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Reoriente • vol.1, n.1 jan/jun 2021
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Atenta a esses processos históricos, a Reoriente busca fortalecer a longa trajetória de
encontro do pensamento crítico latino-americano com o marxismo e o pensamento
contra-hegemônico mundial, contribuindo para a elaboração de um pensamento so-
cialista capaz de impulsionar as grandes transformações que abram o caminho para a
afirmação da humanidade, da preservação da vida e da construção de um novo pata-
mar civilizatório no século XXI. Tal encontro é necessariamente um processo comple-
xo, dialético, contraditório, pluriversal que busca construir a unidade na diversidade,
base do projeto de civilização planetária em oposição ao imperialismo político, ideo-
lógico e cultural. É movida por essas preocupações que a Reoriente pretende se somar
a esse processo de construção intelectual
Em seu número inaugural, a Reoriente publica contribuições de autores de desta-
que internacional que constituem importantes documentos de reflexão teórica e em-
pírica sobre os grandes temas de nosso tempo.
Orlando Caputo é entrevistado por Carlos Eduardo Martins, Fabio Maldonado e
Gabriel Merino e faz um amplo balanço de sua trajetória intelectual e política, em que
aponta os desafios que a economia mundial lança para a renovação do marxismo e da
teoria da dependência. Neste número publicamos as reflexões que faz sobre sua infân-
cia, sua formação acadêmica, sua contribuição intelectual no CESO, sua participação
no governo Allende e seus exílios na Bulgária e no México. O depoimento de Caputo
é um documento biográfico sobre a história da teoria da dependência, a contribuição
de alguns de seus principais autores e suas formas de evolução na interpretação do
desenvolvimento da economia mundial capitalista.
Beverly Silver e Corey Payne analisam as crises mundiais das hegemonias, os re-
quisitos para uma nova hegemonia, destacando a particularidade do período de caos
sistêmico que segue à crise da hegemonia estadunidense. Afirmam que a crise ecoló-
gica, as mudanças substantivas das relações Norte-Sul, bem como o grau de aceleração
dos protestos sociais contra a desigualdade tornam insuficientes as soluções reformis-
tas que impulsionaram o período dourado da hegemonia estadunidense. Abre-se o
espaço para reimaginar uma ampla reconstrução do sistema-mundo que coloque em
questão o protagonismo do capitalismo histórico.
Carlos Eduardo Martins toma a transição para o longo século XXI como para-
digmática para a construção de uma teoria marxista do sistema-mundo capitalista e,
para isso, analisa criticamente as intepretações braudelianas e marxistas propondo a
sua síntese dialética. Ele analisa as contribuições de Immanuel Wallerstein, Giovanni
Arrighi, Beverly Silver, Samir Amin, Theotonio Dos Santos e Ruy Mauro Marini sobre
a crise do capitalismo contemporâneo e propõe a articulação de três movimento de
longa duração para interpretar o caos sistêmico que se estabelece e a possível tran-
sição para o longo século XXI: o desdobramento da revolução científico-técnica do
paradigma microeletrônico ao biotecnológico, a evolução da crise de hegemonia dos
Estados Unidos para sua fase terminal e o esgotamento da fase expansiva do ciclo de
Kondratiev, iniciada em 1994. Afirma que, no caos sistêmico que se estabelece, três
visões de mundo disputarão a organização do sistema-mundo, com fortes vinculações
e implicações geopolíticas: o neoliberalismo decadente, o neofascismo e o socialismo.
Cristobal Kay faz uma ampla análise da biografia intelectual de Theotonio Dos
Santos, destacando suas três etapas constitutivas: o período de formação no Brasil,