ANITO E O SUBORNO DE JURADOS (DEKÁZEIN) NOS PROCESSOS ATENIENSES

Autores

  • Carlos Augusto de Oliveira Carvalhar

DOI:

https://doi.org/10.17074/cpc.v1i40.36287

Palavras-chave:

Anito, Dekázein, Sócrates, Corrupção, Suborno

Resumo

Anito é mais conhecido por ser um dos acusadores de Sócrates, mas este político teve outra proeza: sua sagacidade o fez criar um método obscuro de identificar os jurados e assim saber exatamente a quem subornar em um processo legal, ou seja, ele conseguia identificar quem eram os dikastaí que estariam agrupados no dikastḗrion específico que julgaria determinado caso em um tribunal. Com essa metodologia ele conseguiu se safar de uma condenação em 409 a.e.c., quando por sua falha Atenas perdeu Pilos (Aristóteles, Constituição de Atenas, 27.5). A façanha desse cidadão possivelmente foi a origem de dois novos verbos (dekázein e syndekázein) e o motivo de uma nova lei contra esse método (reportada no segundo Contra Estéfano de Demóstenes, 46.26). Além disso, duas décadas depois, o sistema por sorteio para a escolha de jurados foi totalmente reformulado, justamente para evitar esse esquema corrupto que ele empregou. Este artigo fará a exposição desses aspectos legais relacionados à escolha de jurados no século V, bem como abordará a corrupção e suborno que foi feita a partir desse método de Anito, discorrendo também sobre uma alteração proposta no século IV (que aparece na Assembleia das Mulheres de Aristófanes) e a terceira reformulação, apresentada em Aristóteles, Constituição de Atenas, 63-66. Também se explorará essa temática com a Apologia de Platão, uma vez que Anito, aquele que subornou jurados, é o mesmo agente que está processando Sócrates por corromper (diaphtheírein) os jovens, aproveitando-se assim a ambiguidade deste verbo, pois pode significar tanto a corrupção moral em sentido largo, como também aquela motivada por suborno.

Biografia do Autor

Carlos Augusto de Oliveira Carvalhar

Mestre em Filosofia pelo PPGF-UFRJ e Doutorando em Filosofia no PPGF-UFBA

Referências

ARISTÓFANES. La asamblea de las mujeres. Tradução de Federico Baraibar y Zumarraga. (s/d).

______________. The Ecclesiazusae. Tradução de Benjamin Rogers. Cambridge: Harvard University Press, 1946. (Loeb 179).

ARISTÓTELES. Constituição dos Atenienses. Tradução de Delfim Ferreira Leão. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1986.

CALHOUN, G. The Clubs in Litigation. In: CALHOUN, G. Athenian clubs in politics and litigation. Austin: The University of Texas, 1913. p. 40 - 96.

CANFORA, L. Um ofício perigoso: a vida cotidiana dos filósofos gregos. São Paulo, Perspectiva, 2000.

CARVALHAR, C. A caça à sabedoria: a sophía a partir d’Apologia de Platão. 2020. 160 f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Programa de Pós Graduação em Filosofia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2020.

CHANTRAINE, P. Dictionnaire étymologique de la langue grecque. Paris: Klincksieck, 1999.

CONOVER, K. Bribery in Classical Athens. 2010. 363 f. Tese (Doutorado em Clássicas) – Department of Classics, Princeton University, Princeton, 2010.

DEMÓSTENES. Private Orations II. Cambridge: Harvard University Press, 1929. (Loeb v. 346).

_____________. Speeches 39 – 49. Tradução de Adele C. Scafuro. Austin: University of Texas Press, 2011.

DIODORO DE SICÍLIA. Biblioteca Histórica - Libros XIII-XIV. Tradução de Juan José Torres Esbarranch. Madri: Editorial Gredos, 2008.

____________________. Biblioteca Histórica - Libros IX-XII. Tradução de Juan José Torres Esbarranch. Madri: Editorial Gredos, 2006.

GOLIGHER, W. Athenian Clubs. Hermathena, v. 17, nº 39, p. 295-311, 1913.

HARVEY, F. Dona Ferentes: Some Aspects of Bribery in Greek Politic. History of Political Thought, v. 6, nº 1, p. 76-117, 1985.

HASHIBA, Y. Athenian bribery reconsidered: some legal aspects. The Cambridge Classical Journal, v. 52, p. 62 - 80, 2006.

HOMERO. Ilíada. Tradução de Frederico Lourenço. Londres: Penguin, 2011.

HORNBLOWER, S., SPAWFORTH, A. (ed.) The Oxford Companion to Classical Civilization. Oxford: Oxford University Press, 2011.

HUMBERT, J. Polycratès: l'accusation de Socrate et le Gorgias. Paris: Klincksieck, 1930.

LAGGER, U. „Ich doch nicht!“ Bereicherung und Korruption in griechischen Gerichtsreden. In: BEUTLER, F.; RIEGLER, N. (ed.), Akten des 17. Österreichischen Althistorikerinnen und Althistorikertages. Wien: 2020. (DOI: 10.25365/wbagon-2020-2-4).

MACDOWELL, D. The Law in Classical Athens. Nem York: Cornell University Press, 1986.

_______________. Athenian Laws about Bribery. Revue Internationale des Droits de l'aAntiqueté, v. XXX, p. 267 - 273, 1983.

MARINO, S. A Constituição dos Atenienses de Pseudo-Xenofonte. Archai, n. 28, p. 1 - 26, 2020.

NAILS, D. The People of Plato: A prosopography of Plato and others Socratics. Indianapolis: Hackett Publishing, 2002.

PLATÃO. Apology of Socrates and Crito. Tradução de Louis Dyer. Boston: Ginn & Company, 1888.

________. Apologia de Sócrates precedido de Sobre a Piedade (Êutifron) e seguido de Sobre o Dever (Críton). Tradução de André Malta. São Paulo: L&PM, 2008.

PLUTARCO. Vidas Paralelas: Alcibíades e Coriolano. Tradução de Maria do Céu Fialho e Nuno Simões Rodrigues. Lisboa: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, 2010.

RHODES, P. A commentary on the Aristotelian Athenaion politeia. Oxford: Oxford University Press, 1985.

STOREY, I. Comedy and the Crises. In: MARKANTONATOS, A.; ZIMMERMANN, B. (ed.). Crisis on Stage - Tragedy and Comedy in Late Fifth-Century Athens. Berlin: De Gruyter, 2012.

TAYLOR, C. Bribery in Athenian Politics Part I: Accusations, Allegations, and Slander. Greece & Rome, v. 48, n. 1, p. 53-66, 2001a.

__________. Bribery in Athenian Politics Part II: Ancient Reaction and Perceptions. Greece & Rome, v. 48, n. 2, p. 154-172, 2001b.

Publicado

2021-04-24

Edição

Seção

Artigos