111
ARTIGOS
Reoriente • vol.1, n.1 jan/jun 2021
Como isso muda anualmente, refletindo o esgotamento da riqueza associada às
indústrias extrativas? As cinco principais categorias nas quais a produção anual deve
ser ajustada para baixo são: 1) consumo de capital fixo na forma de depreciação de
desgaste (14,3% da RNB da África do Sul); 2) danos de CO
2
(4,6%); 3) esgotamento
mineral (1,1%); 4) esgotamento energético (0,7%); e 5) poluição do ar (0,4%) (BAN
CO MUNDIAL, 2017). O (controverso) ajuste ascendente dos gastos com educação é
de 6% da RNB, embora se possa facilmente argumentar que a escolaridade sul-africa-
na emperre por desvantagens estruturais (SPAULL, 2013). O resultado é um PLA total
de 1,5% da RNB, e não os 16,8% considerados poupança bruta anual.
O informe das contas de capital fornecido pelo Banco Mundial (2017) permite
maior contemplação da destruição da economia natural da África do Sul. Essas contas
ainda não são suficientemente consistentes para comparar longos períodos de tempo,
de modo a possibilitar avaliar o processo de depleção. Mas elas permitem uma maior
decomposição do que é “natureza” preexistente (embora após vários séculos de inter-
venções coloniais) e do que a sociedade deve fazer esforços especiais para preservar.
Existem, por exemplo, quase 300 “espécies ameaçadas”, incluindo 116 plantas supe-
riores, 107 peixes, 46 aves e 26 mamíferos. A economia natural do pulmão humano
também está ameaçada, com 100% da população com exposição a partículas PM2,5,
índice superior aos níveis das diretrizes da Organização Mundial da Saúde; as taxas
de mortalidade de menores de 5 anos são mais que o dobro da média dos países pares
(de renda média alta). A economia natural hidrológica de água doce da África do Sul
tem sofrido uma retirada maciça, dez vezes mais do que outras economias africanas e
mais de cinco vezes a taxa de economias de pares de renda média alta. E o capitalismo
sul-africano utiliza muito mais em todas as categorias de energia além da hidroelétri-
ca, que outras economias africanas e de renda média alta.
A maior destruição vem na forma de emissões equivalentes de CO2, que são onze
vezes maiores para um sul-africano “médio” (aquela construção mítica), do que as 0,8
toneladas em média da África Subsaariana. Durante o período de 2015-2019, o bume-
rangue da destruição ecológica causada pelo abuso de combustíveis fósseis tornou-se
evidente com várias secas debilitantes, ciclones e enchentes atribuídas às emissões de
gases de efeito estufa. Na Cidade do Cabo, em 2017-2018, a restrição de fornecimento
de água do “Dia Zero” da cidade foi quase violada, enquanto em 2019, Durban e arre-
dores sofreram uma “bomba de chuva” de 150 mm em um dia que matou 71 pessoas.
Malauí, Moçambique e Zimbábue sofreram dois ciclones em março-abril de 2019, com
pelo menos mil pessoas mortas, e as secas no cinturão agrícola da África do Sul, es-
pecialmente em Karoo, Cabo Oriental e Cabo do Norte, causaram fome generalizada.
Ali e em toda parte, a soberania alimentar da África do Sul também é ameaçada
pela exploração agroindustrial maciça, que inflaciona artificialmente os preços e dimi-
nui a qualidade. O setor é dominado por grandes agricultores comerciais, inclusive por
um punhado de gigantes corporativos que impulsionam a disponibilidade, o preço, a
qualidade, a segurança e o valor nutricional dos alimentos consumidos por todos os
sul-africanos. Esse monopólio é regularmente abusivo; por exemplo, grandes produto-
res de moagem e panificação foram considerados culpados de fixar o preço do pão, do
trigo e do milho por meio de cartéis. As investigações da Comissão de Concorrência
também concluíram que as indústrias leiteira e pesqueira eram culpadas de fixação