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ARTIGOS
Reoriente • vol.1, n.1 jan/jun 2021
um grande número de artigos sobre os assuntos mundiais, o capitalismo contemporâ-
neo, o marxismo, o socialismo, o problema da dívida externa, as empresas transnacio-
nais e o Brasil. Algumas das pesquisas que iniciou no México só foram publicadas mais
tarde, após seu retorno ao Brasil em 1979, com a restauração da democracia – e depois
de ter se assegurado de que a anistia política concedida pelo governo pós-ditadura
também se aplicava a seu caso (DOS SANTOS, 1983a, 1983b, 1984).
Ao retornar ao Brasil, Dos Santos se lançou na política e escreveu um livro sobre o
caminho brasileiro ao socialismo (DOS SANTOS, 1986). Foi um dos membros funda-
dores do Partido Democrático Trabalhista (PDT), que perseguia o socialismo demo-
crático. Seu líder fundador foi Leonel Brizola, político que Dos Santos admirava desde
a juventude no Brasil e que foi eleito duas vezes para o governo do estado do Rio de
Janeiro
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. A encarnação anterior desse partido antes da ditadura, o Partido Trabalhis-
ta Brasileiro (PTB), extinto por esta, era o maior partido de esquerda no Brasil. Com
a ascensão do Partido dos Trabalhadores (PT), essa posição foi reivindicada pelo PT,
cujo líder, Luiz Inácio Lula da Silva, mais conhecido como Lula, foi eleito presidente
do Brasil com o apoio do PDT, servindo dois mandatos entre 2003 e 2010. Dos Santos
concorreu a governador em seu estado natal, Minas Gerais, em 1982, mas não foi eleito.
Posteriormente, concorreu a deputado federal constituinte, em 1986, novamente sem
sucesso (MARTINS, 1999). Quando Brizola e seu PDT romperam com o governador
Anthony Garotinho, liderança emergente do mesmo partido que ameaçava o prota-
gonismo do primeiro, ao aspirar a Presidência da República nas eleições de 2002, Dos
Santos ingressou com ele no Partido Socialista Brasileiro (PSB), de tendências social-
-democratas, para viabilizar essa candidatura.
Embora Dos Santos (2000/2002) inicialmente tenha visto a eleição de Fernando
Henrique Cardoso para a Presidência do Brasil em 1995 como um passo positivo, ele
logo se tornou crítico da mudança do governo para a direita, sua adoção de políticas
neoliberais e seu autoritarismo crescente: “Cardoso parece querer nos convencer de
que o Brasil hoje precisa de um homem de esquerda com a linguagem da direita” (DOS
SANTOS, 1998, p. 67). O relacionamento cordial inicial entre Dos Santos e Cardoso
durante seu período no Chile, portanto, tornou-se tenso após seu retorno ao Brasil de-
vido às suas diferenças políticas. Em uma carta aberta escrita em 2010 - oito anos após
o fim da presidência de Cardoso em 2002 - Dos Santos acertou contas com Cardoso
criticando-o publicamente pelo desempenho de sua presidência. Essa carta aberta foi
provocada por outra carta aberta, a de Cardoso a Lula, que estava chegando ao fim de
sua presidência, na qual Cardoso defende a sua atuação como Presidente e ataca a de
Lula. Dos Santos começa sua carta da seguinte maneira:
Meu caro Fernando, vejo-me na obrigação de responder a carta aberta que você dirigiu ao
Lula, em nome de uma velha polêmica que você e o José Serra iniciaram em 1978 contra o
Rui Mauro Marini, eu, André Gunder Frank e Vânia Bambirra, rompendo com um esfor-
ço teórico comum que iniciamos no Chile na segunda metade dos anos 1960. (2010a, p. 1)
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N.T.: Leonel Brizola foi governador do estado do Rio de Janeiro entre 1983-1987 e 1991-1994.
Antes do golpe de Estado de 1964, fora também governador do estado do Rio Grande do Sul
(1959-1963), deputado federal pela Guanabara (1963-1964), prefeito de Porto Alegre (1956-58)
e deputado federal pelo Rio Grande do Sul (1955-1956).