Reoriente • vol.1, n.1 jan/jun 2021
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tempos distintos sobre a vida e a obra de Atilio Alberto Boron. Notórias são as mar-
cações relativas às transformações das décadas de 1960 e 1970 analisadas por ele, que,
sob forte influência marxista e as repercussões do exílio, tornaram esse sociólogo um
intelectual público.
E, por fim, a terceira parte, “Revolución en nuestra América”, brinda-nos com dois
textos que versam sobre a importância política e revolucionária de Fidel Castro e Hugo
Chávez. Boron mostra-nos que não estamos diante de uma “herança” ou um “legado”,
mas de uma permanente e necessária transição revolucionária em Nossa América,
defendida e radicalizada por esses dois grandes líderes. Dentre as posições, aquela
que destaca Boron como um dos maiores intelectuais da esquerda latino-americana é,
justamente, sua inseparabilidade da perspectiva socialista democrática.
Nessa ontologia, portanto, apreende-se que o autor não só faz o resgate dos escritos
numa estrutura meramente cronológica, mas os temporaliza, ao mediá-los em seus
respectivos tempos e processos sócio-históricos. Com isso, Boron publiciza a atuali-
dade do seu pensamento em meio século, revisa algumas considerações, bem como
aponta, instiga e analisa as transformações ocorridas nesse período, na América Latina
e no mundo. Parece-nos, nesse sentido, que Boron, ao navegar contra a corrente, tem
em sua bússola o horizonte de uma sociedade radicalmente diferente. Afirmação essa
que se faz partindo do seu texto “Hegemonía e imperialismo en el sistema interna-
cional”, originalmente em outubro de 2003, em Havana (Cuba), na XXI Assembleia
Geral do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO). Boron eviden-
cia, nesse texto, a natureza predatória do capitalismo e os impactos dessa política para
a humanidade. Cabe, portanto, ao conjunto das forças progressistas e compromissa-
das com a transformação social, em especial, nas economias periféricas e dependen-
tes, o exame preciso dos problemas desencadeados pela nova hegemonia mundial.
Ao mesmo tempo, quais alternativas de mudanças partiriam dos movimentos sociais,
por serem esses capazes de romper com as estruturas anacrônicas de poder impostas
peloneoliberalismo.
Nota-se nesse precioso texto o chamado à responsabilização das massas, conside-
rando que não há possibilidade de mudar radicalmente um sistema sem uma indig-
nação/revolta generalizada e consciente. Por isso, para Boron, não seria essa uma ação
promovida exclusivamente pelos meios acadêmicos, mas vinculados aos movimentos
de base, às demandas e às necessidades concretas das massas.
Orientado pelo socialismo democrático, essa ontologia traz a experiência do exí-
lio e a formação política e intelectual do autor. Essa formação dá corporeidade a um
Boron mais “amadurecido”, implicado às lutas sociais e aos movimentos de base da
esquerda latino-americana. Em seu texto autobiográfico mencionado anteriormente,
Boron destaca a etapa mexicana, período esse que, segundo ele, estava profundamen-
te marcado pela forte orientação do Terceiro Mundo, impressa pelo então presidente
Luis Echeverría Álvarez, pela solidariedade às vítimas, pela resistência às ditaduras
e pelo entusiasmado apoio aos sandinistas, que culminaria com uma grande vitória
em 1979. É nesse artigo também que Boron revisita e examina alguns dos seus escri-
tos, apontando que, naquele contexto, não foi difícil ingressar plenamente nos deba-
tes precipitados pela conjuntura. Cita um polêmico artigo em que criticava aqueles
que utilizaram, erroneamente, a partir de sua análise, o conceito de fascismo para