As duplicidades do Édipo Rei de Sófocles
DOI:
https://doi.org/10.25187/codex.v6i1.14867Palavras-chave:
Tragédia antiga, Sófocles, Édipo, Reconhecimento, PoéticaResumo
Os principais estudiosos da peça de Sófocles, Édipo Rei (S. OT), na qual Édipo figura como governante supremo de Tebas, sugerem que a característica determinante dessa personagem seria uma espécie de ambivalência ou duplicidade fundamentais. Nesse sentido, Édipo seria na verdade não apenas um, mas dois. Assumindo essa caracterização como típica do discurso trágico (tal como sugere Jean-Pierre Vernant), demonstraremos que um agravamento de algo dessa ordem compromete a unicidade desse mÅ·thos, bem como suas personagens e suas falas, já que até mesmo seu protagonista é cindido em duas figuras diferentes e, de certa maneira, antagônicas. O objetivo do presente artigo é atentar para a complexidade da construção de seu enredo -- em seus diferentes estratagemas para proporcionar deslocamentos espaço-temporais, situações tensas, expressões de conteúdo dúbio e de valor indecidível -- com que se configura o crescendona significação trágica do drama até sua dissolução na cena em que uma verdade mais profunda é revelada num cegante e violento esplendor. O conflito entre a duplicidade da realidade humana e a univocidade do discurso divino atinge um paroxismo que já era reconhecido na própria Antiguidade e que é responsável por fazer com que essa peça seja considerada por muitos a obra-prima de Sófocles, quiçá de todo o repertório trágico da Atenas clássica.Referências
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