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RESENHAS
ventude de colocar o conhecimento como meio de transformar o mundo, sinalizando
a influência do positivismo sobre o autor.
A outra permanência que captamos de Furtado em seus registros é a sua atuação
para que o Brasil superasse o subdesenvolvimento pelo planejamento (tema de seu
interesse desde a década de 1940) e sempre num contexto democrático. Destaca-se o
seu esforço para que a Sudene pudesse ser constituída e como seu primeiro superin-
tendente entre 1959 e 1964, suas articulações políticas e vinculadas aos debates com
a sociedade civil, além da resistência daqueles que se opunham ao projeto, ao mesmo
tempo que buscava sempre salvaguardar a instituição como órgão técnico e autôno-
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. Nesse período cabe destacar de seus registros, no contexto da Conferência sobre
Ciência nos Estados Novos (realizada em Tel Aviv, Israel, em agosto de 1960), uma
conversa com senegaleses, sudaneses e congoleses sobre a Comissão Econômica para
a África (criada em 1958) e as perspectivas para o continente, relatando a eles a expe-
riência da CEPAL e a importância de elaborar uma política independente (tal como ele
buscava fazer no Brasil), observando o ânimo desses jovens africanos. Após o exílio,
vale destacar também a sua participação na Comissão para o Plano de Ação do Gover-
no (Copag) em 1984-1985 para o mandato de Tancredo Neves.
E uma terceira permanência que podemos destacar se encontra no que Furtado
pensa sobre o papel do intelectual, isto é, como alguém que deve estar disposto a in-
terferir na realidade para superar os entraves ao desenvolvimento do ser humano de
maneira geral e ao subdesenvolvimento brasileiro, em particular, quando, já no exílio,
em 1964, nos Estados Unidos, atuando como professor de Yale, afirma (em 15 de ou-
tubro 1964) que nunca foi apenas ou principalmente um intelectual, mas também foi
um homem de ação em relação aos problemas sociais.
Quanto aos elementos de mudança, podemos destacar como Furtado vê e sente
o Brasil e o mundo sendo transformados no decorrer de sua vida e como se dá a sua
atuação política.
Os registros de Furtado nos lançam em uma viagem no tempo, que mostra como a
história vai se desenrolando, indicando-nos concretamente o que é o subdesenvolvimen-
to brasileiro, quão árdua é a luta para superá-lo, como o Brasil está inserido no quadro
do capitalismo mundial. Destacam-se os cenários da participação brasileira na Segunda
Guerra Mundial, da mudança do jogo das relações internacionais após esse conflito, de
maneira como a Guerra Fria conformou esse mundo até a década de 1990 e de que ma-
neira a globalização traz desafios cada vez maiores às nações subdesenvolvidas.
Quanto à atuação política do intelectual Furtado, cabe observar que ela é diferente
antes e depois do exílio. Antes do exílio, embora ativo e presente na vida nacional, o
que se revela em sua participação como superintendente da Sudene, ministro do Plane-
jamento de João Goulart, e outras funções que assume na vida nacional, não pertence
a nenhum partido político. A partir de 1979, quando passa a vir com mais frequência
ao Brasil, sua atuação política se dá dentro de um partido político (o PMDB). Participa
da luta pela redemocratização de maneira mais intensa em 1984 (como registra nos
Diários) e no período 1985-1988 (no governo Sarney), primeiro como embaixador
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Nesse período não se encontra registrada nos Diários a atuação de Furtado no Ministério do
Planejamento, mas podemos encontrá-la em A fantasia desfeita (1989).