Empreendendo o projeto gravidez: gestação (ou gestão) de uma nova vida?
DOI:
https://doi.org/10.54948/desidades.v0i33.53425Palavras-chave:
consumo, gravidez, bebê, performance, estetizaçãoResumo
Este artigo representa uma parte das descobertas de minha pesquisa de doutorado, acerca da relação entre gravidez e consumo. O que apresento aqui tem por objetivo discutir o imperativo da visibilidade como condição de existência na contemporaneidade. Em junção com o imperativo da performance e da lógica empreendedor que atravessa a nossa existência, presenciamos o que chamei de gravidez-ostentação. Uma nova forma de gestar, de ser e estar no mundo, que se reflete na vida dos bebês desde a sua vida intrauterina. Neste contexto, as gestações imbricadas pelo consumo, fazem com que os bebês nasçam mesmo antes de seus partos. Os bebês existem como imagens, mediados também por objetos e midiatizados em suas vidas intrauterinas. Às gestantes caberia cuidar do projeto de uma nova vida, empreendendo todos os esforços para que os resultados sejam bem-sucedidos, como preconiza a pedagogia contemporânea da gravidez. Tais descobertas foram possíveis a partir de metodologia que contou com pesquisa de inspiração etnográfica, em visitas aos quartos dos bebês em gestação; monitoramento de hashtags em redes sociais (Instagram e Facebook); e busca das mesmas palavras-chave em vídeos do YouTube. Os conceitos aqui apresentados de mediação e midiatização são, respectivamente, os apresentados por Santaella (2004) e Prado (2013). E as bases teóricas para discussão dos conceitos de visibilidade e estetização decorrem das obras de Sibilia (2008); Aubert e Haroche (2013); Lipovetsky e Serroy (2015). As ideias de performance são desenvolvidas a partir de Ehrenberg (201) e Freire Filho (2012).
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