Regina Kohlrausch1
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
regina.kohlrausch@pucrs.br
André Natã Mello Botton2
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
botton@gmai.com
Diz pra ele que vai acabar ficando louco de tanto ler.
Sacolinha
A literatura brasileira contemporânea tem possibilitado a discussão de obras que possuem os mais diversos autores e enredos, bem como a origem dessas narrativas. Aquela imagem do escritor como um homem barbudo sisudo tem se modificado. Atualmente, com a ajuda de diversas mídias e redes sociais, cada vez mais pessoas que não possuem esse estereótipo de escritor ganham espaço nas livrarias e em nossas bibliotecas. No entanto, “O fato é que o escritor sempre foi o sujeito dominante no discurso sobre o pobre e o excluído da sociedade brasileira” (HOLLANDA, 2014, p. 26). Mas com a literatura periférica ou marginal3 essa primazia de discursos tem mudado de posição.
Há nas periferias das grandes cidades (principalmente Rio de Janeiro e São Paulo) um desenvolvimento muito intenso da literatura que representa as favelas. Em parte, incentivado pelos projetos que acontecem nesses espaços (como os Saraus da Periferia, com grande força na cidade paulista; ou, em outros, como a CUFA (Central Única das Favelas) na cidade carioca, que incentivam a escrita ou outras formas de manifestações culturais e artísticas dentro de lugares que são esquecidos pelo poder público ou que estão em estado de vulnerabilidade social) e em parte pela vontade de se falar da periferia de dentro da periferia, sem olhares de fora preconceituosos ou que possam simplesmente continuar com os preconceitos amplamente divulgados pela mídia ou pelas novelas. O grande diferencial da literatura periférica é que agora quem fala são os moradores das favelas e não mais autores do centro que olham para a margem. Cada vez mais escritores, e com isso, pessoas de dentro das periferias ganham representatividade literária a partir do olhar de si mesmos. Editoras independentes se organizam para publicar seus livros de poesia, romances, franchises, contos, quadrinhos, etc. Longe das grandes editoras, os autores são pessoas que vieram do rap, do hip hop, pessoas que escrevem poemas nas horas vagas, que possuem um trabalho formal, como motoristas, donas de casa, estudantes, donos de bares e a lista continua extensa... e que enveredaram pelo mundo da literatura para apresentar o seu lugar e mostrar que tem voz, além disso, que a sua voz tem força!
A literatura periférica se configura num espaço particular da cidade – onde articulam-se os elementos relacionais do meio popular (o respeito, a honra, a família, a religiosidade) com elementos vinculados ao contexto urbano (cidadania, intervenção na esfera pública dos produtos populares, contato com a cultura letrada). [...] Uma literatura que se desenvolve, também, em práticas e fórmulas mais relacionais do que interindividuais e que abre espaço, inclusive, a um certo modo de conhecimento e à elaboração de um saber que combina tradições diferentes (TENNINA, 2015, p. 524-525, grifos da autora).
Nesse sentido, assim como há mudanças sociais acontecendo no Brasil, e por consequência, dentro da literatura, o conceito é alterado, com isso, a forma como olhamos e analisamos essas obras também deve mudar. Pois agora quem produz essa arte são os que por muito tempo estiveram sem acesso a ela. Aquela visão de estudo formal que por muito tempo esteve enraizado na Academia deve ceder lugar para que novas maneiras de estudo dessas obras possam entrar. Uma vez que, se a fórmula do romance não é mais a mesma, por que continuar com a estrutura de análise do século XX? Segundo Foucault (1996), houve uma mudança na perspectiva acerca do discurso do século XIX para o século XX:
Ora, eis que um século mais tarde, a verdade mais elevada já não residia mais no que era o discurso, ou no que ele fazia, mas residia no que ele dizia: chegou um dia em que a verdade se deslocou do ato ritualizado, eficaz e justo, de enunciação, para o próprio enunciado: para seu sentido, sua forma, seu objeto, sua relação a sua referência (p. 15, grifos do autor).
E percebemos que no trabalho com o discurso da literatura periférica esse deslocamento também aconteceu. O que está sendo dito nas páginas de Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus, Paulo Lins, Ferréz, Sacolinha e tantos outros, é esquecido ou negado pela crítica. Contudo, e aqui está o deslocamento, a perspectiva negada é acerca da produção literária de dentro da periferia. Esses autores em suas obras, não produzem o seu discurso de fora, mas de dentro. O deslocamento agora é outro e a favela se torna centro do discurso e não mais margem, e, por sua vez, o centro é a periferia. Se para Foucault há uma nova perspectiva para o que o discurso diz, atualmente percebe-se um olhar para quem diz, ou, de onde produz aquele discurso. A partir dessa mudança, o que se espera é que haja uma nova aproximação e discussão sobre a literatura contemporânea. Não podemos mais nos aproximar desses textos com os mesmos preconceitos ou com olhares apenas para o que está sendo dito a partir de trabalhos de cunho social4, a mirada deve ser para o que aquele discurso está dizendo. Desse modo, “A consciência da necessidade de se pensar os processos de produção, recepção e consagração se expande a partir daí, exigindo novas aproximações ao fenômeno literário, que levem em conta o cenário de disputas que se estabelecem no presente” (DALCASTAGNÈ; AZEVEDO, 2015, p. 11). Diante disso, continuar com um padrão de análise do século passado em uma literatura contemporânea é no mínimo incongruente. É nesse sentido que o presente ensaio quer discutir a relação do leitor Vander, em Graduado em Marginalidade, de Sacolinha. Queremos perceber o modo que as suas leituras ao longo da narrativa contribuem para o desenvolvimento da sua identidade enquanto morador e, mais tarde, chefe do tráfico de drogas na sua comunidade, levando em consideração o autor, que vem da periferia de São Paulo e que fala a partir desse espaço.
Segundo a clássica frase de Antonio Candido, a literatura tem um papel inerente a cumprir, que é a capacidade de desenvolver “em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante” (2004, p. 180). Olhando especificamente para a produção da literatura periférica, desde Carolina Maria de Jesus, com seus diários, essa capacidade tem cumprido com o seu papel, pois nos possibilitou ver de fora a partir do olhar de quem está dentro de uma situação de vulnerabilidade social e constantemente deixado “de lado” pela maior parte dos governantes e pela sociedade de um modo geral.
Os autores da periferia retratam a violência presente na favela, mas apenas como pano de fundo, não como uma marca indelével para todos ou como se essa fosse a única condição de seus personagens. A representação da favela pelos autores periféricos está mais preocupada com o cotidiano (e isso inclui a violência, como qualquer espaço, mas essa não recebe um lugar de destaque nas narrativas) do que com outros elementos referentes à brutalidade. Nesse sentido, os textos de Sacolinha possuem uma dupla função: a de humanizar em si mesmo, se pensado a partir dessa função humanizadora da Literatura; e, por outro lado, a de refletir o modo que o personagem principal, que é leitor, se humaniza (ou não) também nesse processo de leitura na medida em que a trama se desenvolve. Pois, Vander, conforme passa o tempo da narrativa, cria um sentimento de ódio em relação ao seu rival, que o colocou na prisão, e a leitura de biografias contribui para que ele arme um plano de vingança. Além disso, vista a partir de um modo mais geral, a literatura periférica possuiria três objetivos principais:
Por um lado, desconstrói o mito desse território como um espaço de marginalidade, crime, violência e falta de sociabilidade, ao pintar os detalhes muitas vezes corriqueiros da vida dos seus moradores (a rotina do fim de semana, os espaços domésticos, as brincadeiras infantis etc.). Nessa representação, a periferia se revela como um terreno de múltiplas formas de sociabilidade. Por outro lado, o enfoque no cotidiano dentro da literatura periférica também revela as dificuldades enfrentadas por amplos segmentos da população brasileira em função de condições socioeconômicas adversas. Textos periféricos muitas vezes retratam espaços públicos negligenciados e infraestrutura deficiente. E, com frequência, aparecem também violações de direitos da cidadania, como violência policial, preconceito etc. [...] Assim, combinando os dois objetivos supracitados – a normalização e a denúncia –, o terceiro alvo da literatura periférica é enunciar os direitos humanos dos moradores das periferias urbanas e, através dessa articulação, sua inserção dentro da polis – entendida aqui não apenas como um espaço físico mas também um território político, social e simbólico. A reinvindicação dos direitos se dá, justamente, por meio da junção entre a exposição da cotidianidade da vida na periferia urbana, a “normalização” desse espaço geosimbólico e de seus residentes e a revelação dos problemas enfrentados pela população das periferias (LEHNEN, 2016, p. 80-81).
O que a professora Leila Lehnen destaca é esse olhar cotidiano que muitas vezes é negado, ou mesmo a qualidade estética que esses textos possuem. Constantemente, o estudo da literatura periférica é apenas vinculado à denúncia da violência. Vander é um personagem que está no meio de conflitos, mas que não deixa de ter seus hábitos de leitura e de afastamento desse mundo violento. Nesse mesmo sentido, Anderson Luís Nunes da Mata (2015), defende a “noção da leitura como a construção de um espaço de resistência” (p. 187), e é dessa forma que Vander constitui-se, primeiramente, em torno do tráfico de drogas. A partir de suas leituras, ele constrói o seu cânone, afasta-se da sua realidade, e, mais tarde, planeja a sua vingança.
Assim, voltamos a Antônio Cândido, pois “uma sociedade justa pressupõe o respeito dos direitos humanos, e a fruição da arte e da literatura em todas as modalidades e em todos os níveis é um direito inalienável” (2004, p. 193). Há uma constante busca do personagem por mais leituras e por novos livros que o ajudem a olhar para a realidade com outros olhos.
Nesse sentido, nós, os leitores, nos aproximamos também de Vander nessa constante busca por algo melhor, “a experiência da leitura literária nos torna mais humanos, desenvolvendo nossa solidariedade, nossa capacidade de admitir a existência de outros pontos de vista além do nosso, nosso discernimento acerca da realidade social e humana” (ABREU, 2004, p. 81). Com isso, acabamos por “entender” os atos que esse personagem comete durante a história. É um jovem que se apaixona, que sofre durante boa parte da sua vida, que está no meio de um conflito armado que nunca quis se envolver, e esse é o seu maior erro, segundo o narrador em 3ª pessoa: ter negado entrar para o tráfico.
De São Paulo, Sacolinha, pseudônimo literário de Ademiro Alves de Sousa, é ativista cultural e faz palestras sobre literatura periférica e questão racial. Desde 2005, com Graduado em Marginalidade, ingressou no mundo da literatura com várias obras e se formou em Letras pela Universidade de Mogi das Cruzes:
Por meio da representação da injustiça social (agressão policial, desigualdade socioeconômica, entre outros) e do retrato da cotidianidade na periferia, [...] Sacolinha tanto aponta as condições socioeconômicas adversas em que vivem muitos residentes das periferias brasileiras, como valoriza a comunidade e a cultura da periferia. Seus textos sugerem, por um lado, que os moradores das periferias brasileiras são vítimas de violações de direitos humanos e, por outro, que têm direito a ter direitos (LEHNEN, 2016, p. 82).
Dessa mesma forma acontece em Graduado em Marginalidade. É retratada a vida de Vander, ou Burdão, que aos 19 anos perde o pai após um assalto. Morador da Vila Clementina, em Brás Cubas, distrito de Mogi das Cruzes, grande São Paulo. A narrativa inicia com um sonho de Burdão. Ele é perseguido no centro de São Paulo pela polícia e acorda com um susto. O seu pai foi internado vítima de um assalto, estava trabalhando no seu caminhão e foi parado à noite pelos bandidos em uma rodovia. A história se desenrola mostrando o cotidiano da Vila Clementina:
Esta é a Vila Clementina, em Brás Cubas, distrito de Mogi das Cruzes, grande São Paulo. Formada pela pobreza e a esperança de um povo que saiu dos seus respectivos lugares, onde nasceram, deixando suas culturas e originalidades para trás, para tentarem a vida nessa cidade cheia de trajetórias (SACOLINHA, 2009, p. 12).
É um espaço de cruzamentos e de encontros. Pessoas de todos os lugares foram para lá com um único objetivo: vencer na vida. Mas a pobreza e o esquecimento do Estado deixou toda a população à margem da sociedade. A família de Burdão também é fruto desse espaço. Com a morte de Jorjão, pai de Vander, a mãe fica muito doente, e o filho precisa trabalhar para conseguir manter a casa. No entanto, em um dia bem cedo, antes do sol nascer, enquanto ele e seu amigo descem a ladeira para ir entregar currículos, Lúcio, um policial corrupto que está agora de dono do tráfico na região, os aborda e convida para entrarem para o negócio, mas os jovens negam, aí começa todo o infortúnio na vida de Vander. Além disso, nesse meio tempo, a sua mãe morre por negligência do serviço público de saúde. Assim, fica completamente sozinho, tendo apenas a sua namorada e alguns amigos, pois a grande maioria está usando ou envolvida de outra forma com drogas. Ele está perdido no meio dessa sociedade que o empurra para a violência e para o mundo do crime que o cerca. A comparação é constante com o último “dono” da Vila Clementina, Escobar. Porque após a tomada pela turma do policial Lúcio, a favela nunca mais foi a mesma.
Ao negar a participação e o envolvimento na venda de drogas, por princípios e pela sua formação dentro de casa, mais tarde, Lúcio e outros policiais prendem Vander, por ter “encontrado” um saquinho com maconha. No entanto, essa droga foi colocada pelos próprios policiais para o culparem. Ao chegar na prisão, Vander é torturado e esquecido em uma cela. “Às dez da noite, foi jogado na triagem do Cadeião de Mogi das Cruzes. A triagem é o local onde passam os futuros presidiários, antes de caírem nas celas; mas o sofrimento começa ali e é muito pior” (SACOLINHA, 2009, p. 83). A narrativa instaura toda uma discussão acerca dos direitos humanos e da corrupção dentro da polícia, nesse sentido ela serve de denúncia social. Com o passar do tempo dentro da penitenciária, ele vai fazendo amigos e ganhando o respeito dos outros presos. Mais tarde, um de seus amigos da Vila Clementina também é preso, e, finalmente, consegue ter acesso à namorada que compra para ele vários livros.
A partir de suas leituras, Vander traça o plano de fuga e cria uma estratégia para tomar das mãos de Lúcio a Vila Clementina:
Depois de muito sofrer, ele foi trocado para a cela vizinha. Mal conseguiu abrir os olhos e, quando tentou se mexer, todo o seu corpo doeu. Sentiu um gosto de sangue na boca e no seu coração um sentimento muito forte nasceu, mais forte até que o sentimento de amor. Nesse instante tem ódio, quer se vingar; o ódio que tomou conta dele é o mesmo que sentiu quando soube como o seu pai foi baleado. Lembra do sofrimento da mãe antes de morrer, da morte de Vladi e do seu bairro. Todos esses pensamentos ruins estão agora alojados em sua cabeça, cabeça que dói devido aos murros que há pouco recebeu dos policiais. Tudo isso é culpa de uma só pessoa: aquela que matou Vladi, e outras mais, aquela pessoa que está acabando com a Vila Clementina, essa pessoa que lhe jogou na cadeia, e que cedo ou tarde vai pagar por tudo isso, por toda essa desgraça; com certeza irá pagar (SACOLINHA, 2009, p. 104).
Uma mistura de sentimentos passam pela cabeça de Vander. Há muito sofrimento e dor, muitas pessoas queridas ele perdeu para a guerra do tráfico e é apenas um jovem de 20 anos. Ao vislumbrar isso, decide tentar arrumar essa situação tomando a Vila Clementina das mãos do policial corrupto. Vander consegue fugir da prisão, recupera a Vila e dá mais qualidade de vida àquele espaço. Mas o que acontece com ele depois disso é diferente do que ele planejou na prisão.
Para começar, Vander foi criado em uma família atípica para aquele espaço, o seu pai lhe ensinou a apreciar a música brasileira desde muito cedo:
Jorjão ensinou o filho a gostar de música brasileira. Foi com ele que Burdão aprendeu a ouvir Gal Costa, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Chico Buarque, Jorge Ben Jor, Tim Maia, Milton Nascimento, Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Todos esses artistas Burdão aprendeu a ouvir. Jorjão dizia que não basta colocar o disco na vitrola, tem que pesquisar sobre o que estão cantando para entender (SACOLINHA, 2009, p. 160).
Além disso, Vander também sempre esteve muito próximo à cultura afro, seja com a capoeira, seja com a religião de matriz africana. “Entrou para o Candomblé e começou a praticar capoeira. Nessa época estava com 16 anos. Dona Marina, que era católica, não interviu na escolha do filho, e muito menos Jorjão, que dizia: A escolha que não é livre se torna desgraça” (SACOLINHA, 2009, p. 161). O ambiente de casa sempre foi livre, respeitou as escolhas que fazia e ao mesmo tempo incentivava a cultura popular. Ademais, desde cedo teve acesso à leitura, graças à família que valorizava essa abertura à cultura de modo geral e não apenas a letrada.
A leitura é um modo de escapar de sua realidade ou muitas vezes se aproxima com o que o personagem está vivendo. “Após isso, ele toma o segundo banho do dia e, antes de dormir, consome algumas páginas do livro ‘Esmaguem meu coração’ de André Torres” (SACOLINHA, 2009, p. 27). O título desse livro está muito próximo do que Vander está vivendo: morte do pai, a mãe de cama muito doente e, momentos antes, ele teve que sair correndo de onde estava, pois havia um conflito do tráfico de drogas próximo a si. Esse livro conta a história do autor, as suas prisões, a vida clandestina até o momento em que fica tetraplégico. Essa história é escrita de dentro do Hospital Penitenciário, pois fora condenado à prisão perpétua, mas como não oferece risco à sociedade o autor volta para a casa da mãe.
“Esmaguem meu coração” é o tipo de história que Vander gosta de ler: com ação, um pouco de drama e também sobre superação, pois o personagem dessa narrativa muda o caráter após ficar dependente e sem os movimentos das pernas. Além desse livro, Querô – uma reportagem maldita, de Plínio Marcos também é lido por Vander. “Burdão estava muito interrogativo e preocupado. Resolveu relaxar. Abriu a gaveta da cômoda e retirou o livro ‘Querô – uma reportagem maldita’, de Plínio Marcos. Às cinco e dez, inicia a leitura” (SACOLINHA, 2009, p. 47). É interessante perceber que Burdão quando está preocupado se refugia na literatura, mas o tipo de leitura que faz não é algo “mais leve” em relação à sua realidade, pelo contrário, são livros que o aproximam mais e que o tornam mais consciente do espaço em que está. O livro de Plínio Marcos, de 1976, conta a história de Querô, um menino pobre de Santos, filho de uma prostituta que se torna órfão e vai parar na Febem depois de vários roubos. Mais uma obra que envolve prisão.
Conforme Graduado em Marginalidade vai avançando, vamos percebendo os gostos de Burdão. Mais tarde, enquanto ainda está preso, a sua namorada revela os tipos de obras que ele prefere, e aquilo que ele não gosta: os de autoajuda:
Na conversa que Burdão teve com ela, pediu para que avisasse a Rebeca que precisava de livros, e que na próxima visita trouxesse alguns. E quando ela passou isso para Rebeca, a jovem ficou a imaginar aonde iria durante a semana para conseguir os livros de que ele gosta; sabe que qualquer livro de contos envolventes, como de violência, drogas, prostituição, guerra e outros temas ligados à realidade brasileira chama a atenção de Burdão. Rebeca sabe do tipo de livro que ele não gosta. Os de autoajuda. Ela lembrou de uma conversa que tiveram quando se conheceram; o assunto era o livro mais lido e comentado do mundo, a bíblia. Depois mudou o rumo da conversa para a literatura atual, e falou o seguinte sobre os livros de autoajuda:
- Para algumas pessoas até que ajuda, mas pensa comigo: o cara tem três filhos, fora o que a esposa está gerando, ele sai para procurar emprego e não acha, aí compra um livro de autoajuda, termina de ler e diz pra si mesmo: “É isso aí, vou mudar a minha vida; se esse escritor conseguiu, por que eu não vou conseguir também?” Mas na hora que esse cara chega em casa, a realidade é outra. Na minha opinião, esses livros de autoajuda são para os ricos. O pobre já nasce com a autoajuda estampada no peito. Até agora ninguém escreveu um livro para ensinar as pessoas a lidarem com a derrota. Por que será? (SACOLINHA, 2009, p. 124-125).
Vander gosta de livros que estejam ligados à realidade brasileira e, por sua vez, ao que está vivendo. Esse é um modo que Burdão faz para aproximar a ficção das narrativas com o real da sua própria vida, nesse sentido, se justifica a escolha nem sempre “mais leve” dos livros que lê, pelo contrário, quanto mais próximos da sua realidade maior é o gosto pelo livro. A todo momento ele está preocupado em aplicar a leitura à sua vida. Essa aplicabilidade é percebida mais tarde, quando Vander escolhe biografias para ler, pois vai aproximar os seus planos e a tentativa de revolução com a vida de Che Guevara, por exemplo. Ele não é ignorante, muito pelo contrário, prova disso é o conhecimento acerca da bíblia. Conhece muito bem e critica o que está lendo. A sua maior crítica vai para os livros de autoajuda que se afastam muito da realidade das pessoas pobres. Quando faz a crítica aos livros de autoajuda, Vander olha através da realidade em que está inserido. Percebe a distância social e a distância que há entre os discursos do autor desses livros com um leitor da periferia. E ele vai além, critica esse tipo de literatura que para ele não serve e não faz sentido.
Nesse mesmo ritmo de críticas, a mais severa vai para a escola, pois não pode pegar os livros emprestados da biblioteca:
O estoque de livros que tem em casa já leu tudo, e, como não sobra dinheiro, deixou de ir aos sebos. Fica perturbado sem livro pra ler. A escola que fica a uns vinte minutos da Vila Clementina, proíbe os alunos que não estudam mais de pegarem livros emprestados. Ele fica doido com isso; todos os livros que habitam aquela biblioteca, foram doados pelos alunos e ex- alunos (SACOLINHA, 2009, p. 80).
O comportamento de Vander muda quando não tem o que ler. E quando vai até a escola para pegar algum livro emprestado não pode, pois não é mais aluno. No entanto, foi ele quem ajudou a criar o acervo daquele lugar. São as contradições que em muitas periferias do nosso país existem. Os lugares de ensino e que deveriam estimular a leitura não contribuem para que as pessoas vão atrás e nem criam possibilidades de incentivo à leitura. Da mesma forma, como não há bibliotecas públicas, para que as pessoas possam pegar livros. Por isso, entende- se a criação de várias bibliotecas nas “quebradas” e que são feitas e organizadas por ONGs ou pelos próprios moradores, pois se as escolas não emprestam e as prefeituras não incentivam à leitura, os moradores se organizam e criam bibliotecas para que todos tenham acesso. Nesse mesmo ritmo de críticas, Burdão se posiciona em relação ao vício:
Burdão também se lembrou de um momento que viveu numa banca de jornal na Praça da Sé, centro de São Paulo. Chegou na banca para comprar uma revista que falava sobre a Revolução Cubana. No momento em que analisava a capa de outra revista, viu uma mulher chegar no caixa da banca e pedir um maço de cigarros. Uma menina de mais ou menos seis anos, que estava com a tal mulher, entrou na banca e pegou uma revista infantil de colorir. Com sua voz de criança pediu para a mulher:
- Mãe, compra essa pra mim.
A resposta da mãe foi negativa. Burdão ficou sem jeito, iria pagar a revista, mas viu a mulher pagar pelo cigarro a quantia de dois reais, e a revista custava setenta centavos (SACOLINHA, 2009, p. 119-120).
Nessa parte percebemos o seu gosto pela Revolução Cubana de 1959, liderada por Fidel Castro, que integrou Cuba ao bloco socialista e que mais tarde essa preferência ficará mais explícita pelas biografias que recebe na cadeia pela namorada. Antes disso, ao lembrar da cena na banca de revistas, fica revoltado, pois a mãe da menina prefere comprar cigarros, produto mais caro, do que a revistinha que a filha pede. Esse desprezo por qualquer tipo de drogas também o afasta dos amigos de infância que sempre se reuniam para beber vinho em uma viela da favela. Disso, surgem os comentários em relação a Burdão, dos seus amigos, pois o veem como louco. “Diz pra ele que vai acabar ficando louco de tanto ler” (SACOLINHA, 2009, p. 95). Felizmente, não é o que acontece, muito pelo contrário.
Quando a namorada de Vander leva os livros na prisão, as obras que ela compra são exatamente aquelas com cunho político e que possuem algum tipo de incentivo para a mudança social. Conforme já dito, são biografias de pessoas que fizeram planos para uma revolução, em certa medida como Burdão está planejado tomar o controle em seu espaço e, por sua vez, também fazer a usa mudança social por lá:
Ela olhou na sacola que carregava e deu um breve sorriso, ali estava o que Burdão muito procurava: as biografias de Che Guevara, Carlos Lamarca, Carlos Marighela, Anita Garibaldi, Antônio Conselheiro, João Cândido e Nunes Machado. Na hora em que procurava um sebo, encontrou num calçadão da Praça da Sé um senhor vendendo algumas velharias e entre elas estavam essas biografias, que Rebeca comprou por um preço menor que o imaginável. O que ela não sabe é que essa pequena compra mudará o futuro de Burdão, e o dela também (SACOLINHA, 2009, p. 127).
Conforme o último período desse trecho, essas obras contribuirão para a mudança na vida de Vander. Fica claro que são essas as histórias que incentivam o personagem a querer mudar a realidade da Vila Clementina e ao mesmo tempo se vingar de Lúcio. A mudança que Burdão deseja será por meio da revolução. Não na mesma proporção da Revolução Cubana, mas em alguma medida, com os mesmos ideais de igualdade entre as pessoas. Todas essas biografias servem de incentivo e de exemplo também para a sua vida. E percebemos a vontade de ser alguém que deixou alguma marca na história. No fundo, Vander quer fazer a diferença e se inspira nas biografias que lê. Além disso, até em um momento íntimo com sua namorada, cita Che Guevara: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás” (SACOLINHA, 2009, p. 169). Isso demonstra que as suas leituras não eram superficiais. Vander, quando lê, faz um mergulho dentro dessas histórias.
Ainda enquanto está na cadeia, Vander se aproxima de Graciliano Ramos, compara a sua vida com a obra Memórias do Cárcere. Assim como o autor alagoano quando foi preso, Burdão também não teve nenhum registro de sua prisão. Foi jogado lá dentro sem ter cometido crime nenhum, assim como Graciliano. Este foi preso por estar envolvido no movimento de 1935, a conhecida Intentona Comunista. Memórias do Cárcere é um livro póstumo e incompleto, que narra a rotina dentro da prisão, além da entrega de Olga Benário à Gestapo e encontros com outras pessoas importantes da época, como por exemplo, Epifrânio Guilhermino, ou as torturas aplicadas a Rodolfo Ghioldi. Esse é outro fato que aproxima as vidas de Graciliano a de Vander, pois este também conta como foi a sua tortura e as dos seus colegas de detenção:
Sem nada pra fazer a não ser conversar, vivia na ociosidade total. Pelo menos se tivesse alguns livros em mãos, daria para ir levando. Foi pensando na literatura, que se lembrou do escritor Graciliano Ramos, autor da obra “Memórias do cárcere”. Que coisa idêntica, Graciliano foi preso sem motivo aparente e durante todo o tempo que passou na cadeia não foi sequer julgado (SACOLINHA, 2009, p. 106-107).
“À noite na prisão todos dormem, exceto Burdão. Assim como Graciliano Ramos, ele é um cupim do edifício burguês onde aplicam inseticidas” (SACOLINHA, 2009, p. 138). São essas as duas vezes que Vander se compara e é comparado, pelo narrador, a Graciliano. Ademais, ainda na prisão, Burdão conhece Benon, outro leitor voraz e que se torna amigo e seu braço direito:
Um assaltante recém-chegado na cadeia trouxe consigo alguns livros. Burdão foi o primeiro preso dali a fazer amizade com ele. Benon é o seu nome. Entre os livros que trouxe em sua bagagem estavam a história e vida de diversos guerrilheiros. Já havia lido todos os que Rebeca lhe trouxe. Ficou fascinado com as atitudes dos personagens que continham as biografias. Agora queimava os olhos na leitura da revolução cubana. Também lamentou que só agora conseguiu saber da verdadeira história de Lawrence da Arábia, o intelectual que batalhou junto aos árabes, derrotou impérios e passou o resto da vida no anonimato (SACOLINHA, 2009, p. 136).
A literatura acaba por aproximar os dois. Benon possui os mesmos gostos de Vander e para este é um alívio ter com quem conversar sobre as mesmas coisas e poder discutir suas ideias. Acaba aprendendo com o amigo e ambos se ajudam, principalmente sobre Lawrence da Arábia que teve um importante papel durante a I Guerra Mundial à frente das Forças Armadas da Inglaterra, no Oriente Médio. Mais tarde, Benon vai contribuir na tomada da Vila Clementina e trabalhar junto do amigo.
Quando consegue conquistar e tirar das mãos de Lúcio a Vila Clementina, Vander comemora, pois, afinal de contas a sua revolução tinha prevalecido e agora, podia tentar, do seu modo, a partir das leituras que havia feito na prisão, consertar os problemas que o policial fez enquanto estava de dono daquele espaço e que tanto mal havia deixado por ali. “Se sentiu verdadeiramente feliz: a sua revolução havia triunfado, o plano que bolara desde que estava preso dera certo, e ainda foi mais fácil do que imaginava” (SACOLINHA, 2009, p. 163). Por fim, consegue o seu diploma de graduado em marginalidade.
Lembrando da citação de Antonio Candido sobre o papel humanizador da literatura, podemos questionar, ao olhar para Graduado em Marginalidade, até que ponto as leituras feitas por Vander contribuíram para que ele se tornasse mais humano, pois, em alguma medida, a violência dele para tomar a Vila Clementina no confronto com Lúcio, justifica-se porque queria dar uma melhor condição de vida para os moradores, e, nesse sentido, a literatura teria contribuído. No entanto, a contradição é que ele teve que enfrentar os soldados de Lúcio durante alguns confrontos, e aí entra a parte desumana, pois Burdão teve que matar muitos para poder conquistar a favela para si. Temos aqui uma discussão interessante sobre a ética de seus atos no meio de toda a guerra do tráfico e por domínio de territórios. Essa é somente uma das contradições que aparecem ao longo do romance.
Outro ponto importante da narrativa é que todos os livros brasileiros citados e lidos por Vander são livros de cunho periférico e que tratam da realidade brasileira. São narrativas que servem de testemunhos da violência das grandes cidades e de suas periferias onde as personagens estão também à margem e são esquecidas ou abandonadas por aqueles que deveriam estar próximos, seja a família ou o Estado.
Por fim, o narrador da história permite, através do discurso indireto livre, que outras vozes falem – principalmente Vander – da visão que possuem de dentro daquele espaço. Quando isso acontece, fica clara a visão do autor, Sacolinha, e a aproximação com o seu narrador. E isso ganha destaque na comparação entre duas viagens: a do efeito que a droga produz em quem a consome e a viagem que Burdão faz na sua leitura:
Enquanto Burdão viaja na literatura de José Louzeiro, Casquinha estiva vinte centímetros de cocaína. O livro “Lúcio Flávio – O passageiro da Agonia”, empolga a leitura de Burdão, enquanto o nóia está feliz pelo que irá consumir. Burdão para por um momento e coça os olhos, Casquinha coça o nariz e o coloca no início da linha feita de pó. Burdão volta à leitura, o nóia inicia a sua viagem para a morte. Burdão para para refletir o penúltimo parágrafo, Casquinha começa a inspirar a carreira; antes de chegar no fim, cai no chão: a veia que manda sangue para seu cérebro para de funcionar, ele se estrebucha no chão de seu quarto, a saliva branca começa a escorrer pelo canto da boca, e subitamente para de se debater e o seu coração finaliza os movimentos. Burdão fecha o livro e vai dormir (SACOLINHA, 2009, p. 178).
O livro que Burdão lê é uma clara referência ao seu maior inimigo: o policial Lúcio. Assim como o policial, o protagonista do livro de José Louzeiro também é um assaltante de bancos e que narra as dificuldades de ser um criminoso na década de 70. Talvez a viagem de Vander seja imaginar o seu inimigo sofrendo tudo o que Lúcio Flávio sofre.
ABREU, Márcia. Cultura letrada: literatura e leitura. São Paulo: Editora UNESP, 2004.
CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 4 ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul; São Paulo: Duas Cidades, 2004.
DALCASTAGNÈ, Regina. AZEVEDO, Luciene. Espaços possíveis na literatura brasileira contemporânea. Porto Alegre: Zouk, 2015. p. 11-17.
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Resumo: Todos somos influenciados pelas leituras que fazemos. Seria impossível dizer que depois de ler qualquer livro permanecemos os mesmos. Assim acontece com Vander na obra Graduado em Marginalidade, de Sacolinha. Após ter sofrido muito, Burdão, apelido do protagonista, resolve tomar a Vila Clementina que está nas mãos de Lúcio, um policial corrupto que ocupa a posição de chefe do tráfico dessa periferia. O que propomos ao longo deste texto é analisar as obras que Vander lê e de que modo elas influenciam na sua vingança.
Palavras-chave: Literatura periférica; Leitura; Sacolinha; Graduado em Marginalidade.
Abstract: We are all influenced by the readings we make. It would be impossible to say that after reading any book we remain the same. So it is with Vander in the work Graduado em Marginalidade (Graduated in Marginality), by Sacolinha. After suffering a lot, Burdão, nickname of the protagonist, decides to take Vila Clementina that is in the hands of Lucio, a corrupt police officer who occupies the position of traffic chief of this periphery. What we propose throughout this text is to analyze the works that Vander reads and in what way they influence his revenge.
Keywords: Peripheral literature; Reading; Sacolinha; Graduado em Marginalidade.
1 Decana Associada da Escola de Humanidades da PUCRS, possui graduação em Letras Português/Espanhol e respectivas literaturas, Mestrado e Doutorado em Letras, área de concentração Teoria da Literatura, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS. Com bolsa CAPES/Fundación Carolina, realizou, entre setembro de 2010 e fevereiro de 2011, estágio de pós-doutoramento na Universidade de Vigo, com a supervisão de Carmen Becerra, sobre a obra de Gonzalo Torrente Ballester, como continuação da tese de doutorado “O jogo intertextual e lúdico em La saga\fuga de J.B., de Gonzalo Torrente Ballester”, defendida em 2004. É professora titular de Letras, credenciada como professora permanente do Programa de Pós- Graduação em Letras da PUCRS, com atuação na linha de Literatura, Memória e História, dedicando-se, atualmente, ao estudo de correspondência do poeta sul-rio-grandense Paulo Hecker Filho, pertencentes ao Acervo do Escritor depositado no DELFOS - Espaço de Documentação e Memória da PUCRS, visando mapear redes de sociabilidade entre escritores e demais intelectuais brasileiros e estrangeiros.↩
2 Mestrando em Letras, na área de Teoria da Literatura, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Possui graduação em Filosofia pelo Instituto Maria Mater Ecclesiae (2012) e graduação em Letras - Português e Inglês pela Universidade Feevale (2016). Atualmente é professor da Escola Cenáculo. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira, atuando principalmente nos seguintes temas: literatura, alteridade, literatura brasileira, violência e cinema.↩
3 Adotamos ao longo do texto (e prefiro) o termo periférico ao marginal, no mesmo sentido que a professora Leila Lehnen (2016) explica em seu artigo Literatura e direitos humanos na obra de Sacolinha: por já ter, nos anos 1970, no Brasil, uma literatura chamada marginal, preferimos literatura periférica, então, para diferenciar uma da outra.↩
4 Não negamos a importância e a grande contribuição que artigos, dissertações e teses tiveram ao fazer um trabalho de cunho mais social. No entanto, o nosso argumento se volta para a importância do texto em si, algo que nem sempre foi feito, por exemplo, com os diários de Carolina Maria de Jesus.↩