Homero e as masculinidades “hiperbólicas”

representações de gênero na poesia épica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.25187/codex.v13i1.68061

Palavras-chave:

Estudos de gênero, Masculinidade, Ilíada, Odisseia, Poesia Homérica

Resumo

Múltiplas leituras da poesia homérica representam como ela pode ser interpretada como uma história que define a masculinidade e como um alerta para aqueles que se desviam dessa definição. Partindo desse entendimento, esta pesquisa analisa as representações de masculinidade na poesia épica de Homero, a Ilíada e a Odisseia, explorando como seus textos retratam diferentes formas de ser “homem” na sociedade grega evocada nas narrativas, onde a masculinidade é constantemente construída, performada, desafiada e reafirmada. ​ A pesquisa busca compreender o uso de terminologias que evocam as “masculinidades hiperbólicas” (ἀγήνωρ) suscitadas pelo “espírito demasiadamente masculino” (θυμὸς ἀγήνωρ), mostrando como as masculinidades excessivas são frequentemente criticadas e associadas a comportamentos bestiais, sobretudo por transgredir as instituições sócio-culturais e as sociabilidades evocadas na diegese homérica. ​O estudo também aborda a complexidade das masculinidades homéricas, que incluem tanto a brutalidade guerreira e selvageria animalesca quanto a astúcia e sensibilidade com os demais, refletindo sobre os limites e as consequências dos excessos masculinos. Esta análise sugere uma visão rica e contraditória dos conceitos de masculinidades nos poemas de Homero, alertando para o sofrimento gerado pela virilidade desmedida e demonstrando como os aspectos excessivamente masculinos do coração de um homem devem ser contidos. As definições normativas de masculinidade, embora diversas em cada um dos poemas, buscam regular relacionamentos adequados entre os homens gregos da sociedade homérica.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Felipe Daniel Ruzene, Universidade Federal do Paraná

Mestrando no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná (PPGHIS/UFPR) sob orientação da Prof.ª Dr.ª Renata Senna Garraffoni, Curitiba - Brasil. E-mail: felipe.ruzene@ufpr.br.

Referências

ASSUNÇÃO, T. R. Recepção à mesa como signo de “amizade” na Odisseia. Organon - Revista do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 24, n. 49, pp. 15-29, 2010.

BROOKS, C. The heroic impulse in the Odyssey. Classical World: a quarterly journal on Antiquity, Baltimore, n. 70, v. 7, 1977.

CHANOCA, T. A. Antropônimos descritivos na Ilíada: os nomes dos guerreiros menores. Classica - Revista Brasileira de Estudos Clássicos, [S. l.], v. 36, pp. 1–19, 2023.

COFFEY, M. The use of abstract nouns in homeric descriptions of character. Bulletin of the Institute of Classical Studies, Oxford, n. 3, pp. 31-38, 1956.

CONNELL, R. W. Masculinities. 2. ed. Berkeley: University of California Press, 2005.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. vol. 1. São Paulo: Editora 34, 2011.

GRAZIOSI, B.; HAUBOLD, J. Homeric masculinity: ΗΝΟΡΕΗ and ΑΓΗΝΟΡΙΗ. The Journal of Hellenic Studies, Cambridge, v. 123, pp. 60-76, 2003.

GRILLO, J. G. C. A representação da mulher na iconografia de Ájax carregando o corpo de Aquiles na pintura da cerâmica ática (570-480 a.C.). História: Questões & Debates, Curitiba, n. 58, pp. 143-159, jan./jun. 2013.

HOMERO. Odisseia. Tradução: Trajano Vieira. São Paulo: Editora 34, 2014.

HOMERO. Ilíada. Tradução: Trajano Vieira. São Paulo: Editora 34, 2020.

JÁCOME NETO, Félix. A arte de Homero e o historiador: observações introdutórias. Romanitas: Revista de Estudos Grecolatinos, Vitória-ES, n. 2, pp. 197–218, 2013.

LOURENÇO, F. Introdução. In: HOMERO. Ilíada. Lisboa: Quetzal Editores, 2019. pp. 5-28.

MACKIE, C. J. Rivers of fire: mythic themes in Homer’s Iliad. Washington: New Academia Publishing, 2008.

MELLSOP, B. K. (2023) Homer's dream guy: an exploration of masculinity and honor in the Odyssey. Studies in Mediterranean Antiquity and Classics, Saint Paul-MN, v. 7, n. 1, pp. 1-8, 2023.

PALMER, L. R. The Interpretation of Mycenaean Greek texts. Oxford: Oxford University Press, 1963.

PARRY, M. Published works. In: PARRY, A. (Ed.). The making of Homeric verse: the collected papers of Milman Parry. Oxford: Clarendon Press, 1971.

REDFIELD, J. M. Nature and culture in the Iliad: the tragedy of Hector. Durham: Duke University Press, 1994.

SARTRE, M. Virilidades gregas. In: CORBIN, A.; COURTINE, J-J.; VIGARELLO, G. História da virilidade: a invenção da virilidade – da Antiguidade às Luzes. Vol. 1. Petrópolis: Editora Vozes, 2013. pp. 17-70.

SEARS, M. A. Toxic masculinity fostered by misreadings of the classics. The conversation: academic rigor, journalistic flair, Melbourne, 28 nov. 2017. Disponível em: https://theconversation.com/toxic-masculinity-fostered-by-misreadings-of-the-classics-88118.Acesso em: 18 mar. 2025.

VAN WEES, H. Status warriors: war, violence and society in Homer and History. Amsterdam: J. C. Gieben Publisher, 1992.

VERNANT, J-P. A bela morte e o cadáver ultrajado. Discurso, São Paulo, Brasil, n. 9, pp. 31–62, 1978.

Downloads

Publicado

2025-12-23

Como Citar

Ruzene, F. D. (2025). Homero e as masculinidades “hiperbólicas”: representações de gênero na poesia épica. CODEX - Revista De Estudos Clássicos, 13(1), e1312502. https://doi.org/10.25187/codex.v13i1.68061