Castigo como prática de cuidado? Reflexões a partir de uma etnografia com crianças cabo-verdianas

Autores

  • André Omisilê Justino Universidade de Brasília

DOI:

https://doi.org/10.54948/desidades.vi36.60590

Palavras-chave:

cuidado, castigo, etnografia, crianças, Cabo Verde

Resumo

 A partir de uma etnografia realizada na periferia de Praia, capital de Cabo Verde, arquipélago situado na costa ocidental africana, esse artigo reflete sobre as multiplicidades de significado das categorias cuidado e castigo. Por meio de situações observadas em campo e dos relatos feitos pelas crianças, exploro como o castigo é incorporado à lógica das relações intergeracionais e passa a fazer parte do entendimento das crianças sobre a sua criação. Questões importantes se desdobram nas análises, como o forte marcador de gênero que atravessa o cuidado e o castigo, ora entendidos de forma antagônica, ora vistos como duas faces de um mesmo fenômeno. Por fim, concluo que a prática de criar crianças nas periferias cabo-verdianas é um complexo conjunto que envolve fazer família, construir pessoas e incorporar um certo grau de algo que pode ser lido como violência nas malhas do cotidiano.

Biografia do Autor

André Omisilê Justino, Universidade de Brasília

Doutor em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília. Pesquisa infâncias e práticas de cuidado em contextos africanos a partir do arquipélago de Cabo Verde.

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Publicado

26-10-2023

Edição

Seção

TEMAS EM DESTAQUE