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Reoriente • vol.1, n.1 jan/jun 2021
desaar as partes mais entorpecentes (stultifying) da minha educação. (WALLERSTEIN,
2000, p. xvii)
Entre os desaos, despontava o de elaborar um marco analítico alternativo à teoria da
modernização, que ele constatava ser incapaz de explicar a realidade. Os primeiros
passos nessa direção foram dados na África em 1965. Ao preparar uma conferência
sobre problemas mundiais, resolveu ampliar os escopos temporal e espacial da aná-
lise. Em 1966, armava que, se o objetivo era transformar o mundo para transfor-
mar a África, o campo de ação do movimento pela unidade africana era o mundo
(WALLERSTEIN, 1966, p. 41).
A busca por uma metodologia adequada para comparar países com diferentes
graus de desenvolvimento, foi de certa forma interrompida pelas revoltas estudantis
de abril de 1968 na Universidade Columbia, com as quais se envolveu intensamente.
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Apesar de considerar a “revolução mundial de 1968” o mais importante acontecimento
do século XX
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, a experiência direta nos acontecimentos da Universidade Columbia pa-
rece não ter influenciado concretamente sua busca por conceitos adequados para com-
preender o sistema mundial. De fato, nos escritos do final da década de 1960, apesar
do uso do termo sistema mundial denotar certo holismo, Wallerstein ainda conservava
o estado nacional como unidade de análise. (WIILIAMS, 2020) Surpreendentemente,
em um ensaio sobre o desenvolvimento econômico, escrito em 1970, não há qualquer
conceito que remeta a uma perspectiva histórico-mundial. (WALLERSTEIN, 1971a).
A expressão sistema-mundo (assim mesmo, com hífen) aparece na resenha dos livros
de Amilcar Cabral, e de Gérard Chaliand. (WALLERSTEIN, 1971). A Análise dos
Sistemas-Mundo é apresentada pela primeira vez no ensaio Three Paths of National
Development in Sixteenth-Century Europe (1972), no qual Wallestein mostra como as
funções de três regiões na economia mundo fazem uma delas (Polônia) se transfor-
mar em periferia, outra (Veneza) descer para a semiperiferia e a terceira (Inglaterra)
ascender para o centro da economia mundo europeia. Portanto, neste ensaio, que nos
parece uma síntese do argumento central de O Moderno Sistema-Mundo I, a unidade
de análise da comparação é a economia mundo, ainda grafada sem o hífen, que depois
foi considerado fundamental para indicar que essa expressão designa um espaço es-
pecífico. Dois autores foram decisivos para essa descoberta: Fernand Braudel, que o
introduziu ao século XVI e às noções de economia-mundo e longa duração; e Marian
Malowist, através de quem tomou conhecimento de Braudel e quem, junto com outros
historiadores econômicos poloneses, mostrou concretamente o conceito de periferia.
(WALLERSTEIN, 2004).
Se foi no decurso de suas pesquisas sobre a África que Wallerstein percebeu que
para entendê-la teria de explicar primeiro o sistema mundial em que ela se inseria,
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foi
também esse continente que mereceu a primeira aplicação da Análise dos Sistemas-
-Mundo, o que aconteceu em 1973, no discurso intitulado África in a Capitalist World,
que Wallerstein proferiu como presidente da ASA. (WALLERSTEIN, 1973) A esta al-
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Para detalhes desse envolvimento, ver WILLIAMS (2020)
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Ver WIILIAMS (2013) e WALLERSTEIN (2007)
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Wallerstein descreve essa mudança na Introdução de O Moderno Sistema-Mundo.