Castigo como prática de cuidado? Reflexões a partir de uma etnografia com crianças cabo-verdianas
DOI:
https://doi.org/10.54948/desidades.vi36.60590Palavras-chave:
cuidado, castigo, etnografia, crianças, Cabo VerdeResumo
A partir de uma etnografia realizada na periferia de Praia, capital de Cabo Verde, arquipélago situado na costa ocidental africana, esse artigo reflete sobre as multiplicidades de significado das categorias cuidado e castigo. Por meio de situações observadas em campo e dos relatos feitos pelas crianças, exploro como o castigo é incorporado à lógica das relações intergeracionais e passa a fazer parte do entendimento das crianças sobre a sua criação. Questões importantes se desdobram nas análises, como o forte marcador de gênero que atravessa o cuidado e o castigo, ora entendidos de forma antagônica, ora vistos como duas faces de um mesmo fenômeno. Por fim, concluo que a prática de criar crianças nas periferias cabo-verdianas é um complexo conjunto que envolve fazer família, construir pessoas e incorporar um certo grau de algo que pode ser lido como violência nas malhas do cotidiano.Referências
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