Reoriente • vol.3, n.1 jan/jun 2023 • DOI: 10.54833/issn2764-104X.v3i1p191-217
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Vigência e Relevância de Dialética da dependência à Luz de Marion Greenwood
Roberta Traspadini * e José Gilberto de Souza **
Resumo
O presente texto, em homenagem aos 50 anos da obra de Ruy Mauro MariniDialética da dependência,
tem como objetivo trabalhar as categorias centrais imperialismo, dependência e superexploração, a partir
de um diálogo com o painel pintado por Marion Greenwood. Dividimos o texto em três seções: 1) A
Revolução Mexicana e a centralidade do popular; 2) O moderno muralismo mexicano e a centralidade
do popular; e, 3)A Dialética da dependência, o popular superexplorado na América Latina, à luz da
imagem muralA industrialização do campo.Ao nal, respondemos às seguintes questões: o que é o
popular, este que salta das imagens murais mexicanas? Que relação há entre o popular, como categoria
analítica, e a superexploração da força de trabalho na América Latina e o Caribe?
Palavras-chave: Dialética da dependência. Popular. Muralismo.
Resumen
El presente texto, en honor al cincuentenario de Dialéctica de la dependencia, de Ruy Mauro Marini,
pretende trabajar las categorías centrales de imperialismo, dependencia y superexplotación, a partir de
un diálogo con el panel pintado por Marion Greenwood. Dividimos el texto en tres secciones: 1) La Rev-
olución Mexicana y la centralidad de lo popular; 2) El muralismo mexicano moderno y la centralidad
de lo popular; y, 3) La Dialéctica de la dependencia, lo popular superexplotado en América Latina, a la
luz de la imagen mural La industrialización del campo. Al nal, respondemos a las siguientes preguntas:
¿qué es lo popular, ese que salta de las imágenes murales mexicanas? ¿Cuál es la relación entre lo popu-
lar, como categoría analítica, y la superexplotación de la fuerza de trabajo en América Latina y el Caribe?
Palabras clave: Dialéctica de la dependencia. Popular. Muralismo.
Abstract
e present text, in honor of the 50th anniversary of Ruy Mauro Marinis e dialectics of dependency,
aims to work on the central categories of imperialism, dependency and super-exploitation, based on a
dialogue with the panel painted by Marion Greenwood. We divide the text into three sections: 1) e
Mexican Revolution and the centrality of the popular; 2) Modern Mexican muralism and the centrality
of the popular; and 3) e dialectics of dependency, the superexploited popular in Latin America, in light
of the mural image e industrialization of the countryside. In the end, we answer the following ques-
tions: what is the popular, this that leaps out of the Mexican mural images? What relationship is there
between the popular, as an analytical category, and the super-exploitation of the labor force in Latin
America and the Caribbean?
Keywords: Dialectics of dependency. Popular. Muralism.
* Doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2016). Doutorado em Estudos Lati-
no-Americanos, UNAM-México (2000-2004 – não concluído). Atualmente é professora permanente do
Mestrado em Relações Internacionais (Unila) e professora colaboradora no Programa de Pós-Gradua-
ção em Serviço Social, UFSC. Cocoordenadora do Observatório de Educação Popular e Movimentos
Sociais na América Latina (Obepal), UFES. Coordena o grupo de pesquisa Saberes em movimento: a
luta por terra e trabalho na América Latina, Unila.
** Doutor em Geograa Humana (1999), Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Livre-docência
(2008), Universidade Estadual Paulista – (FCAV-Unesp, Câmpus de Jaboticabal). Pós-doutorado na
Universidad de Salamanca (2010-2011). Presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB/
Nacional) 2016/2018. Secretário da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geograa
(Anpege) 2019-2021.
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ARTIGOS (DOSSIÊ)
A história de todas as falsicações que operaram nessa con-
cepção de Volkstum é longa, complexa e faz parte da história
da luta de classes. Não a examinaremos mas devemos man-
ter essa falsicação em mente sempre que falarmos de nossa
necessidade por uma arte popular, para as amplas massas
populares, os muitos que são oprimidos por poucos, a grande
massa de verdadeiros produtores que sempre foram o objeto da
política e que agora tornam-se o seu sujeito. Devemos lembrar
as poderosas instituições que sempre impediram esse folk de
desenvolver-se completamente, obrigando-o articialmente a
permanecer preso por convenções. E lembrar que o conceito
de volkstumlich tem sido um conceito estico sem formação e
sem desenvolvimento. Não usaremos essa versão do conceito.
Vamos combatê-la. Nossa concepção de popular se refere ao
povo, que não só está inteiramente envolvido num processo de
desenvolvimento, como está na verdade dominando-o, forçan-
do-o, decidindo-o. Temos em mente um povo que está fazendo
a História, transformando o mundo e a si próprio. Temos em
mente um povo combatente e também um conceito combatente
de popularidade.
(BRECHT, O popular e o realista, 1937)
1
Introdução
O presente texto, em homenagem aos 50 anos da obra de Ruy Mauro Marini Dialética
da dependência, tem como objetivo principal trabalhar as categorias centrais trata-
das no texto (imperialismo, dependência e superexploração) a partir de um diálogo
com uma das mais importantes expressões estéticas latino-americanas e caribenhas:
o moderno muralismo mexicano, através da análise de um dos painéis pintados por
uma das estudantes de Diego Rivera, Marion Greenwood. Localizado no mercado
popular Abelardo Rodriguez, na Cidade do México, o painel foi pintado entre 1934-
1 Em Brecht, o povo não é uma abstração. É o universo da classe trabalhadora, esteja formalmente, ou
não, vinculado à trama da exploração. É essa composição da maior parte dos sujeitos, submetidos à ló-
gica da dominação burguesa e do Estado burguês. Assim, não fere a leitura do método de Marx, porque
entende que, nesse povo, já não cabe mais todo mundo, mas somente os que lutam contra as amarras da
escravidão, seja ela moderna ou contemporânea. Situamos o debate que ora faremos, sobre o popular,
nessa linha de Brecht (1967), do teatro dialético, que também é a de E. ompson e de V. Benjamin. Na
cotidianidade da luta social, exala a forma de ser, na memória, e de fazer história, do popular, esse sujeito
sempre plural e diverso.
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1935, no período de governo de Lázaro Cárdenas, no processo que cou conhecido
como Cardenismo. A obra La industrialización del campo de fato evoca dois movi-
mentos fundantes da lógica imperialista: a expansão geográca do capital como rela-
ção social, nas formas de produção não capitalistas – campesinas (LUXEMBURGO,
2009), e a exportação de capitais que altera profundamente a composição orgânica,
acelerando a produção do valor e sua realização nos marcos das relações de troca no
comércio internacional (MARINI, 2022).
Nesse texto o popular é a tônica das necessárias mediações entre o concreto e as
imagens dos murais à luz do método marxiano, colocando no centro da análise o
materialismo dialético em sua historicidade.
Entretanto, antes de correlacionar as categorias de Dialética à imagem mural, tra-
taremos de um debate ainda pouco reetido, quiçá ainda negado pela esquerda inte-
lectual e partidária latino-americana e caribenha: a centralidade do popular, esse ser
social que atua sempre na corda bamba da cooptação e formação alienada do capital
e sua fonte própria e conitiva de burla frente à ordem (MARTIN-BARBERO, 1997).
O popular é entendido como ponto de referência política e metodológica do deba-
te de classe social, historicamente transitando ao modo de produção capitalista. Isto
é, antes de conformar parte majoritária dos sujeitos latino-americanos e caribenhos
em escravos ou servos (invasão colonial) e, posteriormente, em classe trabalhadora
superexplorada, foi necessário retirar desses sujeitos suas histórias, suas memórias,
suas terras e ontologias. Tomou-se o próprio popular para, posteriormente, fragmen-
tá-lo e dominá-lo, a partir de um processo educativo que o torna passivo e sujeito às
regras sistêmicas como naturais e divinas, ao mesmo tempo em que se tenta incitá-lo
a compreender seus pares com os mais diversos estereótipos vinculados ao crime e
ao castigo
2
.
O popular é demarcado em sua centralidade na produção estética e cotidiana de
uma história que, situada a partir da invasão colonial, tornou o próprio em não pró-
prio, como mecanismo violento e sanguinário de subsunção e submissão. Tem-se o
popular como o abrigo plural e diverso, anterior à constituição das classes sociais
mercantis, imerso na transição de um mundo próprio, originário, condenado pela
invasão genocida, etnocida e memoricida.
Na dialética do popular, evidencia-se, ao longo do processo de desenvolvimento
capitalista dependente, tanto uma história falsicada, com ares de verdade (BRE-
2 Sem dúvida, a leitura da obra de Martin Barbero Dos meios às mediações foi decisiva para esse processo
de construção. Junto com o grupo Observatório de Educação Popular e Movimentos Sociais na América
Latina, estamos, ao longo desse primeiro semestre, nos dedicando ao estudo da obra de Barbero para
fortalecer nosso entendimento sobre o trabalho de memória e história que efetuamos nas prisões ao
longo de 2021 e 2022.
194
ARTIGOS (DOSSIÊ)
CHT, 1937), do capital como algo natural, como a reiteração, no tempo presente, de
uma gênese de resistência que aparece como risada, festividade, queima carnavalesca
de seus rivais. É esta dialética que a forma linear de entendimento do popular não
captura porque fragmenta suas próprias contradições e rupturas. Uma história oral
em que o sagrado e o profano se mesclam gerando complexas sínteses entre o que se
sente a partir do que se vive. Mas é esse mesmo popular que tem por estrutura onto-
lógica a capacidade de superação.
Assim, como forma de colocar em debate as reexões aqui propostas, dividimos
o texto em três seções: 1) A Revolução Mexicana e a centralidade do popular; 2) O
moderno muralismo mexicano e a centralidade do popular; e 3) A Dialética da de-
pendência, o popular superexplorado na América Latina, à luz da imagem mural A
industrialização do campo.
Ao nal das três seções, pretende-se responder às seguintes questões: o que é o
popular, este que salta das imagens murais mexicanas? Que relação há entre o po-
pular, como categoria analítica, e a superexploração da força de trabalho na América
Latina e o Caribe?
A Revolução Mexicana e a centralidade do popular
3
As primeiras décadas do século XX foram decisivas para a consolidação das teorias
do desenvolvimento na América Latina e, posteriormente, para o debate da depen-
dência ocorrido nos anos 1960. Debate este que segue sem substituto real na batalha
das ideias sobre a interpretação marxista da função que cumpre a América Latina
e o Caribe na divisão internacional do trabalho ao longo dos dois últimos séculos
regidos pelo imperialismo.
Antes mesmo da eclosão de duas grandes guerras mundiais e uma crise sem
precedentes na história do capitalismo (crise de 1929), eclodia, na trama da luta de
classes da América Latina e o Caribe, a Revolução Mexicana. Dita revolução, com
traços próprios – indígenas e camponeses –, a exemplo da singularidade da Revolu-
ção Haitiana protagonizada pelos jacobinos negros, em 1804, entrava em cena ques-
tionando a violência da tirania imperialista dos capitais e Estados hegemônicos, em
especial o estadunidense, sobre os povos do continente.
À luz dos sombreiros e das indumentárias das Adeliltas, o México se levantava
em armas contra o empobrecimento instituído pelo capital, a partir das diversas
3 Para este item, utilizamos como referências principais: Martin-Barbero (1997), Bonl Batalla (2019),
Cueva (1986) e Baez (2010).
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expressões do universo do trabalho que habitam o sentido do popular – entendi-
do o popular como a produção territorial da história das resistências, dos vencidos
(LEON-PORTILLA, 2003), dos de abaixo (AYER..., 2021), suscetíveis às opressões e
particulares explorações na dinâmica do capital; o popular, cujas cores das resistên-
cias foram, ao longo do tempo, subsumidas à condição de coisa na produção de seu
próprio drama, como produtor da riqueza mercantil, mantendo viva a necessidade
própria de existência/sobrevivência.
Esse marco de produção territorial das resistências se processa não como um
aspecto mecânico de “área geográca, ainda que se processe uma relação espacial
centro-periferia de relações econômicas de dominação. A produção territorial das
resistências é engendrada pelo conjunto de práticas socioespaciais das quais o popu-
lar referência teórica e metodologicamente novas lógicas de poder. A centralidade
epistêmica do território são as relações de poder (SOUZA, 2009), e o popular elabo-
ra novas tramas que são capazes de estabelecer constructos territoriais contra-hege-
mônicos ao capital.
Assim, o popular, partindo do método de Marx, é esse território cuja análise tem
como ponto de partida, e de chegada, a história da luta de classes. E as classes sociais
estão situadas no tempo histórico do modo de produção capitalista, desde sua gênese
à atualidade.
Nos termos de Cueva (1986), as classes sociais são conformadas por modos de
produção especícos, como o escravismo, o feudalismo, o capitalismo. Especica-
mente no capitalismo, são instituídas pela lógica da propriedade privada dos meios
de produção, associada à lei do valor, à teoria da exploração. Seguindo esse racio-
cínio, antes de sermos escravizados, os nossos grupos diversos, originários, foram
tornados uma massa sem história e sem memória – o avesso do que havia na materia-
lidade concreta de suas vidas, em que parte do continente (Abya Yala) inclusive pos-
suía histórias, relações, estrutura de poder bem demarcadas a partir de suas próprias
estraticações sociais.
Assim, antes da imposição da escravidão, foi necessária a destruição dos modos
de vida originários, uma parte modos comunais, outra parte modos de produção
com estraticação social mediada por guerras territoriais (CARDOSO, 1981). Isto
é, o popular presente na história determina um processo de apropriação do espaço
e impõe novas determinações territoriais como estado e movimento destas práticas
na luta contra-hegemônica ao capital – de forma que se entende a necessidade de
reexão em um duplo sentido: da análise do Estado como situação e/ou determi-
nação histórica em relação de classe quando analisamos os indígenas e as lógicas de
espoliação; e do aprofundamento sobre a própria luta de classes quando analisamos
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ARTIGOS (DOSSIÊ)
diretamente a dimensão proletária e as formas de superexploração da força de tra-
balho. Desse modo, entre espoliação e proletarização é que emerge o movimento,
como direção de enfretamento destas determinações, na formulação do popular.
Então, o universo político, econômico, cultural e social das sociedades pré-co-
lombianas foi substituído pela história da invasão colonial, na qual espoliação e
superexploração são expressões concretas na determinação de suas (r)existências.
Homens e mulheres com uma produção ontológica variada e abundante de vida
foram transformados em “povos bárbaros”. É desse universo de massacre coletivo
real e formal, no qual transita a história e o poder ociais, que o popular se origina
na América Latina e o Caribe.
Tem-se, portanto, o popular como campo de abrangência teórica e metodológica
dos sentidos do trabalho – servil, escravo, livre assalariado – e da cultura, presentes
na história
4
. O popular se consolida como condição metodológica, epistêmica, políti-
ca e cultural das resistências, em meio à existência subjugada pela ordem do capital,
e seu par, o Estado-nação burguês (MARTIN-BARBERO, 1997). Se a classe social
é entendida como a relação imediata direta entre a produção/apropriação social da
riqueza mercantil, o popular é um território, um habitat a partir do qual essa classe
diversa, complexa e imersa nas tensões/contradições da luta, cotidianamente respira
tanto os pós-contaminados do capital como as sementes históricas da resistência,
ambos entranhados e estranhados um no outro (como espaços). O popular é a síntese
dialética entre espaço e território, uma vez que ele é mesmo uma forma de apropria-
ção do espaço e, simultaneamente, de produção territorial quando instaura nessa
mesma espacialidade uma outra lógica de poder.
É dessa indissociável relação entre a classe (território) e seu universo diverso (es-
paço), que o popular (economia, sociabilidade, cultura), se põe a pensar a experiên-
cia e ao mesmo tempo constituir o “modo de alcançar o que irrompe na história com
as massas e a técnica, nos termos de Walter Benjamin (1987, p. 306). Dessa forma,
o popular transborda o sentido de classe, que o integra, por ser uma dimensão social
mais ampla e territorializada entre a diversidade dos oprimidos e superexplorados,
no que diz respeito à América Latina e o Caribe. E, ao mesmo tempo, torna o univer-
so do trabalho alienado à trama mesma de sua existência.
4 Sobre os povos originários do nosso continente, estudar sua formação social, política, econômica e
cultural exige, epistemologicamente, afastar-nos da matriz racional instituída pelo Ocidente para en-
tender o passado, cujas raízes são outras que não as desse sentido de razão. No entanto, os povos maias,
astecas, incas possuíam, cada um em sua formação própria, estruturas concretas de poder, de riqueza
e de hierarquização entre os grupos. Mas é possível nominar da mesma forma processos tão distintos e
tão pouco estudados por nós? Pensamos ser mais complexo do que nos permite fazer uma mera análise
comparativa.
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E isso se dá a tal ponto que, mesmo quando a diversidade camponesa, indígena e
quilombola não integra o sentido de classe operária do setor produtivo industrial, se
relaciona com esta, desde e como popular. Ainda que essa diversidade não se cons-
titua como classe, tem sua existência demarcada nos conitos de uma relação desi-
gual. Os conitos sociais são como a epiderme da luta de classes que produz todas
as formas destrutivas desses sujeitos sociais. Esse processo torna o território popular
decisivo em seu caráter de emancipação, dado que suas profundas determinações se
manifestam como constitutivas de uma concepção ontológica da realidade social, na
qual os sujeitos sociais produzem suas condições objetivas e subjetivas de existência
e, por isso, constituem uma unidade entre método, teoria e concretude histórica (o
real concreto). A diversidade e a pluralidade enredadas na trama do popular como
resistência, existência para além do capital, repletas, não sem contradições, de me-
mórias, histórias, vidas para além das mutilações vivenciadas, guardam o sentido de
unidade daqueles que “[...] sofrem de uma só vez todas as calamidades e todos os
horrores de duas épocas: a das relações de dominação da economia natural tradicio-
nal e a da exploração capitalista mais moderna e renada(LUXEMBURGO, 2017,
p. 141).
O mesmo vale para o que se entende como periferias rurais e urbanas, termos
instituídos pela hegemonia da indústria cultural para reicar a desigualdade como
normal e estereotipada. Tanto o campesinato como os sujeitos vinculados à esfera
marginal de reprodução social direta do capital, compondo, ou não, o exército in-
dustrial de reservas, conformam a dimensão estética, política, econômica e cultural
do popular. O popular é, assim, o ponto de referência da trama da desigualdade e
cooptação, produzida pelo capital contra aqueles e aquelas que vivem não só da ven-
da de sua força de trabalho, mas de uma existência à margem do âmbito formal, do
assalariamento com direitos.
Diferentemente da dimensão política do povo/população, como pontuara Marx
(1985), orquestrada pela lógica da organização padronizadora do Estado-nação à
serviço da burguesia, o popular é o nexo presente na história, sempre no plural, das
resistências em todo o mundo. Na produção, via indústria cultural, da ideia de povo,
esses sujeitos políticos presentes no popular e ocupantes do universo diverso da ex-
ploração de classe, apenas eram receptores da projeção de Ordem e Progresso mer-
cantis. Mas, se entendidos como sujeitos políticos orgânicos na relação-reação-re-
vanche histórica, esses populares – ribeirinhos, camponeses, indígenas, quilombolas
e trabalhadores em geral – enredavam outras histórias ocultas intencionalmente da
história ocial e dimensionam tanto o conito como o entendimento da dialética a
partir da experiência de sobrevivência à lógica da propriedade privada da vida.
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E, se no conceito de povo/população cabem todos os sujeitos de uma nação, como
massa amorfa, vinculada a uma ideia de cidadania refém de uma sociedade política
punitiva, no popular torna-se evidente quem são os sujeitos que, não tendo proprie-
dades e tendo seus corpos como único meio de sobrevivência na sociedade mer-
cantil, se tornarão a peça-chave da produção de riqueza mercantil, seja na forma de
operários fabris, de camponeses, de trabalhadores informais e/ou não pagos. Estes e
estas conformam os rostos do popular. A classe trabalhadora, portanto, é conforma-
da por diferentes grupos sociais que precisam sobreviver dentro de uma lógica que
insiste em restringi-los/as e igualá-los/as.
Nesse sentido, resulta assertiva a premissa do método de Marx de que o real con-
creto nada tem de povo como existência comum e igualitária na sociedade. O real
concreto apresenta-se, de imediato, como a existência conitiva e contraditória dos
grupos e sujeitos sociais em condições materiais de existência muito diferentes na so-
ciedade mercantil, seja na propriedade, no trabalho, na produção material e simbó-
lica de vida. Assim, deve-se sempre partir do real concreto, suas contradições, como
forma de avançar para uma análise mais profunda, que não aparece imediatamente
no plano do real vivido: o concreto reetido.
Olhar a história a partir do popular que nos toca viver no tempo presente, signica
dar vasão à intenção de Benjamin sobre “pasar por la historia el cepillo a contrapelo
– frase que o historiador Adolpho Gilly utiliza para expressar, a partir do Sul Global,
as vozes e os ecos das resistências, em História a contrapelo. Una constelación (2006).
Gilly argumenta que há muitas razões para escrever, escovar a história à contra-
pelo, das quais destaca quatro, a saber: a) para fazer justiça à vida dos milhares de
sujeitos que foram relegados a ninguéns da história; b) para entender a correlação
de forças, a partir das estratégias hegemônicas das classes dominantes; c) para recu-
perar as condições de existência do passado que interpelam o presente desde outras
possibilidades que não somente as que se apresentam a olho nu, no imediato da vida
cotidiana; d) para uma nova práxis revolucionária que, com os pés no presente, rei-
vindique a história dos vencidos como protagonistas do devir.
Ao chegarmos no México da Revolução de 1910-1923, vericamos não somente
que o popular, esse sujeito político secundarizado pela história ocial (GILLY, 2006),
é prioritariamente camponês e indígena (e posteriormente afrodescendente), mas
também que esses sujeitos carregavam, após cinco séculos de resistência, histórias e
memórias para além da forma hegemônica de produção de uma existência. A eles se
somaram outros sujeitos com consciência de classe sobre a tarefa histórica própria de
seu tempo, ou seja, intelectuais orgânicos, operários fabris, professoras da educação
básica e superior, artistas e muralistas que se vincularam ao campo político e estético
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das resistências.
A dialética do popular/classe é constituída por esse complexo movimento de ser
tecido pela lógica hegemônica a partir de seus mecanismos de dominação, ao mes-
mo tempo em que – de forma silenciosa ou em gritos – revela uma herança que
transborda a contrapelo aquela lógica. Assim, na dialética do concreto, no mundo
efervescente da pseudoconcreção (KOSIK, 1969), enquanto grupos sujeitados, es-
tes homens e mulheres sofriam – via poder do Estado burguês e do capital – com a
falta de terra, de trabalho digno, dos direitos constitucionais próprios, cópia formal
dos lemas da Revolução Francesa, como um ideário comum reprodutivo no mundo
(liberdade, igualdade, fraternidade). Sofriam por serem submetidos ao universo do
direito, substituto concreto da vida em comunidade. Mas, na existência cotidiana do
popular, mulheres e homens protagonizavam, via revolução, a rebeldia, a revolta e a
solidária combinação de combater as raízes violentas do capital, enquanto produziam
ou deixavam uir sua própria história.
Vale relembrar ainda que, ao longo de cinco séculos (XVI a XX), a produção eco-
nômica, social, política e cultural diversa e robusta do nosso continente, somado ao
processo de invasão também sofrido pelas diversidades étnicas da África, foi exter-
minada, saqueada, pilhada, retida e destruída pelos invasores produtores de um ideá-
rio de civilização. Transformaram a diversidade de hierarquias e horizontalidades
presentes nas culturas do continente em sujeitos escravizados sem histórias e, não
menos importante, violentados na memória.
Mas é a memória presente na oralidade dos cantos, dos lamentos, das tranças e
das fugas que registra a presença na história de outras histórias. Sujeitos políticos
diversos e suas culturas foram transformados em povos subjugados. Desterrados de
suas construções cotidianas próprias, foram condenados a produzir a história ocial,
cujo drama os condicionava à não existência protagonista da história.
O nascimento do popular na América Latina e o Caribe irrompe da destruição
cultural e do memoricídio, inerente ao colonialismo (BAEZ, 2010). É anterior à con-
dição de classe social vinculada à propriedade privada, mas terá nela uma de suas
sustentações históricas após a consolidação do modo de produção escravista colonial
(GORENDER, 2016). Logo, após o processo de invasão, o popular tem raízes nas
escravidões indígenas e negras e na subjugação campesina, e transita do plural e di-
verso para o singular da espoliação, violação, expropriação e exploração.
A história do popular na América Latina e o Caribe, se combinada com a mo-
dernidade, necessita ser narrada na transição primeira das comunidades originárias
massacradas pelas guerras sanguinárias coloniais. Neste continente, as raízes orais
demarcam um passado muito presente de uma riqueza própria, transmutada à po-
200
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breza mercantil e que, no entanto, insiste em expressar suas raízes originárias ao lon-
go dos séculos, até o presente.
O moderno muralismo mexicano e a centralidade do popular
Entre a dimensão abstrata/padronizada do povo/população e a luta concreta do po-
pular (sempre no plural e diverso), os/as camponeses/as-indígenas do México, asso-
ciados/as a diversos outros grupos políticos, produziram uma nova história no con-
tinente ao longo dos 15 anos iniciais do século XX.
É essa dimensão popular, política e estética da revolução (1910-1923) que deve-
mos entender como um bom esboço da vigência da Dialética da dependência dos
anos 1960. A partir da centralidade do popular, a Revolução Mexicana produziu a
complexa síntese entre a educação popular/cultura popular e a produção estética e
cientíca de outros horizontes possíveis de captação da história em movimento, a
contrapelo. Uma unidade de pores teleológicos secundários que alteraram em exten-
são e profundidade as práticas e as formas sociais. Engendram-se complexas formas
de viver que vão colocar em movimento teleologia e causalidade, instituindo um ser
popular, que possibilita essa nova existência e suas mediações complexas, originadas
no trabalho (LUKÁCS, 2013).
O muralismo foi uma dessas mediações/expressões, e posteriormente o teatro do
oprimido, dialético, e negro, a literatura popular e, não menos importante, a fotogra-
a com o olhar sobre a beleza conituosa dos “ninguéns.
Entre os anos 1920 e 1970, a estética muralista fundia-se com a fotograa, com
os jornais populares e com outras expressões culturais, e produzia uma síntese desse
complexo processo enraizado na trama da revolão popular, frente ao caráter na-
cional ainda presente no continente, e as limitações resultantes disso. O muralismo
abriu uma página da práxis estética latino-americana e caribenha, dando centralida-
de ao popular e suas histórias ao longo do tempo (HIJAR, 2020; ESQUIVEL, 2004).
Para Hijar (2020), somente tem sentido recuperar a história da estética latino-
-americana e caribenha se inserida na compreensão de como funciona a sociedade
capitalista. Logo, essa história deve ser recuperada na forma que se constitui a extra-
ção do valor, o sobretrabalho, tendo como referência a totalidade caótica e violenta
imposta por uma classe dominante (pequena proporção da população) ao campo
majoritário de vida cotidiana da outra (universo do popular, a classe trabalhadora).
Os pores teleológicos secundários, como o muralismo, são marcadamente mediados
pelo trabalho, que impele à práxis social. Lukács (1978, p. 5) considera, portanto, que
o ser passa a dar “[...] respostas precisamente na medida em que – paralelamente ao
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desenvolvimento social e em proporção crescente – ele generaliza, transformando
em perguntas seus próprios carecimentos e suas possibilidades de satisfazê-los.
Nas histórias contadas nos muros, habita um passado e um presente repletos de
outras dimensões, para além da lógica do capital – vestimentas, base produtiva do
campo e alimentar, história oral com cânticos e poemas, retratada após densos pro-
cessos de investigação sobre os povos pré-colombianos presentes em luta ao longo
dos séculos de invasão e colonização.
Uma vez que estamos dando centralidade à “história contada a contrapelo, ree-
timos sobre um dos murais mais importantes produzidos por mulheres neste perío-
do em que o moderno muralismo mexicano passava com primazia pelas trajetórias
de Diego Rivera, Davi Alfaro Siqueiros e Clemente Orozco (TRASPADINI, 2019).
As irmãs estadunidenses Marion e Grace Greenwood chegaram ao México nos anos
1930, período em que a Escola Mexicana de Artes estava consolidada e já era inter-
nacionalmente reconhecida pela centralidade que dava à dimensão estética e política
dos murais. Ainda no bojo do nacional-desenvolvimentismo, a obra das irmãs no
mercado Aberlado Rodriguez, antigo colégio de San Gregório, está situada juntam-
ente com mais seis pinturas de outras grandes referências muralistas desse período
5
.
Vale lembrar que uma das características mais fortes do México profundo foram
os mercados para trocas abundantes, como, por exemplo, Tlatelolco no período da
invasão. O Vale do México abrigava um encontro de muitas culturas a partir da troca
de bens diversos, oriundos de diferentes partes da região, situação que gerou espanto,
perplexidade e surpresa tanto aos Jesuítas, como Bernard Sahagun, como nos rela-
tos de Cortéz à Coroa espanhola. Em ambos, se situava a abundância e organização
das trocas presenciadas. Bonl Batalla explicita essa condição de trocas e encontros
quando diz (BONFIL BATALLA, 2019, p. 91):
As trocas acontecem não somente nos mercados semanais. Em vastas regiões do México fun-
ciona um sistema de feiras anuais frequentadas por habitantes de zonas muito distantes e de
produção diversa. Organiza-se, assim, o movimento de produtos costeiros e de terra quente
em direção ao e a partir do altiplano. São, em alguns casos, feiras multitudinárias que, no
transcurso de uma semana, recebem muitos visitantes, comerciantes, intermediários e produ-
tores diretos. O motivo central é religioso, por exemplo, uma festa de uma imagem venerada,
de fama regional ou nacional. Mas ao acudirem à feira, cumprem simultaneamente muitas
funções. Os visitantes pagam uma benção ou pedem um favor divino. Aproveitam das danças,
5 São eles: 1) Pablo O’Higgins, com a obra La lucha de los obreros; 2) Antonio Pujol, obra: Los alimentos
y problemas del obrero; 3) Miguel Tzab Trejo, obra: Historia de los mayas y los aztecas; 4) Ángel Bracho,
obra: La inuencia de las víctimas; 5) Isamu Noguchi, obra: La Historia de México; e 6) Raúl Gamboa,
obra: Los mercados (AGUIRRE, 2018).
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ARTIGOS (DOSSIÊ)
da música e dos jogos pirotécnicos. Veem conhecidos que encontram todos os anos. Trocam
notícias e brindam com eles. Vão ao médico. Vendem e compram, vivem, enm, um momento
de festa em meio às tarefas do ano. Muitas feiras têm sido celebradas durante séculos nos mes-
mos lugares. Os visitantes vindos de povoados distantes referendam, com sua presença anual
e suas cerimônias, uma relação particular com outros povoados, provavelmente, oriunda de
tempos anteriores à invasão europeia.
Assim, o popular que resistiu ao longo dos séculos de espoliação, seguiu utilizan-
do as ruas para sua sobrevivência e existência. Logo, uma das políticas nacionais de-
senvolvimentistas de “limpeza das ruas” foi a consolidação dos mercados populares,
a tomada do popular. O mercado Abelardo Rodriguez (então presidente do México),
em 1934, unia as histórias do m do processo revolucionário e da retomada das rea-
ções de reincorporação do país às lógicas mercantis sob a hegemonia estadunidense.
Entre as práxis estéticas dos discípulos de Rivera, presentes nos muros, e o popu-
lar organizado pelo Estado dentro de um controle arquitetônico, habitam múltiplas
mediações. Na mediação entre o externo e o interno aos muros, aparecia a tensão
dialética e conitiva em duas dimensões: o povo-Estado-nação; e o popular presente
na história da Liga dos Escritores e Artistas Revolucionários vinculados à internacio-
nal comunista, da qual os/as muralistas faziam parte. No entanto, das tensões, vigora
a vitória do Estado-nação, sobre o popular, o que signica reiterar a vitória do valor
de troca sobre o valor de uso (LINERA, 2019; ECHEVERRIA, 1998).
Marion Greenwood pintou cinco peças no Mercado Abelardo entre 1934-1935: 1)
Los alimentos y su distribución sobre el canal de la Viga (pintado em uma peça); 2) La
industrialización del campo (pintado em quatro peças) (AGUIRRE, 2018)
6
. Para uma
análise histórica, teórica e política da imagem, tendo como referência a centralidade
do popular, utilizaremos uma das peças de La industrialización del campo:
6 Cabe destacar que, além do debate da industrialização do campo, os outros três painéis que compõem
essa obra referem-se: 1) à questão da mineração, que era controlada por um pequeno número de gran-
des capitais estadunidenses: American Smelting and Rening Company, American Smelting Securitirs
Company, Green Cananea Copper Company, Green Gold and Silver Company e Travers Durkes Co-
ppers; 2) à exaustão e aos acidentes de trabalho nas minas; 3) à mediação entre o trabalho na mina e a
organização da luta dos próprios trabalhadores e suas famílias; 4) à necessária luta de classes, aludida a
partir do painel que dá centralidade à frase de Marx e Engels presente no Manifesto do Partido Comu-
nista: “trabalhadores do mundo uni-vos!”, que está sendo xada por dois trabalhadores, um operário e
um camponês.
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Figura 1. La industrialización del campo
Fonte: Greenwood em Mulcahy (2020).
No centro do painel está retratada a luta contra o imperialismo e contra o fascis-
mo produzida por camponeses, indígenas e operários. É uma compreensão direta das
teses de Lênin acerca do imperialismo – a supremacia do capital nanceiro monopo-
lista que não mais dissocia suas frações de capital bancário e capital produtivo e que
se assenta na exportação de capitais, e a tendência da piora da vida no campo e na
cidade a partir da mecanização centrada no monocultivo extensivo.
Para Hijar (2020), a estética da práxis rearma, na realidade concreta, a tirania da
acumulação de capital contra o popular, a classe trabalhadora em seu universo plural
e diverso. Expõe, portanto, a crise à qual estamos submetidos ao longo de todo o
processo de desenvolvimento capitalista dependente.
No plano superior esquerdo, a muralista pinta a vitória da Companhia açucarei-
ra El Mante de Tamaulipas, centrada no trabalho não assalariado do camponês e
do indígena, em um novo tipo de escravidão permitido pelo Estado-nação contra
o popular. E, na base do mural, se encontra essa parte do popular que está fora do
setor produtivo, da exploração direta e particular executada pelo capital nacional e/
204
ARTIGOS (DOSSIÊ)
ou transnacional no campo e na cidade industrializada. Poia .
Nos termos de Bambirra (2012, p. 47), podemos fazer a leitura mural de Marion
Greenwood nos seguintes moldes:
[…] los intereses oligárquicos e industriales, aunque manteniendo su especicidad, se me-
zclan e se complementan, resultando de allí, en el plan económico e político-social, una se-
rie de conictos que no ocultan sus antagonismos, pero que los limitan a una situación de
compromiso, base sobre la cual se asienta el sistema oligárquico-burgués en estos países. La
burguesía industrial latinoamericana ya nasce limitada y comprometida con las clases do-
minantes oligárquicas. No solo porque o desarrollo de la industria se produce en el seno
del sistema oligárquico (y por oligarquía entendemos todos aquellos sectores de las clases
dominantes vinculadas directa o indirectamente al sector primario exportador, más los lati-
fundistas que producen para el mercado interno o que le detentan la propiedad de la tierra sin
hacerla producir mayormente) pero, también porque, en buena medida, el surgimiento de los
empresarios industriales es producto de la simbiosis de sectores de la oligarquía (terrateniente
o minera o comercial exportadora) y de sectores industriales.
Nesse sentido, o mural narra a vitória do imperialismo sobre o espaço, dizimando
os territórios que abrigaram a Revolão Mexicana, e agora abria passo à intensicação
da miséria do popular (ponto de partida e de chegada; abrigo das resistências, univer-
so do método marxiano pensado a partir da América Latina e o Caribe), regida, uma
parte, por condições de trabalho particulares – a superexploração –, e outra parte, ma-
joritária, condenada à exclusão da superexploração formal, mas nem por isso abrigada
fora da totalidade do capital contra o popular, no qual se insere e se edica o trabalho.
Há uma dialética espaço-território na conformação da dependência. A destruição dos
traços próprios de indígenas e camponeses esvanece seus territórios e eleva tal espacia-
lidade como campo de disputa sobre o qual se funda ou se arma um outro território,
constituído de violência e tirania imperialista dos capitais dos Estados hegemônicos,
em especial o estadunidense. O Estado-nação dependente torna-se, assim, um fetiche
territorial, espaço representativo dos interesses externos. A forma território-nacional é
uma cartograa de limites uídos, o conteúdo do território é o capital, sua espoliação,
violência, expropriação e exploração no “espaço mexicano.
Assim, nos anos 1930, o capital nanceiro intensicará, no México, e em toda a
América Latina e o Caribe, a hegemonia dos Estados Unidos sobre essas espacialida-
des, os Estados nacionais e o uso privado da terra, vinculado à superexploração da
força de trabalho. As virias da revolução são deixadas para trás, obliterando seus
territórios, e o capital avança na sua ofensiva destrutiva para a recuperação de suas
taxas de lucros, após a derrocada da crise que o assolava, como dono do mundo.
Mas a questão é: onde aparece o popular nessa imagem? Somente na base? Como
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condenadas e condenados da terra? Ou também no trabalho no campo e na cidade
sob a égide do capital?
O popular, em sua historicidade demarcada pelos nacionais-desenvolvimentis-
mos dos anos 1930, representa uma cidade repleta de sujeitos com feições, costumes,
culturas do campo. O operariado fabril que produz o maquinário é tão indígena e
camponês quanto o camponês e o indígena superexplorados do campo. Estes, so-
mados aos e às descartados/as da exploração particular do continente, conformam o
popular. Para o capital, são os ninguéns. Para o universo histórico a contrapelo, são
os sujeitos herdeiros das resistências que, na condição errante da fome, se tornam
miseráveis no campo e na cidade (TRASPADINI, 2022).
Bonl Batalla (2019) insiste em dizer que não há uma substantiva diferença entre
o mexicano da cidade e o mexicano do campo e que, portanto, a construção da ideia
de mestiçagem é uma forma a mais de produção de um conteúdo racista e etnicista.
Isto é, o que se dene, na história ocial, como mestiçagem, tem muito mais uma
carga cultural do que biológica. Essa mestiçagem é fruto de um processo violento,
não de encontro de culturas, mas de superposição de uma sobre a outra, de sufoca-
mento e apagamento do ser e sentir-se próprio – a morte da alteridade, nos termos
de Dussel (1995).
Na trama desse processo de mutilações e violências, nasce um sentido nacional
de povo mexicano, produto do Estado-nação ancorado nas políticas imperialistas,
que tenta, a partir da ideia da mestiçagem, apagar a cultura indígena reiterada no
presente. Sendo assim, houve “[...] uma mestiçagem biológica que com frequência foi
produto da violência e uma permanência cultural que teve de se esquivar ou enfren-
tar diversas formas, as mais variadas, de opressão, imposição e negação” (BONFIL
BATALLA, 2019, p. 64).
A história formal da mestiçagem é, na força dinâmica contrária, a contrapelo,
questionada pela realidade dos traços indígenas presentes na maior parte dos corpos
mexicanos. Isso arma que esse popular será o alvo concreto da mais-valia tanto
produtiva (MARX, 2011a) como ideológica (SILVA, 2017). Nos termos de Batalla,
vincularam-se duas violentas políticas: a da lei do valor e a da enculturação. Dessas
políticas, resultou um processo de “desindianização” das comunidades originárias.
Um ato político violento de enraizar, na cultura importada, via primazia do espanhol
e da ideia de belo e de moderno do Ocidente, o m da cultura popular originária, via
destruição e extermínio.
Nas palavras de Bonl Batalla (2019, p. 65):
A desindianização [...] é um processo histórico, por meio do qual populações que original-
mente possuíam uma identidade particular e distintiva, baseada em uma cultura nativa,
são forçadas a renunciar a essa identidade, com todas as consequentes mudanças em sua
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ARTIGOS (DOSSIÊ)
organização social e em sua cultura. A desindianização não é resultado de uma mestiçagem
biológica, mas da ação de forças etnocidas que acabam por impedir a continuidade histórica
de um povo como unidade social e culturalmente diferenciada.
A imagem mural de Greenwood revela o quanto a classe que produz a riqueza
capitalista é, ao mesmo tempo, a que é conduzida tendencialmente à intensicação da
exploração e da pobreza em escala mundial. No entanto, no capitalismo dependente,
o desenvolvimento está diretamente associado à superexploração da força de traba-
lho, como um mecanismo de compensação da hegemonia dos capitais das economias
centrais frente à subordinação dos capitais nacionais latino-americanos e caribenhos.
O nacional-desenvolvimentismo iniciado nos anos 1930 na América Latina e o
Caribe revela sua faceta estruturante: a migração contínua do campo para a cida-
de (êxodo rural forçado), as condições de piora no campo com a intensicação da
mecanização ao longo do tempo, e a produção de cidades reveladas em sua tessitura
desigual na produção geográca dos espaços da dependência. Greenwood apenas
expõe, em imagem, aquilo que o real concreto nos mostra acerca da produção mate-
rial da riqueza mercantil contra a classe trabalhadora, matéria prima diversa e plural
inerente ao popular.
A Dialética da dependência, o popular superexplorado na América Latina, à luz
da imagem mural A industrialização do campo
Em 1973, Ruy Mauro Marini produz o ensaio Dialética da dependência
7
. Em seu texto
Memorial, escrito para ser reintegrado à UnB na década de 1990, Marini nos dá um
panorama didático, político e pedagógico acerca de seus estudos – o que lia, como
estudava, com quem debatia, e quem formava – e faz uma interessante retomada de
estilo literário e de investigação. Apresenta-nos suas insatisfações contidas nos textos
iniciais, suas perdas de rascunhos, até chegar na edição.
Dialética da dependência, que em 2023 completa 50 anos, é, assim, uma obra que
tem vigência por sua força teórica e política, e apresenta um guia de estudos abun-
dante para quem se dedica a entender o passado e o presente da América Latina e o
Caribe. Mas, ao começar pelas memórias, implicou situar a obra a partir da recupe-
ração autobiográca de uma vida repleta de comprometimento político, evidenciar
um rigor teórico com anco no método marxiano e elucidar no tempo a trajetória de
um intelectual orgânico.
Como ressalta o neurocientista argentino Ivan Izquierdo (2020, p. 21):
7 Sugerimos como fonte de pesquisa principal Marini (c2023).
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“Memória” signica aquisição, formação, conservação e evocação de informações. A aquisi-
ção é também chamada de aprendizado ou aprendizagem: só se “grava” aquilo que foi apren-
dido. A evocação é também chamada de recordação, lembrança, recuperação. Só lembramos
aquilo que gravamos, aquilo que foi aprendido. Podemos armar, conforme Norberto Bobbio,
que somos aquilo que recordamos, literalmente. Não podemos fazer aquilo que não sabemos,
nem comunicar nada que desconheçamos, isto é, nada que não esteja em nossa memória.
Também não estão a nossa disposição os conhecimentos inacessíveis, nem fazem parte de
nós episódios dos quais esquecemos ou que nunca vivemos. O acervo de nossas memórias
faz cada um de nós ser o que é: um indivíduo, um ser para o qual não existe outro idêntico.
Marini retrata, no Memorial, de forma individual, um processo coletivo de pro-
dução da batalha das ideias, somado à profunda dedicação ao conhecimento eman-
cipatório advindo do acervo de Marx e do marxismo-leninismo, mas situado nas
perguntas do tempo presente em que se encontrava. Suas memórias, assim, são via-
gens guiadas pela teoria valor-trabalho de Marx, adaptadas à realidade desigual e
combinada da América Latina e o Caribe na divisão internacional do trabalho do
século XX.
Em suas memórias, Marini (2022, p. 77) situa o ensaio Dialética da seguinte forma:
Tal como cou, Dialéctica de la dependencia era um texto inegavelmente original, tendo
contribuído para abrir novo caminho aos estudos marxistas na região e colocar sobre outras
bases o estudo da realidade latino-americana. Adémarcheteórica que ali realizei consistiu,
essencialmente, em rejeitar a linha tradicional de análise do subdesenvolvimento, mediante
a qual este se captava através de um conjunto de indicadores, os quais, a seu turno, serviam
para deni-lo: o resultado não era simplesmente descritivo, mas tautológico. Assim, um país
seria subdesenvolvido porque seus indicadores relativos à rendaper capita, à escolaridade,
à nutrição, etc., [...]. Tentando ir além dessa colocação enganosa, a CEPAL avançara pouco,
cando, como elemento válido de sua elaboração, a crítica à teoria clássica do comércio inter-
nacional e a constatação das transferências de valor que a divisão internacional do trabalho
propicia, em detrimento da economia latino-americana [...]. Ao invés de seguir esse raciocí-
nio e el a meu princípio de que o subdesenvolvimento é a outra cara do desenvolvimento, eu
analisava em que condições a América Latina havia-se integrado ao mercado mundial e como
essa integração: a) funcionara para a economia capitalista mundial e b) alterara a economia
latino-americana.
Como campo de debate, a dependência, ontem e hoje, insiste em aparecer na rea-
lidade tal qual ela é, independentemente dos nossos desejos. Nesse sentido, se há
uma ordem internacional desigual, há também particularidades que compõem essa
totalidade caótica. Assim, pensar os problemas do nosso tempo, vinculados à história
e formação social latino-americana e caribenha, apenas tem sentido quando assumi-
208
ARTIGOS (DOSSIÊ)
mos uma posição na luta de classes que exigirá nos munirmos de uma boa teoria para
efetuarmos os diversos combates.
Da forma como entendemos a vigência e relevância da obra Dialética, demarca-
mos quatro condicionantes estruturantes de sua força teórica e política:
a) O caráter pedagógico: Dialética exige que situemos a obra no contexto histórico
em que foi criada. Logo, é necessário retomar um período que revela a violência
do autoritarismo contra todos e todas que ousaram levantar-se contra a ordem
vigente do capital. Nesse período de ditaduras, o exílio gerou, contraditoria-
mente, dores (torturas, assassinatos, prisões etc.) e sabores/encontros latinos
(Chile, México e América Central como lugares de abrigo dos exilados).
O contexto das ditaduras latino-americanas e caribenhas, ocorridas entre os anos
1960 e 1980, demarcou um tempo histórico de acirramento da luta de classes em ple-
na conformação do imperialismo em sua fase madura e renovada de intensicação
da ofensiva do capital contra o trabalho e os territórios. Esta condição, somada ao
nazismo e fascismo vivenciados desde os anos 1920 na Europa, demarcariam uma
nova fase da luta de classes em que o Estado democrático de direito burguês seria
substituído pelos Estados autoritaristas, tendo cada país uma particularidade históri-
ca própria no conjunto das violações mundiais, gerais.
Disso resulta ser impossível entender Dialética como uma obra da economia po-
lítica crítica, sem teoria do Estado ou análise de superestrutura. Na boa acepção do
método marxiano, o texto e o contexto são indissociáveis, ainda que, no método de
exposição, a obra chegue diferentemente aos leitores dos anos 1970, 1980, 1990, 2000.
Cada tempo histórico exigirá uma leitura mais complexa da obra, porque mais inten-
sos se tornaram os elementos constitutivos da lei do valor.
b) O caráter histórico: Dialética explicita uma posição teórica na conformação
do capitalismo dependente, sem, com isso, deixar de reforçar o papel que a
economia colonial cumprirá na dinâmica internacional de constituição do
capitalismo industrial do século XVIII. Para Marini, o nascimento do capi-
talismo dependente ocorre, na América Latina, no momento de eclosão e
consolidação das independências formais. Logo, é da transição da economia
colonial para a economia nacional que ocorrem as mudanças substantivas de
se pensar os países do continente em suas relações internas e externas, no que
tange à compreensão do desenvolvimento. Assim, o debate principal proposto
pelo autor está inserido no século XIX em diante, quando das guerras de inde-
pendência no continente. Nesse período, o capitalismo concorrencial transita
para o capitalismo monopolista, mediado por uma grande crise no nal da-
quele século. Além disso, uma economia, até então colônia inglesa, arma-se
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e disputa a hegemonia no século XX: os Estados Unidos. Portanto, entender o
que está ocorrendo no plano mundial, para reiterar o grau de autonomia/não
autonomia (dialética espaço-território) dos Estados nacionais e capitais nacio-
nais para operarem no âmbito interno e externo, torna-se elemento central. No
caso de Dialética: a história é tanto o palco da luta de classes como o palco do
entendimento de como funciona a sociedade capitalista no século XX e quais as
particularidades que ela assume em cada formação social concreta.
c) O caráter teórico: Dialética é uma obra que exige, primeiro, que se conheça a
produção marxiana em quatro dimensões:
- Apreensão do método do materialismo histórico-dialético e seus respectivos
níveis de abstração (do simples ao complexo; do concreto ao abstrato), além dos
combates losócos e políticos. No debate marxiano do método, apresenta-se a
originalidade de suas teses a partir de uma nova forma-conteúdo de apreensão
da ciência e do seu papel político e politizador na formação das classes;
- Entendimento da teoria valor-trabalho, ou teoria da exploração capitalista, e
das diferentes fases de produção/apropriação da riqueza socialmente produzida
e privadamente apreendida, tendo como centralidade o entendimento da mais-
-valia absoluta, relativa e extraordinária;
- Estudo, rigoroso, do avanço da compreensão fenomênica de Marx ao longo
do século XX, em especial pelos estudos sobre o Imperialismo e o Estado e a
Revolução de Lênin;
- Análise das formações sociais e históricas latino-americanas e caribenhas.
Juntos, esses quatro elementos explicitam que o ensaio é mais do que um en-
saio. É uma síntese complexa de estudos, que conforma, entre o que se escreve e o
que se deixa subentendido, questões em aberto no tempo presente, com base na boa
ancoragem teórica e metodológica.
d) O caráter político: Dialética integra uma práxis militante de um intelectual
ainda pouco valorizado no pensamento social brasileiro. A função social e
política de Marini é uma história à parte. Sua relação com a educação pública
e com a formação política, imbricadas uma na outra, exige entender a distri-
buição dos tempos a partir dos cenários políticos concretos. Quanto maior a
demanda por formação, menor o tempo para a produção intelectual imersiva.
E, quanto maior o tempo da imersão, mais textos densos para a formação nos
períodos seguintes. Além disso, Marini percorreu países do nosso continente
e da Europa tanto como conferencista quanto como integrante do Movimento
de Esquerda Revolucionária. Ler o Dialética entendendo seu papel na for-
mação de quadros, da consciência da classe trabalhadora em particular, e do
210
ARTIGOS (DOSSIÊ)
popular em geral, torna a obra ainda mais necessária.
É da trama entre estes sentidos acima relatados que a obra Dialética transborda
seu tempo histórico e uma pontuação especíca a uma área de conhecimento, tor-
nando complexa a compreensão e os temas de debates propostos: em especial, pela
condição mais intensiva de aceleração do roubo do tempo histórico pelo mundo das
necessidades objetivas de sobrevivência do popular e da classe que o dá vida: a tra-
balhadora.
Quiçá a imagem como fonte histórica contribua para a recuperação categorial
proposta por Marini em Dialética (2022). Ao menos três delas estão presentes na
imagem, logo, vejamos se o presente foi, ou não, capaz de apagá-las como força expli-
cativa em nosso tempo histórico.
Primeira categoria: dependência. Nos termos de Ruy, a explicação categorial da
dependência associa-se à autonomia, muito relativa, dos capitais nacionais da Amé-
rica Latina para disputar um espaço concreto na dinâmica internacional, dada a he-
gemonia dos capitais transnacionais na conformação de seus territórios – espaços
extrovertidos (BAYART, 1989). Ou seja, signica que há uma relação desigual entre
os países que compõem a nova fase da divisão internacional do trabalho. Nos ter-
mos de Marini a categoria dialética, inerente ao desenvolvimento capitalista desigual,
deve ser
[...] entendida como uma relação de subordinação entre nações formalmente independentes,
em cujo marco as relações de produção das nações subordinadas são modicadas ou recriadas
para assegurar a reprodução ampliada da dependência. A consequência da dependência não
pode ser, portanto, nada mais do que maior dependência, e sua superação supõe necessaria-
mente a supressão das relações de produção nela envolvida.
Logo, quanto mais avança a dinâmica imperialista, tanto mais intensos são a de-
pendência e os mecanismos internos que dão sentido à sua vigência concreta. Então,
é impossível tratar da dependência, sem ter em consideração as diferentes fases do
imperialismo.
Segunda categoria: imperialismo. Processo, segundo Lênin, a partir do qual a eco-
nomia concorrencial é substituída pela era dos monopólios, em que uma de suas
principais características é a exportação de capitais, efetuada pela fusão entre o capi-
tal bancário e o capital produtivo, dando vida ao capital nanceiro. Essa fase, caracte-
rizada pela oligarquia nanceira e seu poder mundial, dene o mundo entre os capi-
tais mandatários da nova ordem e seus Estados nacionais pares, em contrapartida aos
capitais subordinados e seus Estados nacionais dependentes. O imperialismo é uma
nova fase econômica, política, social e cultural que tem como característica a mobili-
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dade do capital nanceiro em uma nova forma-conteúdo de anexação colonial: apro-
priação privada das terras, dos recursos naturais e trabalho livre, cujo assalariamento
dependerá das realidades internas de cada economia.
Terceira categoria: superexploração da força de trabalho. É a principal elaboração
categorial de Dialética. Sua explicação está situada na particularidade histórica da
América Latina, naquilo que Ruy denomina como a função social que nosso con-
tinente cumprirá na nova fase da divisão internacional do trabalho, protagonizada
pelo imperialismo. É o elo conector entre imperialismo e dependência, e tem a ver
com três determinações centrais advindas da hegemonia do capital nanceiro: 1)
que dene tanto a dinâmica de produção de valor, como a organização dos preços
de monopólios no cenário internacional; 2) que amplia a nova forma de anexação
colonial” e tende a impor políticas de preços para os salários nacionais em condições
abusivas; 3) que explicita o papel das formações sociais e históricas concretas na de-
terminação de mecanismos de compensação à ofensiva do capital contra o trabalho
no mundo.
A superexploração é uma categoria conectora entre as determinações externas de
produção do valor e as compensações internas, executadas pelas burguesias locais
para compensar suas perdas no cenário mundial. Assim, essa categoria precisa expli-
car tanto a atual fase da lei do valor nas economias centrais, cuja tendência é sempre
mais exploração, como nas economias periféricas, cujo nascimento do trabalho livre,
após as alforrias formais, não necessariamente reais, ocorreu para estimular o au-
mento de produtividade média do trabalho no século XX.
Quanto mais o capital nanceiro conseguir denir a política de preços do setor
produtivo de bens intermediários, matérias primas e alimentares, tanto mais se al-
tera a política de preço salarial nas economias centrais. E, à medida que os capitais
nanceiros centrais ganham essa disputa, o parco capital (“produtivo”) que atua nas
economias latino-americanas, ainda em sua versão nacional, necessitará compensar
dita condição reiterando a não diminuição de sua taxa média de lucro. Assim, os
salários pagos a uma pequena parte dos trabalhadores formais na América Latina e
o Caribe serão tensionados para baixo, consolidando, de forma mais rápida que nas
economias centrais (uma tendência, segundo Marx, 2011a), salários abaixo de suas
condições mínimas de sobrevivência. Mas não abaixo da lei do valor. Porque a p-
pria lei do valor explicita-se pelo acirramento das desigualdades presentes na relação
capital-trabalho e não por sua estabilidade igualitária.
Então, o que é a superexploração? É uma categoria que explica que, na particula-
ridade do capitalismo dependente latino-americano e caribenho, a exploração ganha
um contorno especíco desde o nascimento do capitalismo e que, no plano mundial,
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ARTIGOS (DOSSIÊ)
é processo projetado para o futuro, como a forma de ser do imperialismo no século XXI,
como ponto de chegada nas economias centrais. No entanto, na América Latina e o Ca-
ribe, a superexploração foi, é, e sempre será, estrutura orgânica ppria, com tessitura
própria, demarcando o popular a partir de sua herança colonial: os muitos ninguéns
jogados à margem do Estado e da própria reprodução básica do capital, desde o século
XIX. Assim, na periferia do sistema-mundo, seu condicionamento está situado em uma
divisão internacional do trabalho desigual e combinada (imperialismo e dependência).
Sem isso, o pprio capitalismo deixa de existir, uma vez que sua característica central
é a desigualdade real em todos os âmbitos da vida cotidiana.
Dito isso, o que vemos historicamente na imagem de Greenwood é a articulação/co-
nexão entre as três categorias (dependência, imperialismo e dialética/superexploração).
O capital nanceiro monopolista, gigante detentor do dinheiro e dos meios de produção,
dene a forma de vida da diversidade de sujeitos que compõem o popular e constituem,
na razão dialética, a classe trabalhadora. Além disso, esse mesmo capital conta com o
aparelho do Estado-nação sede e fortalece, neste, as necessidades de cada tempo históri-
co: tirania direta (fascismo, nazismo, ditaduras), ou uma democracia formal (que, para o
popular, representa de forma reiterada o Estado judiciário penal/criminal).
Essa relação de dependência do capital nacional em relação ao capital transnacio-
nal, dene a dinâmica externa e interna do trabalho. E, quanto mais intensas as leis
tendenciais, mais a base do popular na periferia se deteriora, como resultado de uma
estrutura orgânica perversa: a superexploração.
Na imagem, os graus de superexploração nos anos 1930 são distintos entre: o
operário da mineração e do petróleo; assalariado e sindicalizado; o trabalho não assa-
lariado do camponês e do indígena no complexo da cana, com continuidade inclusive
de trabalho escravo; um denso exército industrial de reservas forte, jogado ao azar
da espoliação, da expulsão; e uma expressiva parte do popular relegada à fome, ou à
sobrevivência por conta própria.
E mais, com a industrialização do campo, título da produção de Greenwood, ex-
plicitamos que se combinam, na superexploração da força de trabalho própria do
nascimento do capitalismo dependente no início do século XX, a mais-valia absolu-
ta (ampliação da jornada de trabalho), mais-valia relativa (maquinário e produção
de semielaborados com aumento da composição técnica e orgânica do capital) e a
mais-valia extraordinária (captação de parte da mais-valia do setor, apropriada por
aqueles que saem na frente na concorrência monopolista).
A superexploração, portanto, presente nos anos 1930 no desenvolvimento ca-
pitalista mexicano através dos corpos indígenas, camponeses e operários, somada
à exclusão de parte das e dos condenados da terra pela espoliação/expropriação,
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expõe a particularidade do nosso desenvolvimento: a dependência, ante a força
imperante do imperialismo.
É por isso que armamos que Greenwood pinta os temas que Marini apresenta no
ensaio Dialética. Começar pela imagem tem uma relevante dimensão histórica sobre
a práxis estética latino-americana (HIJAR, 2020), entendida como campo político.
Nessa práxis estética, oriunda do papel que cumpre o muralismo na história das revo-
luções na América Latina e o Caribe, as categorias que saltam da tela ganham mate-
rialidade na realidade desigual do desenvolvimento capitalista dependente e exigem,
ao nos vermos como o popular presente na imagem, uma revanche histórica: a cons-
ciência emanada da e para a luta de classes.
Dialética apresenta, em 1973, o que o Movimento Muralista dos anos 1920 aos
1970 insistia em reportar: o protagonismo do popular em sua diversidade e plurali-
dade. Pois, se a superexploração exige o entendimento de como funciona a produção
capitalista, na América Latina e Caribe, isso não ocorre, desde o nascimento dessa di-
nâmica, com as independências formais, sem que uma parte grande do popular seja
relegada à lógica dos ninguéns, dos de fora, dos à margem. Esses ninguéns denem o
teor, para dentro da superexploração, que, na dinâmica para fora, depende do cenário
internacional da luta de classes.
Por isso, não há como superar a tríade imperialismo-dependência-superexplora-
ção sem a revanche/rebeldia do popular. Este sujeito plural e diverso que, silenciado,
mas nunca silencioso, foi pintado pelos donos da ordem hegemônica, via história
ocial, como revoltos populares. É contra esse levante, essa revanche dos “de abaixo,
que o Estado nacional ergue sua pomposa constitucionalidade. E executa um direi-
to formal que não cabe na realidade dos que estão fora, ao mesmo tempo em que
pressiona para uma maior intensicação, a superexploração: os “ninguéns. Esses que
conformam, nos termos de Galeano (2002, p. 26),
[...] os lhos de ninguém, os donos de nada. Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, mor-
rendo a vida, fodidos e mal pagos: Que não são, embora sejam. Que não falam idiomas, falam
dialetos. Que não praticam religiões, praticam supertições. Que não fazem arte, fazem artesa-
nato. Que não são seres humanos, são recursos humanos. Que não têm cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços. Que não têm nome, têm número. Que não aparecem na his-
tória universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local. Os ninguéns, que custam
menos do que a bala que os mata.
Dialética da dependência, 50 anos depois, segue dando vida à imagem de
Greenwood presente no Mercado Abelardo Rodriguez e nas ruas atuais de Nuestra
América. Juntos, o texto escrito e a imagem mural como fonte histórica, revelam
uma América Latina presa aos grilhões da superexploração inerente ao capitalismo
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ARTIGOS (DOSSIÊ)
dependente dos séculos XX e XXI.
Algumas considerações, ao final
As perguntas reexivas que propusemos no início deste texto foram: o que é o po-
pular, este que salta das imagens murais mexicanas? Que relação há entre o popular,
como categoria analítica, e a superexploração da força de trabalho na América Latina
e o Caribe?
Após o desenvolvimento do texto, entendemos que:
1) O popular é território, abrigo, ponto de partida, palco histórico da superex-
ploração. É conformado por essa expressiva parte da população dos nossos
países que vive ou da venda de sua força de trabalho, ou da condição de sobre-
vivência por conta própria, seja legal ou ilegal, legitimada ou não pela ordem
do Estado burguês vigente. Compõem a tessitura de seu plural e diverso do
mundo camponês, o indígena, o afrodescendente e as demais miscigenações
que não foram capazes de reduzir os traços históricos e enfáticos das tradições
desses grupos ao longo do tempo;
2) A superexploração como categoria analítica própria e particular do desen-
volvimento capitalista dependente, imerso na realidade mundial imperialista,
tem como raízes e margens de sua violenta ascensão o universo massivo do
popular. Esse conjunto de pessoas que, à medida que o capitalismo avança
no seu processo técnico-cientíco, coloca no âmbito informal um número
expressivo de pessoas que passam a compor o exército industrial de reserva,
tendendo a fazer pressão para que os salários sejam ainda mais baixos. Essa
pressão tem a ver com a dinâmica da lógica de inclusão restrita do capital,
como propaganda e projeção de sua ideia de progresso ao conjunto da popu-
lação.
3) O popular é a dimensão de uma concretude histórica de práticas socioes-
paciais que objetivam romper com as determinações territoriais produzidas
pelas lógicas de poder estabelecidas pela iminente expansão geográca do ca-
pital. Essas determinações se expressam: i) na destruição e deterioração das
condições de vida no campo e na cidade; ii) na alteração da composição or-
gânica do capital e ampliação da subsunção formal e real do trabalho; iii) na
superexploração da força de trabalho; iv) na deterioração dos termos de troca
e formas de realização do valor; v) na destruição do ethos dos sujeitos sociais,
manifesta na desindianização, no descampesinato e no embranquecimento;
vi) na composição dos monopólios, ampliando a perversidade do imperialis-
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mo: a nanceirização, que amplia a dimensão da dependência materializada
no rentismo (AMARAL, 2012).
4) A superexploração é a forma e o conteúdo que uma parte da população sujei-
tada ao âmbito formal do trabalho vive como condição de salários abaixo de
suas necessidades básicas de existência. E, simultaneamente, uma outra parte
majoritária sequer tem essa condição, pois já nasce relegada à miséria das
condições objetivas, manifestas como os ninguéns. Por isso Brecht insiste que
o povo, de termo vazio, instituído pelo Estado burguês e sua ciência política
ocial, passa a ter relevância, para a classe, à medida que avança a violência
do capital contra o trabalho. Logo, vai cando nítido, visto a olho nu, quem
compõe o povo, logo, para quem devemos expressar todos os nossos esforços
de elaboração, atuação, reação: à classe trabalhadora em suas diferentes posi-
ções no âmbito econômico, social, político e cultural. Fica evidente que não
há o povo mexicano, ou brasileiro, ou latino, no geral, e sim na especicidade
da classe trabalhadora e o universo dos ninguéns, segundo o capital e seu par,
o Estado burguês.
5) À medida que o tempo é acelerado pela lógica tirânica da tecnologia e da
técnica sobre a vida, com uma produtividade média do trabalho cada vez
maior, tanto mais difícil se torna o ato educativo de estudar uma obra. Dialéti-
ca integra, portanto, o hall de obras complexas que, com o tempo, cam ainda
mais inacessíveis, por conta da quantidade de outras obras que se subentende
por conhecida: O capital de Marx (2011a), O imperialismo de Lenin (2011), as
formações sociais e históricas latino-americanas e caribenhas.
6) É dessa tensão entre uma boa teoria e um bom combate que Dialética, se so-
mada a outras importantes construções da estética latino-americana, se revi-
gora. Revigorar é o ato de adquirir novas forças. A arte mural, a nosso juízo,
revigora, se recuperada no tempo presente via práxis estética, o sentido teóri-
co necessário ao bom combate.
Cinquenta anos do Dialética da dependência, em que o debate do desenvolvimen-
to ainda não foi substituído e/ou superado pela práxis da revolão. Pensamento
e linguagem anestesiados, exigem, como antídoto, um rememorar para revigorar.
Marini, com seu exemplo de vida e sua obra, integra o grupo seleto de intelectuais
orgânicos que dimensionam, no popular, a luta de classes que devemos retomar, já!
É como insiste Hijar (2016, p. 23), é da construção direta de uma relação entre
práxis e utopia, do que se trata. Ou seja,
La plenitud humana – como ejercicio armónico de razón, sentimentalidad y sensoriedad – es
así impedida por una constante escisión de las facultades, todo lo cual exige a la estética una
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ARTIGOS (DOSSIÊ)
crítica radical de éstas en bien de su integración. La fragmentación productivista propia del
capitalismo y la división entre trabajo manual e intelectual son obstáculos fundamentales
para la plenitud humana. La utopía positiva de construir la plenitud exige la deconstrucción
de lo existente como problema de conocimiento, de ejercicio de la voluntad y de ejercicio de
los sentimientos y las sensaciones. Pero esta plenitud deseable no sólo alude a la integración
de razón, intuición, sentimientos y sensaciones, sino también a la necesidad histórica y social
Trata-se da luta pela construção, no nosso tempo, de uma organização popular em
que aqueles sujeitos presentes – indígenas, camponeses, afrodescendentes –, parte
presente na pintura de Marion Greenwood, saltem dos muros e, imersos na densa
realidade da luta de classes atual, rebelem-se contra essa ordem tirânica, posicionan-
do-se contra todo tipo de condição desumana produzida contra nossos corpos ao
longo de mais de cinco séculos de invasão, antes colonial, agora, ainda, imperialista.
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