Reoriente • vol.1, n.2 jul/dez 2021 • DOI: 10.54833/issn2764-104X.v1i2p212-216 215
Não é exagero armar que a articulação entre determinações histórico-estruturais
da dependência, polo marginal e processo de “cholicación” constituiu uma análise
social sosticada e inovadora para a teoria sociológica marxista latino-americana.
Curiosamente, permanece até hoje abafada, quiçá pela peleja entre “marxistas-
weberianos” do ILPES – um marxismo como “noblesse oblige”, como ironizou certa
vez Francisco de Oliveira (2001) – e “marxistas-trotskistas” do CESO. Porém, não é
estranha, até porque Quijano carrega duas referências incontornáveis que perdurariam
em sua trajetória intelectual, embora em registros diferentes: o marxismo indígena de
José Carlos Mariátegui e a antropologia histórica de José María Arguedas, de quem foi
amigo (cf. PACHECO CHAVÉZ, 2018; RUBBO, 2018; MONTOYA HUAMANÍ, 2018).
Paralelamente, Quijano acompanhou a ascensão dos movimentos camponeses,
a posteriori guerrilheiros, que emergiam nos países latino-americanos animados
pela revolução cubana e que reconguravam de modo radical a correlação de forças
políticas1. Depois de seu retorno ao Peru, em 1971, inicia uma nova fase de sua trajetória
política e intelectual. Nessa década, portanto, o sociólogo peruano amplia sua agenda
de pesquisa e passa a investigar a dominação imperialista no Peru e suas implicações
para as classes sociais à luz do regime militar de Velasco Alvarado (1968-1975).
Ao expor, analisar e criticar as contradições dos projetos econômicos e políticos
do “Gobierno Revolucionario de las Fuerzas Armadas” – como se autointitulava
–, Quijano cria inimizades com caudatários da esquerda política peruana que
apoiavam obstinadamente o regime. Esse também era um período de militância
política orgânica, com participação no Movimiento Revolucionario Socialista
(MRS), nascido em 1972 a partir da Comunidad Urbana Autogestionaria de Villa El
Salvador (Cuaves), movimento que lutava por moradia na cidade de Lima. Quijano
desempenha papel signicativo na formação desse movimento e cria a revista
Sociedad y Política. Nesse caldeirão de reexões, polêmicas e experiências coletivas,
marcado pelas lutas dos povos indígenas andinos e pelos movimentos de moradia
urbanos, Quijano desenvolve a questão da “socialização do poder político” como
princípio balizador de um socialismo horizontal de sensibilidade libertária.
Na sequência, as apostas de Quijano tiveram sucessivas perdas, em especial
o processo de desintegração da Alianza Revolucionaria de Izquierda (ARI) e,
consequentemente, a derrota da esquerda nas eleições presidenciais de 1980. Pouco
depois, sua saída do MRS e o fechamento de Sociedad y Política encerrariam esse
doloroso processo. Tanto a paulatina fragmentação da esquerda peruana, que ainda
1 Para uma interessante biograa intelectual sobre o jovem Quijano, dividida entre “pensamento não
escrito” (1948-1962), “sociologia da suspeita” (1962-1965) e “sociologia culturalista” (1964-1968), ver
Montoya Huamaní (2021).