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Provocações de Darcy Ribeiro para economistas
Carla Curty
1
*, Maria Malta
2
** e Wilson Vieira
3
***
Resumo: O presente artigo busca apresentar a análise de Darcy Ribeiro como um intérprete do Brasil
a partir de suas contribuições para a questão da formação econômico-social brasileira, de maneira a
analisar como essas contribuições podem auxiliar no entendimento de economistas sobre a história
econômica do Brasil e suas análises sobre a realidade econômica e social brasileira. Considera-se que nos
debates tradicionais sobre a formação econômico-social brasileira, algumas questões, como a questão
racial, não são abordadas com profundidade e não são articuladas como elementos importantes para a
compreensão da formação econômico-social brasileira e que é importante que economistas tragam essa
questão para a centralidade de suas análises, como Darcy Ribeiro o fez.
Palavras-chave: Darcy Ribeiro. Formação Econômico-Social Brasileira. Questão Racial.
Abstract: is paper seeks to present the analysis of Darcy Ribeiro as an interpreter of Brazil based
on his contributions to the issue of the Brazilian socioeconomic formation, in order to analyze how
these contributions can help economists’ comprehension of the economic history of Brazil and their
analyses of the Brazilian economic and social reality. It is considered that in the traditional debates on
the Brazilian socioeconomic formation, some issues, such as the racial issue, are not deeply addressed
and are not articulated as important elements for the understanding of the Brazilian socioeconomic
formation, and that it is important that economists bring this issue to the center of their analyses, as did
Darcy Ribeiro.
Key words: Darcy Ribeiro. Brazilian Socioeconomic Formation. Racial Issue.
Resumén: Este trabajo pretende presentar el análisis de Darcy Ribeiro como un intérprete de Brasil
a partir de sus contribuciones a la cuestión de la formación socioeconómica brasileña para analizar
cómo estas contribuciones pueden ayudar a la comprensión de la historia económica de Brasil por parte
de los y las economistas y a sus análisis de la realidad económica y social brasileña. Se considera que
en los debates tradicionales sobre la formación socioeconómica brasileña algunas cuestiones, como la
cuestión racial, no se abordan en profundidad y no se articulan como elementos importantes para la
comprensión de la formación socioeconómica brasileña, y que es importante que los economistas lleven
esta cuestión al centro de sus análisis, como hizo Darcy Ribeiro.
Palabras clave: Darcy Ribeiro. Formación Socioeconómica Brasileña. La Cuestión Racial.
* Economista, Professora do Instituto Três Rios (ITR) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ), Pesquisadora do Laboratório de Estudos Marxistas (LEMA) da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ).
** Economista, Professora do Instituto de Economia (IE) da UFRJ, Coordenadora do LEMA.
*** Economista, Professor do IE-UFRJ, Pesquisador do LEMA, Vice Coordenador do Laboratório de
Estudos sobre Hegemonia e Contra-Hegemonia (LEHC) da UFRJ.
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Introdução
Neste ano em que se comemora o centenário de nascimento de Darcy Ribeiro,
acreditamos que seja importante não somente celebrar o autor, o homem e seu
pensamento, mas também atualizarmos sua obra e suas contribuições, pensando
novos diálogos e marcando a atualidade de suas questões.
É inegável a importância de Darcy Ribeiro para a história do pensamento social
brasileiro e para o entendimento do que é o Brasil e suas questões. Darcy Ribeiro
foi um importante intérprete do Brasil e um intelectual orgânico, de expressão e
atualidade marcantes. Mas e para a economia e para a formação dos e das economistas
no Brasil, qual a relevância das contribuições de Darcy Ribeiro?
Na formação de economistas no Brasil, em especial quando pensamos os conteúdos
de história econômica e formação econômica do Brasil, os e as economistas têm
contato com algumas interpretações do Brasil e suas questões. No entanto, alguns
pontos importantes cam de fora desse movimento, como as dimensões étnico-
raciais e o processo de conguração do “povo brasileiro”; questões essas que são
centrais nas obras de Darcy Ribeiro. Por isso, e para além dos evidentes ganhos com
interações acadêmicas interdisciplinares, acreditamos ser relevante construir um
diálogo e mediações entre Darcy Ribeiro e os e as economistas.
Neste trabalho, pretendemos apresentar este diálogo (crítico) entre Darcy Ribeiro
e as questões da história econômica e da formação econômico-social brasileira,
passando por um diálogo entre Darcy Ribeiro e alguns dos principais nomes da
história do pensamento econômico brasileiro (HPEB), como Celso Furtado, Caio
Prado Junior e Roberto Simonsen. Nesse movimento, pretende-se revelar como
algumas questões centrais para a compreensão do que é o Brasil e de sua formação
econômico-social estão ausentes nas obras desses autores, ou presentes de maneira
a reproduzir a visão tradicional, moldada pela visão racial dominante (marcada por
sua branquitude e posição social) sobre a questão racial; e como as contribuições
de Darcy podem ser boas provocações para repensarmos as questões da formação
econômico-social brasileira na formação e análise dos e das economistas.
Darcy Ribeiro como um intérprete do Brasil
A categoria intérprete do Brasil esteve e está em disputa. Houve momentos em
que se considerou que intérpretes do Brasil seria uma categoria criada por Antônio
Cândido para a tríade dos anos 1930 (ARRUDA; VILLARINO, 2016) – Gilberto
Freyre, Caio Prado Júnior e Sérgio Buarque de Holanda. Essa visão é um tanto
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defendida na escola de sociologia da Universidade de São Paulo (USP), mas não sem
contrapontos.
Os intérpretes do Brasil também já foram vistos como autores que se colocam
como agenda enfrentar a questão da formação (ARANTES; ARANTES, 1997), cujas
obras surgiram entre os anos 1880 (movimentos abolicionista e republicano) e 1930
(entre guerras, República Velha, varguismo, anarquismo, comunismo, integralismo...)
e que possuem a forma de ensaio. Ricupero (2011) ainda acrescenta que tais trabalhos
começam com um grande balanço histórico para realizar uma análise de conjuntura
e fecham com um programa político sobre como superar os problemas do país. É esse
mesmo autor quem vai chamar atenção para o fato de que os anos 1930 são anos de
transição entre o gênero ensaístico e o gênero mais monográco, em virtude de ser
o período de formação mais sistemático da universidade brasileira. A universidade
ganha importância e muda o padrão de reexão no país.
Concordando com cada passo dado pelos autores supracitados para a construção
da categoria de intérpretes do Brasil e com a identicação de suas obras de
interpretação do Brasil, gostaríamos de adendar uma reexão. Há uma relação entre
forma e conteúdo nesses trabalhos. Trata-se de trabalhos que combinam o livre pensar
e o embasamento autoral com uma crescente tradição de pesquisa histórica teórica e
empírica. A forma ensaio é a que permite essa articulação. Parece-nos falacioso supor,
e esta hipótese é um tanto corriqueira, em especial entre economistas, que a forma
monográca teria maior rigor “cientíco1, especialmente visto que padece de maior
especialização e, talvez por isso, tenha menor compreensão da totalidade, ou seja, de
como o especíco se insere no movimento mais amplo. Como se pode perceber no
texto de Arruda e Villarino (2016), o ensaio tem uma linguagem redonda porque um
problema é posto no início do ensaio que é discutido, e, depois, volta-se a ele para
concluir sobre o problema já trabalhado. Essa forma é, portanto, bastante convidativa
para as formulações dialéticas de natureza histórica que pretendem compreensões de
realidades concretas.
Nesse sentido, armamos que os ensaios que buscam compreender a formação
do Brasil transbordam e até transcendem os anos 1930, visto que trazem em si a
questão da modernidade no Brasil, que é a busca na história e comparação com
outros Estados nacionais da tentativa de responder à pergunta sobre o que há de
original no Brasil. É fato que o período indicado por Ricupero é aquele em que a
força da preocupação com a diferenciação e com o estabelecimento de um quadro
social mais autônomo, nacional, que contraporia o Brasil à sua origem colonial,
1 Vale, neste caso, indicar a importância de se discutir o conceito de ciência nas ciências sociais (LOWY,
2003, 2009).
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pensada como uma construção da ruptura com vários tipos de domínio, se expressa
com mais profundidade. O objeto de reexão é o Brasil de cada um dos “hoje, como
se chegou até ali.
Esse compromisso e interesse permanece e transparece em um número
signicativo de intelectuais brasileiros ao longo do século XX, de forma cada vez
mais rarefeita com o caminhar do século, mas é retomado por intelectuais críticos
nas primeiras décadas do século XXI, em especial a partir da crise de 2007/2008.
A propósito de Darcy Ribeiro, autor tão comprometido com compreender o Brasil
que passou sua vida dedicado a criar uma nova antropologia que correspondesse
a uma “teoria geral” de Brasil (RIBEIRO, 1995), como ele mesmo denomina no
prefácio ao seu O Povo Brasileiro, precisamos nos perguntar o que é a vida intelectual
em contextos periféricos? Como a relação entre o localismo e o cosmopolitismo da
cultura brasileira se expressa como marco de uma forma de se pensar o Brasil, as suas
leis gerais e o problema de sua formação?
Nos anos 1990, talvez Darcy, além do próprio Antônio Cândido, fosse o único
sobrevivente da geração com a qual Antônio Cândido se identica no seu super-
referenciado prefácio ao Raízes do Brasil (CÂNDIDO, 2016), de Sergio Buarque de
Holanda, a geração inuenciada ao longo de sua formação pelos trabalhos da tríade
modernista dos anos 1930. E não foge à radicalidade do ensaio modernista, mesmo
quando a modernidade já havia sido declarada status quo, e não mais vanguarda. Essa
radicalidade se relaciona com algo que ainda não havia sido superado, dialeticamente,
pela pós-modernidade: uma relação entre o movimento modernista e a ruptura com a
metrópole, quando a vida intelectual passa a ser expressa não mais pela norma culta
portuguesa, mas pela coloquialidade e a oralidade do estilo moderno de brasileiro,
período em que também a africanidade entra na literatura brasileira. Darcy Ribeiro
ainda vai incluir a reexão sobre a importância do indígena na formação e no
sentido do Brasil, pelos seus anos de estudos etnológicos e antropológicos, inclusive
em campo. Seu trabalho, em conjunto, e sua obra O Povo Brasileiro: a Formação e o
Sentido do Brasil (1995), em particular, são a expressão completa do compromisso
que um intérprete do Brasil possui: buscar compreender o Brasil para transformá-lo,
sem se eximir de apresentar uma proposta de futuro.
O autor mineiro não tem dúvida ao armar que “[...] faço política e faço ciência
movido por razões éticas e por um profundo patriotismo” (RIBEIRO, 1995, p. 15).
Diz não pretender realizar uma análise isenta, mas sim participante, “[...] que aspira
inuir sobre as pessoas e ajudar o Brasil” (RIBEIRO, 1995, p. 15).
Darcy se arma como uma expressão genuína de um intérprete do Brasil e buscou
apontar as nossas singularidades de forma positivada, ainda que crítica, não mais pela
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perspectiva da ausência, “o que não tínhamos. Supera a visão lacunar e incompleta e
inova na resposta ao sentido que tem este país ao armar que é de sua destruição, vivida
historicamente pelas violências constantes da invasão, da exploração, da escravização
e do imperialismo, que constitui-se a viabilidade de um “povo novo, capaz de tudo
por meio da transguração étnica de uma nova etnicidade englobadora de todos os
que a formam, ainda que demarcadas as diferenças na forma de participação dos
dominadores e dos dominados nesse amargo processo.
Assim, a “teoria geral” do Brasil de Darcy é uma legítima representante da produção
de uma vida intelectual em contextos periféricos, com suas particularidades e com
seu sentido todo permeado por inuências externas. Traz, desse modo, contribuições
ao pensamento dos economistas, “antropofagado” à moderna, em estilo crítico e
utilizando problemas especícos para reconstruir os fundamentos de nossa história
em uma interpretação totalizante.
Na história do pensamento econômico brasileiro e na formação e atuação
de economistas, as questões caras às interpretações do Brasil, em especial no que
concerne à formação econômico e social brasileira, aparecem especialmente nos
estudos sobre a história econômica do Brasil, área marcada pelas contribuições de
Roberto Simonsen, Caio Prado Júnior e Celso Furtado (BORJA, 2022). Devemos
compreender como essas análises canônicas sobre a história econômica do Brasil
se apresentam, formando a base da compreensão de economistas sobre a formação
econômica e social brasileira, para vermos como esse campo pode dialogar com as
contribuições de Darcy Ribeiro e sua interpretação do Brasil.
A questão racial nos pioneiros do campo da história econômica do Brasil:
Roberto Simonsen, Caio Prado Júnior e Celso Furtado
Dentro da produção teórica dos pioneiros do campo da história econômica do
Brasil, a questão racial levantada e reetida por Darcy Ribeiro não é discutida,
mostrando-se como uma grande ausência, como podemos observar nas reexões
de Roberto Simonsen e Celso Furtado, ou é trabalhada de maneira a reproduzir
análises tradicionais sobre a questão racial, que trazem em si a marca da visão racial
dominante, caracterizada por sua branquitude e posição social, como no caso de
Caio Prado Júnior2.
2 Não estamos aqui propondo uma alcunha descolada do tempo histórico no qual Caio Prado Júnior
apresenta sua interpretação sobre a história econômica do Brasil. Clóvis Moura, autor contemporâneo
à Caio Prado Júnior, em estudos que começam anos 1940 e 1950, já apresenta uma análise sobre a
importância da população negra nos processos de luta da classe trabalhadora no Brasil. Em sua obra
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Roberto Simonsen (1889-1948)
Roberto Simonsen, segundo Bielschowsky (2000, p. 81) foi
[...] o grande ideólogo do desenvolvimentismo. Empresário, engenheiro e economista,
Simonsen inseriu-se na vida política nacional através dos postos de comando que assumiu
nas entidades representativas do empresariado industrial. Foi vice-presidente do Centro
Industrial de São Paulo, logo após sua inauguração, em 1928. Foi presidente, em 1935 e
1936, da Confederação Industrial do Brasil (transformada posteriormente, na Confederação
Nacional da Indústria) e presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, entre
1937 e 1945. Em 1937, fora membro provisório do Conselho Federal do Comércio Exterior,
como representante do empresariado industrial e, em 1944, foi membro do Conselho Nacional
de Política Industrial e Comercial. Foi deputado ‘classista’ na Assembleia Constituinte de 1934
e, eleito senador pelo PSD em 1945, participou também da Constituinte de 1946. Dentro
dessa participação política, Simonsen aprimora sua concepção desenvolvimentista e milita
pela sua disseminação através da criação de entidades de estudos e de discussão em diferentes
organismos que atuava, da organização e participação de diversos encontros nacionais,
da divulgação dessas ideias através de vários artigos e conferências, sempre pela defesa da
industrialização como caminho de superação do atraso brasileiro.
Dentro dessa intensa atuação, Simonsen funda o campo de estudos da história
econômica do Brasil através da introdução da disciplina de história econômica
do Brasil na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP) em
1933, da qual foi um dos primeiros docentes, e com a publicação do livro História
Econômica do Brasil (lançado em 1937 em dois volumes). Tanto na disciplina quanto
no livro, o referido teórico se torna o primeiro a contestar a ideia de que a sociedade
brasileira fora feudal no período colonial, vendo-o, ao contrário, somente como a
história do comércio realizado entre a metrópole e a sua colônia de bens produzidos/
extraídos que interessavam à coroa como lucrativos no mercado europeu e que eram
cíclicos (pau-brasil, cana de açúcar, metais preciosos)3, além de corroborar de maneira
Rebeliões da Senzala (2020a [1959]) e, posteriormente, em Sociologia do Negro Brasileiro (1988), como
em outras obras, vai apontar os problemas na forma como a questão racial aparece (ou está ausente)
nos debates sobre a conguração do mercado de trabalho no Brasil, em especial após a abolição.
Assim, ainda que esses apontamentos sobre problemas como a questão racial que aparecem na obra
de Caio Prado Júnior tenham ganhado mais força mais contemporaneamente – desde os anos 1980,
como em Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira (2020a [1981]), de Lélia Gonzalez, por exemplo – nos
apontamentos dos coletivos, movimentos e intelectuais negros, essa era uma questão reivindicada já
nos anos 1940 e 1950, época contemporânea aos escritos de Caio Prado Junior. É verdade, no entanto,
que essas reivindicações a apontamentos caram invisibilizados e ocultados por muitas décadas. Assim,
consideramos que Caio Prado, ainda que fosse um autor crítico em diversas esferas, no que concerne
às questões raciais, apresenta a visão racial dominante, marcada por sua branquitude e posição social.
3 A ideia de ciclo foi introduzida primeiramente pelo próprio Simonsen, emprestada de João Lúcio
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mais aprofundada suas críticas ao modelo primário-exportador (as quais já fazia no
decorrer da Primeira República), em especial das políticas de defesa do café iniciadas
em 1906 com o Convênio de Taubaté, que via como causa da socialização das perdas
(reetindo-se na carestia sofrida pela maioria da população) e da privatização dos
ganhos para a burguesia cafeeira.
A partir desse diagnóstico, Simonsen defende a industrialização como caminho
de superação da pobreza e do atraso brasileiro, através de um projeto com forte apoio
governamental: protecionismo, planejamento, participação direta do Estado em
atividades econômicas nas quais a iniciativa privada não se zesse presente. Além
desse apoio governamental, ele também defendia a criação de bancos industriais.
Essa defesa da industrialização como caminho para a superação do atraso
brasileiro o faz ser considerado como um dos precursores do desenvolvimentismo,
cabendo destacar também a controvérsia com Eugênio Gudin – economista liberal e
crítico da industrialização planejada – em 1944.
Dentro da reexão pioneira de Simonsen, portanto, a questão racial não se faz
presente no campo da história econômica do Brasil, pois a escravidão da população
africana é vista somente no prisma de fornecimento de mão de obra.
Caio Prado Júnior (1907-1990)
Caio Prado Júnior é comumente visto como o introdutor do marxismo no pensamento
social brasileiro4, cabendo destacar a sua consagrada tese do sentido da colonização,
isto é, o de que a colonização ocorreu já inserida no capitalismo e que por isso seu
sentido era o comércio, indo contra (tal como Simonsen) a tese da existência de um
feudalismo no período colonial.
Essa tese é apresentada pela primeira vez em Formação do Brasil Contemporâneo:
Colônia (publicado em 19425), partindo do fato de que a colonização portuguesa na
América se insere em um quadro de novo equilíbrio europeu a partir da expansão
ultramarina do século XV, na qual os “descobrimentos” nada mais são do que um
capítulo da história do comércio europeu. Segundo Prado Junior (2011, p. 20):
A ideia de povoar não ocorre inicialmente a nenhum. É o comércio que os interessa, e daí
o relativo desprezo por este território primitivo e vazio que é a América; e inversamente, o
de Azevedo, historiador português, inaugurando uma tradição na historiograa brasileira. Para mais
detalhes, ver Freitas Filho (1988).
4 Segundo Ricupero (2000), Caio Prado Junior é considerado o introdutor do marxismo no Brasil,
mas, segundo Pinheiro (2022), os introdutores do marxismo no Brasil foram Mário Pedrosa e Octávio
Brandão.
5 Utilizamos a edição de 2011 nas citações.
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prestígio do Oriente, onde não faltava objeto para atividades mercantis. A ideia de ocupar, não
como se fizera até então em terras estranhas, apenas como agentes comerciais, funcionários
e militares para a defesa, organizados em simples feitorias destinadas a mercadejar com
os nativos e servir de articulação entre as rotas marítimas e os territórios ocupados; mas
ocupar com povoamento efetivo, isto só surgiu como contingência, necessidade imposta
por circunstâncias novas e imprevistas. Aliás nenhum povo da Europa estava em condições
naquele momento de suportar sangrias na sua população, que no século XVI ainda não
se refizera de todo das tremendas devastações da peste que assolou o continente nos dois
séculos precedentes.
Nesse processo, portanto, segundo o autor, o comércio explica a nossa formação
e dá sentido à colonização, além de moldar nossa vida econômica, política e social,
visto que as atividades ligadas ao mercado interno eram subsidiárias do sentido da
colonização.
Prado Junior ainda chama a atenção para o caráter explorador de nossa colonização
ao mostrar a existência de colônias de povoamento na América do Norte, formadas
a partir das lutas político-religiosas na Europa e das transformações econômicas
da Inglaterra ocorridas por causa dos cercamentos, além das condições naturais
semelhantes àquela do Velho Continente, ao contrário das colônias de exploração,
que repelem o colono que vem como simples povoador devido às condições naturais
muito diferentes daquelas da Europa. Nesse processo, o colono europeu viria ocupar
os trópicos americanos como dirigente da produção e só a contragosto ocuparia
como trabalhador, pois outros trabalhariam para ele.
A respeito do trabalho nas colônias de exploração, o historiador e geógrafo
observa que as Antilhas Inglesas contaram inicialmente com mão de obra branca, que
foi sendo substituída por mão de obra africana escravizada. Em relação às colônias
portuguesas e espanholas, Prado Junior (2011, p. 27) arma:
Nas demais colônias tropicais, inclusive o Brasil, não se chegou nem a ensaiar o trabalhador
branco. Isto porque nem na Espanha, nem em Portugal, a que pertencia a maioria delas, havia,
como na Inglaterra, braços disponíveis e dispostos a emigrar a qualquer preço. Em Portugal,
a população era tão insuciente que a maior parte do território se achava ainda, em meados
do século XVI, inculta e abandonada; faltavam braços por toda parte, e empregava-se em
escala crescente mão de obra escrava, primeiro dos mouros, tanto dos que tinham sobrado
da antiga dominação árabe como dos aprisionados nas guerras que Portugal levou desde
princípios do século XV para seus domínios do norte da África; como depois, de negros
africanos, que começam a auir para o reino desde meados daquele século. Lá por volta de
1550, cerca de 10% da população de Lisboa era constituída de escravos negros. Nada havia
portanto que provocasse no reino um êxodo da população; e é sabido como as expedições do
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Oriente depauperaram o país, datando de então, e atribuível em grande parte a essa causa, a
precoce decadência lusitana.
Além disso, portugueses e espanhóis, particularmente estes últimos, encontram nas suas
colônias indígenas que se puderam aproveitar como trabalhadores. Finalmente, os portugueses
tinham sido os precursores, nisto também, desta feição particular do mundo moderno: a
escravidão de negros africanos; e dominavam os territórios que os forneciam. Adotaram-na
por isso em sua colônia quase de início – possivelmente de início mesmo –, precedendo os
ingleses, sempre imitadores retardatários, de quase um século.
A partir dessa reexão, Prado Junior (2011, p. 28) conrma o sentido da
colonização:
No seu conjunto, e vista no plano mundial e internacional, a colonização dos trópicos toma
o aspecto de uma vasta empresa comercial, mais completa que a antiga feitoria, mas sempre
com o mesmo caráter que ela, destinada a explorar os recursos naturais de um território
virgem em proveito do comércio europeu. É este o verdadeiro sentido da colonização tropical,
de que o Brasil é uma das resultantes; e ele explicará os elementos fundamentais, tanto no
econômico como no social, da formação e evolução históricas dos trópicos americanos.
Dentro dessa visão, Prado Junior então conclui que um caráter mais estável,
permanente, orgânico de uma sociedade própria e denida se revelaria aos poucos,
abafado pelo sentido da colonização.
Quanto à questão racial especicamente, o autor não lhe dá nenhuma centralidade
e nem rompe com a visão tradicional, principalmente aquela ligada a Nina Rodrigues
(1931) e a Gilberto Freyre em Casa-Grande & Senzala (2006 [1933]), a qual coloca o
branco como raça superior e o negro e o índio como raças inferiores, como podemos
observar em diversas passagens, das quais destacamos primeiramente a seguinte, em
Prado Junior (2011, p. 114):
A classicação étnica do indivíduo se faz no Brasil muito mais pela sua posição social; e a raça,
pelo menos nas classes superiores, é mais função daquela posição que dos caracteres somáticos.
É conhecida a anedota de Koster, que chamando a atenção de um seu empregado, aliás, mulato,
para a cor carregada e mais que suspeita de um capitão-mor, obteve a singular resposta: “Pois,
senhor, capitão-mor pode lá ser mulato?”
É graças a essa espécie de convenção tácita que se harmonizava o preconceito de cor,
paradoxalmente forte nesse país de mestiçagem generalizada, com o fato, etnicamente
incontestável, da presença de sangue negro ou índio nas pessoas melhor qualicadas da colônia.
Observamos de maneira mais patente essa posição em Prado Junior (2011, p. 289):
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A contribuição do escravo preto ou índio para a formação brasileira é, além daquela energia
motriz, quase nula. Não que deixasse de concorrer, e muito, para a nossa “cultura, no sentido
amplo em que a antropologia emprega a expressão; mas é antes uma contribuição passiva,
resultante do simples fato da presença dele e da considerável difusão do seu sangue, que uma
intervenção ativa e construtora. O cabedal de cultura que traz consigo da selva americana ou
africana, e que não quero subestimar, é abafado, e se não aniquilado, deturpa-se pelo estatuto
social, material e moral a que se vê reduzido seu portador. E aponta por isso apenas, muito
timidamente, aqui e acolá. Age mais como fermento corruptor da outra cultura, a do senhor
branco que se lhe sobrepõe.
É a esta passividade aliás das culturas negras e indígenas no Brasil que se deve o vigor com que
a do branco se impôs e predominou inconteste, embora fosse muito reduzida, relativamente
à das outras raças, a sua contribuição demográca. O negro e o índio teriam tido certamente
outro papel na formação brasileira, e papel amplo e fecundo, se diverso tivesse sido o rumo
dado à colonização; se se tivesse procurado neles, ou aceitado uma colaboração menos
unilateral e mais larga que a do simples esforço físico.
Dessa análise podemos depreender que a grande inovação analítica trazida por
Prado Junior para entendermos a colonização nos trópicos (América tropical e em
especial a América portuguesa) coloca a escravidão como parte da engrenagem da
vasta empresa colonial e ao mesmo tempo não rompe com a visão tradicional da
questão racial.
Celso Furtado (1920-2004)
Celso Furtado também é um inovador no campo da história econômica do Brasil
ao utilizar instrumental keynesiano para explicar a economia colonial em Formação
Econômica do Brasil (1959)6, livro que continua a linha interpretativa que enfatiza
a estrutura exportadora da economia colonial7 com uso de mão de obra escrava,
caminhando muito próximo de Caio Prado Junior ao analisar a economia colonial
inserida no capitalismo e, portanto, indo também contra as teses defensoras da
existência de um feudalismo no período colonial8.
6 O livro Formação Econômica do Brasil (1959) se constitui na culminação das reexões de Celso Furtado
no campo da história econômica do Brasil e que teve início na sua tese de doutorado – A Economia Colonial
no Brasil nos Séculos XVI e XVII (2001 [1948]) e continuou no artigo Características Gerais da Economia
Brasileira (1950) e nos livros A Economia Brasileira (1954) e Uma Economia Dependente (1956).
7 Furtado diferencia economia colonial de economia primário-exportadora (relativa ao período após a
independência).
8 Segundo Freitas Filho (1988, p. 16): “Da interpretação de Furtado se depreende ainda que a economia
escravista, por apresentar uma produção voltada para o exterior, com alto grau de especialização,
além de efetuar pagamentos de natureza monetária, não podia ser confundida com uma unidade de
produção feudal”.
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Dentro do abordado por esse livro cabe destacar também a discussão da questão
da mão de obra no século XIX, incluindo o trabalho escravo e os desdobramentos de
sua abolição. No entanto, não é discutida a questão racial propriamente dita, somente
dentro de uma análise econômica, como podemos observar no capítulo 24 (“O
Problema da Mão de Obra. IV. Eliminação do Trabalho Escravo”), no qual se arma
que, no Brasil do século XIX, prevalecia a ideia de que o escravo era uma “riqueza” e
que a abolição da escravatura acarretaria o empobrecimento do setor da população
responsável pela criação de riqueza no país.
Furtado também chama a atenção nesse capítulo para o fato de que havia a ideia
de que a abolição traria a “liberação” de vultosos capitais, uma vez que o empresário
não precisaria imobilizar em força de trabalho ou na comercialização de escravos
importantes porções de seu capital. Contudo, o autor explica que a abolição da
escravidão não constitui nem criação e nem destruição de riqueza, mas sim uma
redistribuição da propriedade dentro de uma coletividade. Furtado (2007, p. 199-
201)9, complementando sua análise, arma:
À semelhança de uma reforma agrária, a abolição da escravatura teria de acarretar modicações
na forma de organização da produção e no grau de utilização dos fatores. Com efeito, somente
em condições muito especiais a abolição se limitaria a uma transformação formal dos escravos
em assalariados [ao nível de subsistência]. [...]. O caso extremo oposto seria aquele em que
a oferta de terra fosse totalmente elástica: os escravos, uma vez liberados, tenderiam, então,
a abandonar as antigas plantações e a dedicar-se à agricultura de subsistência. Neste caso, as
modicações na organização da produção seriam enormes, baixando o grau de utilização dos
fatores e a rentabilidade do sistema. Esse caso extremo, entretanto, não poderia concretizar-
se, pois os empresários, vendo-se privados da mão de obra, tenderiam a oferecer salários
elevados, retendo por essa forma parte dos ex-escravos. A consequência última seria, portanto,
uma redistribuição da renda em favor da mão de obra.
No Brasil, no entanto, o autor arma que não houve nenhum dos dois casos
extremos, pois na região açucareira os escravos libertos caram nas propriedades,
e nas regiões cafeeiras (São Paulo em particular) se limitaram ao ganho de suas
necessidades. Sobre este ponto especicamente, Furtado (2007, p. 203-204) arma:
As vantagens que apresentava o trabalhador europeu com respeito ao ex-escravo são
demasiadamente óbvias para insistir sobre elas. Todavia, se bem não tenha havido um forte
incentivo para que os antigos escravos se deslocassem em massa para o planalto paulista, a
situação dos mesmos na antiga região cafeeira passou a ser muito mais favorável que a daquelas
9 Utilizamos a edição de 2007 nas citações.
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da região açucareira do Nordeste. A relativa abundância de terras tornava possível ao antigo
escravo refugiar-se na economia de subsistência. A dispersão, entretanto, foi menor do que
se poderia esperar, talvez por motivos de caráter social, e não especicamente econômicos.
A situação favorável, do ponto de vista das oportunidades de trabalho, que existia na região
cafeeira valeu aos antigos escravos liberados salários relativamente elevados. Com efeito, tudo
indica que na região do café a abolição provocou efetivamente uma redistribuição da renda
em favor da mão de obra. Sem embargo, essa melhora na remuneração real do trabalho parece
haver tido efeitos antes negativos que positivos sobre a utilização dos fatores. Para bem captar
esse aspecto da questão é necessário ter em conta alguns traços mais amplos da escravidão. O
homem formado dentro desse sistema social está totalmente desaparelhado para responder aos
estímulos econômicos. Quase não possuindo hábitos de vida familiar, a ideia de acumulação
de riqueza é praticamente estranha. Demais, seu rudimentar desenvolvimento mental limita
extremamente suas ‘necessidades. Sendo o trabalho para o escravo uma maldição e o ócio o
bem inalcançável, a elevação de seu salário acima de suas necessidades - que estão denidas
pelo nível de subsistência de um escravo – determina de imediato uma forte preferência pelo
ócio.
Dentro dessa passagem, podemos observar também uma visão tradicional da
questão racial, numa linha semelhante àquela de Caio Prado Junior e Gilberto Freyre.
Nas reexões que Furtado desenvolve em trabalhos posteriores sobre o
subdesenvolvimento, o planejamento, a industrialização e a dimensão cultural do
desenvolvimento, a questão racial sequer é discutida.
Inserindo Darcy Ribeiro nos debates sobre a formação econômico-social
brasileira – provocações para economistas
Como apresentado na seção anterior, uma questão fundamental para compreender
a formação econômico-social brasileira, para a conguração do povo brasileiro,
se quisermos usar o termo de Darcy Ribeiro (1995), a questão racial, parece estar
ausente ou mal analisada no que forma a compreensão de economistas sobre a
história (econômica) do Brasil.
Tradicionalmente, os debates sobre a formação econômico-social brasileira
e as chamadas interpretações do Brasil têm como ponto de partida o processo de
colonização europeia (português). O Brasil só passa a existir como realidade a ser
analisada pela historiograa econômica e social a partir da colonização.
De fato, do ponto de vista da economia moderna10, a integração da economia
10 Utilizamos o termo economia moderna e não especicamente capitalismo para fazer um aceno à
controvérsia sobre os modos de produção que se conguram no Brasil no período colonial. Ainda que
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brasileira ao mercado mundial e a conguração da economia brasileira organizada
a partir da grande propriedade monocultora, com força de trabalho escravizada e
voltada para a demanda dos países centrais, se dão após o empreendimento colonial.
Mas isso não signica que não havia nenhuma população ou tipo de sociabilidade
aqui antes, ou que não há nenhum resquício desses povos e dessas sociabilidades no
que hoje entendemos como Brasil.
Nesse processo de analisar a história econômica brasileira a partir
desse empreendimento colonial europeu, mesmo os autores mais críticos
caem na falácia de ignorar o que havia de conguração social (e, por que
não, econômica) no território que passamos a conhecer como Brasil.
Nesse aspecto, o diálogo da antropologia com a economia se torna necessário.
E, mais especicamente, o diálogo dos debates sobre a formação econômico-social
brasileira com as interpretações do Brasil, tal como os feitos por Darcy Ribeiro em
suas obras: O Processo Civilizario (1968), As Américas e a Civilização (1970a), Os
Índios e a Civilização (1970b), Os Brasileiros (1972), Congurações Histórico-Culturais
dos Povos Americanos (1975), O Dilema da América Latina (1978), América Latina.
tria Grande (1985) e O Povo Brasileiro (1995), esta última considerada sua grande
obra síntese de interpretação do Brasil.
Nessas obras – que, tradicionalmente, se formos pensar nas áreas delimitadas
da academia, se encaixariam nas áreas da antropologia e da etnograa e, em alguns
casos, como no caso de O Povo Brasileiro (1995), podem ser consideradas obras
ensaísticas e não textos estritamente acadêmicos – Darcy Ribeiro discorre sobre o
seu entendimento relativo a como o processo civilizatório se descortinou na América
Latina, mais especicamente, no Brasil, de modo a pensar os problemas, dilemas
e contradições das relações entre as sociedades em âmbito mundial, o processo de
colonização e as relações coloniais, de violência, de genocídio e de escravização nos
processos de encontro entre os colonizadores e os povos originários que aqui na
América Latina e no Brasil existiam, e os povos que foram transladados de África
pelos colonizadores e que aqui também foram escravizados e dizimados.
Darcy Ribeiro, nessas análises, traz foco para compreender como se forjam
sociabilidades especícas aqui na América Latina e no Brasil, especicamente
atualmente seja dominante e consolidada a visão – a partir da formulação de Caio Prado Júnior (2011
[1942]) – de que a economia que se forja aqui é um empreendimento capitalista, organizado a partir das
demandas econômicas do centro do capitalismo, logo, um capitalismo de característica dependente, há
uma longa controvérsia na historiograa sobre qual seria o modo de produção que aqui se consolida:
capitalismo (Caio Prado Júnior, Celso Furtado, autores da teoria marxista da dependência, Florestan
Fernandes), feudalismo à brasileira (Nelson Werneck Sodré), dualidade básica brasileira (Ignácio
Rangel) ou escravismo colonial (Jacob Gorender e Ciro Flamarion Cardoso)?
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criando um povo novo, uma civilização especíca, com suas mazelas e seus potenciais
revolucionários. Assim, buscar entender como se deu o processo de conguração
do povo e da nação no Brasil, quais as relações sociais que se estabeleceram aqui e
como os diferentes grupos étnicos e sociais se articularam e interagiram, em relações
marcadas por diferenças estruturais de poder e entendimentos de sociabilidade e
culturais diferentes.
Nessas análises, Darcy Ribeiro, involuntariamente, lança as seguintes
perguntas para a história econômica, perguntas essas que ou não haviam sido
levantadas pelos historiadores econômicos, ou não eram consideradas relevantes para
se compreender a formação econômico-social brasileira: os processos de escravização
(dos povos originários das Américas e dos povos oriundos de África) só devem ser
analisados do ponto de vista econômico e da técnica? Não há elementos mais amplos
e de consequências signicativas nesses processos para a formação econômico-social
brasileira (e latino-americana)?
Cabe a economistas abrir espaço para análises sobre o processo de formação
econômico-social brasileira que articulem de maneira transdisciplinar os fenômenos
da conguração do Brasil e de suas questões. Anal, a economia política é apenas
uma das óticas de conguração e de entendimento da realidade social, múltipla e
amplamente interligada. Nas palavras de Aloísio Teixeira, “[...] economia, política,
antropologia e sobretudo a história – dos fatos e das ideias – são ângulos especícos e
partes organicamente constitutivas da crítica da economia política, e não instrumentos
mecanicamente justapostos” (TEIXEIRA, 2011, p. 331).
Cabe a economistas, em especial economistas críticos e críticas à teoria econômica
dominante, ampliar o horizonte de sua formação de maneira a poder compreender
os fenômenos econômicos em sua articulação com a totalidade da realidade que se
pretende analisar. Assim, o recurso às interpretações do Brasil é salutar na formação
e análise de economistas – Darcy Ribeiro e suas análises a partir da antropologia e
da etnograa em especial, com seu foco nos elementos de conguração da formação
do povo e da nação no Brasil, a partir dos elementos culturais, étnicos e raciais e nas
formas de sociabilidade que aqui se formam.
Darcy Ribeiro em sua interpretação do Brasil articula classes sociais e a
estraticação social existente no Brasil com as inserções étnico-raciais da população
brasileira, revelando como classe, poder e raça se articulam de maneira umbilical
na conguração e estraticação da sociedade de classes no Brasil; os estratos mais
baixos e marginalizados congurando-se majoritariamente pelos descendentes dos
sobreviventes aos processos de genocídio e escravização dos povos originários daqui
das Américas e dos povos oriundos de África. Darcy Ribeiro (1995) destaca que há
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distâncias econômicas, sociais, geográcas e culturais entre os grupos que compõem
os estratos mais marginalizados e as classes dominantes.
A partir desse cenário, percebe-se que desigualdade econômica e social no Brasil
também se manifesta como desigualdade racial e de poder. Os processos de transição
“[...] de colônia a nação independente e de Monarquia a República” ocorrem “[...]
sem que a ordem fazendeira seja afetada e sem que o povo perceba. Todas as nossas
instituições políticas constituem superfetações de um poder efetivo que se mantém
intocado: o poderio do patronato brasileiro” (RIBEIRO, 1995, p. 201).
Darcy Ribeiro, tal como Florestan Fernandes (1973, 1981, 2008, 2011, 2015, 2021),
revela que, no processo histórico de conguração da formação econômico-social
brasileira (e latino-americana), se forja uma sociedade extremamente estraticada,
e que, nessa estraticação, se manifestam diferenciais de poder, econômicos, sociais
e cultuais e, ainda, que a conguração étnico-racial desses estratos reproduzem, na
sociedade contemporânea, os processos de escravização e marginalização econômica,
política e social dos povos originários das Américas e oriundos de África.
O moderno que se estabelece aqui na América Latina não rompeu com o atrasado,
pelo contrário, reproduz o atrasado de maneira a beneciar a dinâmica de acumulação
e os estratos das classes dominantes, majoritariamente brancas. Nas palavras de Darcy
Ribeiro (1995, p. 200), “Os subprodutos mais característicos desse sistema foram o
coronel fazendeiro e o cabra, gerados socialmente como tipos humanos polarmente
opostos, substituídos hoje pelo gerente e pelo boia-fria.
Essas tipicações sociais que Darcy apresenta como sujeitos polarmente opostos,
mas que estão em relação direta e que se forjam como pares dialéticos, mostram, em
sua percepção, os limites do desenvolvimento de instituições democráticas de fato
aqui no Brasil. Ainda que formalmente existam essas instituições democráticas e que
os indivíduos a princípio estejam em pé de igualdade para essas instituições, elas na
realidade expressam a hierarquização e estraticação de poder, social e econômica
remanescentes das estruturas históricas de conguração da sociedade brasileira,
perpassando a Colônia, o Império e agora na República.
A sociedade resultante tem incompatibilidades insanáveis. Dentre elas, a incapacidade de
assegurar um padrão de vida, mesmo modestamente satisfatório, para a maioria da população
nacional; a inaptidão para criar uma cidadania livre e, em consequência, a inviabilidade de
instituir-se a vida democrática. (RIBEIRO, 1995, p. 201).
A democracia no Brasil, para Darcy Ribeiro, é uma farsa, é um mito, é incompatível
com a realidade aqui posta. E um dos elementos mais marcantes dessa ausência de
democracia está na conguração étnico-racial da sociedade de classes estraticada
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no Brasil. Logo, Darcy rompe com a visão dominante de harmonia e democracia
racial (a la Gilberto Freyre) que invisibiliza os processos de violência e o genocídio
(violência sexual, guerras, invasões, escravização, dizimação, exploração etc.) do
processo histórico de conguração da sociedade brasileira, ou melhor, na articulação
entre os povos colonizadores e os povos originários das Américas e oriundos de
África. Darcy Ribeiro dá centralidade a esses processos de violência e exploração em
sua análise, em trechos como “Calculo que o Brasil, no seu fazimento, gastou cerca
de 12 milhões de negros, desgastados como a principal força de trabalho de tudo
que aqui se edicou. Ao m do período colonial, constituía uma das maiores massas
negras do mundo moderno” (RIBEIRO, 1995, p. 203) ou “Ao contrário do que alega
a historiograa ocial, nunca faltou aqui, até excedeu, o apelo à violência pela classe
dominante como arma fundamental da construção da história” (RIBEIRO, 1995, p. 23).
Ribeiro identica que o que se forja no Brasil não é uma democracia racial, na qual
não há racismo, mas uma sociedade miscigenada com um tipo especíco de racismo,
o racismo assimilacionista (RIBEIRO, 1995), que na aparência integra os não-brancos
à sociedade, inclusive levando à apropriação de seus signos culturais e suas produções,
aparentemente dando uma maior sociabilidade de integração à população não-branca,
mas que, na verdade, enfraquece os processos de luta antirracista e de organização dos
povos não-brancos, contribuindo para um apaziguamento das lutas antirracistas e para
uma misticação dos processos de desigualdade racial e suas estruturas.
A ideia de racismo assimilacionista de Ribeiro encontra paralelos com a noção de
racismo por denegação de Lélia Gonzalez (2020b), que se manifesta na América Latina
– ou melhor, na Améfrica Ladina, na expressão da autora –, uma forma de racismo
herdeira das relações de estraticação e hierarquização que se formaram entre os povos
ibéricos (portugueses e espanhóis) e os povos não-brancos (em especial, na relação
entre os ibéricos com mouros e judeus), que se manifestam em instituições, arranjos
sociais, relações sociais de violentos mecanismos de controle social e político dos povos
não-brancos e que não precisam de formas explícitas de segregação.
Darcy Ribeiro, em consonância com o que já havia sido apresentado por outros
autores e autoras que apresentam interpretações do Brasil, como os já citados
Florestan Fernandes (1973, 1981, 2008, 2011, 2015, 2021), Lélia Gonzalez (2020a,
2020b), Clóvis Moura (2019, 2020b), e outros mais recentes como Paixão (2014) e
eodoro (2022), vai analisar como as noções de democracia racial e de ausência de
racismo no Brasil na realidade mascaram as estruturas de desigualdade racial e de
racismo que se articulam com os elementos estruturais e históricos de conguração
da sociedade de classes no Brasil e de hierarquização e estraticação social.
São elementos que, por um lado, velam as contradições e a marginalização dos
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segmentos dominados e que, por outro, se conguram como os mecanismos de
controle e desmonte da resistência cultural dos grupos marginalizados. Tal situação
de contradição e antagonismo de classes, originada nos processos de escravização
e genocídio, se recongura no capitalismo dependente, mascarando-se como uma
situação não-competitiva, harmoniosa. Ela se manifesta concretamente em uma
divisão social e racial do trabalho, que reforça a hierarquização a partir da estrutura
social estraticada e que garante os mecanismos de acumulação de capital, exploração
e expropriação dos estratos mais marginalizados.
Nesta sociedade que aqui se forma, Darcy Ribeiro identica um traço
especíco na identidade do povo brasileiro. Uma identidade que se forja na
miscigenação (marcada pela violência) e na ausência de uma identidade nacional em
si, mas que congura uma maneira inventiva, própria, de se colocar no mundo, uma
identidade que se constrói a partir de um processo violento e opressor no encontro
entre as chamadas matrizes étnicas formadoras – o branco colonizador/dominador/
opressor, e os povos escravizados e dizimados, povos originários das Américas e
oriundos de África.
Essas matrizes étnicas se relacionam não com o sentido de forjar uma sociedade,
de cidadãos, mas, sim, a partir da “primazia do lucro sobre a necessidade” (RIBEIRO,
1995, p. 404), congurando um sistema econômico movido pela dinâmica do
mercado externo, sem atenção para as necessidades de produção e de reprodução das
condições de existência internas (esse argumento encontra muitas semelhanças com
a caracterização do sentido da colonização de Caio Prado Junior [(1942) 2011]), ou
seja, forma-se um mercado produtor pautado pelos interesses e dinâmica do centro
do capitalismo.
Essa identidade se manifesta no que Darcy vai chamar de ninguendade, uma
identidade que é fruto da desconstrução étnica das nossas matrizes formadoras,
congurando uma nova cultura própria.
Em suas palavras, “O brasilíndio como o afro-brasileiro existiam numa terra de
ninguém, etnicamente falando, e é a partir dessa carência essencial, para livrar-se da
ninguendade de não-índios, não-europeus e não-negros, que eles se vêem forçados a
criar a sua própria identidade étnica: a brasileira” (RIBEIRO, 1995, p. 131). E segue:
Nós, brasileiros, nesse quadro, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço
na carne e no espírito, já q aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos
e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos oriundos da mestiçagem viveu por
séculos sem consciência de si, afundada na ninguendade. Assim foi até se denir como uma
nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros. (RIBEIRO, 1995, p. 410, grifos do autor).
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Dessa ideia de niguendade, Darcy Ribeiro traz uma conclusão otimista com
relação às possibilidades e capacidades do povo brasileiro e do povo latino-americano,
pois aponta para o potencial inovador e criativo dessa identidade de não-povo, que
poderia marcar a fundação de uma nova civilização, junto com os demais latino-
americanos, uma civilização mais alegre, generosa e humana.
Somos povos novos ainda na luta para nos fazermos a nós mesmos como um gênero humano
novo que nunca existiu antes. Tarefa muito mais difícil e penosa, mas também muito mais bela
e desaante.
Na verdade das coisas, o que somos é a nova Roma. Uma Roma tardia e tropical. O Brasil é
já a maior das nações neolatina, pela magnitude populacional, e começa a sê-lo também por
sua criatividade artística e cultural. Precisa agora sê-lo no domínio da tecnologia da futura
civilização, para se fazer uma potência econômica, de progresso autossustentado. Estamos
nos construindo na luta para orescer amanhã como uma nova civilização, mestiça e tropical,
orgulhosa de si mesma. Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais
humanidades. Mais generosa, porque aberta à convivência com todas as raças e todas as culturas
e porque assentada na mais bela e luminosa província da Terra. (RIBEIRO, 1995, p. 411).
Considerações finais
Darcy Ribeiro, com a ideia de ninguendade e a formação do povo brasileiro, pensa
o processo de formação do Brasil não somente tendo como ponto de partida os
colonizadores europeus, mas, sim, dando centralidade para os povos originários em
suas análises e para as relações e articulações entre os colonizadores e colonizados,
dominadores e dominados, diferentemente do que é feito tradicionalmente na
história econômica e nos debates sobre o processo de formação econômico-social
brasileira. Ainda que seja possível apontar as limitações de suas análises no que tange
às questões raciais, ao certo tom paternalista que muitas análises de antropologia e
etnograa sobre os povos originários e negros feitas por intelectuais brancos possam
ter, suas contribuições são necessárias para pensarmos um olhar mais crítico e
transformador da realidade brasileira (e latino-americana).
Ao destacar como os processos de violência se articularam na conguração
das relações de classes estraticadas no Brasil e como essas relações se reproduzem e
se agudizam nas estruturas e superestruturas da sociedade e da economia brasileiras,
reforça-se uma análise não-harmônica e não-tecnicista sobre os processos de
desigualdades da sociedade e da economia brasileiras (e latino-americanas).
Apesar desse cenário estrutural do Brasil marcado pela violência e pela
desigualdade, como podemos ver com a última citação, Darcy era um otimista com
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relação às possibilidades de criação do novo e transformações e revoluções aqui no
Brasil e na América Latina. Talvez essa seja uma das grandes qualidades de suas
provocações (não só para economistas), mas ao mesmo tempo um de seus pontos
falhos, ainda mais se observarmos a realidade brasileira e latino-americana dos
últimos anos.
Como um intelectual orgânico, sempre associando sua contribuição teórica
com sua intervenção como homem público, articulado com o que entendia ser os
interesses da classe trabalhadora e do povo brasileiro, suas intervenções públicas
e teóricas foram no sentido de assentar o que ele via como as melhores formas de
entendimento dos dilemas do Brasil e de solução para suas questões. No entanto,
como homem público, sempre buscou travar suas lutas e suas intervenções dentro
da institucionalidade do Estado democrático de direito burguês, o que carrega em si
limitações de transformações e esbarra nos limites “do possível” e das reformas.
O que sua obra e sua práxis podem mesmo ajudar a entender é a realidade
brasileira e latino-americana e como suas estruturas e instituições são forjadas de
maneira a limitar as possibilidades de transformação dentro da ordem, assim como a
limitar as possibilidades de reformas e a radicalidade destas.
Talvez o que falte para que o Brasil, a América Latina e suas classes trabalhadoras
possam dar o salto transformador que Darcy Ribeiro, com muita esperança,
acreditava ser possível, seja irmos mais a fundo nas análises sobre o capitalismo
dependente e desigual que se forma e se rearticula em sociedades com passado
colonial e escravocrata. E que essas questões estejam na centralidade das lutas das
classes trabalhadoras no Brasil e na América Latina; anal, as classes trabalhadoras
não são sujeitos abstratos, mas possuem gênero, raça, entre outros marcadores
sociais que carregam em si vivências, opressões e questões para a luta que precisam
ser articuladas para pensarmos horizontes de superação do capitalismo dependente
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