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Reoriente • vol.1, n.1 jan/jun 2021
Theotonio Dos Santos: o intelectual revolucionário, pioneiro da
teoria da dependência
1
+
Cristobal Kay
2
*
Resumo: A vida e a obra de eotonio Dos Santos são analisadas, enfocando sua con-
tribuição para a teoria da dependência, os anos de formação na academia e o ativismo
político na Organização Revolucionária Marxista Política Operária (POLOP), a pas-
sagem pela Universidade de Brasília com Vânia Bambirra, Ruy Mauro Marini e André
Gunder Frank. No exílio chileno, esses quatro pesquisadores se reagruparam no Cen-
tro de Estudos Socioeconômicos (CESO), que se tornou o centro da teoria marxista
da dependência na América Latina. Ali, Dos Santos escreve os textos fundadores da
teoria da dependência. O golpe militar de 11 de setembro de 1973 obrigou-o mais uma
vez ao exílio. Durante seu exílio no México e depois de volta ao Brasil, ele continua a
desenvolver a teoria da dependência, mas concentra-se na teoria do sistema mundial.
Palavras-chave: Teoria da Dependência. Sistema Mundo. Ruy Mauro Marini. André
Gunder Frank. Vânia Bambirra.
+
Tradução de Carlos Serrano da versão atualizada pelo autor do original eotonio Dos Santos
(1936-2018): e revolutionary intelectual who pioreened dependency eory. Development
and change, v. 51, n. 2, p. 599-630, 2019.
2
*
Professor emérito em desenvolvimento rural e estudos sobre desenvolvimento no International
Institute of Social Studies (ISS) da Universidade Roterdã, e professor e pesquisador associado
ao Departamento de Estudos sobre Desenvolvimento da School of Oriental and African Studies
(SOAS) da Universidade de Londres
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Introdução
Em 11 de setembro de 1973, dia do golpe militar no Chile em que o governo de
Allende foi derrubado, um decreto foi emitido pela junta militar cheada pelo general
Pinochet, no qual era mencionado o nome de eotonio Dos Santos. Seu primeiro
nome foi grafado incorretamente, como Teotorio, revelando a falta de familiaridade
com os nomes brasileiros. Ele foi o único estrangeiro mencionado nessa lista de 95
pessoas. Seus nomes eram todos familiares para mim, como guras públicas chaves do
sistema político chileno. O decreto ordenava que se entregassem voluntariamente ao
Ministério da Defesa antes das 16h30 desse dia fatídico e ameaçava que, “se eles se re-
cusassem a fazê-lo, teriam de enfrentar as consequências que poderiam ser facilmente
previstas
1
. A lista incluía os líderes dos vários partidos políticos da Unidade Popular
(UP), que sustentava o governo Allende, bem como alguns funcionários-chave do go-
verno. Incluía também os líderes do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR),
uma organização de extrema-esquerda que não pertencia à coalizão Unidade Popular.
A maioria não se apresentou ao Ministério da Defesa: requisitaram asilo em embaixa-
das, esconderam-se ou foram detidos, mais cedo ou mais tarde. Outros foram fuzila-
dos ou morreram em campos de concentração. eotonio Dos Santos conseguiu asilo
na Embaixada do Panamá, em circunstâncias difíceis (DOS SANTOS, 1978a, p. 14),
onde cou cinco meses antes que tivesse condições de deixar o país e iniciar no México
o seu segundo exílio. Mas por que seu nome constava na lista?
Na época do golpe, Theotonio Dos Santos era o diretor do Centro de Estudios
Socio-Económicos (CESO), pertencente à Faculdade de Economia Política da Uni-
versidade do Chile, a principal e mais antiga universidade do país. Havia chegado ao
Chile como exilado do Brasil apenas sete anos antes, em 1966. No CESO, Dos santos
escreveu seus principais textos sobre a teoria da dependência (doravante denominada
TD), tornando-se um de seus pioneiros. Logo depois de Allende assumir o governo,
em novembro de 1970, Theotonio Dos Santos e um membro de sua equipe de pesqui-
sa sobre a dependência, Roberto Pizarro, foram abordados por uma pessoa-chave do
Partido Socialista de Allende, convidando-os a tornarem-se membros. Talvez não seja
surpreendente que tenham recebido esse convite, já que o programa da coalizão Uni-
dade Popular foi fortemente influenciado pela TD. Pouco depois, Dos Santos juntou-
-se ao partido, em que nunca ocupou qualquer posição de liderança, embora tivesse
fortes ligações com alguns de seus líderes. Como ele conta: “Era militante do partido,
mas considerado como tal até certo ponto, porque me chamavam de companheiro
intelectual, mas creio que era uma restrição, isto é, era militante, mas era intelectual
(LOZOYA, 2015, p. 269). Todavia, a junta militar conhecia muito bem o poder das
ideias e queria silenciar sua voz.
Theotonio Dos Santos tem sido referido de várias maneiras: como “um dos mais
brilhantes intelectuais da América Latina, “um autêntico intelectual orgânico, “um
verdadeiro revolucionário, “um dos mais importantes cientistas sociais e economistas
1
Para o “Junta Militar Bando n°10: Ordem para os líderes políticos desta lista comparecerem às au-
toridades militares para serem presos, veja-se: http://www.archivochile.com/Dictadura_militar/
doc_jm_gob_pino8/DMdocjm0022.pdf.
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da história do século XX ‘,’ “um economista a serviço do povo, ou que sua “contribui-
ção epistemológica para as ciências sociais transcendeu o espaço regional da América
Latina”
2
1
. Algumas dessas caracterizações são naturalmente exageros de entusiásticos
admiradores, mas refletem o impacto que teve sobre muitas pessoas e seu grande nú-
mero de seguidores. Ele foi um orador inspirado, capaz de falar sobre uma grande
variedade de tópicos contemporâneos de maneira crítica e esclarecedora. Como um
ex-colega de CESO relembra: “Quando Dos Santos está em pleno voo, nos recorda
a ‘imaginação sociológica’ de Wright Mills: começa a analisar a situação política e
econômica, cravando estacas aqui e ali, cada vez com maior velocidade [...] onde en-
contramos centenas ou milhares de hipóteses de trabalho luminosas e prometedoras
(VALENZUELA, 2018, p. 2). Concordo plenamente com essa avaliação, tendo sido eu
próprio colega de Theotonio Dos Santos. Mas o que agitava particularmente seu públi-
co e leitores era o otimismo que irradiava sobre as possibilidades de um futuro melhor.
Dos Santos foi um persistente crítico do imperialismo e do capitalismo e um de-
fensor incansável do socialismo revolucionário. Suas previsões sobre os assuntos mun-
diais às vezes se revelavam erradas, mas ele fazia as pessoas refletirem e se engajarem.
Ele era uma pessoa sociável, acessível, calorosa, e vital, que se movia por suas convic-
ções e seu otimismo histórico. Seu otimismo contrastava com o pessimismo um tanto
desorganizador de André Gunder Frank – outro colega do CESO. A história pessoal
pregressa de Frank (sua família havia fugido da Alemanha nazista) contribuiu para
que ele previsse corretamente a queda do regime de Allende. Enquanto ele estava fa-
zendo as malas para deixar o Chile, tendo aceitado um convite na Universidade Livre
de Berlim (KAY, 2005a), Dos Santos comprava uma casa em Santiago poucos meses
antes do golpe militar. Seu otimismo foi muitas vezes deslocado, mas ele inspirou e
encorajou as pessoas a participar de movimentos sociais e políticos progressistas.
Dos Santos poderia ser caracterizado como um intelectual comprometido, um in-
telectual orgânico, um intelectual público ou engajado. Entretanto, sua vida e sua obra
são melhor capturadas na expressão usada por Lozoya (2015) – a de um “intelectual
revolucionario, que não só defende uma mudança revolucionária, mas também é ca-
paz de revolucionar seu campo disciplinar
3
2
.
Anos de formação acadêmica e política no Brasil
É necessário dar o contexto em que Dos Santos cresceu, a fim de obter uma compreen-
são adequada do surgimento e do desenvolvimento da TD e de seu legado. Vários fato-
res desempenharam papéis-chave no surgimento da TD na América Latina: a turbulen-
ta política mundial durante o período da Guerra Fria e, principalmente, as ramificações
políticas na região da Revolução Cubana de 1959; a constatação de que o processo de
industrialização por substituição de importações (ISI) não cumpria com todas as ex-
pectativas e entrava em uma fase de “exaustão” de sua etapa “fácil”; a crescente influên-
cia do marxismo entre estudantes e jovens acadêmicos, especialmente os escritos sobre
2
1
Essas citações foram retiradas de vários obituários após sua morte.
Uma excelente antologia da obra de Dos Santos foi editada em dois volumes por Bruckmann
e López (2020).
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imperialismo e descolonização; e, por último, mas não menos importante, a insatisfa-
ção com as teorias econômicas ortodoxas e a sociologia da modernização.
3
Theotonio Dos Santos nasceu em 1936 em Carangola, no estado de Minas Gerais,
no Brasil. Estudou Sociologia, Política e Administração Pública na Faculdade de Eco-
nomia da Universidade Federal de Minas Gerais, tendo se formando em 1961. Fez seu
mestrado em Ciência Política na Universidade de Brasília (UnB), fundada no mesmo
ano em que a cidade, em 1960. Brasília substituiu o Rio de Janeiro como capital do
Brasil, e sua localização no centro do país era altamente simbólica, assim como a ar-
quitetura modernista de Oscar Niemeyer. Entre os fundadores da UnB estava Darcy
Ribeiro, seu primeiro reitor, que encorajou estudos interdisciplinares, bem como cur-
rículos, pesquisas e métodos de ensino progressistas. Dos Santos concluiu seu mes-
trado em 1964 com uma tese sobre as classes sociais no Brasil (MARTINS, 1999).
Enquanto concluía sua tese de mestrado, Dos Santos também se tornou professor em
tempo parcial na universidade. Ele se lembra da universidade como “uma experiência
extremamente rica no campo pedagógico, mas também pelo contato com o que havia
de mais ousado na intelectualidade brasileira” (apud DAL ROSSO; SEABRA, 2016, p.
1036). Ele elogia seu “ambiente magnífico de ensino e aprendizagem” e lamenta que
o projeto inovador de Ribeiro tenha sido “em grande parte destruído após 1964 pela
ditadura militar” (DOS SANTOS, 2005a, p. 91). Enquanto estava na universidade, ele
publicou seu primeiro livro, Quem são os inimigos do povo? (DOS SANTOS, 1962).
Na Universidade de Brasília, Dos Santos e os colegas, também alunos, Vânia
Bambirra e Ruy Mauro Marini, fizeram parte de um grupo de leitura sobre O Capital,
de Marx – o que era bastante comum naquela época entre os estudantes de esquerda
nas universidades por toda a América Latina. Vivia-se o período da Revolução Cuba-
na, do surgimento de movimentos guerrilheiros em alguns países da região, bem como
da crescente influência do marxismo e do ativismo entre os estudantes. Esses três co-
legas, a que me referirei como o “trio, eram ativos politicamente e estiveram entre os
fundadores da Organização Revolucionária Marxista – Política Operária, designada
por Política Operária ou POLOP. Essa foi uma organização de extrema-esquerda que
resultou da fusão de várias organizações políticas revolucionárias menores, incluindo
dissidentes do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que discordavam da política des-
se partido por que considerá-lo colaboracionista de classe (MARTINS, 1999)
5
4
. Dos
Santos já havia sido ativista em seus tempos de estudante na Universidade Federal de
Minas Gerais, tendo estado envolvido com o movimento sindical e a política socialista.
Ainda em Brasília, Dos Santos tornou-se secretário-geral da POLOP, mas se afas-
tou da organização devido a diferenças políticas em relação à estratégia do foquismo.
Um grupo dentro da POLOP assumiu a luta armada em sua luta pelo socialismo. Eles
se inspiraram na Revolução Cubana e em Che Guevara, acreditando que a revolu-
ção poderia ser provocada por um pequeno grupo de lutadores (daí o termo “foco”)
4
Ver KAY, Cristóbal (2019a), p. 15-28.
Vários dos fundadores da POLOP tornaram-se intelectuais inuentes no Brasil e no exterior,
como Paul Singer, Eric Sachs, Emir Sader, Eder Sader, Michael Löwy e Simon Schwartzman, além
do trio já mencionado (MARTINS, 1999). Raphael L. Seabra (2020) argumenta que os debates
entre os membros da POLOP foram inuentes na formação das ideias sobre a TD entre o trio.
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engajados na guerra de guerrilha, entre o campesinato na zona rural. Esse foco desen-
cadearia uma insurreição e se espalharia do campo para as cidades e, eventualmente,
derrubaria o regime existente. Dos Santos recusou-se a endossar a luta armada por-
que não estava convencido de que ela levaria ao resultado desejado; em vez disso, ele
argumentou que era necessário criar um movimento de massa por meio do trabalho
político. Como previsto por Dos Santos, a luta armada fracassou, e muitos de seus
companheiros morreram no processo (LOZOYA, 2015). Um dos livros de Dos Santos
é dedicado ao “Comandante Juárez Brito; companheiro e amigo, tua morte não será
em vão” (DOS SANTOS, 1972a)
6
5
.
Em 1963, André Gunder Frank foi contratado por Darcy Ribeiro como professor
visitante para ministrar um curso de pós-graduação em teoria sociológica no Insti-
tuto de Ciências Sociais da Universidade de Brasília. Ribeiro já era um antropólogo
reconhecido e respeitado quando se tornou reitor dessa nova universidade. Seu co-
lega antropólogo Eric Wolf recomendou-lhe Frank, de quem Dos Santos, Bambirra e
Marini tornaram-se alunos na UnB. Foi uma das primeiras nomeações de Frank como
professor, então com 33 anos. Dos Santos tinha 26 ou 27 anos quando fez o curso de
Frank e participou de seus seminários. É possível que os anos em Brasília (1963-1964),
em uma universidade progressista, tenham influenciado as ideias de Frank para sua
inovadora análise crítica da sociologia da modernização (FRANK), (1967, 1972)
7
6
. Dos
Santos lembraria mais tarde: “Foi na UnB também que conheci André Gunder Frank e
iniciamos sistematicamente uma colaboração de décadas com Ruy Mauro Marini, que
junto com Vânia Bambirra, minha então esposa, formamos um trio polemizado no
mundo inteiro” (apud DAL ROSSO; SEABRA, 2016, p. 1036-1037).
Em 1964, um golpe de Estado militar derrubou o governo reformista de João
Goulart, iniciando um período de ditadura que perdurou por 21 anos. Dos Santos
entrou na clandestinidade, continuando dessa forma suas atividades, e decidiu pedir
asilo na embaixada chilena em 1965, quando um tribunal de Minas Gerais o condenou
a 15 anos de prisão por rebelião (LOZOYA, 2015)
8
7
. Em 1966, ele chegou ao Chile, onde
vários proeminentes intelectuais já viviam no exílio, entre eles Florestan Fernandes,
que ajudou Dos Santos a conseguir um emprego no CESO (VIDAL, 2013).
Fernandes era um renomado sociólogo, amigo de Eduardo Hamuy, um colega so-
ciólogo, então diretor do CESO. O Chile naquela época era um lugar atraente e inspi-
rador para um intelectual e ativista revolucionário. Os escritórios regionais de várias
organizações das Nações Unidas estavam localizados na capital Santiago, entre eles o
da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), do Instituto La-
tino-Americano de Planejamento Econômico e Social (ILPES) e da Organização das
6
5
Vânia Bambirra, que se casou com Dos Santos, viria posteriormente a editar um livro em dois
volumes com as mais abrangentes análises dos movimentos revolucionários insurrecionais da
América Latina da época, inclusive da POLOP (BAMBIRRA, 1971).
A experiência latino-americana de Frank em um estágio inicial de sua vida acadêmica, vivendo
de 1962 a 1973 na região, teve uma inuência radical sobre ele e moldou muitas de suas ideias
(KAY, 2005a).
8
O tribunal militar o acusou de ser o “mentor intelectual da penetração subversiva no campo
(DOS SANTOS, 1978a, p. 13).
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Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Essas e outras organizações in-
ternacionais atraíram alguns dos melhores profissionais da América Latina e de outros
lugares. Vários exilados brasileiros encontraram emprego nessas instituições, entre eles
Fernando H. Cardoso, que se tornaria um dos fundadores da TD e posteriormente
presidente do Brasil. O Chile também era um lugar empolgante devido à sua cultura
política relativamente madura e à existência de significativos partidos políticos marxis-
tas. Eduardo Frei Montalva fora eleito para a Presidência com um programa reformista
em 1964, e Salvador Allende ficara em segundo lugar nessa disputa presidencial. Assim,
uma nova fase na vida de Dos Santos começa de maneira auspiciosa no Chile.
Exílio no Chile e a ascensão da teoria da dependência
Assim que se instalou no CESO, Dos Santos procurou recriar o trio da Universidade de
Brasília para reforçar a capacidade de investigação do CESO, empurrá-lo mais para a
esquerda e por motivos pessoais. Em 1967, Vânia Bambirra juntou-se aos quadros do
CESO, e Dos Santos conseguiu convencer Ruy Mauro Marini a mudar seu exílio do Mé-
xico para o Chile. Marini seguiu seu conselho e viajou para o Chile, onde inicialmente
conseguiu um emprego na Universidade de Concepción, no sul do país. É signicativo
que nessa universidade tenham estudado alguns dos principais dirigentes do MIR: a
universidade era considerada uma das fortalezas desse movimento revolucionário que
desenvolveu laços estreitos com os dirigentes revolucionários de Cuba. Após apenas um
ano na Universidade de Concepción, Marini foi convidado, em 1970, a integrar o CESO
e o trio reuniu-se novamente. Os três permanecem no CESO, até o fatal golpe de Estado
de 1973. É esse trio que, junto a André Gunder Frank, está no cerne do desenvolvimen-
to da tendência marxista da TD. Frank já estava no Chile, tendo aceitado, em 1968, um
cargo no Departamento de Sociologia da Universidade do Chile em Santiago. O trio
restabeleceu com Frank a relação que haviam formado em Brasília. Esta foi ainda mais
fortalecida quando Frank foi para o CESO em 1971. O trio tornou-se um quarteto e o
CESO cou conhecido como o centro da TD na América Latina
9
8
.
Em meados de 1967, Dos Santos criou e liderou uma equipe de pesquisa para in-
vestigar as relações de dependência na América Latina. Um ano depois, ele apresentou
um relatório de 14 páginas de sua equipe de pesquisa, que pode ser considerado um
dos principais textos fundacionais da TD. Ao explicar os objetivos da pesquisa, ele
forneceu uma das primeiras definições da dependência:
Se trata de analisar a dependência não apenas como um fator externo que limita o desen-
volvimento econômico, mas sim como algo que conforma um certo tipo de estruturas
sociais cuja legalidade ou dinamismo está dado pela condição dependente. Ao denir a
dependência como o modo de funcionamento de nossas sociedades, se situa este con-
ceito como o conceito explicativo fundamental da condição de subdesenvolvimento.
(DOS SANTOS, 2015, p. 29)
9
8
Para uma análise mais detalhada da história do CESO durante sua relativamente curta existên-
cia, de 1965 a 1973, veja-se Cárdenas (2011) e também Wasserman (2012).
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A equipe inicial era composta de seis pesquisadores, dos quais apenas Dos Santos
e Bambirra eram pesquisadores seniores, enquanto os demais estavam apenas a iniciar
a carreira acadêmica. Havia também alguns alunos assistentes vinculados à pesquisa
10
9
.
Uma das atividades da equipe de pesquisa do CESO sobre a dependência foi a organi-
zação de um seminário permanente, no qual proeminentes autores foram convidados
a apresentar os seus trabalhos sobre temas relacionados com a dependência na Amé-
rica Latina; entre eles incluíam-se André Gunder Frank, Sergio Bagú, Marcos Kaplan,
Aníbal Quijano, Osvaldo Sunkel, Tomás Vasconi e Pierre Vilar.
É digno de nota que, mesmo nessa fase inicial, não pensava a economia apenas em
termos de América Latina, mas de maneira mais abrangente, mundial. Naquela época,
os institutos de estudos latino-americanos não existiam em nenhuma universidade
da região, muito menos centros sobre a economia mundial, e apenas alguns países
começavam a estabelecer centros de pesquisa para o estudo de si próprios a partir das
ciências sociais, em vez de uma tradicional, e geralmente conservadora, perspectiva
histórica descritiva nacionalista. As únicas instituições com missão regional e localiza-
das na América Latina eram as várias Organizações ou Escritórios Regionais da ONU,
como CEPAL, FAO, Unesco e OIT. Também nesse sentido, o programa de pesquisa de
Dos Santos no CESO foi um esforço bastante pioneiro.
O conceito de dependência de Theotonio Dos Santos
A primeira visita de Dos Santos aos Estados Unidos ocorreu quando ele foi convi-
dado pela Northern Illinois University em DeKalb, Illinois, a ser professor visitan-
te no Departamento de Sociologia no primeiro semestre de 1969. Além de lecionar,
ele aproveitou a oportunidade para realizar algumas pesquisas, reunindo um rico
material empírico sobre a economia, a sociedade e a política dos Estados Unidos
(DOS SANTOS, 1978a). Em dezembro daquele ano, ele foi convidado a apresentar um
paper na 82ª Reunião Anual da American Economic Association (AEA), que ocorreu
em Nova York. O título de sua apresentação foi “Imperialismo visto da periferia sub-
desenvolvida, que ele apresentou no painel “Economia do imperialismo”; o presidente
do painel era o conhecido economista marxista Paul Sweezy, editor-fundador da revis-
ta socialista independente, Monthly Review. Outro palestrante nesse painel foi Harry
Magdo, conhecido por seu trabalho sobre o imperialismo e estreitamente associa-
do à Monthly Review. Os debatedores do painel foram os ilustres estudiosos Stephen
Hymer, da Yale University; Arthur MacEwa, da Harvard University e Victor Perlo,
formado pela Columbia University e membro do Partido Comunista dos Estados Uni-
dos. Esse painel, presidido por Sweezy, foi bastante incomum, não só porque a maioria
10
9
Para além das várias publicações de Dos Santos sobre a dependência, dois outros livros no-
táveis surgidos desta equipe de pesquisadores foram Caputo e Pizarro (1970) e Ramos (1972).
Sergio Ramos era integrante do Partido Comunista do Chile, participou das discussões sobre
o programa econômico da Unidade Popular e posteriormente integrou a equipe econômica do
governo Allende. Ambos os livros tiveram inuência signicativa na formação do programa de
governo da Unidade Popular.
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dos palestrantes eram marxistas, mas também devido ao tema e ao fato de Dos Santos
ser um sociólogo e não um economista no sentido tradicional
11
10
.
O artigo de Dos Santos foi publicado no ano seguinte na American Economic
Review (AER), o jornal mais inuente em economia, com o título e Structure of
Dependence (1970a). Ele se tornou conhecido inicialmente no mundo de língua in-
glesa em grande parte por meio desse artigo, que foi total ou parcialmente reimpres-
so em vários readers
12
11
. Contém sua denição clássica de dependência publicada pela
primeira vez em espanhol em uma publicação do CESO (DOS SANTOS, 1968b) e
posteriormente reproduzida em uma compilação de alguns de seus textos no CESO
(DOS SANTOS, 1970b). Esses textos do CESO, ou partes deles, foram reproduzidos
em livros subsequentes de sua autoria [por exemplo, em Dos Santos (1978a)], por di-
ferentes editoras em vários países latino-americanos (como, Dos Santos (1970c), bem
como em livros editados por outros [por exemplo, Dos Santos (1972b)], garantindo
assim uma ampla difusão de seu texto-chave sobre a dependência em toda a América
Latina e além.
Qual é então a definição de dependência de Dos Santos?
Por dependência entende-se uma situação em que a economia de certos países é con-
dicionada pelo desenvolvimento e expansão de outra economia à qual a primeira está
sujeita. A relação de interdependência entre duas ou mais economias, e entre estas e o
comércio mundial, assume a forma de dependência quando alguns países (os dominan-
tes) podem se expandir e podem ser autossustentáveis, enquanto outros países (os depen-
dentes) podem fazer isso apenas como um reexo dessa expansão, que pode ter um efeito
positivo ou negativo em seu desenvolvimento imediato. (1970a, p. 231, grifo nosso).
Uma denição quase idêntica apareceu no texto anterior de Dos Santos apresenta-
do na Assembleia do CLACSO de 1968 (veja nota de rodapé 11), que foi publicado
(1970c). Esse texto foi traduzido por David Lehmann e publicado em um livro editado
por Henry Bernstein, que também é frequentemente citado ou referido em textos de
língua inglesa que discutem a TD. Vale a pena comparar as duas denições:
A dependência é uma situação de condicionamento [itálico no texto original em caste-
lhano] em que as economias de um grupo de países são condicionadas pelo desenvolvi-
mento e expansão de outros. Uma relação de interdependência entre duas ou mais eco-
nomias ou entre essas economias e o sistema de comércio mundial torna-se uma relação
de dependência quando alguns países podem se expandir por autoimpulsão enquanto
outros, estando em uma posição dependente, só podem se expandir como um reexo da
expansão dos países dominantes, o que pode ter efeitos positivos ou negativos em seus
desenvolvimentos imediatos. Em ambos os casos, a situação básica de dependência faz com
que esses países sejam atrasados e explorados [grifo nosso]. (DOS SANTOS, 1973, p. 76)
11
10
Versões semelhantes do texto foram apresentados anteriormente por ele na Segunda Assem-
bleia Geral do Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO) e no Nono Congresso
da Asociación Latinoamericana de Sociología (ALAS), realizados, respectivamente em Lima,
em 1968, e na Cidade do México, em 1969 (DOS SANTOS, 1970b, p. 11-12).
12
11
Tal como nos readers editados por Fann e Hodges, Livingstone, Todaro e Wilber; vejam-se as
referências em Dos Santos (1970a).
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Existem duas diferenças notáveis entre essas duas denições: (1) por alguma razão, a
última frase da segunda citação (veja-se nosso itálico), que reforça a denição de Dos
Santos de TD, é omitida do artigo da AER; (2) a frase “a que o primeiro está sujeito” é
omitida na primeira frase da segunda citação, mas está incluída na primeira citação, da
AER (veja-se nosso itálico), fornecendo assim uma frase mais forte. Num texto publi-
cado vários anos depois, Dos Santos (1991) esclarece que nas relações dialéticas entre
os países dominantes e os dependentes, isto é, entre os fatores externos e internos, “seu
processo de acumulação condicionado pelo modo de inserção nesta economia inter-
nacional e, ao mesmo tempo, determinado por suas leis próprias de desenvolvimento
interno” (itálico no original de Dos Santos). (DOS SANTOS, 1991)
Influência do sistema centro-periferia de Raúl Prebisch
O que transparece dessas denições é a ideia central de um sistema mundial interde-
pendente, seguindo a ideia de Prebisch do sistema centro-periferia (PREBISCH, 1950;
KAY, 2019b), em que certa Divisão Internacional do Trabalho dita que os países cen-
trais se industrializem e se desenvolvam por meio da exportação de produtos indus-
triais, enquanto os países periféricos estão em grande parte connados à produção e à
exportação de produtos primárias com base na exploração de seus recursos naturais.
Tanto Dos Santos quanto Prebisch caracterizam isso como um sistema de trocas desi-
gual, em que a periferia (ou países dependentes na terminologia de Dos Santos) trans-
fere um excedente econômico para o centro (ou países dominantes). Prebisch explica
essa transferência de excedente como decorrente da deterioração dos termos de troca
na periferia, em termos da evolução do preço dos produtos primários exportados pelos
países periféricos e importados pelos países do centro, em relação ao preço dos produ-
tos industriais exportados pelo centro e importados pela periferia. Dos Santos também
inclui outras transferências, como aquelas decorrentes de remessas de lucros, preços de
transferência, pagamentos de royalties, pagamentos de juros elevados para o serviço da
dívida externa e pagamentos por outros serviços comuns em estudos sobre imperialis-
mo. Em publicações posteriores, Dos Santos também introduziu o conceito marxista
de troca desigual derivado da análise de Emmanuel Arghiri (1972); este está enraizado
na teoria marxista do valor-trabalho, portanto, não está connado à produção e à ex-
portação de matérias-primas pela periferia, como na análise de Prebisch, mas também
surge na exportação de mercadorias industriais, bem como de serviços dos países de-
pendentes para os países dominantes. Contudo, Prebisch (1950, 1964) refere-se à exis-
tência de excedente de trabalho na periferia como impulsionador de uma economia de
baixos salários, uma das razões para a deterioração dos termos de troca da periferia,
bem como para a troca desigual, prenunciando elementos da famosa análise de Arthur
Lewis sobre “oferta ilimitada de trabalho” e termos de troca publicados em 1954. Tanto
a “tese de Prebisch-Singer” – nome adotado para Prebisch e a análise de Hans Singer da
deterioração dos termos de troca dos países dependentes – e a do intercâmbio desigual
de Emmanuel criaram intensas controvérsias que não serão analisadas neste artigo
13
12
.
13
12
Veja Kay (1989) e Valenzuela (1972)
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ARTIGOS
Existem, é claro, outras semelhanças e diferenças; não há espaço aqui para discu-
ti-las todas, mas uma das grandes diferenças diz respeito à dimensão social e política.
Ao contrário de Prebisch, Dos Santos foi um estudioso interdisciplinar treinado e um
marxista, portanto, também trouxe para a análise das relações de dependência as di-
mensões social e política. Em seus escritos, Dos Santos sempre enfatiza as relações de
classe internas ao país dependente e as relações políticas e como estas estão interligadas
e articuladas de maneira dialética com as do país dominante. Portanto, a dependên-
cia não é apenas um fator externo, mas está intimamente relacionada e determinada
pela estrutura interna e pelas relações sociopolíticas dos países dependentes. Embora
Prebisch não fosse nem um sociólogo nem um cientista político, foi um ator político
vigoroso e engajado em nível nacional na Argentina e no cenário mundial, por meio
de suas atividades na CEPAL e na UNCTAD (DOSMAN, 2008; KAY, 2019b). Prebisch
também foi um ativista, mas que poderia ser referido como um “ativista institucional,
tendo criado e moldado instituições durante sua vida. Enquanto os objetivos de Pre-
bisch eram reformar as instituições e, assim, trazer um sistema de capitalismo mais
justo e inclusivo, os objetivos de Dos Santos eram revolucionar esse sistema por meio
de uma transformação socialista democrática.
Faço essas referências a Prebisch em parte porque seu paradigma centro-periferia
e o trabalho da CEPAL – que ele liderou quase desde seus inícios no final dos anos
1940, até sua mudança para a UNCTAD em 1964 – tiveram uma influência signi-
ficativa em Dos Santos e no surgimento da TD em geral. Mas olhar para Prebisch
também ajuda a iluminar as duas vertentes diferentes dentro da TD, ou o que chamo
de tendências estruturalista ou reformista e a marxista ou revolucionária (KAY, 1989;
1991). A perspectiva “estruturalista” sobre o desenvolvimento emergiu do trabalho de
Prebisch e sua equipe na CEPAL, decorrente de sua ênfase nas características histó-
ricas e estruturais que moldaram o processo de desenvolvimento da América Latina
(e outras regiões periféricas do mundo) desde o período colonial como distinto das
estruturas econômicas (e sóciopolíticas) que surgiram desde a Revolução Industrial
nos países centrais ou desenvolvidos (SUNKEL, 1966; SUNKEL; PAZ, 1970). Con-
sequentemente, a América Latina teve de encontrar sua própria estratégia e caminho
de desenvolvimento, já que as estruturas e as circunstâncias diferiam em comparação
com aquelas do centro. Como forma de superar ou reduzir as consequências negativas
da deterioração dos termos de troca, que limitava o potencial de desenvolvimento da
região, Prebisch defendeu vigorosamente a industrialização da América Latina, o que
exigia protecionismo, bem como outras medidas de apoio do Estado. Na época, tal
proposta foi considerada uma heresia, dado o domínio da economia ortodoxa. Não é
de admirar que Albert Hirschman (1961) caracterizou o relatório pioneiro de Prebisch
(1950) como “manifesto da CEPAL
14
13
, aludindo a outro manifesto histórico, pois de-
safiava a teoria comercial ortodoxa e a Divisão Internacional do Trabalho existente
15
14
.
Eu consideraria representantes-chave da versão estruturalista da TD, Osvaldo
Sunkel (1969; 1972), Celso Furtado (1973,1974; KAY, 2005b) e, com alguma ressalva,
14
13
N.T.: Hirschman também o chamava de “Manifesto latino-americano.
15
14
Veja também o estudo da CEPAL (1950) elaborado em sua parte central por Raúl Prebisch.
77
ARTIGOS
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Fernando Henrique Cardoso
16
15
(1972,1973) (CARDOSO e FALETTO, 1969), todos os
que trabalharam, em algum momento, na CEPAL ou em instituições associadas. Para
a versão marxista da TD, alguns dos principais colaboradores originais, para além de
Dos Santos, foram André Gunder Frank (1966, 1972), embora novamente com a ne-
cessidade de alguma qualificação
17
16
, Ruy Mauro Marini (1972,1978) e Vânia Bambirra
(1973, 1978). De uma perspectiva mais ampla, Prebisch poderia ser considerado um
precursor da TD, pelo menos para a variante estruturalista. Os defensores da variante
marxista criticaram Prebisch e a CEPAL por apoiarem a burguesia industrial emer-
gente e por buscarem promover o desenvolvimento capitalista, ainda que por meio
de reformas progressistas. Na visão dos autores da dependência marxista, tal proces-
so apenas reforçaria as relações de dependência, daí sua defesa de uma transforma-
çãosocialista
18
17
.
A análise da dependência de Theotonio Dos Santos
Qual é, então, a contribuição de Dos Santos para a TD? Já mencionamos sua denição
de dependência, dada em resposta à sua própria pergunta de “o que é a dependência?”,
a mais conhecida caracterização sintética de dependência. Embora o surgimento da
TD seja um esforço coletivo e englobe mais vertentes que as duas que sugeri, existem
algumas variações entre os autores dentro de cada vertente, decorrentes de diferentes
ênfases nos vários aspectos do complexo da dependência ou devido a alguma ideia
nova. Ao desenvolver suas ideias sobre a TD, Dos Santos fez uma leitura crítica da obra
da CEPAL, com a qual se familiarizou pela primeira vez enquanto estudava e trabalhava
na Universidade de Brasília, uma vez que a CEPAL havia estabelecido um escritório na
nova capital do Brasil.
Os estruturalistas da CEPAL, embora proponentes de uma estratégia de industria-
lização por substituição de importação (ISI), tornaram-se críticos do caminho dos go-
vernos para segui-la. Após uma fase inicial de rápido crescimento industrial durante
os anos 1950 e início dos anos 1960, o processo ISI entrou em uma fase de declínio.
Uma das razões para essa desaceleração foi o gargalo do câmbio, que se desenvolveu
16
Cardoso não se encaixa totalmente na posição estruturalista, já que seus escritos sobre o TD
também são inuenciados pelo marxismo. Ele tinha um bom domínio do marxismo, tendo
participado de grupos de estudos marxistas em seus tempos de estudante, como tantos outros
cientistas sociais latino-americanos desse tempo – mas não era marxista nem nunca ngiu ser.
Mais tarde, ele mudou para uma posição neoestruturalista e, como presidente do Brasil, para
uma posição neoliberal na visão de seus críticos de esquerda, entre eles Dos Santos.
17
Frank discordava das várias maneiras pelas quais os autores da escola da dependência foram
categorizados; veja seu extenso ensaio de revisão de cinco livros que discutem a TD (FRANK,
1991). Em segundo lugar, eu o considero principalmente um precursor da teoria do sistema
mundial, e ele próprio preferiu usar os termos “desenvolvimento do subdesenvolvimento ou
metrópole-satélite” em vez de dependência – um termo que dicilmente usou – ao se referir
aos países subdesenvolvidos ou dependentes (KAY, 2005a; 2011).
18
17
É notável que em seus últimos anos, quando testemunhou a ascensão do neoliberalismo, Pre-
bisch tornou-se um crítico feroz deste e se aproximou de algumas das posições dos escritores
marxistas dependentistas (PREBISCH, 1981). Ele até defendeu “uma síntese do socialismo e do
liberalismo econômico genuíno” (PREBISCH, 1984, p. 191).
78
ARTIGOS
na medida em que as importações aumentaram mais rapidamente que as exportações.
À medida que a ISI prosseguia, era necessário aumentar as importações de bens inter-
mediários (vários insumos), bem como de bens de capital (maquinário, ferramentas,
peças de reposição), enquanto as exportações não aumentavam rápido o suficiente para
gerar as divisas exigidas. Com isso, as importações desses bens tornaram-se mais caras
e foram racionadas, afetando o investimento industrial e levando a menores taxas de
crescimento. Além disso, as expectativas de geração de emprego e a melhoria na distri-
buição de renda altamente desigual eramdecepcionantes.
Com base na análise da CEPAL e na sua própria, Dos Santos descobriu a crescente
penetração de capital estrangeiro, principalmente de multinacionais estadunidenses,
no setor industrial da América Latina. Enquanto no passado os investidores estrangei-
ros, em maior ou menor grau, investiam na mineração e em algumas explorações agrí-
colas, principalmente para exportação, agora eles começaram a direcionar seus inves-
timentos para o setor industrial, estabelecendo subsidiárias de modo a manter o acesso
ao mercado interno, pois tinham de enfrentar barreiras protetoras para a exportação
de suas manufaturas. Como consequência da estratégia de ISI, a indústria tornou-se o
setor mais dinâmico da economia na fase inicial. Assim, o capital estrangeiro ganhou
um nível crescente de controle sobre a economia nacional por meio desse processo de
desnacionalização. Além disso, a burguesia nacional acolheu esse capital estrangeiro
e associou seus interesses aos da burguesia estrangeira, que foram os principais bene-
ficiários domésticos. Dos Santos atacou a burguesia “nacional” por se tornar subser-
viente ao capital estrangeiro. Consequentemente, para os marxistas, a nova burguesia
industrial foi vista como abdicante de seu papel historicamente progressista. Foi essa
nova incursão e domínio do capital estrangeiro, e seu impacto na economia, sociedade
e na política do país, que Dos Santos rotulou de “o novo caráter da dependência, o
título de uma de suas publicações (DOS SANTOS, 1968c).
Dos Santos estava preocupado que uma larga proporção do excedente econômico
da indústria fosse transferida para o exterior, para o país de origem das multinacionais,
limitando assim o processo de acumulação de capital e crescimento econômico. Ele
interpretou essa situação recorrendo à teoria marxista do imperialismo e, particular-
mente, aos escritos de Vladimir Lenin, Rosa Luxemburgo e Nikolai Bukharin, bem
como do não marxista John Hobson. Contudo, ao mesmo tempo que considerava as
teorias do imperialismo um ponto de partida útil, reconhecia suas limitações: elas es-
tavam principalmente preocupadas com os desenvolvimentos nos países imperialistas,
enquanto negligenciavam a discussão das consequências que isso tinha para os países
coloniais. Daí a necessidade de analisar, dentro de um quadro marxista, as transfor-
mações particulares dos países coloniais provocadas por sua incorporação à esfera dos
países imperialistas. Dos Santos acreditava que uma forma distinta de capitalismo se
desenvolveu dentro dos países dominados, portanto, seu objetivo era desenvolver uma
teoria marxista da dependência que o marxismo clássico ou ortodoxo era incapaz de
explicar completamente. Essa foi de fato uma tarefa ambiciosa e controversa, que ele
empreendeu com os outros membros do “quarteto” do CESO e pelo qual foi criticado
por alguns marxistas e não marxistas.
1918
19
Veja KAY (2019a)
79
ARTIGOS
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Para Dos Santos, um aspecto fundamental dessa nova dependência é a dependência
tecnológica. O ciclo de acumulação de capital nos países dependentes não pode ser con-
cluído internamente, pois eles possuem apenas um setor incipiente e simples de bens de
capital. Tradicionalmente, a maioria, senão todos, os equipamentos e maquinários para
a extração dos recursos naturais da região é importada dos países dominantes. Com a
ISI, os países dependentes precisam importar o capital necessário e os bens intermediá-
rios para desenvolver seu setor industrial. A fim de alcançar um crescimento econômi-
co sustentável e padrões de vida mais elevados, um país não pode depender apenas do
uso de mais terra, trabalho e capital, mas deve contar cada vez mais com o aumento da
produtividade desses três fatores de produção, introduzindo tecnologias avançadas e
desenvolvendo seu próprio setor de bens de capital. Como os países latino-americanos
ainda não haviam sido capazes de desenvolver esse setor de bens de capital, tiveram im-
portar dos países dominantes as maquinarias e as ferramentas relacionadas, permitindo
que estes adquirissem um controle ainda maior sobre suas economias. Em suma, uma
das principais características da dependência é que os países dependentes carecem de
capacidade de crescimento autônomo e autossustentável, pois a realização de seu ciclo
de investimento requer, em maior ou menor extensão, a importação de bens de capital,
portanto, não pode ser alcançada domesticamente.
É comum observar no processo de industrialização dos países capitalistas avan-
çados que há certa sequência, desde a produção de bens de consumo até a produção
de bens intermediários e de capital, em decorrência dos diversos vínculos entre eles.
Assim, Dos Santos observou que a industrialização dos países dependentes tem poten-
cialmente a capacidade de ultrapassar a dependência econômica:
Se as economias dependentes podem obter um alto grau de autonomia produtiva e de-
senvolver um importante setor I (de máquinas e matérias-primas industrializadas), o
capital estrangeiro perderia a capacidade de determinar o caráter de seu desenvolvi-
mento, se converteria em uma expressão puramente articial que logo seria destruída,
fazendo desaparecer a relação de dependência. (DOS SANTOS, 1978a, p. 100).
Essa armação é bastante notável, pois levanta a possibilidade de que a dependên-
cia possa ser superada dentro do capitalismo, prescindindo para isso da necessidade
da revolução socialista. Dos Santos e Bambirra são os únicos autores da dependência
marxista a levantar essa possibilidade
20
19
, aproximando-se tentadoramente da posição
de dependência estruturalista. No entanto, ambos continuam em suas análises argu-
mentando que esse caminho para o desaparecimento da dependência é bloqueado
pelo capital transnacional, à medida que as multinacionais estrangeiras deslocam suas
indústrias de bens de consumo para os países dependentes e bloqueiam o estabele-
cimento de indústrias de bens de capital nacionais, de modo a manter seu controle
sobre a tecnologia. Isso tem implicações deletérias para o progresso tecnológico e o
crescimento nos países dependentes. Assim, é a inuência política e o poder do capital
transnacional (ou neoimperialismo, como alguns o chamam) que bloqueia essa possi-
bilidade de libertação para os países dependentes (DOS SANTOS, 1972c).
20
Veja BAMBIRRA, 1973, p. 101.
80
ARTIGOS
As experiências de desenvolvimento de alguns dos novos países industrializados
(NPIs), como a Coreia do Sul e Taiwan, parecem contradizer essa visão pessimista em
última análise (KAY, 2002). Paradoxalmente, Dos Santos tem dificuldade em admitir
que esses países possam desenvolver um setor de bens de capital, alcançando assim
uma estrutura industrial integrada que possa romper com as correntes da dependên-
cia. Os NPIs eram vistos pelos dependentistas (termo usado para se referir aos escri-
tores de dependência) como meras plataformas de exportação de bens de consumo
industrializados, aproveitando sua mão de obra barata. Esse foi em parte o caso na pri-
meira fase, com a criação de zonas de exportação industriais, principalmente nas áreas
costeiras, que tinham poucas ligações com a economia doméstica. Dos Santos também
argumentou que esses NPIs foram capazes de explorar períodos de crise nos países do-
minantes para desenvolver sua estrutura industrial, porém, na onda expansionista do
capitalismo, os laços de dependência se reafirmariam (MARTINS, 1999). Eu sugeriria
que outra razão para a relutância de Dos Santos em examinar mais de perto a expe-
riência industrial bem-sucedida dos NPIs é que isso daria crédito à visão estruturalista
da dependência e, particularmente, à tese do “desenvolvimento dependente associa-
do” de Fernando Henrique Cardoso (1973), com quem Dos Santos tinha diferenças
de longa data, pela qual Cardoso argumentou que os países dependentes poderiam
alcançar altas taxas de crescimento econômico. O pessimismo de Dos Santos sobre o
capitalismo foi contrabalançado por seu otimismo inabalável sobre o futuro do socia-
lismo, que é um fio condutor constante ao longo de seus escritos.
Dos Santos rejeitou a possibilidade de uma aliança desenvolvimentista entre a bur-
guesia industrial “nacional” e a classe trabalhadora, que os partidos de centro-esquer-
da e o partido comunista advogavam no Brasil e em outros países latino-americanos
(DOS SANTOS, 1967). Segundo seus proponentes, tal aliança permitiria enfrentar
tanto a classe latifundiária e a classe financeiro-comercial quanto o capital estrangeiro
que bloqueava o potencial de desenvolvimento do país ao, por exemplo, se opor à re-
forma agrária. Os dependentistas marxistas argumentaram que a burguesia industrial
estava longe de assumir tal postura progressista nacionalista, pois estava intimamente
vinculada às outras frações da classe alta e preferia a aliança com o capital estrangeiro
em vez de confrontar o (neo)imperialismo (DOS SANTOS, 1968a). Mudar as rela-
ções de dependência exigiria o confronto não apenas com a classe dominante dentro
do país, mas também com a classe dominante do centro hegemônico. Somente uma
aliança entre a classe trabalhadora, especialmente o “novo proletariado” surgido da
ISI, o campesinato e alguns setores da pequena burguesia progressista, cabendo ao
proletariado industrial o papel de liderança sob a bandeira do socialismo, seria capaz
de romper os laços de dependência e alcançar um desenvolvimento inclusivo e justo.
Um ponto de viragem histórica: o fim da via chilena para o socialismo
A escolha política colocada para a América Latina foi descrita dramaticamente por
Dos Santos (1969, 1977a) como sendo entre o socialismo e o fascismo. Ele foi inuen-
ciado por sua experiência do golpe militar de 1964 no Brasil, provocado pela crescente
militância da classe trabalhadora e do campesinato e pelo aprofundamento das divi-
sões e de conitos de classe; e acreditava que as crescentes contradições do capitalismo
81
ARTIGOS
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dependente levariam a uma ditadura fascista ou a uma revolução socialista. Dada a
transferência de parte do excedente econômico via intercâmbio desigual para os países
dominantes, a classe capitalista doméstica recorreu à superexploração de sua força de
trabalho, seja pelo prolongamento da jornada de trabalho, seja pela intensicação do
processo de trabalho, de forma a proteger seus lucros e permanecerem competitivos
nos mercados internacionais (MARINI, 1972). À medida que o processo de ISI avan-
çava, os requisitos de acumulação aumentavam, pois as indústrias se tornavam mais
intensivas em capital, empurrando assim a classe capitalista a aumentar a extração de
mais-valia do trabalho, exacerbando os conitos sociais que levaram ao dilema men-
cionado tão duramente por Dos Santos (1972a): socialismo ou fascismo. Processos se-
melhantes estavam a ocorrer em outros países da região. Parecia que a intuição de Dos
Santos não estava tão equivocada, já que, em 1970, um governo socialista foi eleito no
Chile, seguido pela revolução sandinista na Nicarágua em 1979 e outras breves tenta-
tivas de algum tipo de socialismo. Mas essas experiências socialistas foram revertidas,
e uma onda de ditaduras militares dominou o cenário político da região de meados
dos anos 1970 aos anos 1980. Escrevendo uma década depois, Dos Santos não viu ra-
zão para mudar sua avaliação ao escrever: “[...] a profunda crise latino-americana não
pode encontrar solução dentro do capitalismo. Ou se avança revolucionária e decidi-
damente para o socialismo [...] ou se apela à barbárie fascista, única capaz de assegurar
ao capital as condições de sobrevivência política.” (DOS SANTOS, 1978a, p. 471).
De fato, a barbárie parecia ter assumido o controle não apenas no Chile, com o
longo governo da ditadura militar de 1973 a 1989, mas também em vários outros países
da região, na esteira de outros golpes de Estado. O drama chileno marcou um ponto de
inflexão ao inaugurar a era da globalização neoliberal e o declínio gradual ao TD. Mas
primeiro a TD se espalhou para outros países da América Latina, Estados Unidos e
Europa, dando-lhe um novo impulso devido à diáspora de exilados vindos do Chile. A
transição chilena para o socialismo por meio das urnas atraiu a atenção internacional,
apesar do pequeno tamanho do país e de sua localização, cercado pela alta cordilheira
andina a leste e o vasto oceano Pacífico a oeste. Muitos acadêmicos, pesquisadores e ati-
vistas visitaram o Chile durante os anos Allende para ver esse experimento em primeira
mão. Como o CESO era o centro da TD, recebeu vários visitantes de destaque, entre
eles Eric Hobsbawm, Alain Touraine e Paul Sweezy. As campanhas de solidariedade em
todo o mundo desempenharam um papel crucial em assegurar a liberação e a passagem
segura de muitos exilados, bem como em encontrar um meio de vida adequado para
eles em seus novos países de residência.
Da dependência à teoria do sistema-mundo: do exílio no México à volta
ao Brasil
Dos Santos teve a sorte de poucos meses depois de chegar ao México em 1974, poder
retomar suas atividades acadêmicas com um emprego no Instituto de Investigaciones
Económicas da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) na Cidade do Mé-
xico. É a principal universidade do país, com mais de 300 mil alunos, e uma das maio-
res universidades da América Latina. Em 1976, Dos Santos tornou-se coordenador do
programa de doutoramento da Faculdade de Economia. Ele lecionou uma variedade de
82
ARTIGOS
disciplinas, como Economia Internacional e Economia Política da Ciência e Tecnologia,
refletindo uma mudança em sua pesquisa em direção à economia mundial, com parti-
cular interesse na revolução técnico-científica, aprofundando assim seu foco anterior na
tecnologia. Também ministrou cursos de Ciência Política e Filosofia na Faculdade de
Ciência Política e Filosofia da UNAM (CNPq, 2018; DOS SANTOS, 2000/2002).
Como ele mesmo escreveu: “A partir de 1974, durante o meu segundo exílio no
México, dediquei-me à questão mais global da Revolução Científico-Técnica, desen-
volvendo junto com Immanuel Wallerstein, André Gunder Frank e Samir Amin, entre
outros, uma teoria de um sistema mundial sobre a qual recai o foco de minhas pesqui-
sas atuais” (DOS SANTOS, 1998, p. 68)
21
20
. André Gunder Frank (s.d.) reconheceria ao
revisar o livro de Dos Santos (2000/2002): “foi Theotonio quem, décadas atrás, cha-
mou nossa atenção para o fato de que devemos fazer nosso próprio estudo da econo-
mia mundial, como então fizemos” (FRANK, s.d.). Com seu compatriota Celso Furta-
do, entre outros, Dos Santos tornou-se cofundador da Associação de Economistas do
Terceiro Mundo, cujo primeiro congresso aconteceu na Argélia em 1976, sob os auspí-
cios do Movimento dos Não Alinhados, formado em 1961 por um grupo de países (em
grande parte em desenvolvimento) que não estavam alinhados aos principais blocos
de poder existentes na época, os EUA e a URSS. Seu amigo Samir Amin também esteve
presente (DOMÍNGUEZ-MARTÍN, 2018). Os debates nesse congresso foram muito
influenciados pela TD, pois suas ideias se espalharam para outros países do Terceiro
Mundo (para usar um termo comum nos tempos da Guerra Fria), indo para muito
além da região que lhe deu origem.
Embora o trio Bambirra-Marini-Dos Santos tenha ido para seu segundo exílio para
o México, morando na Cidade do México e trabalhando na mesma universidade, a
UNAM, eles foram incapazes de recriar o entusiasmo, a unidade, o senso de propósito e
a urgência política que haviam sido a razão e a motivação para seu trabalho colaborativo
desde os dias de estudante. Eles eram todos figuras bem estabelecidas, cada um com
seus próprios seguidores. Eles gradualmente se distanciaram profissionalmente, cada
um perseguindo sua própria agenda de pesquisa particular. Embora Bambirra e Dos
Santos tenham publicado alguns capítulos e livros conjuntos (por exemplo, BAMBIRRA;
DOS SANTOS, 1979, 1980) durante esse período, eles não estavam trabalhando juntos
na TD. Os tempos e as circunstâncias mudaram à medida que a maré histórica virou
22
21
.
Durante seu exílio no México, Dos Santos reuniu vários de seus trabalhos anterio-
res sobre TD, reunindo-os com alguns capítulos adicionais escritos no México, no que
considero ser seu livro mais importante sobre a dependência (DOS SANTOS, 1978a).
Também publicou livros sobre suas novas pesquisas em torno da Revolução Cientí-
fico-Tecnológica (Idem, 1977b) e sobre a crise do imperialismo (Idem, 1977c), bem
como uma crítica ao milagre brasileiro (Idem, 1974, 1978b). Ele continuou a publicar
21
20
Um quarto de século após 1974, Dos Santos (2000) contribuiu com um capítulo sobre a gênese
do conceito “sistema econômico mundial” em uma publicação em homenagem (Festschri) a
Immanuel Wallerstein.
22
21
Alguns outros colegas do CESO também encontraram refúgio no México, tornando-se cientis-
tas sociais e pensadores inuentes, incluindo José Valenzuela Feijó na economia, Jaime Osorio
na sociologia e Álvaro Briones em várias áreas.
83
ARTIGOS
Reoriente • vol.1, n.1 jan/jun 2021
um grande número de artigos sobre os assuntos mundiais, o capitalismo contemporâ-
neo, o marxismo, o socialismo, o problema da dívida externa, as empresas transnacio-
nais e o Brasil. Algumas das pesquisas que iniciou no México só foram publicadas mais
tarde, após seu retorno ao Brasil em 1979, com a restauração da democracia – e depois
de ter se assegurado de que a anistia política concedida pelo governo pós-ditadura
também se aplicava a seu caso (DOS SANTOS, 1983a, 1983b, 1984).
Ao retornar ao Brasil, Dos Santos se lançou na política e escreveu um livro sobre o
caminho brasileiro ao socialismo (DOS SANTOS, 1986). Foi um dos membros funda-
dores do Partido Democrático Trabalhista (PDT), que perseguia o socialismo demo-
crático. Seu líder fundador foi Leonel Brizola, político que Dos Santos admirava desde
a juventude no Brasil e que foi eleito duas vezes para o governo do estado do Rio de
Janeiro
23
22
. A encarnação anterior desse partido antes da ditadura, o Partido Trabalhis-
ta Brasileiro (PTB), extinto por esta, era o maior partido de esquerda no Brasil. Com
a ascensão do Partido dos Trabalhadores (PT), essa posição foi reivindicada pelo PT,
cujo líder, Luiz Inácio Lula da Silva, mais conhecido como Lula, foi eleito presidente
do Brasil com o apoio do PDT, servindo dois mandatos entre 2003 e 2010. Dos Santos
concorreu a governador em seu estado natal, Minas Gerais, em 1982, mas não foi eleito.
Posteriormente, concorreu a deputado federal constituinte, em 1986, novamente sem
sucesso (MARTINS, 1999). Quando Brizola e seu PDT romperam com o governador
Anthony Garotinho, liderança emergente do mesmo partido que ameaçava o prota-
gonismo do primeiro, ao aspirar a Presidência da República nas eleições de 2002, Dos
Santos ingressou com ele no Partido Socialista Brasileiro (PSB), de tendências social-
-democratas, para viabilizar essa candidatura.
Embora Dos Santos (2000/2002) inicialmente tenha visto a eleição de Fernando
Henrique Cardoso para a Presidência do Brasil em 1995 como um passo positivo, ele
logo se tornou crítico da mudança do governo para a direita, sua adoção de políticas
neoliberais e seu autoritarismo crescente: “Cardoso parece querer nos convencer de
que o Brasil hoje precisa de um homem de esquerda com a linguagem da direita” (DOS
SANTOS, 1998, p. 67). O relacionamento cordial inicial entre Dos Santos e Cardoso
durante seu período no Chile, portanto, tornou-se tenso após seu retorno ao Brasil de-
vido às suas diferenças políticas. Em uma carta aberta escrita em 2010 - oito anos após
o fim da presidência de Cardoso em 2002 - Dos Santos acertou contas com Cardoso
criticando-o publicamente pelo desempenho de sua presidência. Essa carta aberta foi
provocada por outra carta aberta, a de Cardoso a Lula, que estava chegando ao fim de
sua presidência, na qual Cardoso defende a sua atuação como Presidente e ataca a de
Lula. Dos Santos começa sua carta da seguinte maneira:
Meu caro Fernando, vejo-me na obrigação de responder a carta aberta que você dirigiu ao
Lula, em nome de uma velha polêmica que você e o José Serra iniciaram em 1978 contra o
Rui Mauro Marini, eu, André Gunder Frank e Vânia Bambirra, rompendo com um esfor-
ço teórico comum que iniciamos no Chile na segunda metade dos anos 1960. (2010a, p. 1)
23
N.T.: Leonel Brizola foi governador do estado do Rio de Janeiro entre 1983-1987 e 1991-1994.
Antes do golpe de Estado de 1964, fora também governador do estado do Rio Grande do Sul
(1959-1963), deputado federal pela Guanabara (1963-1964), prefeito de Porto Alegre (1956-58)
e deputado federal pelo Rio Grande do Sul (1955-1956).
84
ARTIGOS
Ele caracterizou o governo de Cardoso como medíocre e o queria longe do poder no
Brasil, como, em sua opinião, a maioria dos brasileiros também queria. No entanto,
caso eles se encontrassem em um evento acadêmico, ele caria feliz em continuar as
discussões sobre a TD com ele. Ele termina sua carta expressando pesar por ter de
confrontá-lo dessa maneira radical, dada a antiga amizade deles. Apesar da defesa de
Dos Santos do governo Lula em comparação com o de Cardoso, ele também foi crítico
a Lula; ele acrescentou sua assinatura a um manifesto de mais de 300 economistas, em
grande parte ligados ao partido de Lula, o PT, exigindo uma mudança na política eco-
nômica. Esse manifesto foi publicado em 2003, durante o primeiro ano da Presidência
de Lula, e foi seguido um ano depois por uma carta mais crítica atacando Lula por se-
guir as mesmas políticas econômicas do governo anterior de Cardoso (LEIVA, 2008).
Na frente acadêmica, Dos Santos passou por várias universidades; em 1984 or-
ganizou um congresso internacional de economistas que reuniu Frank, Marini e
Wallerstein (DOMÍNGUEZ-MARTÍN, 2018). Em 1988, ele e Ruy Mauro Marini con-
seguiram se reintegrar à Universidade de Brasília, graças à Lei da Anistia. Em 1992,
Dos Santos conquistou por concurso público o cargo de Professor Titular de Econo-
mia na Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro
24
23
, alcançando, em
2009, o título de professor emérito do Departamento de Ciência Política, onde havia
se integrado. Em 1985, recebeu o doutorado de Economia por notório saber pela Uni-
versidade Federal de Minas Gerais, por sua contribuição ao conhecimento por meio de
suas múltiplas publicações. Nesse período, também desenvolveu vínculos com a Uni-
versidade das Nações Unidas (UNU) e com a Unesco, coordenando como presidente o
programa de ensino conjunto sobre Economia Global e Desenvolvimento Sustentável
da rede conhecida como REGGEN. Ele também assumiu vários cargos de liderança
em associações profissionais e instituições, tornando-se presidente da Asociación La-
tina-Americana de Sociología (ALAS), membro do conselho executivo da Asociación
Latinoamericana de Política Científica y Tecnológica, consultor do Sistema Económi-
co Latinoamericano (SELA) e diretor de estudos da Maison des Science de l’Homme
da Universidade de Paris I. Em 1990 tornou-se professor associado da Universidade
Ritsumeikan em Kyoto e da Universidade de Paris VIII (MARTINS, 1999).
Capitalismo contemporâneo, crise e teoria social
Nos últimos anos de sua vida, Dos Santos renovou seus esforços de contribuição para
a teoria crítica, escrevendo o que se tornou uma trilogia que ele chamou de La Trilogía
sobre el Capitalismo Contemporáneo, La Crisis y la Teoría Social. No primeiro livro dessa
trilogia, Dos Santos (2000/2002) reúne várias de suas reexões sobre a TD publicadas na
década de 1990, bem como sua crítica aos setores de esquerda que seguiram o projeto
neoliberal. No segundo livro (DOS SANTOS, 2004), discute as principais transformações
da economia mundial e os desaos e oportunidades que elas oferecem para a integração
regional latino-americana, como forma de superar a desintegração gerada pelo processo
de globalização neoliberal. Ele já havia tocado nessas questões, incluindo o tópico cada
vez mais popular do desenvolvimento sustentável, em um livro anterior (Idem, 1993).
24
N.T.: Estado do Rio de Janeiro, cidade de Niterói.
85
ARTIGOS
Reoriente • vol.1, n.1 jan/jun 2021
No último livro dessa trilogia (DOS SANTOS, 2007), faz uma crítica contundente
da base filosófica do neoliberalismo e de seu fundamentalismo de livre mercado. Des-
taca a relação entre o terrorismo de Estado e as políticas neoliberais, tendo por base a
experiência do Chile e de outros países da região, e demonstra como os governos e o
capital usam as recessões econômicas para disciplinar o trabalho, erodir os direitos dos
trabalhadores e desativar os movimentos sociais. Ele também analisa as ondas longas
de Kondratiev dentro de uma perspectiva de sistema mundial, argumentando que um
ciclo expansivo começou em 1994 tendo por base a Revolução Científico-Técnica, que
levou à enorme transferência de recursos para o sistema financeiro. Em seu longo
prólogo na edição peruana do segundo livro, publicado em 2010 com um título ligeira-
mente diferente, ele se refere à crise financeira e à recessão de 2008-2009 como evidên-
cia da instabilidade do livre mercado e mostra como isso está abrindo uma nova fase
recessiva longa no sistema capitalista mundial, com consequências negativas colossais.
Argumenta que essa profunda crise pode abrir o caminho para experiências pós-ca-
pitalistas ou mesmo socialistas com força suficiente “para inaugurar um novo sistema
mundial, assentado em uma civilização planetária, plural, igualitária e democrática
(DOS SANTOS, 2010b, p. 18). Ele alerta os leitores que tal resultado não é garantido,
pois o fascismo pode levantar sua horrenda cabeça novamente, como aconteceu em
crises anteriores do capitalismo (CAPUTO, 2018 [2013]).
Embora Dos Santos tenha feito referência a uma “civilização planetária” no terceiro
livro de sua trilogia, foi somente em seus últimos anos que desenvolveu adequadamen-
te esse conceito, enquanto tentava lidar com o processo de globalização, no que se re-
velou seu último grande livro – e de tamanho considerável, com 561 páginas – escrito
em homenagem a Celso Furtado. Ele escreve:
Como notamos, o mundo está se transformando, drasticamente. Estamos na fronteira
de uma nova era econômica, social, política e cultural. O que a dene é, essencialmente,
a criação de uma dimensão global da vida, que é o ponto de partida para uma civilização
planetária. (DOS SANTOS, 2016, p. 250).
Ele então faz uma útil distinção entre os conceitos de globalização, economia mundial,
sistema mundial e nova ordem mundial e explica o signicado de seu novo termo
:
O conceito de uma Civilização Planetária está baseado na ideia da convergência de ci-
vilizações e culturas em direção a um convívio plural num sistema planetário único. Este
novo estágio de civilização ainda não se concretizou, mas já é antevisto pelos interesses
comuns de todos os países e de todos os governos, que precisam sobreviver num plane-
ta único, integrado por modernos meios de comunicação e transporte. Todos estão su-
bordinados aos mesmos recursos naturais globais, e suas populações dependem de uma
herança biológica e cultural, comum a toda humanidade. (DOS SANTOS, 2016, p. 251)
Além disso, ele profere este aviso dramático: “A civilização planetária será pluralista,
tolerante e múltipla ou não será!” (DOS SANTOS, 2016, p. 13). Em um artigo relacio-
nado, ele reivindica
[...]uma concepção revisada de desenvolvimento em termos mais sociais, sustentáveis e
humanos, um papel mais forte para o Estado na organização das economias local, nacional
e mundial, e um sistema mais forte de relações Sul-Sul com base no renascimento das ins-
86
ARTIGOS
tituições do Terceiro Mundo e uma estrutura civilizacional, losóca e política que trans-
cende a visão eurocêntrica do mundo. (DOS SANTOS, 2011, p. 45; veja-se IDEM, 2012).
Na longa introdução desse livro, Santos (2016) se refere à sua relação com Furtado e
ao seu envolvimento no lançamento da candidatura de Furtado ao Prêmio Nobel de
Economia como um grande evento em 2003
25
24
. Surpreendentemente, ele não se refere
às respectivas contribuições para a TD. Furtado foi um dos primeiros estruturalistas,
tendo ingressado na CEPAL ainda jovem, e mais tarde se tornou um dos principais
representantes da variante estruturalista da TD. Embora os dois tivessem muito em
comum, Dos Santos criticou essa vertente da TD por seu reformismo. Embora os tem-
pos produzam mudanças, o julgamento crítico sobre Dos Santos feito por Domínguez-
-Martín (2018) com referência a este livro está aberto a questionamentos:
tributo que resulta sintomático de sua [Dos Santos] identicação nal com o enfoque
interdisciplinar e culturalista do grande intelectual brasileiro [Furtado] resumido no
conceito de ‘civilização planetária, que acabou substituindo o socialismo no horizonte
utópico de eotonio. (2018, p. 195-196)
Dos Santos (2016) menciona em seu prefácio que já havia usado o termo “civilização
planetária” em uma publicação de 1988
26
25
. Em um significativo e simbólico parágrafo
ele se refere aos intelectuais comprometidos, lutadores e amigos que morreram, e dá
seus nomes, mais de 45 deles. Entre esses amigos destaca Darcy Ribeiro que, como
mencionei antes, foi o primeiro reitor da Universidade de Brasília, onde o quarteto
plantou as sementes da TD (DOS SANTOS, 2016, 14). Dos Santos foi o último dos de-
pendentes marxistas pioneiros a morrer. Nesse reconhecimento muito comovente, ele,
de certa forma, despedia-se de seus amigos falecidos e talvez também de seus amigos
sobreviventes, leitores e gerações mais jovens.
Sobre as origens e a relevância da teoria da dependência
Embora as origens da TD sejam diversas, e “dependência” e termos similares tenham
sido usados anteriomente por vários autores, foi somente em meados da década de
1960 que o termo passou a ser usado de forma sistemática por Dos Santos, Marini,
Bambirra (“o trio”), Frank (“o quarteto”) e Cardoso. A base original da variante mar-
xista da TD pode ser rastreada até a troca de ideias do quarteto durante seus anos na
recém-fundada Universidade de Brasília (WASSERMAN, 2012). Talvez seja simbólico
e apropriado que isso tenha acontecido em Brasília, a nova capital do Brasil, loca-
lizada no coração da América do Sul, já que a TD foi, sobretudo, uma crítica auda-
ciosa das teorias de desenvolvimento dominantes nortecêntricas e uma manifestação
do pensamento crítico criativo a partir da perspectiva do Sul. Pensadores como José
Carlos Mariátegui (1928/1955) com seus “Sete Ensaios” e Raúl Prebisch (1950) com
seu “Manifesto da CEPAL” começaram a facilitar o avanço dessa crítica, mas foi a TD
25
Para um artigo sobre o legado de Celso Furtado, veja-se Kay (2005b). Embora a campanha
tenha causado grande rebuliço, não foi bem-sucedida em seu objetivo: Furtado não recebeu o
Prêmio Nobel.
26
Dos Santos, 1988; ver também Dos Santos, 2010c.
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que alcançou impacto global e marcou o ponto de inexão fundamental na busca de
uma voz autóctone da região e do Sul (MALLORQUÍN, 2021). Quaisquer que sejam
as limitações da TD, essa é a sua principal contribuição para as ciências sociais no que
hoje se pode denominar descolonização do conhecimento
27
26
.
Têm havido muitas análises e críticas da TD, de uma variedade de quadrantes,
incluindo debates entre os dependentistas28
27
. Para Cardoso e Faletto (1979, p. xxiii),
não fazia sentido tentar formular uma teoria do capitalismo dependente com suas
próprias leis de movimentos. Cardoso preferiu discutir diferentes situações de depen-
dência em vez de tentar construir uma teoria global. Enquanto Marini desenvolveu a
formulação teoricamente mais avançada da TD a partir de uma perspectiva marxista,
Bambirra (1973) considerava que a vertente marxista da dependência ainda não havia
alcançado um status teórico29
28
. José Valenzuela (2021), colega do quarteto CESO, é
mais enfático: ele argumenta que “a abordagem não conseguiu avançar para o status
de um corpus teórico compacto e de ordem superior”. Eu acrescentaria: nem a vertente
estruturalista. A TD pode não ser uma teoria no sentido estrito do conceito, mas foi
um fenômeno social, político e cultural de seu tempo
30
29
.
Dos Santos foi levado a discordar de Cardoso quanto a quem primeiro lançou a
TD. Ele se ressentiu com uma afirmação de Cardoso (1980) em que este pretende
atribuir a si mesmo a autoria única das origens da TD. Em vez disso, Dos Santos argu-
menta que já havia antecipado a tese da dependência em uma publicação de 1966 que
Cardoso leu e citou posteriormente
31
30
. Além disso, ele esclarece que:
“Fizemos vários seminários juntos em Santiago de Chile e, apesar de eu ser mais jovem,
creio que nos inuenciamos mutuamente. Apesar de muitos autores terem tentando
revelar-se criadores da teoria da dependência, fomos eu, André Gunder Frank e Fernan-
do Henrique Cardoso. Considero essa uma questão secundária” (DOS SANTOS, 2002
[2000], p. 145-146)
32
31
.
27
Como exemplo, considere o seguinte texto da Redemption Song do icônico cantor caribenho
Bob Marley: Emancipem-se da escravidão mental / Ninguém exceto nós mesmos pode libertar
nossa mente /[...] Você não ajudará a cantar / Essas canções de liberdade? / Isso é tudo que eu
sempre peço “. Esta canção é citada pelo inuente dependentista caribenho Norman Girvan
(GIRVAN, 2006, p. 347). Um dos principais contribuidores para a análise da dependência ideo-
lógica e cultural é Tomás Vasconi (1971, 1972); veja também seu artigo com Marco Aurelio
García de Almeida (VASCONI; GARCIA ALMEIDA, 1972).
28
Dos Santos (2000; 2002) escreveu que meu livro (KAY, 1989) “oferece o melhor resumo dos
debates do período, e que meu artigo (KAY, 1993) “indica com aguda perspicácia alguns cami-
nhos atuais do debate.
29
Segundo Seabra (2019), a vertente marxista da dependência alcançou o status de teoria em
grande parte devido à obra de Ruy Mauro Marini.
30
Robert Packenham (1992:, p. vi) refere-se ao “movimento de dependência” que ele ataca por
politizar a ciência ao violar “o valor mais básico da academia: a liberdade de ir aonde os fatos,
a lógica e a razão levam, livre de pressões políticas e de medos de ser politicamente incorreto ”.
Para uma revisão do livro de Packenham, veja-se Kay (1994).
31
Dos Santos refere-se a um texto mimeografado seu de 1966, que Cardoso citou em algumas de suas
publicações anteriores e que foi devidamente publicado um ano depois como Dos Santos (1967).
32
Surpreendentemente, Dos Santos não se refere aqui a Ruy Mauro Marini ou Vânia Bambirra.
88
ARTIGOS
Frank (2003) refere-se a este comentário de Dos Santos e concorda plenamente com
ele, indo ainda mais longe, ao argumentar que não é apenas uma questão menor, mas
não deveria ser uma questão de todo
33
32
.
Depois de deixar o Chile em 1973, para nunca mais voltar a viver na América Lati-
na, Frank “reorientou” sua pesquisa e publicou seu último livro importante (que con-
siderou o melhor) sobre a Ásia (FRANK, 1998; KAY, 2011). Embora já não fosse o foco
de sua pesquisa, Frank permaneceu firmemente enraizado na América Latina, como
afirmou Dos Santos (2005b), Frank “se sentia acima de tudo um latino-americano. A
amizade deles perdurou, conforme ilustrado pelo fato de que cada um contribuiu com
um capítulo para um livro editado em homenagem ao outro (DOS SANTOS, 1996;
FRANK, 1999). Após a morte de Frank em abril de 2005, Dos Santos escreveu um
obituário comovente contando a última visita de Frank ao Brasil em agosto de 2003:
O próprio André também foi capaz de nalmente retornar a Brasília, São Paulo e Santa
Catarina. Apesar de sua já avançada enfermidade, fez questão de viajar por todos estes
lugares para testemunhar que a teoria da dependência nasceu em 1963-1964 dos nossos
debates e descobertas no magníco ambiente de ensino e aprendizagem que era a Uni-
versidade de Brasília. (2005a, p. 91)
Se as reexões do quarteto na Universidade de Brasília foram precursoras da TD, foi
por meio de suas contínuas pesquisas no CESO de Santiago que esta se desenvolveu
e amadureceu. Tanto Dos Santos como Marini guardam boas recordações do curto,
porém, intensamente criativo período no CESO. Como recorda Dos Santos (2005b):
Exilado no Chile como nós, André ingressou no Centro de Estudos Sócio-Econômicos
(CESO) da Faculdade de Economia da Universidade do Chile, do qual fui o Diretor.
Também estiveram presentes Ruy e Vania, o que nos permitiu realizar muitos projetos
conjuntos. A experiência de governo da Unidade Popular foi um grande estímulo para
o trabalho intelectual, um laboratório fantástico para analisar a mudança social e re-
volução. Frank viveu essa realidade com muita intensidade, com o apoio de sua esposa
Marta, que era chilena. (2005a, p. 91)
Anteriormente, ele também havia elogiado o ambiente fraterno do CESO, que facilitou
o debate aberto e franco, o que era geralmente incomum nos círculos intelectuais (DOS
SANTOS, 1970b). Ruy Mauro Marini compartilhou esses sentimentos: “O CESO foi,
em seu momento, um dos principais centros intelectuais da América Latina. Entretan-
to, o segredo da intensa vida intelectual que o caracterizou foi a permanente prática
interna de diálogo e discussão” (MARINI, s.d., apud. CÁRDENAS, 2015, p. 122)
34
33
.
33
Embora os termos “dependente” ou “dependência” tenham sido usados antes por alguns es-
critores, seu uso era amplamente descritivo e carecia do signicado analítico desenvolvido pelos
autores mencionados neste artigo. Celso Furtado (1956) utilizou o termo em meados da década
de 1950 em seu livro sobre a economia brasileira, mas foi somente em seus escritos posteriores
que o termo adquiriu o sentido próprio (KAY, 2005b). Para discussões sobre as origens da teoria
da dependência, veja-se Palma (1978), Kay (1989) e especialmente Love (1990).
34
Para uma análise do CESO, das ciências sociais e do clima político no Chile durante os anos 1960
e início dos anos 1970, veja-se Cárdenas (2011 e 2016), Lozoya (2013 e 2020) e Salinas (2015).
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ARTIGOS
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Nos últimos anos de sua vida, Dos Santos recebeu vários títulos de doutor honoris
causa de universidades no Peru, no México, no Argentina e no Chile, bem como outras
distinções e prêmios, entre eles o World Marxian Economics Award concedido pela
Associação Mundial de Economia Política (WAPE, na sigla em inglês). Surpreenden-
temente (e vergonhosamente), ele não recebeu um título de doutor honoris causa da
Universidade do Chile. Mas ex-colegas do CESO e amigos organizaram um evento em
homenagem a Dos Santos logo após a sua morte, que teve lugar no edifício histórico
principal da Universidade do Chile, a apenas algumas quadras do palácio presidencial
onde Allende morreu em 11 de setembro de 1973.
A TD ainda é relevante hoje? Enquanto a vertente estruturalista da TD se con-
verteu em neoestruturalismo como uma forma de lidar com a violenta ofensiva do
neoliberalismo, aqueles que trabalham dentro da vertente marxista da TD mudaram
amplamente para a teoria do sistema-mundo. Enquanto a mutação da primeira em
neoestruturalismo poderia ser considerada um retrocesso, no sentido de que incorpo-
rou elementos do neoliberalismo e desistiu de alguns aspectos-chave do estruturalis-
mo (GWYNNE e KAY, 2004), a mudança da última para a teoria do sistema-mundo
poderia ser considerada uma evolução natural, especialmente para aqueles que eram
teóricos do sistema mundial avant la lettre, como foi o caso de Dos Santos – embora,
ao contrário de Frank, que abraçou totalmente a teoria do sistema-mundo, ele con-
tinuou a usar o conceito de dependência até sua morte. Na tentativa de responder à
questão de sua pertinência, alguns analistas escreveram sobre a relevância contínua
da TD (KAY; GWYNNE, 2000); sobre sua vida, morte e ressurreição (BEIGEL, 2006);
sobre sua ascensão e queda, mas deixando em aberto sua possível redenção (CORTÉS,
2016; SANCHÉZ, 2003); sobre como atualizá-la (KATZ, 2019); reformulando-a (RO-
DRIGUES, 2014); recarregando-a (PIMMER; SCHIMIDT, 2015); reafirmando sua
relevância (KVANGRAVEN, 2020; ÖZEKIN, 2020) e indo além dela (DE OLIVEI-
RA, 2020). Qualquer que seja o veredicto sobre a relevância contemporânea da TD, é
indubitável que experimentou um renascimento após a crise financeira de 2007-2009,
cujos efeitos ainda estão reverberando na economia mundial
35
34
.
Conclusão
eotonio Dos Santos deu uma contribuição importante para a TD e, em menor me-
dida, para a teoria do sistema-mundo. Ele será para sempre lembrado por sua contri-
buição pioneira para a TD. A TD reetiu um período histórico na América Latina que
inuenciou os crescentes movimentos estudantis nas décadas de 1960 e 1970, bem
como os movimentos terceiro-mundistas e anti-imperialistas em todo o mundo. Tam-
bém moldou os programas políticos e governamentais em vários países. A TD refor-
mou os currículos acadêmicos e de pesquisa em muitos países e começou a mudar o
35
Em anos recentes, vários livros e edições especiais de periódicos foram publicados sobre a
teoria da dependência, contribuindo para seu renascimento que, no entanto, ainda é relativa-
mente comedido; veja-se Katz (2018), Martins e Filgueiras (2018), Osório (2016), Seabra (2016),
Sotelo (2018), entre outros. Para o esforço teórico mais notável e ambicioso para desenvolver as
interconexões entre a teoria da dependência e a teoria do sistema-mundo, ver Martins (2020).
90
ARTIGOS
viés nortecêntrico das ciências sociais, não apenas no Norte, mas também no Sul, aju-
dando a descolonizar nossas mentes. Houve reveses à medida que os tempos mudam e
os contra movimentos emergem, como com a ascensão do neoliberalismo.
Dos Santos esteve no centro desse movimento dependentista, embora muitos não
soubessem disso. Quaisquer que sejam os méritos dessas teorias e a contribuição de
Dos Santos para elas, ele, sem dúvida, encorajou novas gerações de acadêmicos e ati-
vistas a se basearem nos problemas reais que o mundo, seus próprios países e povos
enfrentam
36
35
. Ele estava ansioso para contribuir para uma ciência social que refletisse
as realidades do Sul no contexto mundial e alertasse contra a aplicação mecânica de
teorias emanadas de uma realidade diferente. Seus muitos escritos e suas numerosas
palestras em todo o mundo foram inspiração e motivação para muitos desenvolverem
a criatividade intelectual crítica e o ativismo para a melhoria da humanidade.
36
Como parte de seu ativismo político, era importante para Dos Santos alcançar o público mais
amplo possível; portanto, seus artigos e seus livros foram reproduzidos em uma variedade de
publicações. Uma coletânea em quatro volumes de suas obras está disponível gratuitamente
on-line (mas observe-se que a numeração das páginas pode ser errática): RIVERA, María del
Carmen del Valle e Sergio Javier Jasso Villazul (ed.) (2015) Obras Reunidas de eotonio Dos
Santos. Ciudad de México: Instituto de Investigaciones Económicas, Universidad Nacional Au-
tónoma de México (UNAM). Ele pode ser baixado em http://ru.iiec.unam.mx/id/eprint/3105.
O curriculum vitae de Dos Santos, que se refere apenas a suas atividades prossionais e suas
publicações, pode ser baixado no site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientíco e
Tecnológico (CNPq), http://lattes.cnpq.br/6723468271805377.
91
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Abstract: e life and work of eotonio dos Santos is analyzed, focusing on his
contribution to dependency theory, beginning with his formative years in academia
and his early political activism in Brazil, highlighting his period at the University of
Brasilia with Vania Bambirra, Ruy Mauro Marini and André Gunder Frank. During
their years of exile in Chile, these four researchers regrouped in the Centre for Socioe-
conomic Studies (CESO) of the University of Chile, which became the center of the
Marxist theory of dependency in Latin America. It is at CESO that Dos Santos wrote
his founding texts on dependency theory. e military coup of September 11, 1973
forced him once again into exile. During his exile in Mexico, and then back in Brazil,
he continued to develop dependency theory but he mainly focuses on world system
theory. His work culminates with the publication of his trilogy on the contemporary
crisis of capitalism and with his book on development and civilization in homage to
Celso Furtado.
Keywords: Dependency eory. World System. Ruy Mauro Marini. André Gunder
Frank. Vania Bambirra. Brazil.
Resumen: Se analiza la vida y obra de eotonio dos Santos enfocándose en su con-
tribución a la teoría de la dependencia comenzando con sus años de formación en la
academia y su temprano activismo político en Brasil, destacándose su período en la
Universidad de Brasilia junto a Vania Bambirra, Ruy Mauro Marini y André Gunder
Frank. Durante sus años de exilio en Chile, estos cuatro investigadores se reagrupan
en el Centro de Estudios Socioeconómicos (CESO) de la Universidad de Chile que se
transforma en el centro de la teoría marxista de la dependencia en América Latina. Es
en el CESO donde Dos Santos escribió sus textos fundacionales sobre la teoría de la
dependencia. El golpe militar del 11 de septiembre de 1973, lo obligó una vez más al
exilio. Durante su exilio en México, y luego de regreso en Brasil, sigue desarrollando la
teoría de la dependencia pero se centra principalmente en la teoría del sistema mundial.
Su obra culmina con la publicación de su trilogía sobre la crisis contemporánea del
capitalismo y con su libro sobre desarrollo y civilización en homenaje a Celso Furtado.
Palabras clave: Teoría de la Dependencia. Sistemas-Mundo. Ruy Mauro Marini.
André Gunder Frank. Vania Bambirra. Brasil.