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ARTIGOS (DOSSIÊ)
Reformulação e atualização da TMD
Muita tinta foi derramada tanto para descartar como para, supostamente, “reatuali-
zar” a TMD. No primeiro caso, como vimos, isso não apenas não foi alcançado como,
francamente, os postulados, teses e hipóteses dos críticos foram ultrapassados pelo
aprofundamento da crise capitalista e das relações estruturais de dependência ao lon-
go dos anos oitenta e noventa do século passado. Nesta última década, destacou-se
um discurso convencional denominado de “nova economia”, em relação aos Estados
Unidos, que ponticava uma suposta chegada do capitalismo norte-americano a uma
nova etapa de desenvolvimento e crescimento sustentada pelos aparatos da terceira
revolução tecnológica industrial, baseada no desenvolvimento de tecnologias de in-
formática, automação, novos materiais e internet. No entanto, não havia argumentos
sólidos para sustentar essas armações, pois, no período 1991-2000, que abrange as
duas administrações do governo Clinton, o PIB cresceu apenas 2,7%, média anual,
segundo o Banco Mundial (c2023); na primeira década dos anos 2000: o PIB dos
EUA cresceu em média 2,1% ao ano entre 2001-2007; e caiu para -1,3% durante a
crise de 2008-2009. Nesse último período, a economia mundial cresceu apenas, em
média, 0,34%, segundo o Banco Mundial (c2023).
Assim, mesmo essa fase do capitalismo que os ideólogos neoliberais e keynesianos
caracterizaram como uma “aterrisagem suave” para o “crescimento sustentável”, a p e -
nas agravou os problemas para os povos dos países dependentes da América Latina.
Ao longo dos anos 1980, a taxa média de crescimento desses países foi de 1,2%, e
3,3% nos anos 1990, enquanto o produto per capita foi de -0,9% e 1,5%, em média,
respectivamente, segundo a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL,
2000), e a dívida externa bruta disparou de 220,4 bilhões de dólares em 1980 (CEPAL,
1997) para 750,855 bilhões de dólares no ano 2000 (CEPAL, 2000), um aumento de
29,35%, apesar dos pagamentos constantes tanto de juros como de principal. Esses
três indicadores mostram que, enquanto o crescimento econômico desacelerou, e
piorou a desigualdade social expressa no produto per capita, aumentavam as trans-
ferências de valor e mais-valia, via endividamento externo, para os centros do ca-
pitalismo avançado, acentuando a dependência estrutural da região, muito distante
das “recomendações” das teorias convencionais que prenunciavam a “superação” da
dependência e o advento do “pleno” desenvolvimento econômico e social.
Do locus da TMD, a década de 1970 foi de transição para o que posteriormente
seria conhecido como neoliberalismo, que prevalece até a atualidade. Nos anos 1980,
caracterizados por uma crise de alta intensidade e pela surgimento de uma nova di-
reita internacional sediada nos Estados Unidos, segundo Cueva (1993), produziu-se