Reoriente • vol.2, n.1 jan/jun 2022 • DOI: 10.54833/issn2764-104X.v2i1p97-119 103
pelas corporações transnacionais, que, não podendo ser legitimado pelo voto popular, tem
que ser imposto pela mão de governos militares. Cada uma delas nos foi imposta através
de movimentos programados cuidadosamente em Washington – com a ativa participação
internacional (de desestabilização de governos democráticos e progressistas) seguida da
apropriação do poder através de golpes de militares ianquizados. Uma vez implantada a nova
ordem, seus mandantes atenderam solícitos a voz do amo. (RIBEIRO, 1986, p. 103).
Com o golpe civil-militar no Brasil e a queda do governo João Goulart, só restou
como alternativa de sobrevivência o exílio. No período do exílio, Darcy atuou
como especialista em reformas universitárias, colaborando com a Universidade da
República Oriental do Uruguai (1964), com a Universidade Central da Venezuela
(1969/1970), com a Universidade do Chile (1970/1971) e com o sistema universitário
do Peru (1973). Portanto, quando Darcy Ribeiro pensa e estrutura a Universidade
Necessária, sua reexão-ação tem como objetivo mais ampliado a América Latina, a
realização da Pátria-Grande. A base de suas propostas orienta-se por uma perspectiva
teleológica de inuir o futuro, pois, para Darcy:
Aos povos subdesenvolvidos não cabe qualquer outra orientação, exceto a de que somos
povos em estado de ser, cuja forma ainda não foi plasmada. Povos que, em seu fracasso de
incorporarem-se, autonomamente, à civilização presente, têm apenas um valor iniludível:
sua condição de “tabula rasa”, de projeto do futuro, a realizar-se somente no marco da nova
civilização. Povos que, mais uma vez, correm o risco de fracassar, caso nos anos vindouros
se deixem induzir por suas elites dominantes, tal como ocorreu no passado, a percorrer os
caminhos da modernização reexa pela via da dependência. (RIBEIRO, 1991, p. 14).
Especicamente com relação à estrutura da Universidade Necessária, Darcy
Ribeiro propõe uma integração entre os sujeitos que compõem o espaço universitário
na luta contra os projetos de colonização cultural que contribuem para a perpetuação
do subdesenvolvimento e da dependência externa. Em suas reexões destacam-se as
tensões entre as próprias potências centrais e como estas vem debilitando, ao longo
do tempo, os mecanismos de preservação da ordem capitalista, abrindo, assim, outras
possibilidades de construção societária. Conforme suas palavras: “O certo é que as
manifestações de descontentamento contra a universidade e as sociedades, tal como
são agora, por seu caráter universal, parecem anunciar o advento de novas formas de
uma e outras” (RIBEIRO, 1991, p. 17).
Podemos armar que todo o seu esforço como idealizador/fazedor com vistas à
reestruturação da universidade, ancorou-se fundamentalmente na ressignicação
do papel desta em sua função social na luta contra o subdesenvolvimento. Assim,