Remodelando exempla: o paradigma da crueldade e da inclemência no mito do exílio ovidiano
DOI:
https://doi.org/10.25187/codex.v8i2.40367Palavras-chave:
exílio ovidiano, exempla, hipérbole, refutatio exemplorumResumo
O objetivo deste artigo é discutir a forma a partir da qual Ovídio constrói paradigmas de crueldade e inclemência que substituiriam conhecidos exempla, propondo aqueles que pertencem a seu exílio como novos exemplos e termos de comparação. Em um primeiro momento, reflete-se sobre a utilização do tropo da hipérbole durante o exílio no recurso da refutatio exemplorum, mediante a qual Ovídio desestima exempla conhecidos para postular instâncias de sua situação de relegado como novos paradigmas. Depois, analisa-se a forma a partir da qual Ovídio constrói seus inimigos, sejam esses seus detratores ou ainda o próprio Augusto, como mais cruéis e inclementes que qualquer outro. Para isto, se dará atenção a Tr. 3.11. 39-54, 5.1.53-54, 5.12.47-48, Pont. 2.9.44 e 3.5.42, trechos a partir dos quais serão analisadas as figuras de Busíride, Fálaris e Perilo como exempla de crueldade e inclemência. Por último, a modo de conclusão, reflito sobre a utilidade dos exempla, que, longe de serem ineficazes como modelos, oferecem como consequência teórica a oportunidade de manipular a tradição literária anterior por meio das comparações e refutationes. Em consequência, Ovídio propõe-se a si mesmo, e a sua situação, como autoridade.
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