194
RESENHAS
ça de paradigma e o m da ascensão pacíca da China na economia mundial. Isso se
evidencia no crescente direcionamento da OTAN contra a China, no uso do espaço
Indo-Pacíco como instrumento de cerco, na crescente militarização do Mar do Sul
da China e nas sanções comerciais, nanceiras e diplomáticas para restringir a pro-
moção de corredores de transporte bimodais impulsionados pelo país asiático. Tais
tendências destacadas por Diesen buscam não apenas limitar a ascensão da China,
mas sobretudo o estabelecimento geoeconômico e geopolítico da Eurásia, por meio
do qual a Rússia poderia reforçar a sua autonomia jogando um papel estratégico na
articulação da Europa com a China. O suporte nanceiro e militar estadunidense à
guerra na Ucrânia, as dramáticas sanções nanceiras e comerciais impostas à Rússia,
a criação da Aukus (Austrália, Reino Unido e Estados Unidos), a manutenção da
guerra comercial e diplomática por Biden contra a potência sínica e a doutrina de
conceito estratégico da OTAN, considerando uma ameaça à ordem internacional a
pretensão da China de dominar a fronteira tecnológica, ter acesso a materiais estra-
tégicos e aliar-se à Rússia, indicam o estabelecimento de uma nova era. Nesse livro,
publicado em 2021, Diesen aponta e antecipa as linhas fundamentais dessas tendên-
cias para onde convergem republicanos e democratas, mesmo com diferentes estilos
e matizes, revelando a agudeza de sua visão geopolítica.
A crise de 2008 marcou para a China o salto do paradigma da ascensão pacíca
para o do jogo de cooperação positiva win-win. Na ascensão pacíca, a China for-
talecia sua soberania, mas se subordinava à hegemonia estadunidense e sua ordem
internacional, articulando a dinâmica econômica interna à criação de plataformas
de exportação para a potência anglo-saxã e utilizava seus superávits comerciais para
sustentar o parasitismo norte-americano por meio da compra de seus títulos da dí-
vida pública. Com o jogo de cooperação positiva, a China não apenas opera nos
espaços internacionais de interesse dos Estados Unidos mas os subordina à criação e
estabelecimento dos seus próprios espaços geopolíticos: lança a nova Rota da Seda,
lidera a criação do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), fortalece a
Organização para a Cooperação de Shangai e coloca como meta até 2049 dominar
a fronteira tecnológica digital, espacial e ambiental, promover corredores de expor-
tação bimodais que desenhem a integração geoeconômica das grandes massas da
Eurásia e do Sul, e estabelecer instrumentos nanceiros que substituam a hegemonia
do dólar. A criação do Novo Banco de Desenvolvimento (BRICS), do Banco Asiático
de Investimento em Infraestrutura, do Fundo da Rota da Seda, a internacionalização
do renminbi, o uso de moedas digitais, o aumento das reservas em ouro e o emprego
de sistemas nanceiros alternativos ao Society for Worldwide Interbank Financial Te-
lecommunication (SWIFT) como o Cross-Border Interbank Payment System(CIPS),