As duplicidades do Édipo Rei de Sófocles

Autores

DOI:

https://doi.org/10.25187/codex.v6i1.14867

Palavras-chave:

Tragédia antiga, Sófocles, Édipo, Reconhecimento, Poética

Resumo

Os principais estudiosos da peça de Sófocles, Édipo Rei (S. OT), na qual Édipo figura como governante supremo de Tebas, sugerem que a característica determinante dessa personagem seria uma espécie de ambivalência ou duplicidade fundamentais. Nesse sentido, Édipo seria na verdade não apenas um, mas dois. Assumindo essa caracterização como típica do discurso trágico (tal como sugere Jean-Pierre Vernant), demonstraremos que um agravamento de algo dessa ordem compromete a unicidade desse mÅ·thos, bem como suas personagens e suas falas, já que até mesmo seu protagonista é cindido em duas figuras diferentes e, de certa maneira, antagônicas. O objetivo do presente artigo é atentar para a complexidade da construção de seu enredo -- em seus diferentes estratagemas para proporcionar deslocamentos espaço-temporais, situações tensas, expressões de conteúdo dúbio e de valor indecidível -- com que se configura o crescendona significação trágica do drama até sua dissolução na cena em que uma verdade mais profunda é revelada num cegante e violento esplendor. O conflito entre a duplicidade da realidade humana e a univocidade do discurso divino atinge um paroxismo que já era reconhecido na própria Antiguidade e que é responsável por fazer com que essa peça seja considerada por muitos a obra-prima de Sófocles, quiçá de todo o repertório trágico da Atenas clássica.

Biografia do Autor

Rafael Guimarães Tavares da Silva, Universidade Federal de Minas Gerais

Estudante de Língua e Literatura Clássicas (Grego Antigo), mestrando no POS-LIT da UFMG, com interesses que vão da Filosofia e da História (Antigas e Contemporâneas) à Teoria da Literatura, além de teoria e prática da Tradução. Elaborou uma monografia sobre Uma poética de Platão (cujos capítulos têm sido publicados em periódicos) e desenvolve uma dissertação chamada Arqueologias do drama: uma arqueologia dramática. Atualmente é coorganizador do Seminário de Estudos Clássicos e Medievais, ligado ao NEAM-UFMG, em cooperação com os profs. Teodoro Rennó Assunção (2016/01) e Olimar Flores-Jr. (2016/02), ambos da FALE-UFMG. Leciona, desde 2016, a disciplina de Literatura Comparada (e anteriormente também a de Linguística Comparada) no Apoio Pedagógico da FALE-UFMG.

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Publicado

2018-06-30

Como Citar

Silva, R. G. T. da. (2018). As duplicidades do Édipo Rei de Sófocles. CODEX - Revista De Estudos Clássicos, 6(1), 127–145. https://doi.org/10.25187/codex.v6i1.14867

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Artigos