Reoriente • vol.3, n.1 jul/dez 2023 • DOI: 10.54833/issn2764-104X.v3i1p245-249
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JABBOUR, Elias; GABRIELE, Alberto. China: o socialismo do século XXI. São
Paulo: Boitempo, 2021. 314 p.p
Javier Vadell *
Dentre os analistas e intelectuais das Ciências Sociais, observa-se, em termos amplos,
duas maneiras de entender a experiência de desenvolvimento da República Popular
da China (RPC) e sua ascensão econômica. A primeira, a mais comum, é apresentar
a experiência de desenvolvimento chinesa como mais um ensaio de catch up de um
país capitalista com forte presença do governo/Estado na gestão dos assuntos públi-
cos/privados. A bibliograa sobre “tipos de capitalismo” é frequentemente utilizada,
além de expressões alheias ao pensamento liberal ou ortodoxo, como “capitalismo de
Estado”. Por outro lado, observa-se um segundo grupo de intelectuais minoritários
que enxergam a experiência do desenvolvimento da RPC como um acontecimento
sem precedentes, como uma experiência social inédita.
Nesse segundo caminho heurístico, encontra-se a obra disruptiva de Elias Jabbour
e Alberto Gabriele, China: o socialismo do século XXI, que se poderia sintetizar com
três expressões: resgate, criatividade e inovação. O resgate observa-se, em primei-
ro lugar, nos fundamentos dialéticos da metodologia marxista, do conceito chave
de formação econômico-social (FES) e sua revitalização para entender as mudanças
contemporâneas nas experiências socialistas; em segundo lugar, no conceito de “nova
economia de projetamento”, que tem sua origem com Ignácio Rangel. A criatividade
está no conjunto da obra, que articula teoria e empiria de maneira brilhante. E a ino-
vação reete-se no resultado acabado como material indispensável para entender a
China, o que catapulta a obra como um “clássico” avant la lettre.
Os autores se propuseram entender a China moderna a partir das ferramentas on-
tológicas, teóricas e metodológicas do marxismo. Em outros termos: trata-se de um
esforço intelectual ímpar, cujo objetivo é compreender um fenômeno social – o nas-
cedouro de um modo de produção embrionário na China –, para logo ressignicar
as totalidades entendidas a partir de dois conceitos: FES e meta-modo de produção
(MMP). Logo depois, os autores esmiuçam as particularidades (unidades de contrá-
rios), produto de uma pesquisa empírica louvável.
* Doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, professor adjunto pela Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais, professor visitante na Business School Jianxing University, editor de Estudos Internacio-
nais, Revista de Relações Internacionais da PUC Minas.
1 A expressão utilizada por Lenin, “capitalismo de Estado”, em 1918, sugere um passo à frente de um
“Estado capitalista” no caminho ao socialismo. Não pretendemos abrir esse debate neste ensaio, mas
destacar que foi no debate dos revolucionários socialistas onde se debateu e cunhou essa expressão.