mais planetária [...]
A forma imperialista da economia mundial ainda presente na lei do desenvolvimento desigual e
combinado da economia mundial capitalista entra em grave e denitiva crise. Nos próximos de-
cênios, essa forma econômica terá que ceder pelo menos em parte, o seu lugar a uma nova visão
global da gestão planetária baseada na coexistência de regimes econômicos, sociais, políticos e
sobretudo culturais diversos e até antagônicos (DOS SANTOS 1993, p. 13-39)” . Em A teoria da
dependência: balanço e perspectivas (2000) assinala que “um retorno ao crescimento econômico
que ocorre desde então nos Estados Unidos – 1994 (CEM) – e mais recentemente na Europa
criou um contexto político internacional mais favorável, uma rearticulação das forças interessa-
das em resolver os grandes problemas da miséria, analfabetismo, condições de vida extremamen-
te desfavoráveis das grandes maiorias populacionais do mundo (DOS SANTOS, 2000, p. 111.)
Em Do Terror à esperança: auge e declínio do neoliberalismo (2004) aponta que “ A debilidade da
social-democracia europeia e do liberalismo norte-americano associada às mais variadas formas
de populismo de centro-esquerda na América Latina, na África e em parte na Ásia não tem que
ver necessariamente com a profundidade da onda sociopolítica que as recolocou no poder na
segunda metade dos anos 1990. Como veremos, a imposição do pensamento único teve o caráter
de um terrorismo ideológico colossal [...]. A chamada “onda rosa” foi vítima desta situação ideo-
lógica e os governos que gerou caram limitados em suas políticas econômicas tentando conciliar
uma política econômica neoliberal (a única cientíca, isto é, aceitação do pensamento único) e
uma política social propositalmente socialista” (DOS SANTOS, 2004, p. 204-5).