134
HOMENAGEM
134
uma grande admiração pela Revolução Cubana, uma grande confiança no futuro de
nossos povos e uma visão clara das formas que deveriam assumir as lutas para alcançar
grandes mudanças sociais.
Sua heterodoxia e sua flexibilidade na análise e na aplicação do método marxista
sem rigidez é outra característica essencial de seu trabalho.
A partir daquele momento - e especialmente entre 1996 e 2002, quando eu era asses-
sor regional para Ciências Sociais na Unesco e depois diretor de seu Escritório Regional
em Caracas e do IESALC – e até sua morte, sempre mantivemos uma intensa colabo-
ração. Sua obra foi, mesmo antes de conhecê-lo pessoalmente, a principal influência in-
telectual para meu trabalho, no que diz respeito ao capitalismo dependente em nossos
países. Nunca esquecerei nossas longas caminhadas e diálogos no Rio de Janeiro, em
Niterói, em Paris, em Caracas, em Havana, em Amsterdã e muitas outras cidades.
Desde aquela reunião no México (1976), estivemos unidos em múltiplos projetos e
eventos até sua morte em 2018. Dos Santos escreveu o prólogo do meu livro Cuba cairá?
(Vozes, 1995). Criamos com ele a Cátedra Unesco-United Nations University (UNU) e
a Rede sobre Economia Global e Desenvolvimento Sustentável (REGGEN), da qual foi
presidente. Ele preparou – juntamente com Ruy Mauro Marini – a nosso pedido, uma
Antologia do Pensamento Social Latino-Americano no século XX.
Em 1996, da Unesco-Caracas, decidimos fundar, junto com o professor colombia-
no Francisco Mojica, a Rede Latino-Americana de Estudos Prospectivos (RELAEP),
da qual fui presidente durante seus anos de existência (1996-2004). Theotonio par-
ticipou de todos os congressos que realizamos entre 1996 e 2004, quando essa Rede
deixou de existir, e dos dois volumes que publicamos.
Em 1998, reunimos um valioso grupo de intelectuais próximos a Theotonio para
escrever ensaios em homenagem a ele por seus 60 anos. O resultado foi um livro de dois
volumes The Challenges of Globalization (Unesco, 1998), com contribuições do próprio
Dos Santos e de autores relevantes como Ruy Mauro Marini, Samir Amin, Immanuel
Wallerstein, André Gunder Frank, Celso Amorim e Vânia Bambirra, entre outros. O
livro foi introduzido por um excelente ensaio de seu discípulo Carlos Eduardo Martins.
Então, no ano 2000, sua esposa, a cientista social Monica Bruckmann, outra grande co-
laboradora nossa, publicou no Peru uma nova edição de Os Desafios da Globalização. O
então presidente de Cuba, Fidel Castro, achou esse trabalho de grande interesse e decidiu
começar a realizar eventos anuais sobre globalização no Centro de Convenções de Ha-
vana a partir de 1999. No primeiro desses eventos, do qual participei, estabeleceu-se um
longo diálogo na plenária entre Dos Santos e Fidel – que admirava muito o trabalho de
Theotonio. Fidel o convidou para jantar e o diálogo continuou.
Em 1999, Theotonio Dos Santos ficou na minha casa, em Caracas, e foi chamado
pelo presidente recentemente eleito Hugo Chávez, que admirava muito seu trabalho.
Ele se comprometeu a dar assessoria permanente ao Centro Internacional Miranda
(CIM), que estava em processo de criação, já que não podia aceitar sua direção devido
a compromissos anteriores.
Em 2003, o professor Dos Santos coordenou um evento REGGEN, “Seminário In-
ternacional Hegemonia e Contra-hegemonia: os impasses da globalização e dos pro-
cessos de regionalização”. O primeiro volume do livro Os impasses da globalização,
– coordenado por Theotonio e organizado por Carlos Eduardo Martins, Fernando Sá